Nº 67272/2015 ASJCIV/SAJ/PGR

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1 Nº 67272/2015 ASJCIV/SAJ/PGR Agravo Regimental no Mandado de Segurança DF Relatora: Ministra Rosa Weber Agravantes: Aparecido Manoel Pinto e Vanilde Milk Pinto Agravado: Presidente da República AGRAVO REGIMENTAL. MANDADO DE SEGURANÇA. DECRETO PRESIDENCIAL. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. DECADÊNCIA. IMPE- TRAÇÃO REALIZADA QUANDO JÁ ESGOTADO O PRAZO DECADENCIAL DE 120 DIAS. 1 Agravo regimental interposto de decisão da Relatora que não conheceu o writ porque ajuizado além do prazo decadencial de 120 dias previsto no art. 23 da Lei / Nas desapropriações, o dies a quo do prazo decadencial de 120 dias para impetrar mandado de segurança coincide com o da publicação do decreto governamental consubstanciador da declaração expropriatória e não com o da efetivação, em momento posterior, do ato citatório no procedimento judicial. 3 A verificação de efetiva ofensa ao contraditório e à ampla defesa no procedimento administrativo de desapropriação requer dilação probatória que não é possível em ação mandamental. 4 Parecer pelo desprovimento do agravo regimental.

2 Trata-se de agravo regimental interposto da decisão da eminente Relatora que não conheceu o writ porque impetrado quando já esgotado o prazo decadencial de 120 dias previsto no art. 23 da Lei / O presente mandado de segurança foi impetrado por Aparecido Manoel Pinto e Vanilde Milk Pinto contra ato praticado pela Presidente da República, consubstanciado na publicação de Decreto que declarou ser de interesse social, para fins de reforma agrária, a Fazenda Maracy II, de propriedade dos impetrantes. A Relatora não conheceu do mandamus sob o entendimento de que, tendo sido o Decreto presidencial de expropriação publicado em 23/12/2013, a impetração, realizada em 03/12/2014, teria ultrapassado o prazo decadencial de 120 dias previsto para a utilização da ação mandamental. Eis os termos essenciais do despacho agravado: [ ] É pacífica a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o prazo decadencial para impugnação de Decreto Presidencial declaratório de interesse social para reforma agrária de imóvel rural se conta da data da publicação desse ato. Colho precedentes: MANDADO DE SEGURANÇA. DESAPROPRIAÇÃO PARA FINS DE REFORMA AGRÁRIA. PRAZO DECADENCIAL. IMPROVIMENTO. Agravo regimental interposto de decisão que considerou esgotado o prazo decadencial para a impetração. Segundo firme jurisprudência desta Corte, o prazo decadencial para a impetração de mandado de segurança contra decreto que declarou 1 Art. 23. O direito de requerer mandado de segurança extinguir-se-á decorridos 120 (cento e vinte) dias, contados da ciência, pelo interessado, do ato impugnado. 2

3 imóvel de interesse social para fins de reforma agrária se inicia com a publicação do referido decreto. Agravo regimental a que se nega provimento (MS AgR/DF, Pleno, Ministro Joaquim Barbosa, DJ de ). AGRAVO REGIMENTAL - MANDADO DE SEGURANÇA - DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA PRAZO DE 120 DIAS - DIES A QUO - DECADÊNCIA RECURSO IMPROVIDO. A DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA CARACTERIZA-SE TÍPICO ATO ESTATAL DE EFEITOS CONCRETOS. REVESTE-SE DE APTIDÃO PARA PRODUZIR IMEDIATAS CONSEQUÊNCIAS NO PLANO JURÍDICO, DESDE O INSTANTE MESMO DE SUA PUBLICAÇÃO OFICIAL, O QUE A TORNA SUSCETÍVEL DE CONTROLE JURISDICIONAL PELA VIA DO MANDADO DE SEGURANÇA. - O TERMO INICIAL DO PRAZO DECADENCIAL DE 120 DIAS COMEÇA A FLUIR, PARA EFEITO DE IMPETRAÇÃO DO MANDADO DE SEGURANÇA, A PARTIR DA DATA EM QUE O ATO DO PODER PÚBLICO, FORMALMENTE DIVULGADO NO DIÁRIO OFICIAL, REVELA-SE APTO A GERAR EFEITOS LESIVOS NA ESFERA JURÍDICA DO INTERESSADO. NAS DESAPROPRIAÇÕES O DIES A QUO DESSE PRAZO COINCIDE COM O DA PUBLICAÇÃO DO DECRETO GOVERNAMENTAL CONSUBSTANCIADOR DA DECLARAÇÃO EXPROPRIATÓRIA (DECLARAÇÃO DE UTILIDADE OU DE NECESSIDADE PÚBLICA, OU DE INTERESSE SOCIAL), E NÃO COM O DA EFETIVAÇÃO, EM MOMENTO POSTERIOR, DO ATO CITATÓRIO NO PROCEDIMENTO JUDICIAL (MS AgR/DF, Pleno, Ministro Celso de Mello, DJ de ). No mesmo sentido, há recentes decisões monocráticas (MS 26457/DF, Min. Joaquim Barbosa, DJe de ; MS 29038/DF, Min. Dias Toffoli, DJe de ; e MS 30505/DF, Min. Joaquim Barbosa, DJe de ). Na presente hipótese, o Decreto foi publicado em e o mandado de segurança, impetrado em Separadas as datas por quase um ano, desrespeitado se encontra o previsto no art. 23 da Lei nº /09. Não conheço do mandado de segurança, indeferindo a inicial (art. 10 da Lei /09). Daí o agravo regimental, sustentando que, não obstante o decreto presidencial de expropriação do bem imóvel tenha sido publicado em 23/12/2013, tal ato somente teria chegado ao 3

4 conhecimento dos impetrantes por meio da citação realizada em 01/12/2014, de forma que, conforme defendem, deveria ser considerado tempestivo o writ. Alegam que todo o procedimento administrativo que precedeu o decreto expropriatório teria sido realizado com ofensa aos princípios do contraditório e da ampla defesa e que, apenas na mencionada data de citação, os impetrantes teriam tido inequívoca ciência do Decreto Presidencial, pois, segundo dizem, todo o procedimento administrativo, desde suas primeiras diligências, foram realizados sem a devida notificação/intimação dos legítimos proprietários, infringindo assim o disposto na Lei 8.629/1993. Em atenção ao despacho do último dia 2 de fevereiro, vieram os autos à Procuradoria-Geral da República para parecer. Esses, em síntese, os fatos de interesse. O agravo não comporta provimento. De fato, como bem assinalou a eminente Relatora, é iterativa a jurisprudência do Supremo Tribunal Federal no sentido de que o prazo decadencial, em mandado de segurança versando desapropriação para fins de reforma agrária, inicia-se na data de publicação do decreto presidencial da declaração expropriatória 2. 2 Nesse sentido: MS AgR/DF, Pleno, Ministro JOAQUIM BARBOSA, DJ 24 jun. 2005; MS AgR/DF, Pleno, Ministro CELSO DE MELLO, DJ 20 abr. 1995; MS /DF, Ministro JOAQUIM BARBOSA, DJe 24 abr. 2012; MS /DF, Ministro DIAS TOFFOLI, DJe 25 set. 2013; MS /DF, Ministro JOAQUIM BARBOSA, DJe 02 maio

5 O exercício do direito de ação no prazo de 120 dias a contar daquela data é condição indispensável para o desenvolvimento válido e regular do mandado de segurança, sem o qual o autor é carecedor do direito de ação, acarretando a extinção do processo. O termo inicial do prazo decadencial de 120 dias começa a fluir, para efeito de impetração do mandado de segurança, a partir da data em que o ato do poder público, formalmente divulgado no Diário Oficial, revela-se apto a gerar efeitos lesivos na esfera jurídica do interessado. Nas desapropriações, o dies a quo desse prazo coincide com o da publicação do decreto governamental consubstanciador da declaração expropriatória (declaração de utilidade ou de necessidade pública, ou de interesse social), e não com o da efetivação, em momento posterior, do ato citatório no procedimento judicial. Aqui, tendo o decreto de desapropriação sido publicado em 23/12/2013, a impetração do writ, em 03/12/2014, quase um ano depois daquela data, revela-se extemporânea, de forma a acarretar a extinção do feito sem resolução do mérito. Além disso, no que se refere à alegação de ofensa ao contraditório e à ampla defesa durante o procedimento administrativo que antecedeu o decreto presidencial, verifica-se que não houve comprovação fática da efetiva ausência de notificação dos impetrantes, sendo necessária, nesse ponto, dilação probatória, o que também afasta o conhecimento do presente mandamus. A decisão ora agravada revela-se, portanto, irretocável. 5

6 Ante o exposto, é o parecer da Procuradoria-Geral da República pelo desprovimento do agravo regimental. Brasília (DF), 23 de abril de Rodrigo Janot Monteiro de Barros Procurador-Geral da República JCCR/VCM 6