I m a g e n s e m P r o c e s s o Charif Benhelima: Polaroids
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- Gabriel Henrique Silva Caldeira
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1 I m a g e n s e m P r o c e s s o Charif Benhelima: Polaroids MAC Material Pedagógico Encontro de Professores 2013
2 Exposição
3 Museu como Laboratório do Amanhã Inauguramos as exposições de 2013 do MAC Niterói com um diálogo entre um artista internacional, Charif Benhelima (Bruxelas, 1967), filho de pai marroquino e mãe belga, e a trajetória do Observatório de Favelas, iniciada em 2001 na Favela da Maré. No salão principal, reúnem-se quatro séries temáticas em itinerância das polaroides de Charif com a curadoria da Daniella Géo e Christophe De Jaeger sob o título de Imagens em processo. Na varanda, simbolicamente, trazemos os Processos em imagens, do Observatório de Favelas, para as bordas do MAC com a paisagem. Diante do grande cenário da baía de Guanabara, oferecemos ao visitante um percurso especial de empoderamentos de outras vozes do grande complexo social e habitacional da Favela da Maré, onde se torna visível a emergência de outros sujeitos estéticos, artísticos, como protagonistas da transfiguração de suas vidas e de seus mundos em potência de futuro. O que significa expor? Seria uma pergunta que deveria acompanhar o próprio sentido das duas exposições como também do museu e da arte no mundo. Se por um lado, Charif é ao mesmo tempo estrangeiro e cidadão do mundo globalizado, transeunte e pedestre dos conflitos entre nomadismo e não pertencimento, esquecimento e memória, que regem a vida contemporânea. Por outro, através de suas investigações estéticas e sociais, do Harlem aos semitas, das luzes às raízes, atravessam camadas da sua arqueologia milenar de origem judaica. Transitam no foco de seu olhar fluxos de uma vontade estética transcultural que revela em imagens as zonas de invisibilidade das migrações e miscigenações. Charif faz da Polaroid um aparato de extensão e construção reflexiva de sua subjetividade geradora de fixações fugazes de si mesmo sobre o tempo do real e da rua, da ambiguidade material lúcida do mundo e de seus simulacros. Os processos em imagens do Observatório que habitam a varanda não trazem respostas, mas relatos e testemunhas de sujeitos de sua transformação. Com o trabalho e percurso deste Observatório, ou melhor, laboratório do amanhã oferecemos ao visitante um mirante sobre as microgeografias da alegria como forma de transfigurações entre lugar comum e arte. Se para Espinosa alegria significa também potência de agir diremos então que no percurso circular da varanda temos imagens de processos de transformações de sujeitos em produtores estéticos de novos mundos como a si mesmos. Convidamos o visitante não para uma exposição de imagens mas para um laboratório do amanhã, onde processos revelam e refletem cada um como pertencentes à mesma condição humana líquida e luminosa, quase invisível, mas que habita as contradições do existir no mundo contemporâneo. Luiz Guilherme Vergara Curador/Diretor Museu de Arte Contemporânea
4 Imagens em Processos - Charif Benhelima: Polaroids Desde o término de Welcome to Belgium ( ) projeto que trata do sentimento de não pertencimento, realizado em filme 35mm preto e branco, Charif Benhelima (Bruxelas, 1967) fotografa quase exclusivamente com Polaroid. A adoção dessa fotografia que se autorrevela e muitos pensavam efêmera demarcou uma nova fase no processo criativo do artista, a partir do estabelecimento de outra relação com o ato de fotografar bem mais lento e de pouco controle técnico, cuja fotografia resultante é única e irretocável. Como que na contracorrente da proliferação das imagens digitais, Benhelima investe, a cada série, em uma nova investigação estética, conceitual e, por vezes, metodológica, com essa mídia instantânea, popular, sobretudo, nos anos 1970 e Suas pesquisas estabelecem relações com as especificidades da Polaroid e se servem da limitação técnica do modelo amador adotado, Polaroid 600 (filme e câmera), dando forma a uma obra complexa e consequente. Um dos maiores representantes da arte contemporânea da Bélgica na prática da fotografia, Benhelima a reafirma como objeto representacional aberto à crítica reflexiva. Seja aplicando à Polaroid 600 a abordagem documental da chamada fotografia de rua ou dedicando-se à lógica arquivista por meio da apropriação e reemprego de imagens preexistentes, o artista põe o próprio signo fotográfico em questão. Noções como verdade, documento e também identidade, origem, tempo, espaço, memória/esquecimento, obliteração são centrais à obra de Benhelima, cuja história familiar constitui-se de grandes lacunas. Filho de pai marroquino e mãe belga, o artista ficou órfão aos oito anos. Cresceu no interior da católica Flandres ocidental e aprendeu sobre sua origem judaica sefardita já em idade adulta. Seu processo identitário diante das contradições, dos conflitos e da intolerância despertados pela diversidade cultural é a base de suas pesquisas. Embora de fundo autobiográfico, a obra de Benhelima ultrapassa as questões pessoais. É, ao contrário, formada e formadora de discursos sociopolíticos de dimensão universal, associados, em particular, à problemática da imigração e da discriminação, assim como da própria imagem fotográfica e social como construção. A noção de invisibilidade, visual e/ou simbólica, explorada nas diferentes séries, é aí fundamental. Compostas, em grande parte, como espécies de abstrações figurativas, as polaroides de Benhelima são imbuídas de ambiguidade. A percepção do tempo, do espaço, do real e do simulacro é desestabilizada, e a subjetividade do observador perante as imagens, assim como as questões que elas levantam, assume seu papel construtivo diante de toda representação. Iniciada pelo Palais de Beaux-Arts (BOZAR), Bruxelas, a exposição Charif Benhelima: Polaroids chega ao MAC de Niterói, trazendo uma seleção de mais de 100 polaroides, divididas em quatro séries: Harlem on my mind: I was, I am ( ), Semites ( ), Black-out ( ) e Roots ( ). Ainda são apresentadas três obras em grande formato e um livro de artista, resultantes dessas pesquisas. Como em uma visita íntima ao ateliê do artista, esta exposição panorâmica oferece ao público acesso ao centro do processo artístico de Benhelima que, paradoxalmente pode ser visto como obra em si. Daniella Géo Curadora
5 Charif Benhelima 1967 Bruxelas, Bélgica Breve Biografia Graduado e Mestre em Fine Arts na Higher Institute Saint Lucas (Bruxelas, ), laureado no Higher Institue for Fine Arts - HISK (Antuérpia, ) e formou-se em Fotografia documental no Centro Internacional de Fotografia - ICP (Nova York, ). Nomeado por sua obra completa para o Robert Gardner Fellowship em Fotografia 2008 (Harvard University / Peabody Museum), Benhelima investiga a noção de identidade, memória/esquecimento, documento, e verdade através de imagens que exploram a percepção do tempo e espaço, e um senso de invisibilidade. O artista desenvolveu, durante nove anos, uma pesquisa fotográfica sobre o sentimento de ser estrangeiro, que resultou em um livro contundente, ainda que poético (Ludion, 2003, edição esgotada). Ao combinar quatro séries fotográficas (P&B, analógica), fotos de família, declarações do autor, decretos de lei e um documento histórico, Welcome to Belgium oferece uma complexidade de significados dentro de sua construção cíclica, além de uma visão do processo de desenvolvimento de Benhelima. A estada em Nova York foi de algum modo uma virada no trabalho de Benhelima, uma vez que ele trouxe a sua abordagem documental e conceitual para o popular Polaroid 600, embarcando em uma espécie de contracorrente ao meio digital e, mais importante, criando um estilo altamente pessoal. Viveu no Harlem por 3 anos ( ), desenvolvendo o trabalho feito com uma Polaroid amadora: Harlem in my mind I was, I am. Palavra do Artista Paulo Reis: Falando em desafios, Merleau-Ponty enunciou que o mundo é o que vemos. Ver é estar no mundo, na sentença fenomenológica do "aqui e agora" (hic et nunc). Estamos vivendo no mundo digital. Quanto tem a tecnologia digital a contribuiu para ampliar os conceitos e limites de seu trabalho? Charif Benhelima: Eu não sou contra novas mídias mas não sigo tendências. Certas obras podem encontrar seu caminho usando a tecnologia digital, como alguns usos experimentais, mas a sua simples adoção pode ser um caminho muito errado, até mesmo uma limitação. Eu poderia dizer que, de alguma forma, o meu trabalho vai na direção oposta. Como eu tenho, desde 1998, trabalho com a Polaroid 600, um filme instantâneo e uma câmera que não permite um controle muito técnico, isto me desafiou bastante (antes eu trabalhava com um Contax) e levou-me a uma nova etapa no meu processo. Assim, em Harlem on my mind - I am, I was, por exemplo, eu manipulo a percepção para questionar uma determinada realidade, lidando com muitos sinais do tempo também. É um trabalho que fala sobre transição do passado e do presente se confrontado. Em Semitas, a idéia de tempo está novamente presente, mas eu lidei com isso de uma maneira totalmente diferente. Em 2003 Behelima participou do programa de residência artística na Cité Internationale des Arts, Paris, onde continuou a trabalhar com o filme instantâneo e começaram o projeto dos Semitas, que ele definiu como um "documento falso". A série de obras reflete sua origem árabe-sefardin e consistem em reproduções em Polaroid de imagens de arquivo, fotos de identidade e imagens familiares organizados em uma instalação monumental. Benhelima participou do Programa de Residência Künstlerhaus Bethanien, em Berlim ( ), que lhe deu a oportunidade de realizar a série Semitas e desenvolver a primeira parte do projeto, em andamento, Black-Out.
6 Harlem on my mind: I was, I am ( ) Esta série marca um recomeço na trajetória artística de Benhelima, que se muda de Antuérpia, Bélgica, para Nova Iorque e reside, três anos, no bairro do Harlem. Passa a fotografar com Polaroid 600 (filme e câmara), empregando a essa mídia amadora a prática da chamada fotografia de rua, gênero ao qual já havia se dedicado em seu trabalho anterior. Entretanto, a estética antes mais econômica dá lugar a reflexos, contraluzes, silhuetas, sombras, imagens bipartidas, juntamente com o foco suave característico da Polaroid. Mesmo que figurativas, suas imagens beiram, por vezes, a abstração. Muitas delas parecem ainda se encontrar em uma interseção temporal; ao primeiro olhar, remetem-nos a um passado mais distante do que nos revelam certos índices de contemporaneidade, como na polaroide aparentemente antiga, que mostra um homem velho sentado, cujo tênis e a pichação, na parede ao fundo, nos levam à atualidade. A ambiguidade manifesta dessas imagens lida com a percepção do observador ao colocar em questão a própria representação. A série evoca a problemática da marginalização sem exotismos, a abordagem de Benhelima se insere em uma via dupla, fundamentada pela projeção de si mesmo no outro e pelo espelhamento do que imagina ser a experiência alheia. Ironicamente, diante da comunidade do Harlem de maioria negra e, historicamente, alvo de racismo pela primeira vez, seu nome, de origem semita, não era percebido como negação de sua cultura e nacionalidade belga. Mais do que documentar o bairro, Harlem on my mind: I was, I am (Harlem em minha mente: Eu fui, eu sou) representa um sentido de instabilidade, incerteza e transição de processos identitários constantemente cotejados.
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8 Semites ( ) Impulsionado pela descoberta, ainda em Nova Iorque, sobre sua origem judaica sefardita, Benhelima dá início, ao retornar à Europa, a uma pesquisa sobre os diferentes grupos de cultura semita. Como forma de, simbolicamente, ter acesso a um passado longínquo e fazer referência à história, o artista recorre à apropriação de imagens fotográficas originárias de arquivos, mercados das pulgas e álbuns de família de desconhecidos e da sua também. Benhelima busca retratos de identidade e informais de indivíduos de cultura semita, reagrupando, assim, judeus e árabes. Ele inclui ainda dois retratos seus. Além das imagens antigas de diversos períodos, outras recentes compõem a série Semites (Semitas), como se, juntas, reestabelecessem o continuum temporal, de uma época remota até a atualidade. A noção de tempo linear, entretanto, é comprometida pela intervenção que Benhelima impõe às imagens apropriadas ao refotografá-las. Da mesma forma, as identidades individuais e dos diferentes povos semitas são ofuscadas. Nos retratos em polaroide, os traços físicos e de vestimentas são parcialmente encobertos, gerando uma estética da invisibilidade. Esmaecidas, as polaroides parecem estar desaparecendo. Ou, ao contrário, ainda se revelando: ao olharmos para elas, prolongadamente, começamos a distinguir alguns detalhes das fisionomias e, não raras vezes, temos a impressão de reconhecer um rosto familiar. Assim, observadas no presente, as imagens geram uma interseção temporal, que remete, ao mesmo tempo, ao passado e ao futuro, ao que foi e ao que está em formação. Esquecimento/memória, negação/reconhecimento, obliteração/preservação, diferença/semelhanças são questões postas em dialética. Semites é uma reflexão sobre a noção de origem, segundo uma história (cultural) comum a semita, em particular assim como sobre as potencialidades do passado, projetadas tanto em nosso presente, quanto no futuro.
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10 Black-Out (2005-) Benhelima volta a praticar a fotografia de rua. Desta vez, ao documentar edifícios, objetos, passagens, outdoors e, por vezes, transeuntes, o artista leva ao extremo a estética da invisibilidade, iniciada na série Semites. Em grande parte das imagens, pouquíssimo contexto é oferecido. O objeto central tem seu entorno quase ou completamente dissipado. Outras vezes, a imagem inteira é evanescente, como se estivesse no limite entre existência e não existência. Nesta série, Benhelima desconstrói ainda mais o que é documentado. Seu tratamento favorece a impressão de tempo suspenso e oblitera o potencial informativo da fotografia, ainda que as imagens minimalistas e próximas a um abstracionismo de Black-out reafirmem, paradoxalmente, sua capacidade descritiva. Ao olharmos atentamente, o que é retratado se define: poucas linhas nos deixam reconhecer uma cadeira e um pequeno dégradé de cinza em formato de pião revela a imagem de um pombo. Contudo, o excesso de luz, a exacerbação da impressão por contato dos referentes da imagem fotográfica são usados, conceitualmente, como processo de desinformação ou de apagamento. Black-out, como o título indica, alude a esquecimento, à perda de consciência e também à supressão de informação. A descontextualização, ou melhor, o esvaziamento da imagem causado por uma espécie de névoa é um indício de que (toda) a representação esconde o que lhe excede. O vazio é, aqui, o próprio contexto é a identidade, a memória, a história deixados em aberto.
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12 Roots ( ) Em Roots (Raízes) pesquisa derivada e complementar à Black-out, Benhelima emprega fotografia de rua e sua estética da evanescência na observação de flores e vegetação em espaço urbano. Dois grupos de imagens compõem a série, Occupancy (Ocupação) e Memorial. Em Occupancy, o artista retrata a simbiose entre plantas e elementos construídos pelo homem (muros, postes, pavimentação etc.) ou entre plantas de diferentes espécies e origem, em referência à ocupação do espaço social e sua estrutura de interseções, de trocas e convívio, assim como à sua conformação por processos migratórios. A impressão de invisibilidade ou de vazio, porém, afeta a percepção tanto do espaço quanto de sua ocupação. Algumas vezes, enquanto o plano de fundo é aparente, o objeto central flores, árvores ou folhagens é mostrado como uma silhueta em negativo, parecendo estar como que recortado da polaroide. Presença ausente da própria imagem, o objeto central delimita e ocupa espaço, estabelece relações com os demais elementos, mas parece oco como impressões em baixo-relevo. Já em Memorial, vasos com flores aparecem evanescentes e quase completamente descontextualizados, chegando, por vezes, parecer flutuar em um fundo infinito. É como se Benhelima levasse o estúdio para o espaço público e tratasse seus elementos como natureza-morta. Memorial se difere, porém, do simbolismo mitológico ou religioso da natureza-morta tradicional, bem como da pura observação e exploração plástica dos objetos, típica do gênero. O uso estético de formas reduzidas ao mínimo pela dissolução de grande parte da estrutura física das flores refere-se, mais uma vez, à noção de memória/esquecimento, enquanto a vacuidade de contexto remete ao questionamento sobre as noções de origem, identidade, pertencimento etc. Apoiadas pelo título, as imagens sugerem tributo a alguém, a um evento ou ao que constitui a grande ausência evocada pelas imagens.
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14 Identidade
15 Sefarditas (em hebraico íéãøôñ, sefardi; no plural, sefardim) é o termo usado para referir aos descendentes de Judeus originários de Portugal e Espanha. A palavra tem origem na denominação hebraica para designar a Península Ibérica (Sefarad ãøôñ ). Utilizam a língua sefardi, também chamada "judeu-espanhol" e "ladino", como língua litúrgica. Os sefarditas provavelmente estabeleceram na Península Ibérica durante a era das navegações fenícias, embora suas presenças só possam ser atestadas a partir do Império Romano. Sobreviveram à cristianização, invasão visigótica e moura, mas começaram a sucumbir na fase final da Reconquista. Os judeus fugiram das perseguições que lhes foram movidas na Península Ibérica na inquisição espanhola ( ), dirigindo-se a vários outros territórios. Uma grande parte fugiu para o norte de África, onde viveram durante séculos. Milhares se refugiaram no Novo Mundo, principalmente Brasil e México, onde nos dias atuais concentram milhares de descendentes dos judeus conhecidos como Marrano. Os sefarditas são divididos hoje em Ocidentais e Orientais. Os Ocidentais são os chamados judeus da nação portuguesa, enquanto os orientais são os sefardim que viveram no Império Otomano. Com o advento do sionismo e particularmente após a crise israeli-árabe de 1967, quando as minorias judaicas nos países árabes foram alvo de ataques, muitos dos judeus vivendo em países árabes foram viver em Israel, onde formam hoje um importante segmento da população, com uma tradição cultural diferente dos outros, asquenazi, os da Alemanha ou do Leste Europeu (Europa Oriental). Por isso, o termo sefardita é frequentemente usado em Israel hoje para referir os Judeus oriundos do norte de África. Entretanto é um erro referir-se genericamente à todos os judeus norte-africanos e dos países árabes como sefardim. Os judeus mais antigos destes países são chamados Mizrachim (de Mizrach, o Oriente), ou seja, orientais. Houve importantes comunidades sefarditas nos países árabes, quase sempre conflitivas com as comunidades autóctones, sobretudo no Egito, Tunísia e Síria. São judeus hispânicos que quase sempre se opõem à Qabbala sefardita e mantêm um serviço religioso bem disciplinado e de melodias suaves. O rito ocidental é conhecido como Espanhol-Português. Os Sefarditas foram responsáveis por boa parte do desenvolvimento da Cabala medieval e muitos rabinos sefarditas escreveram importantes tratados judaicos que são usados até hoje em tratados e em estudos importantes.
16 Semita é o termo que designa um conjunto linguístico composto por vários povos. A origem da palavra Semita está na Bíblia, mais precisamente no livro do Gênesis quando se trata da história de Noé. Nas escrituras judaicas, um dos filhos de Noé era chamado Sem, o que é uma versão grega para o nome hebraico Shem. A derivação do nome de tal filho de Noé, Semita, passou a identificar um conjunto de povos que possuem traços culturais comuns. Os Semitas tiveram origem no Oriente Médio, onde ocuparam vastas regiões indo do Mar Vermelho até o planalto iraniano. São povos típicos de ambientes com clima seco, o que os caracteriza pelas práticas do pastoreio e do nomadismo. Esses antigos povos identificados pela fala semítica envolvem os arameus, assírios, babilônios, sírios,hebreus, fenícios e caldeus. O século XX foi marcado por muitos conflitos com os povos de origem Semitas, mas também entre eles mesmos, como é o caso dos embates entre árabes e hebreus. A criação do Estado de Israel, após a Segunda Guerra Mundial, gerou um clima de muita instabilidade e confrontos na região do Oriente Médio. O muito popularmente difundido termo anti-semita é utilizado em muitas ocasiões como sinônimo de condutas ou posturas contra os judeus. Mas, é importante frisar, que, no rigor do termo, denota comportamentos de oposição aos povos remanescentes da origem semítica. Antonio Gasparetto Junior Os Semitas estão intimamente ligados com a origem das três grandes religiões monoteístas no mundo: o Cristianismo, o Judaísmo e o Islamismo. A religião judaica nasceu entre os povos hebreus, no Mediterrâneo, durante os conflitos entre cananeus e moabitas. Os judeus também se espalharam pelo mundo muito em razão da invasão dos povos romanos no século I da era cristã. Essa grande dispersão que se deu é reconhecida como a Diáspora Judaica, que resultou na formação de grupos de judeus pelo mundo e no estabelecimento de novos contatos culturais. Assim sendo, as características originais mantiveram-se mais forte apenas entre os grupos que permaneceram no continente asiático. Além das migrações promovidas pelos islâmicos e pelos judeus, diversas outras também ocorreram entre os povos semitas. Tornou-se impossível falar de um grupo étnico homogêneo, pois a grande movimentação incorreu no encontro entre diversas culturas que originou novas características, como é o caso do grande número de línguas que passaram a compor a família semítica. Os povos árabes e os hebreus são os que mais se destacam dentro da linhagem Semita, mas, como já dito, diversos outros comungam de uma mesma origem. Esses vários povos passaram por diversos conflitos especialmente com povos de origem européia no decorrer do tempo.
17 Constelações Cada obra de arte traz consigo uma constelação de histórias, relações direta ou indiretamente entrelaçadas do artista com sua época e com a poética de outros artistas. As relações entre os diversos campos de criação humana não são de causa e efeito, mas sim de revelações, contaminações e comunicação que materializam o espírito de uma época. Propomos dentro do tema abordado na exposição alguns recortes e artistas que mantenham um diálogo com as obras vistas na exposição. Lembrando que esse material deve servir como instigação para os educadores e que cada um possa também construir e estabelecer suas próprias relações e constelações. Definições sobre os diferentes níveis de sentidos de uma obra de arte: Cada obra de arte é infinita como campo de experiências; Cada obra de arte é parte de uma constelação de diferentes histórias: Do artista e de sua época; Da história da arte; Dos materiais e dos procedimentos artísticos; Dos temas e conteúdos simbólicos; De cada espectador. Mediação/Leitura de Imagens Na exposição Uma abordagem interessante de leitura de imagem pode ser: individualmente ou em duplas (separe o grupo). Escolha as series que eles vão abordar. Peça então que observem as imagens e que escrevam as palavras que pensarem. Depois em grupo as impressões vão ser compartilhadas. É a partir da leitura dessas palavras e imagens que vamos abordar a exposição, os temas e as questões tratadas pelo artista. Em sala de aula Divida a turma em pequenos grupos e distribua a cada um deles uma prancha que compõe o material (é só imprimir). Peça então que observem as imagens e que escrevam as palavras que lhes vem à cabeça. Depois é só seguir as etapas a cima. Essa estratégia você pode usar para trabalhos com outros artistas.
18 Charif Benhelima - série Harlem on My Mind Rosaângela Rennó - Cicatriz Cildo Meireles - Black pente Rosângela Rennó (1962, Minas Gerais) apropria-se dos arquivos do Museu Penitenciário Paulista no complexo do Carandiru (fotos de ). As imagens são de cicatrizes, tatuagens e coroas de cabelo. Esse material era usado para ilustrar as fichas dos internos da penitenciária. Em Cicatriz (1996) Rennó faz uma crítica da fotografia que no âmbito da prisão torna-se um elemento de coerção institucional. Junto as fotografias Rennó coloca textos do seu Arquivo Universal (são histórias cotidianas sobre gente e fotografia um arquivo de imagens sem imagens). Palavras chave: imagem, identidade, arquivo, apropriação e invisibilidade. Cildo Meireles (1948, Rio de Janeiro) dentro da serie - Inserções em Circuito Antropológico desenvolve o projeto Black Pente, o objetivo era distribuir pentes afro a preço de custo. A intenção era inserir no circuito social algo que provocasse um novo comportamento, criando um elemento de afirmação e auto estima da população negra. O pente funcionava como um elemento de afirmação, um símbolo de rompimento com um padrão de embelezamento branco e europeu, mostrando que outro padrão também podia ser valorizado. A distribuição do pente implicava não só na questão da valorização de uma etnia como também na possibilidade de modificação de uma realidade social. Pense nas possíveis aproximações entre os dois artistas. Para ajudar na abordagem dos temas e leitura das imagens algumas palavras chave: identidade, percepção, alteridade e representação. Dica: Trabalhe com os alunos as músicas Olhos Coloridos (Sandra de Sá) e Sucrilhos (Criolo)
19 Charif Benhelima - série Semitas Rosana Paulino - Bastidores Rosana Paulino (1967, São Paulo) na serie Bastidores (1997) apresenta um conjunto de seis peças feitas com xérox de fotografias do seu álbum de família transferidas para tecidos e emolduradas num suporte circular onde em cada uma das reproduções ela realiza uma intervenção. Ela borda de forma agressiva uma parte importante desses rostos femininos. A discriminação, a dificuldade de oportunidades de educação e, portanto, de possibilidades de crescimento e prosperidade estão por todos os lados. Vivemos em silêncio, como que sob uma censura. Assim pode-se interpretar a maneira como Rosana Paulino se expressa de forma quase dolorosa nestes trabalhos. Arte e sociedade no Brasil de 1976 e 2003/Aracy do Amaral e André Toral, No trabalho de Paulino observem os retratos, chame a atenção para as partes dos rostos das mulheres e para as costuras. Questione o que significa costurar a boca de uma pessoa? O que nos lembra aquele tipo de costura? Parece uma mordaça? Como podemos interpretar o fato da artista costurar os rostos de mulheres? Hoje, todos nós podemos emitir nossa opinião? Rosana Palazyan - Retratos Rosana Palazyan (1963, Rio de Janeiro) desenvolve com internos (jovens infratores) do Instituo João Luís Alves no Rio de Janeiro a serie Retratos (2000), onde ela cria uma serie de desenhos de adolescentes usando máscaras, assim eles mantêm sua identidade preservada. Essas imagens ficam separadas, intercaladas por espelhos e funcionam com o objetivo da sociedade também se ver espelhada dentro dessa realidade social, vemos o jovem e também nos vemos um reflexo que pode levar a uma reflexão. A artista produz seu trabalho como um exercícios da alteridade e no entendimento do papel da arte como ferramenta de transformação. Palavras chave: identidade (gênero), alteridade, memória, representação, consumo, invisibilidade e violência.
20 Fotografia
21 Breve história da fotografia: uma relação entre arte e ciência A fotografia não tem um único inventor. Ela é uma síntese de várias observações e inventos em momentos distintos. A primeira descoberta importante para a photographia foi a "câmara obscura". O conhecimento de seus princípios óticos se atribui a Aristóteles. Sentado sob uma árvore, Aristóteles observou a imagem do sol, durante um eclipse parcial, projetando-se no solo em forma de meia lua quando seus raios passarem por um pequeno orifício entre as folhas. Observou também que quanto menor fosse o orifício, mais nítida era a imagem. No século XIV já se aconselhava o uso da câmara escura como auxílio ao desenho e à pintura. Leonardo da Vinci fez uma descrição da câmara escura em seu livro de notas, mas não foi publicado até Giovanni Baptista Della Porta, cientista napolitano, publicou em 1558 uma descrição detalhada da câmara e de seus usos. Esta câmara era um quarto estanque à luz, possuía um orifício de um lado e a parede à sua frente pintada de branco. Quando um objeto era posto diante do orifício, do lado de fora do compartimento, sua imagem era projetada invertida sobre a parede branca. Em 1604, o cientista italiano Angelo Sala, observou que certo composto de prata se escurecia quando exposto ao sol. Após alguns anos, Niépce recobriu uma placa de metal com betume branco da judéia, que tinha a propriedade de se endurecer quando atingido pela luz. Nas partes não afetadas, o betume era retirado com uma solução de essência de alfazema. Em 1826, expondo uma dessas placas durante aproximadamente 8 horas na sua câmara escura, conseguiu uma imagem do quintal de sua casa. Apesar dessa imagem não ter meios tons e não servir para litografia, todas as autoridades na matéria a consideram a primeira fotografia permanente do mundo. Esse processo foi batizado por Niépce de "HELIOGRAFIA", gravura com a luz solar. Dois anos após a morte de Nièpce, Daguerre descobriu que uma imagem quase invisível, latente, podia revelar-se com o vapor de mercúrio, reduzindo-se assim de horas para minutos o tempo de exposição. Conta a história que uma noite Daguerre guardou uma placa subexposta dentro de um armário onde havia um termômetro de mercúrio que se quebrara. Ao amanhecer, abrindo o armário, Daguerre constatou que a placa havia adquirido uma imagem de densidade bastante satisfatória, tornara-se visível. Em todas as áreas atingidas pela luz o mercúrio criava um amálgama de grande brilho, formando as áreas claras da imagem. Após a revelação, agora controlada, Daguerre submetia a placa com a imagem a um banho fixador, para dissolver os halogenetos de prata não revelados, formando as áreas escuras da imagem. Inicialmente foi usado o sal de cozinha, o cloreto de sódio, como elemento fixador, sendo substituído posteriormente por Tiosulfato de sódio (hypo) que garantia maior durabilidade à imagem. Este processo foi batizado com o nome de Daguerreotipia.
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