TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO DÉCIMA QUARTA CÂMARA CÍVEL APELAÇÃO CÍVEL Nº APELANTE: POLIMPORT COMÉRCIO E EXPORTAÇÃO LTDA. APELADO: MARCIA COSTA GOMES RELATOR: DESEMBARGADOR CLEBER GHELFENSTEIN DECISÃO MONOCRÁTICA APELAÇÃO CÍVEL. DIREITO DO CONSUMIDOR. COMPRA DE PRODUTO EM SITE DA INTERNET. PARCELAMENTO DO PAGAMENTO. AUTORA QUE AO RECEBER O PRODUTO VERIFICA QUE O MESMO NÃO ATENDE AO FIM DESEJADO. ART.49 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. DIREITO DE ARREPENDIMENTO. RÉU QUE NÃO REALIZA O CANCELAMENTO DA COMPRA. AUTORA QUE TEM OS CHEQUES DEBITADOS EM SUA CONTA CORRENTE. DEVOLUÇÃO DE CHEQUE POR INSUFICIÊNCIA DE FUNDOS. REAPRESENTAÇÃO E NOVA DEVOLUÇÃO. INSCRIÇÃO DO NOME DA AUTORA NO CADASTRO DE EMISSÃO DE CHEQUES SEM FUNDOS DO BANCO CENTRAL. AUTORA QUE DEU CAUSA À ANOTAÇÃO. DANO MORAL NÃO CONFIGURADO. SENTENÇA QUE MERECE PARCIAL REFORMA. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO, NA FORMA DO ART. 557, 1º- A, DO CPC PARA AFASTAR A CONDENAÇÃO AO PAGAMENTO DE INDENIZAÇÃO POR DANOS MORAIS, MANTENDO-SE NO MAIS A D. SENTENÇA. Trata-se de ação de indenização proposta por Marcia Costa Gomes em face de Polimport Comércio e Exportação Ltda., alegando, em síntese, que adquiriu, através do site disponibilizado pela ré, chapa alisadora a vapor Conair nono silven, contratando como forma de pagamento 10 cheques pré datados, no valor de R$ 39,98 cada, sendo o primeiro com vencimento para o dia 15/02/2009 e o último a vencer em 15/11/2009. A autora aduz que ao testar a chapa alisadora verificou que esta não se prestava ao fim a que se destinava e contactou imediatamente a empresa ré para efetuar o cancelamento da compra, consoante lhe assegura a legislação consumerista. Alega que a parte ré não realizou o cancelamento da compra e depositou mensalmente os cheques dados em pagamento, que foram devolvidos por insuficiência de fundos, ensejando a 1

2 inserção de seu nome no cadastro de emissão de cheques sem fundos do Banco Central. Requer a antecipação dos efeitos da tutela para que seja desfeita a compra efetuada, com a suspensão dos depósitos dos cheques vincendos, bem como a devolução dos mesmos mediante a entrega do produto, e por fim, a condenação do réu ao pagamento de indenização por danos morais. 14/23. A inicial de fls. 2/13, veio acompanhada dos documentos de fls. Decisão às fls. 25, deferindo a gratuidade de justiça e indeferindo o pedido de antecipação de tutela por entender que a suspensão dos pagamentos em cheque pode ser obtida por diligência da autora junto ao banco sacado. Contestação às fls. 31/48, sustentando a parte ré que a autora adquiriu o produto, via internet, no dia 23/01/2009, realizando o pagamento através de 10 cheques. Aduz que dos cheques emitidos, 1 (um) foi devolvido por insuficiência de fundos e pago através de empresa de cobrança, outros 6 (seis) foram devolvidos por insuficiência de fundos e não pagos pela autora e 3 (três) encontram-se em aberto, aguardando a data avençada para depósito. Afirma que o produto foi entregue em 02/02/2009 e somente em 15/05/2009 a autora entrou em contato, por telefone, para solicitar o cancelamento da compra, ou seja, transcorridos mais de 90 dias da entrega do produto. Afirma que a suposta solicitação de cancelamento da compra é incompatível com o pagamento do cheque devolvido por insuficiência de fundos. Por fim, alega que não praticou qualquer ato ilícito e por isso descabe o acolhimento da pretensão da autora, vez que inexiste dano moral a ser indenizado. Sentença às fls. 100/102, julgando procedente em parte o pedido do autor, cancelando o contrato celebrado entre as partes e determinando a devolução pelo réu, à autora, dos cheques por esta emitidos, mediante entrega, pela autora do produto rejeitado. Condena o réu ainda, a indenizar a autora por danos morais em R$ 3.000,00 (três mil reais), acrescido de juros desde a citação e correção monetária desde a propositura da ação. Por fim, condena o réu em custas e honorários arbitrados em 10% do valor da condenação. Irresignada apela a parte ré às fls. 104/122, repisando seus argumentos de defesa, requerendo a improcedência do pedido ou, subsidiariamente, a redução do valor da condenação a título de danos morais. Contrarrazões do autor às fls. 155/160 prestigiando a sentença. Relatei sucintamente. Decido. De início, cumpre mencionar que estão presentes os requisitos de admissibilidade do recurso que deve, por conseguinte, ser conhecido, posto que a apelação é tempestiva e preenche os requisitos legais. 2

3 A matéria é de entendimento consolidado na jurisprudência deste e dos tribunais superiores, suportando deliberação monocrática pelo relator, na forma do artigo 557 do CPC. Trata-se de ação pelo rito ordinário, em que a parte autora requer o cancelamento de compra realizada em site da internet com a devolução dos cheques emitidos para pagamento e indenização por danos morais. A sentença recorrida cancelou o contrato celebrado entre as partes, determinou a devolução dos cheques à autora mediante entrega do produto e condenou o réu a pagar autora a quantia de R$ 3.000,00 (três mil reais) a título de indenização. Irresignada apela a parte ré. É inegável que a relação, ora discutida, é de consumo na qual ocupa a autora a posição de consumidor, parte mais fraca e vulnerável dessa relação jurídica, na forma do art. 3, 2 do CDC. C abe ressaltar, que a responsabilidade aqui tratada é objetiva, fundada na teoria do risco do empreendimento, segundo a qual todos aqueles que se dispõe a exercer alguma atividade de fornecimento de bens e serviços respondem pelos fatos e vícios resultantes do empreendimento, independentemente de culpa, só podendo a prestadora dos serviços se eximir desta nos casos estritos do art 14, 3, da Lei n 8.078/90. Inicialmente afasto a preliminar de decadência suscitada pelo apelante, vez que o mesmo não trouxe aos autos prova da data em que o produto foi entregue à apelada. Analisados os fatos e provas constantes dos autos, verifica-se ser incontroversa a relação jurídica entre as partes e a tentativa da autora de exercer seu direito de arrependimento. Com efeito, caberia ao réu, ora apelante a produção de prova de fato impeditivo, modificativo ou extintivo do alegado direito autoral, conforme disciplina dos artigos 333, II, do CPC. Entretanto, o réu não logrou êxito em comprovar que o cancelamento da compra foi solicitado fora do prazo legal para o exercício do direito de arrependimento, previsto no art. 49 do Código de Defesa do Consumidor, ônus que lhe cabia, ensejando, dessa forma, o reconhecimento do direito da parte autora ao desfazimento do negócio. Assim, correta a decisão do Juízo a quo cancelando o contrato celebrado entre as partes e determinando a devolução pelo réu, à autora, dos cheques por esta emitidos, mediante entrega do produto. 3

4 Contudo, no que tange ao dano moral, há de se reformar o douto julgado para excluir a condenação impositiva de compensação financeira pelos supostos danos decorrentes da má prestação de serviço oferecido. Releva notar que a parte autora, tendo permanecido de posse do produto, não poderia deixar de adimplir com sua obrigação contratual, vez que após formalmente desfeito o negócio, poderia reaver os cheques ainda não depositados e os valores referentes aos já depositados. Nesse diapasão, inexiste dano moral no caso em tela, por não se vislumbrar conduta ilícita ou abusiva do réu, havendo sim o não pagamento por parte da autora dos cheques por ela emitidos. Desta forma, vem a autora pleitear uma compensação moral, que está afastada, tendo em vista que deu causa a alegada inclusão de seu nome nos cadastros de emitentes de cheque sem fundos, tendo o aponte consubstanciado consequência inexorável do ato por ela praticado. Justiça: Nesse sentido, os seguintes julgados deste Egrégio Tribunal de APELACAO - 1ª Ementa DES. MARIO ASSIS GONCALVES Julgamento em 03/11/ TERCEIRA CAMARA CIVEL Contrato bancário. Devolução de cheque por insuficiência de fundos. Reapresentação e nova devolução. Inscrição do correntista no cadastro de emissão de cheques sem fundos do Banco Central (CCF-BACEN). Negativação correta. Quando o correntista emite um cheque sem fundos é ele quem comete um ato impróprio e ilícito, pois ao levar o nome do emitente ao cadastro de emissão de cheques sem fundos (CCF-BACEN), e consequentemente aos órgãos de proteção ao crédito, a instituição bancária apenas cumpre determinação do Banco Central do Brasil, nos termos do artigo 10 da Resolução Tal inscrição, portanto, não pode ser considerada ato ilícito, tratandose de hipótese do exercício regular de direito. (...) Recurso ao qual se nega provimento ( ) - APELACAO - 1ª Ementa -DES. GALDINO SIQUEIRA NETTO - Julgamento: 10/03/ DECIMA QUINTA 4

5 CAMARA CIVEL Ação de indenização por danos morais. Rito ordinário. Emissão de cheque sem fundos. Segunda apresentação do cheque após (...) Correta a inclusão do nome do autor no cadastro dos emitentes de cheques sem fundos - CCF. Jurisprudência do E. Superior Tribunal de Justiça. Correta a sentença de improcedência. Não provimento do recurso Nesse diapasão, ainda que tivesse solicitado o cancelamento da compra no exercício do direito de arrependimento, assegurado pelo artigo 49 do Código de Defesa do Consumidor, não poderia a autora inadimplir com sua obrigação contratual, antes de formalizado o desfazimento, mesmo porque permanecia de posse do produto rejeitado. Não vejo, assim, elementos suficientes que possam ensejar compensação por dano moral. É certo que eventual frustração com a compra e os transtornos para realizar seu cancelamento incomodam, mas não ao ponto de atingir a ordem psicológica da autora, de causar sofrimento e profunda tristeza. Com efeito, meros aborrecimentos, contrariedades, irritação, fatos que são corriqueiros na agitação da vida moderna nas grandes metrópoles, não são capazes de originar o ônus indenizatório, salvo quando evidenciados que são motivadores de sofrimento que abale o comportamento psicológico do homem médio, o que não é o caso dos autos. Assim, não é desejável que se banalize o dano moral, concedendose indenizações por acontecimentos que podem ser desagradáveis, que deveriam ser evitados, mas que, infelizmente, são incapazes de sustentar o pedido indenizatório, deduzido na esteira da chamada indústria do dano. Pelo exposto, dou parcial provimento ao recurso na forma do art. 557, 1º-A, do CPC para afastar a condenação ao pagamento de indenização por danos morais, mantendo-se no mais a sentença a quo tal como lançada. Rio de Janeiro, de fevereiro de DESEMBARGADOR CLEBER GHELFENSTEIN RELATOR Certificado por DES. CLEBER GHELFENSTEIN A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 10/03/ :17:52Local: Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 5 5