DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA

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1 DÉCIMA SÉTIMA CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Apelação Cível nº Apelante: TELEVISÃO CIDADE S.A. Apelado: FLORISMAR BOTEIO VIANA JUNIOR Relator: CUSTÓDIO DE BARROS TOSTES DECISÃO MONOCRÁTICA DIREITO DO CONSUMIDOR. RESPONSABILIDADE. OBJETIVA. NEGATIVAÇÃO DE CRÉDITO. AUSÊNCIA DE PROVA DA RELAÇÃO JURÍDICA DE DIREITO MATERIAL. INADIMPLÊNCIA ORIUNDA DE CONTRATO CELEBRADO POR TERCEIRO. FRAUDE - FATO PREVISÍVEL QUE NÃO SE EQUIPARA A CASO FORTUITO, REVELANDO-SE RISCO INERENTE AO NEGÓCIO. NÃO CONFIGURAÇÃO DA EXCLUDENTE DE RESPONSABILIDADE. FORTUITO INTERNO. IMPOSSIBILIDADE DE ATRIBUIÇÃO DO RISCO DO NEGÓCIO AO CONSUMIDOR. DANO MORAL CARACTERIZADO. VERBA QUE SE MANTÉM POR RAZOÁVEL QUE É. RECURSO A QUE NEGA SEGUIMENTO. A hipótese dos autos versa sobre negativação indevida em decorrência de relação jurídica que alega o apelado desconhecer. A sentença houve por bem julgar procedente o pedido, condenando a ré a pagar ao autor a importância de R$5.000,00 (cinco mil reais), com atualização pela tabela deste Tribunal e juros legais de 1% ao mês da data da sentença. Apelou a empresa-ré, sustentando, em síntese, a impossibilidade de inversão do ônus da prova; a existência de relação jurídica com o apelado; a licitude da cobrança e da restrição de crédito; a inocorrência de dano moral, bem como a inexistência de de prova a tal respeito, alegando, ainda, sob a luz do princípio da eventualidade, fato de terceiro e excessividade da indenização.

2 Pugna a apelante pela reforma da sentença e improcedência dos pedidos e, subsidiariamente, pela redução da indenização. O recurso é tempestivo, foi oportunamente preparado e contrariado, tendo o apelado prestigiado a sentença. É o relatório. PASSO A DECIDIR O Código de Defesa do Consumidor prevê que aquele que está submetido a atos abusivos ou danos decorrentes de relação de consumo celebrada por terceiro é considerado consumidor por equiparação, daí a incidência das normas consumeristas e da responsabilidade objetiva. Sendo objetiva a responsabilidade, imprescindível a comprovação da existência das hipóteses excludentes do nexo de causalidade para que se afaste o dever sucessivo de indenizar. No caso, aponta-se fato exclusivo de terceiro com uma das teses defensivas. Sob tal ponto diverge a jurisprudência. De um lado, a tese de que não se pode, a pretexto de proteger o consumidor, onerar o fornecedor por prática dolosa de terceiro. De outro, a teoria do risco do empreendimento é adotada para caracterizar incidentes como o havido entre as partes como fortuito interno, que não exclui o liame causal. Algumas vozes se levantam contra a chamada ditadura do consumidor, sustentando que a aplicação das regras do estatuto consumerista há de levar à conclusão de que este sempre tem razão em qualquer hipótese, o que não significa que a justiça esteja sendo ministrada com precisão em cada caso concreto. Segundo a melhor doutrina, o fato de terceiro, para que tenha o condão de extinguir a responsabilidade do fornecedor, há que ser aquele fato equiparado ao caso fortuito, que seria o fortuito externo. Este, por sua vez, exige a configuração de dois requisitos, quais sejam, a imprevisibilidade e a inevitabilidade, destacando-se que, sempre que imprevisível, naturalmente o fato será inevitável. Pois bem.

3 É inerente à rotina da ré o atendimento e o cadastro de clientes para realização das vendas, prática necessária ao desenvolvimento de sua atividade organizada com o fim de lucro. Conquanto seja possível haver irregularidade na documentação apresentada ou mesmo insuficiência de documentos, independentemente do cuidado na operação, é inegável que a empresa tem interesse na conclusão do negócio, interesse este que torna irrelevante o risco de eventual prática fraudulenta em face do volume de negócios. Exemplo disso é a massificação das vendas e a oferta de inúmeras facilidades para o cliente em potencial. Esta prática usual basta para demonstrar como o risco não somente é inerente ao negócio praticado, como também leva à conclusão de que ainda é baixo o índice de fraudes praticadas em tais condições para que se estimule uma conduta mais cautelosa. Não há dúvida: não valesse a pena o risco corrido, prejudicando a margem de lucro almejada, outras seriam as precauções a serem tomadas, que não as cautelas que se esperam do homem médio. Irrefutável que existe previsibilidade de fraudes, o que, pelo conceito de fortuito externo, afasta a excludente do fato de terceiro. Com efeito, a perpetração de fraudes constitui um risco inerente ao empreendimento comercial, evidenciando a hipótese de fortuito interno, que não tem o condão de romper o nexo causal e excluir a responsabilidade. Ademais, esse risco, notoriamente assumido pelo fornecedor, não se pode transferir para o consumidor. Relativamente à tese da existência de relação jurídica, a questão não reclama a inversão do ônus da prova para ser resolvida, revelando-se suficiente a aplicação da regra processual prevista no art. 333, do CPC. É que se havia contrato celebrado entre as partes caberia à apelante se desincumbir do ônus de provar os fatos extintivos do direito do autor, nos termos do art. 333, II do CPC, do qual não se desincumbiu, como muito bem observado pela douta sentenciante, não tendo trazido qualquer documento acostado à peça de bloqueio. Frise-se que em se tratando de responsabilidade objetiva, é irrelevante para o dever de indenizar a existência de culpa por parte

4 do fornecedor e, ainda que se admita o fato exclusivo de terceiro fortuito interno - este não tem o condão de afastar o dever jurídico secundário diante da teoria do risco do empreendimento. Tribunal: Nesse sentindo, leia-se o verbete sumular nº 94 deste RELAÇÃO DE CONSUMO FORTUITO INTERNO FATO DE TERCEIRO FORNECEDOR DE PRODUTO OU SERVIÇO OBRIGAÇÃO DE INDENIZAR Cuidando-se de fortuito interno, o fato de terceiro não exclui o dever do fornecedor de indenizar. A matéria, embora controversa, não é nova. Vários são os julgados que se coadunam com o entendimento ora esposado: APELAÇÃO CÍVEL DES. CARLOS EDUARDO PASSOS - Julgamento: 26/06/ SEGUNDA CÂMARA CÍVEL. RELAÇÃO DE CONSUMO. NEGATIVAÇÃO INDEVIDA. FATO DE TERCEIRO. IRRELEVÂNCIA. DANO MORAL. VALOR. Cerceamento de defesa não configurado, porquanto competia à apelante a instrução de sua resposta com os documentos aptos a corroborar suas alegações, sob pena de preclusão-única prova pertinente-, consoante artigo 396 do Código de Processo Civil, o que não efetuou. Preliminar de nulidade de sentença rejeitada. Aplicação dos verbetes nos 89 e 94 da Súmula deste Tribunal. Embora o fato de terceiro não afaste o dever jurídico secundário, o atenua, dado que a culpa não é só fato determinante da responsabilidade, mas também a agrava ou a minimiza, conforme a intensidade, influindo na fixação do quantum. Fixação em R$ 3.000,00 em atenção ao princípio da razoabilidade. Recurso parcialmente provido APELAÇÃO CÍVEL DES. SÉRGIO CAVALIERI FILHO - Julgamento: 30/06/ SEGUNDA CÂMARA CÍVEL. RESPONSABILIDADE CIVIL DE ESTABELECIMENTO COMERCIAL. CARTÃO DE CRÉDITO. FURTO. APONTE DO NOME COMO DEVEDOR INADIMPLENTE. CULPA. DANO MORAL. CARACTERIZAÇÃO. Responsabilidade civil. Cartão de crédito obtido com documento furtado e adulterado. Negativação do nome daquele que figurava como titular do cartão. Riscos do empreendimento. Falta de cautela do estabelecimento emissor do cartão. Fato exclusivo de terceiro não caracterizado. Dano moral configurado. Correm por conta

5 da empresa exploradora do negocio os riscos do seu empreendimento, cabendo-lhe, destarte, responder pelos danos causados a terceiros pela emissão de cartão de credito com base em documento furtado e adulterado. O fato de terceiro só exclui a responsabilidade quando e' causa exclusiva do dano, não configurado na especie dos autos por ter o evento ocorrido em razão do procedimento adotado pela apelada e ainda pelo fato de ter faltado com as cautelas devidas no momento da emissão do cartão. Indenização pelo dano moral fixada com razoabilidade em 100 salários mínimos. Provimento do recurso. Configurada a responsabilidade, resta avaliar o valor da indenização arbitrada a título de dano moral. Não pairam dúvidas de que a negativação de crédito, promovida sem justa causa, é fato capaz de atentar contra a dignidade do homem médio. O dano moral, na hipótese, configura-se in re ipsa. Ademais, não provou a apelante ter notificado o apelado acerca da negativação do seu nome, medida que se impõe nos termos do CDC e da legislação estadual. Sendo assim, tenho que a verba indenizatória encontra-se em harmonia com os princípios da razoabilidade e da vedação ao enriquecimento sem causa, cumprindo, também, seu objetivo compensatório, devendo ser mantida, pois, no valor arbitrado pelo juízo singular. Pelo exposto, nego seguimento liminarmente ao recuso. É como voto. Rio de Janeiro, 24 de junho de CUSTÓDIO DE BARROS TOSTES Desembargador Relator Certificado por DES. CUSTODIO TOSTES A cópia impressa deste documento poderá ser conferida com o original eletrônico no endereço Data: 29/06/ :47:02Local 15:48:00Local Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro - Processo: Tot. Pag.: 5