UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS MESTRADO EM ÉTICA E EPISTEMOLOGIA

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1 1 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS MESTRADO EM ÉTICA E EPISTEMOLOGIA Two Dogmas of Empiricism e a Guinada Científica na Filosofia Analítica Leonardo Bruno Vieira Santos Teresina, PI 2012

2 2 UNIVERSIDADE FEDERAL DO PIAUÍ PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS E LETRAS MESTRADO EM ÉTICA E EPISTEMOLOGIA Two Dogmas of Empiricism e a Guinada Científica na Filosofia Analítica Leonardo Bruno Vieira Santos Dissertação apresentada ao Mestrado em Ética e Epistemologia da Universidade Federal do Piauí, sob a orientação da Profª. Drª. Maria Cristina de Távora Sparano, como requisito para obtenção do título de Mestre em Filosofia. Teresina, PI 2012

3 3 FICHA CATALOGRÁFICA Universidade Federal do Piauí Biblioteca Comunitária Jornalista Carlos Castello Branco Serviço de Processamento Técnico S237t Santos, Leonardo Bruno Vieira Two dogmas of empiricism e a guinada cientifica. / Leonardo Bruno Vieira Santos - Teresina: fls. Dissertação (Mestrado em Filosofia) Universidade Federal do Piauí, Teresina, 2012 Orientação: Profª. Drª. Maria Cristina de Távora Sparano 1.Empirismo. 2. Epistomologia.3.Analiticidade. I. Título. C D D 121

4 4 Dissertação defendida em de de 2012, considerada pela banca examinadora. Teresina, de de Profª. Drª. Maria Cristina de Távora Sparano UFPI (Orientadora) Prof. Dr. Celso Reni Braida UFSC (Examinador externo) Prof. Dr. Gérson Albuquerque de Araújo Neto UFPI (Examinador/MEE)

5 5 Agradecimentos Agradeço a DEUS, por todas as coisas boas que aconteceram na minha vida, sem Ele o caminho teria sido mais doloroso; Agradeço à minha mãe, Djanira Vieira da Silva Santos, pelo amor, carinho e dedicação que me permitiram prosseguir na minha formação acadêmica apesar de tantas dificuldades; Agradeço à Profª Maria Cristina de Távora Sparano, minha eterna orientadora, pela oportunidade de me desenvolver como um estudante de filosofia e por tudo o que fez por mim ao logo desta caminhada até o mestrado; Agradeço à Luciana Luiza de Carvalho, pelo amor e companheirismo tão essenciais na vida de qualquer pessoa; Agradeço às minhas grandes amigas Socorro Maria de Sousa, Ana Belisa da S. Fiquereido e Antonia da Cruz da Rosa Araújo pelo incentivo e pela amizade sincera; Agradeço ao professor Elvécio Paraguai por ter me colocado no caminho que me trouxe até este momento; Agradeço aos meus irmãos Eduardo Henrique Vieira Santos, pela ajuda com a revisão ortográfica deste trabalho e pelo incentivo, e Francisco das Chagas Santos Filhos pelo incentivo; Agradeço também o apoio dos novos amigos, em particular Ladyane Francisca Caminha. Agradeço à Tomas Sparano Martins pela ajuda com o abstract do presente trabalho.

6 6 Se o mundo é mesmo parecido com o que vejo prefiro acreditar no mundo do meu jeito. Renato Russo The future is unwritten Joe Strummer A filosofia se recupera quando cessa de ser um artifício para lidar com os problemas dos filósofos e se torna um método, cultivado pelos filósofos, para lidar com os problemas dos homens. John Dewey

7 7 RESUMO O presente trabalho tem como objetivo analisar um clássico da filosofia analítica, Two Dogmas of Empiricism, de W. V. Quine. O impacto das teses presentes neste artigo promoveram uma revolução no âmbito da tradição analítica da filosofia. A distinção analítico/sintético, o qual é o principal alvo do ceticismo de Quine em Two Dogmas of Empiricism, é um dos dualismos mais persistentes da história da filosofia. De Leibniz à Kant, passando por Locke e Hume, este dualismo, independente do nome adotado pelos filósofos, esteve imune ao rigor dos grandes mestres. Entretanto, o século XX assistiu ao início de um debate que teve consequências significativas para a tradição analítica: de um lado os positivistas lógicos defendendo a analiticidade e do outro Nelson Goodman, Morton White e W. V. Quine colocando em xeque esta noção. O percurso trilhado no presente trabalho tem seu ponto de partida nos argumentos de Quine contra a analiticidade apresentados em Two Dogmas of Empiricism. Defenderemos que neste artigo Quine tem como alvo pelo menos quatro versões da noção de analiticidade. A primeira é a versão clássica que estipula que para um enunciado ser classificado como analítico, seu valor de verdade deve estar vinculado unicamente ao significado dos seus termos componentes. O argumento principal de Quine é contra a noção de analiticidade que depende da noção de sinonímia. Quine argumenta que mesmo ao recorrer às definições ou a permutabilidade salva veritate, não há como fugir do círculo vicioso no qual caímos com esta noção da analiticidade. A tese Duhem-Quine, ou o holismo, que Quine propõe contra o dogma do reducionismo, acaba por possibilitar que se apresente uma nova versão da distinção analítico/sintético. Defenderemos, também, que o holismo é uma tese de Duhem, sendo que Quine apenas faz uso desta tese, sem, no entanto, lhe acrescentar nada de significativo. A guinada científica, que seria a consequência do abandono dos dois dogmas empiristas pode ser posta em xeque, uma vez que a alegação de que filosofia e ciência não podem ser desvinculadas, ou melhor, não há uma fronteira clara entre elas, é fruto de um equívoco por parte de Quine. Como veremos, é possível fazer uma clara distinção entre filosofia e ciência. PALAVRAS-CHAVE: Analiticidade; Empirismo; Filosofia; Ciência; Epistemologia.

8 8 ABSTRACT The present study aims to analyze a classic of analytic philosophy, W. V. Quine s Two Dogmas of Empiricism. The impact of the theses presented in this article promoted a revolution within the analytic philosophy tradition. The analytic / synthetic distinction, which is the main target of Quine's skepticism in Two Dogmas of Empiricism, is one of the most persistent dualisms of the history of philosophy. From Leibniz to Kant, through Locke and Hume, this dualism, regardless of name adopted by philosophers, has been immune to the great masters rigor. However, the twentieth century saw the beginning of a debate that had significant consequences for the analytic tradition: on one side the logical positivists defending analyticity and the other side Nelson Goodman, Morton White and W. V. Quine jeopardizing this notion. The paths followed in this study have their starting points in Quine's arguments against analyticity presented in Two Dogmas of Empiricism. We will argue that this article Quine has targeted at least four versions of the notion of analyticity. The first is the classic version which states that an utterance to be classified as analytical, its truth value should be tied solely to the meaning of its components. Quine's main argument against notion of analyticity depends on the notion of synonymy. Quine argues that even when referring to definitions or interchangeability salva veritate, there is no escape from the vicious circle in which we fall with this notion of analyticity. The Duhem-Quine thesis, or holism, that Quine proposes against the dogma of reductionism, ultimately enabling it to present a new version of the analytic / synthetic distinction. We also defend that holism is a thesis of Duhem, and Quine only makes use of this thesis, without, however, adding nothing significant. The "scientific turn," which would be the consequence of the abandonment of the two empiricists dogmas may be called into question, since the claim that science and philosophy cannot be dissociated, or better, there is no clear boundary between them, is the result a mistake by Quine. As we shall see, it is possible to make a clear distinction between philosophy and science. KEYWORDS: Analyticity; Empiricism, Philosophy, Science, Epistemology.

9 9 SUMÁRIO Introdução Analiticidade e Significado Introdução Breve histórico da analiticidade A fase pré-kantiana A fase kantiana A fase pós-kantiana Verdadeiro em virtude de significados Analiticidade e Sinonímia Introdução A analiticidade como um dogma Definição Permutabilidade Regras semânticas A guinada científica na Filosofia Analítica Introdução Analiticidade e reducionismo A tese Duhem-Quine Pierre Duhem... 52

10 A guinada científica na Filosofia Analítica Considerações Finais...59 Referências Bibliográficas...65

11 11 INTRODUÇÃO A analiticidade é uma noção que, de um modo ou de outro, tem atravessado a história da filosofia. Esta noção, ao longo da modernidade, vai ganhando contornos e conteúdos mais claros. Na filosofia contemporânea acabou por ser o motivo de grande controvérsia, motivando um dos mais fecundos debates desta tradição da Filosofia. As discussões de Quine e Carnap no que diz respeito à analiticidade ecoaram ao longo da curta existência da tradição analítica. Two Dogmas of Empiricism de Quine é fruto deste debate e se tornou um clássico da filosofia desde o momento em que foi apresentado em público. As revoluções na filosofia são resultado de trabalhos bem distintos quanto a sua extensão. Por exemplo, se compararmos a Crítica da Razão Pura de Kant à Two Dogmas of Empiricism chega a ser difícil de acreditar que um texto tão pequeno possa ter motivado tantos debates. As consequências das teses de Quine no referido artigo colocaram fim ao Positivismo Lógico e levaram a filosofia analítica a um estágio científico. A Filosofia analítica, a partir daquele momento estaria nas vias seguras de uma ciência, compartilhando seus resultados e não tendo a pretensão de lhe servir de fundamento, a filosofia era tida como uma continuidade, uma ciência. Desse modo no primeiro capítulo nos voltaremos para noção de analiticidade que se tornou clássica na Filosofia analítica, ou seja, a que defende que um enunciado é analítico unicamente em virtude de significados. Esta noção advém dos trabalhos de Frege e Carnap. Iniciaremos os capítulos com uma breve consideração histórica sobre a analiticidade. De forma a tornar a exposição mais clara dividiremos a história da analiticidade em três períodos tendo como referência Kant. O primeiro período denominaremos fase pré-kantiana. Neste período destacam-se filósofos como Leibniz, Hume e Locke. Leibniz se referiu aos

12 12 enunciados que posteriormente seriam conhecidos como analíticos com a denominação verdades de razão. Como o próprio nome deixa transparecer, as verdades de razão não tinham sua verdade vinculada a fatos. Leibniz caracterizou tais verdades como aquelas que poderiam ser verdadeiras em todos os mundos possíveis. Esta noção de mundos possíveis será reformulada posteriormente por Carnap em suas descrições de estado. Hume, por seu turno, nos fala em relações de ideias. Essas relações de ideias são exemplificadas por Hume com os enunciados da matemática. Que dois mais dois resulta em quatro é algo que pode ser obtido por meio de raciocínio, não havendo qualquer dependência com o modo pelo qual o mundo se apresenta. Locke utilizou uma terminologia que deixava transparecer certo ceticismo sobre o papel deste tipo de enunciado no que diz respeito ao progresso do conhecimento. As proposições frívolas, segundo Locke, são de dois tipos: proposições de identidade e proposições predicativas. Em ambos os casos, ressalta Locke, este tipo de proposição não pode aumentar o conhecimento de um indivíduo, mesmo que este enuncie mil proposições de identidade, por exemplo. Quando muito, este tipo de proposição pode servir para fins de explicação de uma determinada palavra, no caso das proposições predicativas. Diferentemente dos filósofos acima citados, Kant, dedicou atenção especial aos juízos analíticos e foi responsável por refinar esta noção. Desse modo, para Kant, um juízo analítico é aquele juízo da forma sujeito-predicado em que esta relação se dá de três modos: Contenção, identidade e contradição. Esta é a fase kantiana da história da analiticidade. Na fase pós-kantiana sobressai-se a tradição analítica e sua relação de amor e ódio com a noção de analiticidade. Nesse período temos a reviravolta linguística na Filosofia, revolução essa que converteu a teoria cognitivista da analiticidade kantiana em uma teoria lógico-liguística.

13 13 Desse modo, nos primórdios da tradição analítica a analiticidade é esposada pelos Positivistas Lógicos, mas acaba sendo posta em xeque posteriormente pelos filósofos que de um modo ou de outro estavam ligados aos positivistas, tal é o caso de Quine. Em 1951 Quine lança seu ataque mais significativo contra a analiticidade ao apresentar seu artigo Two Dogmas of Empiricism. Dentre as quatro versões da noção de analiticidade contra a qual Quine se volta em seu artigo, nosso primeiro capítulo tem sua segunda parte dedicada à noção de analiticidade cujo fundamento é a noção de significado. O capítulo um será dedicado ao argumento de Quine contra a noção de significado, que serve como fundamento para a noção de analiticidade. Veremos que este argumento, embora apareça de forma resumida em Two Dogmas of Empiricism, está presente em outro artigo, On What There Is. Os dois artigos compõem a coletânea From a logical point of view. O capítulo dois será dedicado ao argumento principal de Two Dogmas of Empiricism contra a analiticidade, mais especificamente a noção de analiticidade que é atribuída a Frege e que se vale da noção de sinonímia. Quine mostrou que, uma vez que os enunciados analíticos podem ser divididos em duas classes distintas, sendo que a primeira é logicamente verdadeira enquanto que a segunda necessita da sinonímia para se tornar uma verdade lógica, pouco importa se recorramos às definições ou a permutabilidade salva veritate para obter a sinonímia necessária para tal processo. Nos dois casos caímos em um círculo vicioso, pois em vez de produzir a sinonímia, tais procedimentos exigem sinonímias estabelecidas previamente. Quine se volta então para as regras semânticas de Carnap de modo a determinar se é possível obter a analiticidade. Quine conclui que é um erro pensar que as linguagens artificiais, por estarem livres das ambiguidades das linguagens naturais, possuem os elementos necessários para uma definição clara de analiticidade.

14 14 Assim, Quine apresenta sua famosa conclusão de que a divisão analítico/sintético não passa de um artigo metafísico na qual os empiristas depositam suas esperanças. No capitulo três abordaremos a guinada científica promovida por Quine na Filosofia analítica a partir de Two Dogmas. O capítulo iniciará com os argumentos de Quine contra a quarta versão de enunciado analítico que está ligada ao segundo dogma do empirismo, ou seja, o reducionismo. Contra o reducionismo Quine lança mão do holismo. A principal consequência do abandono dos dois dogmas do empirismo, segundo Quine, é a destruição da fronteira entre Filosofia e Ciência, de tal modo que conduz a Filosofia analítica a sua fase científica.

15 15 CAPÍTULO I A ANALITICIDADE E SIGNIFICADO RESUMO O presente capítulo será dedicado a apresentar e discutir a crítica de Quine, em Two Dogmas of Empiricism, à noção de analiticidade que depende da noção de significado. O percurso a ser trilhado começa com algumas considerações sobre a analiticidade na modernidade fazendo uma breve referência a Leibniz e suas verdades de razão e Hume com suas relações de ideias. Daremos maior atenção às considerações de Locke para o que ele denominou de proposições frívolas. Indiscutivelmente Kant merece um lugar de destaque na história da analiticidade, por esse motivo, resumidamente, apresentaremos sua teoria da analiticidade. Veremos, por fim, o argumento de Quine contra a noção de significado.

16 Introdução Deve-se ter em mente que Quine não foi o único filósofo contemporâneo a colocar em xeque a divisão analítico/sintético. Na virada linguística que ocorreu na Filosofia, a teoria cognitivista da analiticidade de Kant foi convertida em uma teoria lógico-linguística da analiticidade, sendo que esse feito é atribuído a Frege e Carnap. É exatamente contra essa noção de analiticidade proposta por Frege e Carnap que muitos filósofos da tradição analítica, herdeiros da tendência antidualista dos pioneiros do pragmatismo americano, sendo que essa tendência é mais evidente em John Dewey e Peirce, se opuseram. Figuram entre esses opositores Nelson Goodman ( ), Morton White (1917- ). Alguns anos antes da publicação de Two Dogmas of Empiricism, os filósofos acima já haviam publicado artigos que anteciparam as críticas de Quine no que diz respeito à analiticidade. No entanto, Two Dogmas of Empiricism (1951) de Quine, que é o objeto de estudo da presente dissertação, que se sobressaiu em relação aos outros artigos que o precederam e tinha objetivo semelhante, era mais direto em suas críticas, e teve como alvo pelo menos quatro versões da noção de analiticidade: (1) a noção que caracteriza a analiticidade como verdadeira em virtude de significados; (2) a noção que caracteriza a analiticidade em termos de sinonímia; (3) a noção que apela às regras semânticas;

17 17 (4) a noção que está ligada à teoria verificacional do significado ou reducionismo. Discutiremos, inicialmente, o ataque controverso de Quine a noção de enunciado analítico como aquele que é verdadeiro em virtude unicamente dos significados dos termos que o compõe. No capítulo seguinte abordaremos os argumentos principais de Two Dogmas of Empiricism às outras três noções de analiticidade e especialmente à noção que depende da sinonímia. Iniciemos, então, com uma breve consideração histórica sobre a analiticidade, tendo em vista ressaltar o fato de que esta noção está presente na história da Filosofia há vários séculos, sendo alvo das considerações de filósofos renomados, que contribuíram significativamente para o desenvolvimento do pensamento ocidental. Assim, a história da noção de analiticidade tem suas raízes na Antiguidade, se levarmos em conta que a analiticidade é um tipo de modalidade 1, mas uma definição clara remonta da Modernidade. As modalidades, como objeto de estudo, remontam a Aristóteles, como é possível comprovar em sua obra sobre lógica reunida com o título de Organum. A analiticidade é uma modalidade semântica, pois um enunciado é classificado como analítico quando o valor de verdade deste enunciado pode ser determinado observando unicamente o significado dos termos que compõem tal enunciado. 2 Na contemporaneidade foi empreendida uma distinção que visou tornar mais claros os conceitos que eram tidos como co-extensivos com o conceito de enunciado analítico. 1 Há três tipos de modalidades: as modalidades aléticas (necessário ou contingente); as modalidades epistêmicas (a priori ou a posteriori); as modalidades semânticas (analítico ou sintético). No entanto, há ainda aqueles que colocam em dúvida a co-extensionalidade das três noções. 2 BRANQUINHO, 2006, p. 526.

18 18 Conceitos como necessário e a priori passaram ao mesmo nível que o conceito de analítico. Entretanto, há ainda aqueles que relutam em aceitar essa classificação 1.2. Breve histórico da analiticidade A fase pré-kantiana da analiticidade A história da analiticidade pode ser dividida em três momentos distintos: fase pré-kantiana, fase kantiana, fase pós-kantiana ou analítica. Esta distinção visa a apenas fins didáticos, não havendo, portanto, qualquer pretensão em supor que esta distinção é a mais adequada, seu objetivo é unicamente facilitar a exposição do tema em questão, tendo como ponto de referência o refinamento empreendido por Kant. Na fase pré-kantiana encontramos filósofos como Leibniz e Hume fazendo uso de uma distinção entre enunciados verdadeiros em si mesmos e enunciados que necessitam da experiência para serem verdadeiros. Leibniz usou os termos verdades de razão e verdades de fato, enquanto Hume se referia a essa dicotomia como relações de ideias e questões de fato. A abordagem de Locke, no entanto, merece destaque em relação aos demais filósofos dessa época. Locke ( ) no capítulo VII, do livro III, de seu Ensaio sobre o entendimento humano, descreveu as proposições analíticas de um modo que já colocava em xeque sua utilidade para o progresso do conhecimento humano. Locke dividiu essas proposições em dois tipos: proposições idênticas e proposições predicativas. As proposições idênticas se apresentam na forma o que é, é. São proposições em que afirmamos o mesmo termo de si mesmo, por exemplo, um homem é um homem.

19 19 Locke chama nossa atenção para o fato de que um sujeito poderia enunciar infinitas proposições desse tipo e ainda assim, embora admitamos que sejam válidas, não acrescentará nada ao conhecimento que já possui. Nas palavras do próprio Locke, não passa de uma frivolidade por parte de quem se aventurar em tal empreendimento. As proposições predicativas, por seu turno, são aquelas em que uma palavra da definição é afirmada da palavra definida. 3 Um exemplo que Locke utiliza é o ouro é um metal. A única utilidade que Locke aponta para uma proposição predicativa é simplesmente instruir de modo mais curto uma pessoa sobre o significado de uma palavra. Uma pessoa que não soubesse o que a palavra ouro quer dizer, poderia receber como explicação ouro é um metal A fase kantiana da analiticidade Kant ( ) desempenha um papel de destaque na história da analiticidade, pelo fato de ter sido o primeiro a lhe dedicar maior atenção, além de definir a denominação e o conceito de tais enunciados. O ponto que deve ser ressaltado na teoria kantiana da analiticidade é seu caráter cognitivista. Para Kant, os juízos analíticos eram a priori, sendo que esse tipo de conhecimento se caracteriza por ser necessário e universal. Assim, para Kant a consciência é o lócus de toda possibilidade de conhecimento, na medida em que os dados empíricos chegam de forma desordenada e caótica, torna-se necessário que se ponha ordem nesse caos para que possamos ter acesso a um conhecimento claro, e segundo Kant, essa função é desempenhada pelas categorias do entendimento. Tendo em mente o que foi exposto acima, podemos agora nos voltar para a teoria da analiticidade kantiana. Kant entendia que um enunciado analítico é 3 LOCKE, 1999, p. 845.

20 20 aquele em que o sujeito pertence ao predicado de três modos: contenção, identidade e contradição. Em termos de contenção 4, um juízo da forma sujeito-predicado é analítico se o conceito do predicado estiver contido no conceito do sujeito. Destacam-se três características: (1) Uma vez que para Kant há dois tipos de proposições necessárias, a saber, analíticas e sintéticas, o conceito de necessidade não está exclusivamente vinculado ao conceito de analiticidade, desse modo pode servir para explicá-lo; (2) A contenção não é um critério de analiticidade, estipula apenas que uma condição proposta se aplica a proposições da forma sujeito/predicado; (3) A Crítica da Razão Pura estabelece uma condição suficiente e não necessária para a analiticidade; 5 Por sua vez, em termos de identidade 6 um juízo da forma sujeito-predicado é analítico se o conceito do predicado for idêntico ao conceito do sujeito. Assim, como no caso da contenção, a identidade estipula simplesmente condições suficientes para a analiticidade. Em termos de contradição 7 um juízo da forma sujeito-predicado é analítico se sua negação implicar contradição. O princípio de contradição, ao contrário da contenção e da identidade, fornecem condições necessárias para a analiticidade, em vez de prover apenas condições suficientes A fase pós-kantiana 4 A6-7/B HANNA, 2005, p A7/B A151/B190-1

21 21 A chamada Virada Linguística na Filosofia, ocorrida no final do século XIX e início do século XX, revolução essa impulsionada pelos escritos de Russell ( ), Frege ( ), Moore ( ) e o Tractatus Logico Philosophicus de Wittgenstein ( ), converteu a teoria cognitivista da analiticidade de Kant em uma teoria lógico-linguística da analiticidade. Os filósofos posteriores a Kant já haviam percebido as limitações da noção kantiana de analiticidade e empreenderam seus esforços em tornar a noção de analiticidade mais abrangente, pois, por exemplo, a noção kantiana se limitava a enunciados da forma sujeito-predicado. Frege, por exemplo, em sua obra Os Fundamentos da Aritmética, se volta para a questão de um novo modo. Nas palavras de Frege: A questão é assim retirada do domínio da psicologia e remetida, tratando-se de uma verdade matemática, ao da matemática. Importa então encontrar sua demonstração e nela remontar até as verdades primitivas. Se neste caminho esbarra-se apenas em leis lógicas gerais e definições, tem-se uma verdade analítica, pressupondo-se que sejam também levadas em conta as proposições sobre as quais se assenta a admissibilidade de uma definição. Se não é possível, porém, conduzir a demonstração sem lançar mão de verdades que não são de natureza lógica geral, mas que remetem a um domínio científico particular, a proposição é sintética. Para que uma verdade seja a posteriori requer-se que sua demonstração não se possa manter sem apelo a questões de fato, isto é, a verdades indemonstráveis e sem generalidade, implicando enunciados acerca de objetos determinados. Se, pelo contrário, é possível conduzir a demonstração apenas a partir de leis gerais que não admitem nem exigem demonstração, a verdade é a priori. 8 Assim, Frege, diferentemente de Kant, aplicará critérios puramente lógicos para determinar os enunciados analíticos. Além disso, Frege defende que as proposições analíticas não são vazias, sob certo aspecto. Pois elas conteriam toda uma cadeia de raciocínio, sendo diretamente relevantes para o trabalho de descobrir e expor as relações de consequência entre proposições. 8 FREGE, 1983, p

22 22 Isto o leva a recusar a noção de inclusão conceitual, sobretudo, por ela supor um conceito de conceito como uma conjunção de notas características. 9 De um modo geral, a teoria da analiticidade de Frege tem como fundamento um logicismo moderado, que pode ser expresso por meio de duas teses: (1) Todas as verdades da aritmética são verdades lógicas; (2) Todos os conceitos aritméticos são exprimíveis em termos puramente lógicos. 10 O componente principal da apresentação de Frege é sua noção de definição lógica. Nenhuma das verdades analíticas é acessível por meio de derivações a partir apenas de leis lógicas gerais, mas, na verdade, requerem também definições lógicas como premissas. 11 Entretanto: A definição fregeana aparece em toda a sua riqueza quando associada às outras distinções, a saber, entre sentido e significado, e entre conceito e objeto. As verdades analíticas constituiriam aquelas proposições que explicitam as relações que se estabelecem entre os sentidos (Sinn), ou ainda entre os conceitos, independentemente dos fatos particulares. As verdades analíticas, aquelas em cuja justificação não se é remetido a nenhum fato particular, fundar-se-iam apenas através do pensamento (Denken). Desse modo, fica claro que a estrutura constitutiva de uma verdade analítica, para Frege, é uma estrutura de sentido (Sinn) ou pensamento (Gedanken): uma proposição é analiticamente verdadeira em virtude da estrutura de sentido nela estabelecida, independentemente dos indivíduos particulares ou fatos, enfim, independentemente da referência (Bedeutung) das expressões utilizadas BRAIDA, 2009, p HANNA, 2005, p HANNA, 2005, p BRAIDA, 2009, p. 34.

23 23 No século XX a analiticidade começa a ser alvo do ceticismo de filósofos de renome como Nelson Goodman ( ) e W. V. Quine ( ). Além dos filósofos acima citados, Austin em 1940 no artigo The Meaning of a Word e White em 1950 no artigo The Analytical and the Synthetic: An Untenable Dualism, também procuraram mostrar o quão duvidosa é esta noção. Entretanto, as críticas à analiticidade alcançaram seu auge em 1951, com a publicação do artigo Two Dogmas of Empiricism de Quine. Os argumentos de Quine se sobressaíram com relação aos demais críticos da analiticidade. Uma das possíveis razões para o artigo de Quine ter recebido maior atenção que os artigos de White e Goodman, que são anteriores a Two Dogmas of Empiricism, se deve ao fato de que Quine ter sido mais explícito e radical em sua crítica, além de propor uma alternativa ao problema, ou seja, o holismo, enquanto White se limita a denunciar a obscuridade da sinonímia, mostrando que os critérios propostos para se determinar a sinonímia de duas expressões linguísticas são insatisfatórios. 13 Voltemos-nos então para as críticas de Quine a noção de significado que serve de fundamento a analiticidade Verdadeiro em virtude do significado O conceito de enunciado analítico como aquele em que seu valor de verdade é determinado por significados é fruto da rejeição do sintético a priori kantiano. Ao rejeitarem essa ideia os empiristas se viram diante de tipos únicos de enunciados necessários, ou seja, os enunciados analíticos. Desse modo, definir os enunciados analíticos em termos de significados possibilitou a conciliação de dois princípios divergentes: 13 A semelhança dos argumentos de Quine e White não é mera coincidência. Two Dogmas of Empiricism, na verdade é composto por ideias que estão presentes em outros artigos de Quine, sendo que o próprio White faz referencia ao artigo Notes on Existence and Necessity de 1943.

24 24 (1) Todo conhecimento advém da experiência; (2) Há verdades necessárias. Nos primeiros parágrafos de Two Dogmas of Empiricism Quine inicia com algumas considerações históricas sobre a analiticidade que como vimos acima e Quine também ressalta a noção kantiana de analiticidade foi convertida em uma noção lógico-linguística por meio da substituição do a priori pela noção de significado. Quine dedicou apenas cinco parágrafos de Two Dogmas of Empiricism à questão do significado. As considerações de Quine sobre o significado se limitam a ressaltar a distinção entre significar e nomear, que nada deixam transparecer alguma solução para a duvidosa noção de significado que serve de fundamento à analiticidade. Além disso, Quine propõe uma suposta relação entre a noção de significado e o essencialismo aristotélico. O essencialismo aristotélico é a doutrina que defende que as coisas têm propriedades acidentais e propriedades essenciais. Mas, embora faça referência ao essencialismo aristotélico em Two Dogmas of Empiricism, é somente em Word and Object que Quine apresenta argumentos contra essa doutrina. O argumento antiessencialista de Quine ficou conhecido como o argumento do matemático ciclista. Quine nos convida a considerar um indivíduo que é ao mesmo tempo matemático e ciclista. Se levarmos em conta o que defende o essencialismo, então como matemático esse indivíduo tem que ser necessariamente racional, racionalidade que pode ser acidental se o tomarmos como um ciclista.

25 25 Quine, com este exemplo, quer mostrar que a distinção entre acidental e essencial é absurda, pois o indivíduo que é tanto matemático quanto ciclista tem atribuído a ele uma racionalidade que é ao mesmo tempo essencial e acidental. Para Quine não há qualquer equivalente metafísico para essa distinção entre propriedades essenciais e propriedades acidentais, essa distinção é meramente linguística. Pois não faz sentido dizer que X deve ser P fora do âmbito de uma determinada linguagem ou sistema conceitual. Essas propriedades estão na dependência do modo como nos referimos a um determinado objeto, não ao objeto em si mesmo. Um dos argumentos levantados contra Quine é o de que essa distinção entre propriedades essenciais e acidentais não se aplica a indivíduos, mas a espécies. Logo, o argumento do matemático ciclista não teria qualquer efeito sobre o essencialismo. Mas não discutiremos essas críticas, pois para a presente discussão o essencialismo aristotélico não é relevante. Voltemos ao nosso tema, então. Quanto à distinção entre significar e nomear as considerações de Quine são as seguintes: a distinção entre significar e nomear no que se refere a termos singulares como estrela da manhã e estrela da tarde deixa pouca margem para enganos. Os dois termos nomeiam o planeta Vênus, mas diferem em significado: estrela da manhã tem seu significado relacionado ao fato de observamos o planeta Vênus pela manhã; estrela da tarde tem seu significado relacionado ao fato de observarmos o planeta Vênus à tarde. Os dois termos singulares compartilham a mesma referência diferindo em significado. A menção pode ser estendida aos termos gerais. Mas, de acordo com Quine, são poucos os que percebem:

26 26 (...) que há um abismo entre significar e nomear, mesmo no caso de um termo singular que é genuinamente um objeto. O seguinte exemplo de Frege (1893) será suficiente. A expressão estrela da tarde nomeia certo objeto físico grande e de forma esférica, que vaga pelo espaço a alguns milhões de quilômetros daqui. A expressão estrela da manhã nomeia a mesma coisa, como constatou, provavelmente pela primeira vez, um observador babilônico. Mas não se pode considerar que as duas expressões tenham o mesmo significado; do contrário, aquele babilônico poderia ter abandonado suas observações e se contentado em refletir sobre o significado de suas palavras. Os significados, então, sendo diferentes um do outro, têm de ser distintos do objeto nomeado, que é uma e a mesma coisa em ambos os casos. 14 Assim, essa separação entre a teoria do significado e a teoria da referência permite-nos perceber que a primeira se ocupa da sinonímia, significância e analiticidade dos termos. Como visto anteriormente, a obscura noção de significado que seria a ponte entre palavra e objeto é descartável. Por seu turno, a teoria da referência agrupa conceitos tais como nomeação, verdade, denotação e extensão. Entretanto, Quine, observa que: As fronteiras entre os domínios não são barreiras. Dados dois domínios, nada impede que um conceito possa ser composto de conceitos dos dois domínios. Mas, se isso acontece no caso da teoria do significado e da teoria da referência, nós provavelmente colocaríamos o conceito híbrido como parte da teoria do significado simplesmente porque a teoria do significado está em um estado pior do que a teoria da referência e, entre as duas, é a que, portanto, tem os pressupostos mais complicados. 15 Desse modo, fica claro que o que Quine chama de teoria do significado é uma das áreas da semântica que se ocupa de noções que necessitam de uma elucidação tal, que não faz qualquer sentido tomá-las como fundamento para qualquer tipo de teoria, pois elas, por si só necessitam ser fundamentadas. 14 QUINE, 2011, p QUINE, 2011, p. 184.

27 27 Segundo Quine há aqueles que pensam que questionar ou abandonar a noção de significado é supor um mundo em que há apenas linguagem e nada a que a linguagem referir. Mas Quine defende a posição segundo a qual podemos conceber um mundo cheio de objetos e uma linguagem para se referir a eles do modo como nos aprouver, sem que com isso tenhamos que recorrer a significados. Quine conclui que se deve operar uma cisão entre a teoria do significado e a teoria da referência, afirmando que desse modo: Uma vez que a teoria do significado esteja nitidamente separada da teoria da referência, é necessário apenas um pequeno passo para reconhecer como primeira ocupação da teoria do significado tão somente a sinonímia de formas linguísticas e a analiticidade dos enunciados; os próprios significados, como entidades intermediárias obscuras, podem muito bem ser abandonados. 16 Na tentativa de entender a transição do problema do significado para o problema da sinonímia, nos voltemos um pouco para outro texto de Quine, presente no livro From a Logical Point of View. Em O Problema do Significado na Linguística, Quine se volta para a questão dos significados do seguinte modo: A confusão entre significado e referência estimulou a tendência a tomar a noção de significado como dada 17. O problema do significado é que ele é tomado como uma entidade. Assim, o significado de uma expressão é a ideia expressa. O problema advém do fato de que ao se falar de ideia de uma ideia gera o equívoco de se ter explicado alguma coisa. Como afirmamos anteriormente, o tratamento descuidado da noção de significado empreendido por Quine em Two Dogmas of Empiricism, não compromete seu argumento principal, visto que a sinonímia ou a semelhança de significado é uma área importante do significado QUINE, 2011, p QUINE, 2011, p QUINE, 2011, p. 75.

28 28 Entretanto, o fato de Two Dogmas of Empiricism ser precedido pelo artigo On What There Is, na coletânea From a logical point of view não é obra de uma escolha arbitraria por parte de Quine. No artigo On What There Is Quine, ao discutir a questão dos compromissos ontológicos, nos mostra como podemos usar termos gerais sem nos comprometermos com qualquer tipo de entidade abstrata. Segundo Quine, uma coisa é significar outra coisa é nomear. Os problemas de postular entidades abstratas surgem da confusão entre significar e nomear, pois há aqueles que defendem que há alguma entidade ao qual os termos fazem referência. Assim, se quisermos negar a existência de um unicórnio, por exemplo, teríamos que admitir que o unicórnio de algum modo é. Este é o problema do não ser, apelidado por Quine se a barba de Platão. A estratégia de Quine se vale da aplicação das variáveis ligadas à teroria das descrições de Russell. Assim: As variáveis de quantificação algo, nada, tudo, perpassam toda nossa ontologia, qualquer que seja ela; e estamos presos a uma pressuposição ontológica particular se, e apenas se, o objeto presumido da pressuposição tiver de ser reconhecido entre as entidades que nossas variáveis percorrem para tornar uma de nossas afirmações verdadeiras. 19 A teoria das descrições de Russell é um recurso utilizado para resolver o problema dos universais negativos. Quando negamos a existência de algo como um unicórnio, papai Noel etc., caímos no problema do não ser. Russell, para resolver este problema, transforma o termo em uma descrição, evitando assim se comprometer com a existência de qualquer tipo de entidades abstratas. Conclusão 19 QUINE, 2011, p. 26.

29 29 Vimos no presente capitulo um breve histórico da noção de analiticidade, passando pela modernidade (Locke, Hume, Kant) e chegando à contemporaneidade. Vimos como Quine faz uma primeira abordagem dessa noção, uma abordagem crítica, atacando o fundamento da noção contemporânea de analiticidade, ou seja, a noção de significado.

30 30 CAPÍTULO II A ANALITICIDADE E SINONÍMIA Resumo O presente capítulo se destina a apresentar e analisar o argumento central de Two Dogmas of Empiricism contra a analiticidade e analisar algumas críticas contra tais argumentos, sendo que daremos destaque a Carnap, Benson Mates, Grice e Strawson. A justificativa para a escolha destes autores se baseia simplesmente no fato de julgarmos que as críticas e alternativas propostas ao ceticismo de Quine com relação à analiticidade tem impacto considerável sobre as teses de Quine. A primeira parte do capítulo apresentará a tese de Quine contra a analiticidade que necessita da sinonímia. Este argumento demonstra que os critérios propostos para se produzir a sinonímia que permite converter enunciados analíticos de segunda classe em verdades lógicas não cumprem tal tarefa de modo satisfatório, pois a maioria desses critérios pressupõe a própria sinonímia ou que já tenhamos uma compreensão clara da analiticidade.

31 Introdução No capítulo anterior fizemos referência à passagem da crítica às intensões, mais especificamente aos significados, para a crítica à sinonímia. Após suas considerações sobre o significado, Quine nos diz que os enunciados analíticos são divididos em duas classes: as verdades lógicas ou enunciados analíticos estreitos e os enunciados analíticos amplos. A primeira classe de enunciados analíticos é caracterizada pelo fato de que sua verdade é definida por sua forma lógica, independentemente da interpretação adotada aos outros termos componentes, excetuando as partículas lógicas. O exemplo de Quine para a primeira classe é Nenhum homem não casado é casado. Dada uma lista de partículas lógicas nenhum, não, se então, e etc., dizer que uma sentença S é uma verdade lógica é dizer não apenas que S é verdadeira, mas que sua verdade é indiferente à natureza particular de seus símbolos não lógicos. As verdades lógicas, assim como os significados, não recebem muita atenção de Quine em Two Dogmas of Empiricism. Somente em texto posteriores é que as verdades lógicas são mais bem detalhadas. No livro Filosofia da Lógica elas ganham a devida atenção, como demonstra o capítulo IV do referido livro. No artigo de 1954 intitulado Carnap and Logical Truth, Quine nos diz que as verdades lógicas são aquelas em que as partículas lógicas ocorrem essencialmente, excetuando as outras palavras que as compõem, pois estas podem variar sem que com isso afete a verdade assegurada pelas partículas lógicas. 20 Mas ao menos no caso das verdades lógicas Quine apresenta um motivo. Segundo ele, o problema reside na segunda classe de enunciados analíticos. Essa classe é problemática, pois ela necessita da noção semântica de sinonímia para ser transformada em uma verdade lógica. O exemplo apresentado por Quine para essa segunda classe de enunciados analíticos é Nenhum solteiro é casado. 20 QUINE, 1976, p

32 Analiticidade como um dogma A simplicidade no procedimento de conversão da segunda classe na primeira é exatamente o problema. O que garante a sinonímia de solteiro e homem não casado? Quine examina dois critérios em que se poderia criar a sinonímia necessária para a segunda classe de enunciados analíticos se transformarem em verdades lógicas: definição e permutabilidade Definição As definições são partes fundamentais da atividade científica. Este método é essencial na medida em que os conceitos necessitam ser esclarecidos. Carnap dedicou atenção às definições, como veremos adiante. Desse modo, Quine começa examinando três tipos de definições: definição lexical, explicação e definição notacional. O motivo porque Quine se volta para as definições é apresentado no início da segunda seção de Two Dogmas of Empiricism: Existem aqueles que acham reconfortante dizer que os enunciados analíticos da segunda classe se reduzem aos da primeira, as verdades lógicas, por definição; solteiro, por exemplo, é definido como homem não casado. Mas como descobrimos que solteiro é definido como homem não casado? 21 Sigamos, portanto, os argumentos de Quine no que diz respeito à definição e sua possibilidade de criar a sinonímia necessária à analiticidade. Mas, para tornar clara nossa descrição, devemos ter em mente o que Quine pretende. Há duas classes de enunciados analíticos, as verdades lógicas e os enunciados analíticos amplos. As verdades lógicas, em um primeiro momento parecem não apresentar qualquer dificuldade para Quine, o problema está na segunda classe, que devido 21 QUINE, 2011, p. 43.

33 33 a sua forma, não tem o privilégio das verdades lógicas e necessitam serem convertidas nesse tipo de enunciado que é verdadeiro unicamente devido às partículas lógicas que ocorrem nela essencialmente. As verdades analíticas da segunda classe padecem por estar na dependência da linguagem em que ela é apresentada. Assim, a segunda classe dos enunciados analíticos fica refém de uma noção semântica tão obscura quanto à própria analiticidade, ou seja, a sinonímia. Essa noção de analiticidade é atribuída a Frege 22. Desse modo, tendo em mente as considerações acima, sigamos de perto a argumentação de Quine. O primeiro tipo de definição que entra em cena em Two Dogmas of Empiricism é a definição lexical ou a definição do dicionário. Esse tipo de definição é fruto do trabalho do lexicógrafo. Quando não compreendemos uma determinada palavra recorremos ao dicionário para clarificar nossa compreensão. Se não sabemos o que solteiro quer dizer e devido a isso recorremos a um dicionário, como o Aurélio, por exemplo, encontramos que tal palavra pode ser definida como homem não casado. Segundo Quine o problema com a definição lexical está no fato de que o lexicógrafo, sendo um cientista empírico, trabalha com base em uma crença de que há uma relação de sinonímia entre solteiro e homem não casado, que é implícita no uso geral ou preponderante, anterior a seu próprio trabalho 23 Como o objetivo era derivar a sinonímia por meio da definição lexical, viuse claramente que, na verdade, a sinonímia era pressuposta para esse tipo de definição. Logo, devemos deixar de lado esse tipo de definição e nos voltarmos para outro tipo de definição. O segundo tipo de definição analisado por Quine é a explicação. A explicação consiste em tornar vagas e ambíguas as expressões da linguagem cotidiana. Temos desse modo, de um lado, o explicandum, ou seja, a expressão 22 BRANQUINHO, 2006, p QUINE, 2011, p. 43.

34 34 que necessita ser precisada e de outro lado o explicantum, a expressão exata que deve substituir o explicandum. A explicação de conceitos não é verdadeira nem falsa, porém mais ou menos adequada. Assim, Carnap estipulou quatro critérios para avaliar a adequação de uma explicação de conceitos: (1) Semelhança; (2) Exatidão; (3) Fecundidade; (4) Simplicidade. O objetivo desse tipo de definição não é apenas parafrasear o definiendum em um sinônimo imediato, mas na verdade aperfeiçoar o definiendum, refinando ou complementando seu significado 24. Entretanto, assim como a definição lexical, a explicação, baseia-se em sinonímias preexistentes. Nas palavras de Quine: Dois definientia alternativos podem ser igualmente apropriados para os propósitos de uma dada tarefa de explicação e, ainda assim, não serem sinônimos um do outro, pois eles podem ser apropriados de maneira intersubstituível em contextos privilegiados e divergir em outros contextos. Sendo fiel a um desses definientia e não ao outro, uma definição de tipo explicativo gera, por decreto, uma relação de sinonímia entre definiendum e definiens que não valia antes. Mas essa definição ainda deve sua função explicativa, como foi visto, a sinonímias preexistentes QUINE, 2011, p QUINE, 2011, p

35 35 O terceiro tipo de definição é a definição notacional. O objetivo deste tipo de definição é simplesmente introduzir uma nova convenção notacional para fins de abreviação. De acordo com Quine, diferentemente dos outros dois tipos de definição, a definição notacional gera o tipo de sinonímia por definição sem, no entanto, depender da própria sinonímia. O definiendum é criado para ser sinônimo do definiens. Mas esse tipo de definição tem nada a ver com o problema da analiticidade Permutabilidade Salva Veritate A definição se mostrou incapaz de servir ao propósito de criar a sinonímia necessária à analiticidade, pois ela depende de sinonímias anteriores. Assim, Quine se volta para outro modo de se criar a sinonímia que fundamenta a analiticidade, ou seja, a permutabilidade salva veritate ou indiscernibilidade dos idênticos. A permutabilidade consiste em substituir sinônimos por sinônimos. No entanto, como observa Quine, há casos em que o valor de verdade é comprometido pelo apelo à permutabilidade, como é o caso da ocorrência da palavra solteiro em cabo solteiro, e no enunciado: Solteiro tem oito letras. Como claramente se percebe, se tomarmos homem não casado como sinônimo de solteiro, a substituição desses sinônimos nos exemplos acima se torna problemática. No entanto, Quine reconhece que a permutabilidade acima é problemática por se tratar de ocorrências fragmentárias dentro de uma palavra. 26 Esses tipos de ocorrência devem ser deixadas de lado. Quine se volta então para a questão de saber se a permutabilidade salva veritate serve ao propósito de criar a sinonímia necessária à conversão da segunda classe de enunciados analíticos em verdades lógicas. 26 QUINE, 2011, p.48.

36 36 Deve-se deixar claro que o tipo de sinonímia ao qual Quine se refere é a sinonímia cognitiva, ou seja, a sinonímia devido ao significado literal dos termos integrantes. 27 O argumento de Quine mostra que a permutabilidade salva veritate também é incapaz de gerar a sinonímia cognitiva, pois mesmo que façamos uso do advérbio necessariamente, em um enunciado como: Necessariamente todos e somente os solteiros são solteiros. Que em um primeiro momento torna a permutabilidade salva veritate uma condição suficiente para a sinonímia cognitiva. Desse modo, a substituição de solteiro por homem não casado deveria manter o valor de verdade do enunciado: Necessariamente todos e somente os solteiros são homens não casados. No entanto, Quine chama nossa atenção para o advérbio necessariamente. Aceitar que ele faz sentido é supor que já demos um sentido satisfatório para analítico 28. O problema é que a permutabilidade salva veritate só pode ser utilizada em uma linguagem extensional. Mas mesmo neste caso não há garantia de sinonímia cognitiva: Não há garantia (...) de que a concordância extensional de solteiro e homem não casado se baseie no significado em vez de se basear meramente em questões de fato acidentais, como acontece com a concordância extensional entre criatura com coração e criatura com rins. 29 Quine conclui que tentar derivar a analiticidade da sinonímia é um modo equivocado de abordar o problema. Um modo mais apropriado poderia ser tentar clarificar a analiticidade sem recorrer à noção de sinonímia cognitiva. É interessante observar que Two Dogmas of Empiricism não é o primeiro texto em que Quine se volta para o problema da permutabilidade. No livro O 27 STEIN, 2009, p QUINE, 2011, p QUINE, 2011, 52.

37 37 Sentido da Nova Lógica, por exemplo, o tema é abordado no capítulo III Identidade e Existência. Parte deste capítulo deu origem ao artigo Notes on Existence and Necessity. A questão levantada nesses textos é que dado um enunciado de identidade como: Giorgione = Barbarelli. E dado o enunciado: Giorgione era assim chamado por ser gordo. A identidade do primeiro enunciado nos autoriza a aplicar o princípio da substitutividade da identidade ao segundo enunciado. Esse princípio nos diz que dado um enunciado verdadeiro de identidade, um dos dois termos pode ser substituído pelo outro em qualquer verdade, permanecendo o resultado verdadeiro. 30 Assim, a substituição de Giorgione por Barbarelli no segundo enunciado deveria manter o valor de verdade deste enunciado, o que facilmente comprovamos que não ocorre. O mesmo argumento é retomado em Referência e Modalidade, que por sua vez é composto do artigo acima referido Notes on extence and necessity e pelo artigo The Problem of Interpreting Modal Logic Regras Semânticas A seção IV de Two Dogmas of Empiricism começa com um breve resumo do percurso trilhado por Quine no que diz respeito a suas considerações sobre a analiticidade. A analiticidade pareceu, em princípio, ser mais naturalmente definível recorrendo a um reino de significados. Fazendo um refinamento, o recurso aos significados deu lugar a um recurso à 30 QUINE, 1996, p

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