Quine e Davidson. Tradução radical, indeterminação, caridade, esquemas conceituais e os dogmas do empirismo
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- Therezinha Ferrão Carvalho
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1 Quine e Davidson Tradução radical, indeterminação, caridade, esquemas conceituais e os dogmas do empirismo Historiografia e Filosofia das Ciências e Matemática ENS003 Prof. Valter A. Bezerra PEHFCM UFABC 1Q2013
2 Tradução radical Linguagem L Enunciados P, Q, R, S... Linguagem L Enunciados P, Q, R, S... Interpretado Falante Intérprete
3 Tradução radical Linguagem L Enunciados P, Q, R, S... Linguagem L Enunciados P, Q, R, S... [Correlações] Interpretado Falante Circunstâncias Intérprete
4 Tradução radical { Gavagai } L { Coelho } L [Correlações] Interpretado Falante Intérprete Circunstâncias
5 Tradução radical { Gavagai } L { Partes não desconectadas de coelho } L [Correlações] Interpretado Falante Intérprete Circunstâncias
6 Tradução radical { Gavagai } L { Orelhudo } L [Correlações] Interpretado Falante Intérprete Circunstâncias
7
8 Tradução radical { Gavagai } L { Animal ) L [Correlações] Interpretado Falante Intérprete Circunstâncias
9 Tradução radical {... } L { Animal, exceto este espécime, nesta situação ) L [Correlações] Interpretado Falante Intérprete Circunstâncias
10 Tradução radical { Gavagai } L { Veloz ) L [Correlações] Interpretado Falante Intérprete Circunstâncias
11 Indeterminação da tradução Sistema de elocuções L: A, B, C,..., X, Y, Z,... Tradução L 1 : A 1, B 1, C 1,..., X 1, Y 1, Z 1,... Tradução L 2 : A 2, B 2, C 2,..., X 2, Y 2, Z 2,... [Correlações] Intérprete Interpretado Falante Tradução L N : A n, B n, C n,..., X n, Y n, Z n,... Circunstâncias
12 QUINE, W. V. [2004] [1960]. Translation and meaning. In: QUINE, W. V. Quintessence: Basic readings from the philosophy of W. V. Quine, p Ed. por Roger F. Gibson, Jr. Cambridge, Mass. / London: Belknap Press, Publicado originalmente em Word and object, 1960.
13 Interpretação radical Sistema de crenças S = { B(X,P),B(X,Q),...} Sistema atribuído S = {B(X,P ),B(X,Q ),...} [Correlações] Interpretado Falante X Circunstâncias Intérprete Y
14 Princípio de caridade Sistema de crenças S = { B(X,P),B(X,Q),...} Sistema atribuído S = {B(X,P ),B(X,Q ),...} onde P,Q,... são majoritariamente verdadeiras [Correlações] Interpretado Falante X Circunstâncias Intérprete Y
15 Princípio de caridade Sistema de crenças S = { B(X,P),B(X,Q),...} Pré-condição para a interpretação Sistema atribuído S = {B(X,P ),B(X,Q ),...} onde P,Q,... são majoritariamente verdadeiras [Correlações] Interpretado Falante X Circunstâncias Intérprete Y
16 DAVIDSON, Donald. Belief and the Basis of Meaning (1974). In: Inquiries into truth and interpretation, Cap. 10. Oxford: Clarendon Press, 1984, Originalmente publicado em: Synthese v. 27, n. 3/4, pp , 1974.
17 Um argumento anti-cético? Princípio de caridade + Coerência Argumento contra o ceticismo (i.e. estabelece a possibilidade de conhecimento do mundo) Crença, Verdade + Justificação Condições definidoras do conhecimento (crença verdadeira justificada) (JTB)
18 DAVIDSON, Donald [2000] [1989]. A coherence theory of truth and knowledge. Em: E. Sosa / J. Kim (eds) Epistemology: An anthology, pp Malden, MA / Oxford, UK: Blackwell, Uma teoria coerencial da verdade e do conhecimento. Em: M. M. Carrilho (ed) Epistemologia: Posições e críticas, pp Lisboa: Gulbenkian, Originalmente publicado em: Ernest LePore (ed) - Truth and Interpretation: Perspectives on the Philosophy of Donald Davidson, 1989.
19 Princípio de caridade na interpretação de mentalidades e sistemas de valores Sistema de crenças S = { B(X,P),B(X,Q),...} Pré-condição para a interpretação Sistema atribuído S = {B(X,P ),B(X,Q ),...} onde P,Q,... são majoritariamente verdadeiras Intérprete Y Vittore Carpaccio, Visione di Sant Agostino, 1502
20 Princípio de caridade na interpretação de mentalidades e sistemas de valores Sistema de crenças S = { B(X,P),B(X,Q),...} Pré-condição para a interpretação Sistema atribuído S = {B(X,P ),B(X,Q ),...} onde P,Q,... são majoritariamente verdadeiras Intérprete Y Dorothea Lange, Migrant Mother, 1936
21 Princípio de caridade na interpretação de mentalidades e sistemas de valores Sistema de crenças S = { B(X,P),B(X,Q),...} Pré-condição para a interpretação Sistema atribuído S = {B(X,P ),B(X,Q ),...} onde P,Q,... são majoritariamente verdadeiras Intérprete Y Mondino, Anatomia, 1495
22 Princípio de caridade na interpretação de mentalidades e sistemas de valores Sistema de crenças S = { B(X,P),B(X,Q),...} Pré-condição para a interpretação Sistema atribuído S = {B(X,P ),B(X,Q ),...} onde P,Q,... são majoritariamente verdadeiras Intérprete Y W. J. Topley, Ukrainian Immigrants at Québec, c.1911
23 PORTER, Kevin J. [2001]. A Pedagogy of Charity: Donald Davidson and the Student- Negotiated Composition Classroom. College Composition and Communication, Vol. 52, No. 4 (Jun., 2001), pp
24 Os dois dogmas do empirismo segundo Quine 1 Distinção analítico/sintético A definição tradicional é: Enunciado analítico = (a) Aquele que é verdadeiro em virtude do significado dos termos (b) Verdadeiro em virtude da sua forma lógica (c) Aquele no qual o predicado está contido no sujeito Enunciado sintético = (a) Aquele que é verdadeiro não apenas em virtude do significado dos termos (b) Verdadeiro em virtude não apenas da forma lógica (c) Aquele no qual o predicado não está contido no sujeito
25 Os dois dogmas do empirismo segundo Quine 1 Distinção analítico/sintético A reconstrução de Quine das tentativas de estabelecer a distinção tradicional: Analiticidade em termos de definições Analiticidade em termos de sinonímia Sinonímia em termos de permutabilidade preservadora de verdade Analiticidade em termos de regras semânticas
26 Os dois dogmas do empirismo segundo Quine A visão de Quine sobre (1): A distinção analítico/sintético não é uma dicotomia, mas sim uma questão de grau.
27 Os dois dogmas do empirismo segundo Quine 1 Distinção analítico/sintético Podemos dizer que Quine coloca em questão a distinção entre teoria e linguagem. Hilary Putnam pergunta: A lógica é empírica? Lógica Geometria :: Mecânica quântica Teoria da relatividade
28 Os dois dogmas do empirismo segundo Quine 2 O reducionismo de significado Hume, Carnap, Wittgenstein Critério de significado Dada uma idéia, somos capazes de mostrar de quais impressões deriva essa idéia? Um enunciado possui significado cognitivo se possuir uma interpretação empírica O significado de um enunciado é o seu método de verificação A visão de Quine sobre (2): O todo da ciência é a unidade de significado, e não os enunciados isolados
29 QUINE, W. v. O. [1980] [1953]. Dois dogmas do empirismo. [Trad. por Marcelo G. S. Lima.] Em: Os Pensadores - Ryle, Strawson, Austin, Quine (2ª ed.), pp São Paulo: Abril Cultural, QUINE, W. v. O. [1953]. Two dogmas of empiricism. Em: W. v. O. Quine From a logical point of view - Nine Logico-Philosophical Essays (2nd rev. ed.), pp Cambridge, Massachusetts: Harvard University Press, 1980.
30 O terceiro dogma do empirismo segundo Davidson Como saber que os falantes de L têm um esquema conceitual diferente do nosso, nós que falamos M? 1 Quando um esquema conceitual é diferente do nosso? (Supondo intraduzibilidade total) (a) Quando ele é majoritariamente verdadeiro porém intraduzível para o nosso? 2 Mas a noção de verdade não pode ser entendida independentemente da noção de tradução. 3 Quando dois esquemas conceituais são distintos? (Supondo intraduzibilidade apenas parcial) (b) Quando os falantes de L aceitam como verdadeira uma gama importante de enunciados que os falantes de M consideram falsos, e vice-versa? 4 Seria preciso então pinçar enunciados verdadeiros em L e mostrar que muitos deles podem ser traduzidos em enunciados em M que nós consideramos falsos. 5 Mas pelo princípio de caridade, quando nós traduzimos entre L e M, tendemos a interpretar a maior parte das teses de L como verdadeiras também em M; isso não é uma opção, é uma condição. 6 Logo, não há como caracterizar a diferença entre os esquemas conceituais de quem fala L e quem fala M.
31 O terceiro dogma do empirismo segundo Davidson A noção de esquemas conceituais que são diferentes não é inteligível nem tampouco a noção de esquemas que são idênticos! Isso acontece porque a diferenciação entre esquemas conceituais repousa, em última análise, sobre o terceiro dogma do empirismo (depois do dogma da dicotomia analítico / sintético e do dogma do reducionismo de significado). Trata-se do dogma do dualismo entre esquema conceitual e realidade.
32 O terceiro dogma do empirismo segundo Davidson Distinção entre esquema conceitual e realidade nãointerpretada conceitos Conceitos Esquema conceitual Conceitos REALIDADE DOMÍNIO A CONJUNTO DE ASPECTOS α CONJUNTO DE ASPECTOS γ CONJUNTO DE ASPECTOS β DOMÍNIO B
33 O terceiro dogma do empirismo segundo Davidson
34 O terceiro dogma do empirismo segundo Davidson
35 O terceiro dogma do empirismo segundo Davidson
36 DAVIDSON, Donald [1984] [1974]. On the very idea of a conceptual scheme. In: DAVIDSON, D. Inquiries into Truth and Interpretation, p Oxford: Clarendon Press, Sobre a própria ideia de um esquema conceitual. Trad. por Celso R. Braida. In: C. R. Braida (org) Antologia de ontologia (Textos selecionados), pp Florianópólis: Rocca Brayde, 2011.
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