PERSPECTIVAS DO USO DE ÁCAROS PREDADORES NO CONTROLE BIOLÓGICO DE ÁCAROS-PRAGA NA CITRICULTURA
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1 ENTOMOLOGIA PERSPECTIVAS DO USO DE ÁCAROS PREDADORES NO CONTROLE BIOLÓGICO DE ÁCAROS-PRAGA NA CITRICULTURA MÁRIO EIDI SATO 1 RESUMO Os ácaros predadores das famílias Phytoseiidae e Stigmaeidae constituem os principais inimigos naturais de ácaros-praga presentes em citros. Os fitoseídeos Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, Euseius citrifolius Denmark & Muma e Euseius concordis Chant são freqüentes nos pomares cítricos do Brasil, onde ácaros do gênero Agistemus (Stigmaeidae) também têm sido encontrados com freqüência. Um dos problemas associados ao controle biológico exercido por esses inimigos naturais é sua alta mortalidade em vista do intenso uso de produtos fitossanitários na cultura no País. Entre as possibilidades de melhorar o desempenho desses predadores, pode-se mencionar o uso adequado de agroquímicos, com base na sua seletividade. Outra possibilidade é a introdução de ácaros predadores resistentes ou tolerantes a pesticidas, como de algumas populações de Neoseiulus californicus (McGregor), em nossos pomares cítricos. A importância dos ácaros predadores presentes em citros, o efeito de agroquímicos sobre tais predadores e a viabilidade do uso de N. californicus para o controle de ácarospraga na cultura são discutidos neste trabalho. Termos de indexação: Acari, Phytoseiidae, Stigmaeidae, Citrus sinensis, agroquímicos. 1 Pesquisador Científico, Laboratório de Entomologia Econômica, Centro Experimental Central do Instituto Biológico, APTA, Caixa Postal 70, Campinas (SP). mesato@biologico.sp.gov.br ARTIGO TÉCNICO
2 292 MÁRIO EIDI SATO SUMMARY PESPECTIVES OF THE USE OF PREDACEOUS MITES FOR THE BIOLOGICAL CONTROL OF PHYTOPHAGOUS MITES ON CITRUS Predaceous mites of the families Phytoseiidae and Stigmaeidae represent the most important natural enemies of phytophagous mites in citrus orchards in Brazil. The species Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, Euseius citrifolius Denmark & Muma and Euseius concordis Chant are frequent on citrus in Brazil. Mites of genus Agistemus (Stigmaeidae) are also frequently found on citrus in the country. A serious problem associated with the biological control provided by these natural enemies is the high mortality of these predaceous mites caused by the intensive use of pesticides on citrus in Brazil. One of the possibilities to improve the efficacy of these predators is the correct use of agrochemicals, based on their selectivity to natural enemies. Another possibility is the introduction of pesticide- -tolerant or resistant predaceous mites, such as some populations of the species Neoseiulus californicus (McGregor), in Brazilian citrus orchards. The importance of predaceous mites present on citrus, the effect of agrochemicals on these predators and the viability of the use of N. californicus for the biological control of phytophagous mites on citrus in Brazil are discussed. Index terms: Acari, Phytoseiidae, Stigmaeidae, Citrus sinensis, pesticides. 1. INTRODUÇÃO O ácaro-da-leprose ou ácaro-plano Brevipalpus phoenicis (Geijskes, 1939) (Tenuipalpidae) é uma das principais pragas da citricultura brasileira, dados os sérios prejuízos que causa na produção. É responsável pela transmissão do vírus da leprose dos citros (CiLV), que está associado a sintomas como lesões localizadas em frutos, ramos e folhas, queda prematura de frutos, desfolhamento e morte de ramos, que levam as plantas a um intenso declínio (RODRIGUES et al., 2003).
3 PERSPECTIVAS DO USO DE ÁCAROS PREDADORES NO CONTROLE Outro ácaro fitófago de grande importância é o da falsa-ferrugem, Phyllocoptruta oleivora (Ashmead, 1879) (Eriophyidae), também considerado praga-chave em citros (GRAVENA, 1984). Os ácaros B. phoenicis e P. oleivora são responsáveis pela maioria das pulverizações realizadas em citros (SINDAG, 2004). Em 2003, gastararam-se, aproximadamente, 70 milhões de dólares com acaricidas na citricultura brasileira, representando mais de 50% dos custos com todas as classes de defensivos agrícolas utilizados em citros (NEVES et al., 2003). Um dos problemas causados por essas freqüentes aplicações é o desenvolvimento da resistência de ácaros (ex.: B. phoenicis) a alguns acaricidas empregados na cultura (OMOTO et al., 2000). Outro problema, associado ao uso excessivo de agroquímicos, é a eliminação dos inimigos naturais presentes na cultura, favorecendo a ressurgência de pragas. O presente artigo apresenta informações sobre os ácaros predadores presentes em citros, o efeito de agroquímicos sobre esses inimigos naturais e as perspectivas do uso dos predadores no controle biológico de ácaros-praga na citricultura brasileira. A viabilidade da utilização do fitoseídeo Neoseiulus californicus (McGregor, 1954) (Phytoseiidae) para o controle de ácaros fitófagos em citros também é discutida. Algumas populações desse fitoseídeo se mostram tolerantes a diversos agroquímicos. 2. ÁCAROS PREDADORES EM CITROS Entre cerca de espécies de ácaros fitoseídeos encontrados em todo o mundo (MORAES et al., 2004), mais de 200 espécies foram registradas para citros (MORAES et al., 1986, 2004). Dos fitoseídeos reportados para a cultura, mais de dez espécies se encontram no Brasil (MORAES et al., 2004). SATO et al. (1994b) observaram a presença de seis espécies de ácaros predadores da família Phytoseiidae, em pomar de laranja em Presidente Prudente (SP), sendo as espécies de maior ocorrência as seguintes: Iphiseiodes zuluagai Denmark & Muma, 1972; Euseius citrifolius Denmark & Muma, 1970, e Euseius concordis (Chant, 1959), representando, respectivamente, 47,3, 26,5 e 25,7% dos ácaros coletados. As demais espécies foram: Amblyseius chiapensis DeLeon, 1961; Euseius alatus DeLeon, 1966, e Typhlodromina camelliae (Chant & Yoshida-
4 294 MÁRIO EIDI SATO Shaul, 1983), representando, juntas, menos de 1% do número total de ácaros amostrados. RAGA et al. (1996), estudando a distribuição de ácaros fitoseídeos em plantas de citros, observaram maior incidência dos ácaros predadores nas folhas localizadas no terço médio e no inferior da copa. Encontrou-se a maior parte dos fitoseídeos (86,7%) em folhas com presença de teias de insetos da ordem Psocoptera, que serviam de abrigo para tais ácaros. A espécie E. concordis apresenta um período médio de ovo a adulto de 5,5 dias, longevidade média de 35 dias e taxa de oviposição média de 1,6 ovo/fêmea/dia. Durante sua vida, cada ácaro preda em média 351 ovos ou 302 formas jovens ou 20,5 adultos do ácaro-da-leprose. O adulto é mais voraz que as formas imaturas (KOMATSU, 1988). Outras espécies, como I. zuluagai e E. citrifolius, também se mostram promissoras no controle biológico de B. phoenicis e outros ácaros-praga em citros no Brasil (GRAVENA et al., 1994; REIS et al., 1998). Essas informações indicam a importância da preservação dos ácaros fitoseídeos no controle biológico de ácaros-praga em citros no País. A família Stigmaeidae também apresenta espécies de ácaros predadores que se alimentam de ácaros-praga de citros, podendo-se citar os dos gêneros Agistemus e Zetzellia. Estudos relacionados à flutuação populacional de ácaros estigmeídeos na cultura de citros efetuaram-se nos municípios paulistas de Limeira, Araraquara, Jaboticabal, Itápolis, Bebedouro e Olímpia, durante dois anos, onde se foram amostraram frutos, ramos, folhas e plantas invasoras. Verificou-se que a espécie de estigmeídeo mais freqüente foi Agistemus brasiliensis Matioli, Ueckermann & Oliveira, 2002 (80%), seguida de Agistemus floridanus Gonzalez, 1965 (15%) e Zetzellia malvinae Matioli, Ueckermann & Oliveira, 2002 (5%). Encontraram-se estigmeídeos em maior número nos frutos, seguidos das folhas, não se observam sobre as espécies de plantas invasoras (MATIOLI, 2002). Estudos sobre a biologia de A. brasiliensis nas temperaturas de 15, 20, 25, 30 e 35 C indicaram que a condição ideal para o desenvolvimento dessa espécie foi de 29 C. Os valores de T (ciclo de vida - dias), R 0 e r m, na temperatura de 30 C, foram de 13,95, 16,25 e 0,20 respectivamente. Pesquisou-se potencialidade de predação de A. brasiliensis para as densidades de 5, 10,
5 PERSPECTIVAS DO USO DE ÁCAROS PREDADORES NO CONTROLE , 40 e 60 adultos do ácaro-da-leprose, em arenas de 3 cm de diâmetro, verificando-se que a densidade de 20 ácaros-da-leprose foi suficiente para que o predador consumisse seu máximo de presas (7,6 B. phoenicis por dia). Com relação à postura diária nas diferentes densidades de presa, densidades acima de 40 ácaros-da-leprose proporcionaram uma média de 4,7 ovos por dia (MATIOLI, 2002). Os ácaros predadores das famílias Stigmaeidae e Phytoseiidae freqüentemente promovem o controle biológico de ácaros-praga e interagem entre si através de competição por presas ou pela predação de um pelo outro (CLEMENTS & HARMSEN, 1992). Entre tais interações, tem-se observado que os ácaros Stigmaeidae se alimentam de formas imaturas de fitoseídeos, principalmente ovos (CROFT & MacRAE, 1993). Diversos pesquisadores têm sugerido que tais ácaros (Stigmaeidae) podem limitar o controle biológico exercido pelos fitoseídeos (SANTOS & LAING, 1985; WOOLHOUSE & HARMSEN, 1987); o inverso, porém, também tem sido relatado. Uma pesquisa efetuadda por SATO et al. (2001) em pomar cítrico do Estado de São Paulo indicou nítida competição entre fitoseídeos e estigmeídeos, havendo aumento do número de ácaros Stigmaeidae após a eliminação da maioria dos fitoseídeos, em conseqüência da pulverização de inseticidas. Além dos ácaros das famílias Phytoseiidae e Stigmaeidae, outros predadores podem ser encontrados nos pomares cítricos; entre eles, podem-se citar os das famílias Ascidae, Tydeidae, Cheyletidae, Cunaxidae, Bdellidae e Eupalopsellidae (MOREIRA, 1993). Outros artrópodes também podem predar ácaros fitófagos em citros, como a joaninha, do gênero Stethorus (Coleoptera: Coccinellidae), que se alimenta tanto de ovos como de ninfas e adultos de ácaros eriofídeos, tetraniquídeos, tarsonemídeos e tenuipalpídeos. Os crisopídeos (Neuroptera: Chrysopidae) também podem se alimentar de ácaros fitófagos (NASCIMENTO et al., l982). 3. MANEJO DE PLANTAS DANINHAS Algumas plantas daninhas, como Alternanthera tennella Colla (apaga-fogo), Amaranthus deflexus L. (caruru) (Amaranthaceae); Peschiera fuch-
6 296 MÁRIO EIDI SATO siaefolia Miers (leiteiro) (Apocynaceae); Acanthospermum australe (Loefl.) Kuntze (carrapichinho), Bidens pilosa L. (picão-preto), Erigeron bonariensis L. (buva) (Asteraceae); Ipomoeae spp. (corda-de-viola) (Convolvulaceae); Momordica charantia L. (melão-de-são-caetano) (Cucurbitaceae); Senna obtusifolia (L.) Irwin & Barneby (fedegoso) (Fabaceae); Leonotis nepetaefolia (L.) R. BR. (cordão-de-frade) (Labiatae); Sida cordifolia L. (malvabranca), Sida rhombifolia L. (guanxuma) (Malvaceae); Cenchrus echinatus L. (capim-carrapicho) (Poaceae); Richardia brasiliensis Gomes (poaia-branca) (Rubiaceae) e Lantana camara L. (cambará-de-cheiro) (Verbenaceae) são referidas como hospedeiras do ácaro-da-leprose (TRINDADE, 1990). Deveriam portanto, ser removidas dos pomares cítricos. Sabe-se, porém, que as plantas daninhas servem de abrigo e fonte de alimento (pólen) para os inimigos naturais de ácaros fitófagos, como é o caso dos ácaros predadores da família Phytoseiidae. Nesse aspecto, ainda são necessários estudos mais aprofundados para uma recomendação mais precisa de como manipular adequadamente as plantas daninhas, em um programa de manejo integrado de pragas. Em trabalhos realizados em Jaboticabal (SP), GRAVENA et al. (1992) constataram que a cobertura verde com mentrasto Ageratum conyzoides L. (Asteraceae) e cambará Eupatorium pauciflorum H.B.K. (Asteraceae) proporcionaram menor incidência de ácaros-da-leprose e da ferrugem e menores danos nos frutos. Além disso, os ácaros-da-leprose que vivem em plantas daninhas não sofrem a pressão de seleção por acaricidas, como aqueles presentes na copa das árvores, servindo, assim, como fonte de espécimes sensíveis, favorecendo o manejo da resistência de B. phoenicis aos acaricidas (OMOTO, 1995). 4. EFEITO DE AGROQUÍMICOS SOBRE ÁCAROS PREDADORES EM CITROS Atualmente, um dos grandes problemas associados à eficiência do controle biológico de ácaros-praga em citros é a alta mortalidade provocada pelos agroquímicos aos ácaros predadores e outros inimigos naturais presentes na cultura. Em vista da importância do problema, tem-se realizaddo diversos trabalhos para observar a toxicidade e/ou a seletividade de agroquími-
7 PERSPECTIVAS DO USO DE ÁCAROS PREDADORES NO CONTROLE cos a ácaros predadores da família Phytoseiidae presentes em citros no Brasil (KOMATSU & NAKANO, 1988; SATO et al., 1994a,1996; YAMAMOTO et al., 1995; REIS et al., 1998, 1999; MONTEIRO, 2001; REIS & SOUSA, 2001; YAMAMOTO & BESSANEZI, 2003; SILVA, 2005). A toxicidade residual de diversos acaricidas ao fitoseídeo E. citrifolius, em plantas cítricas, foi estudada por SATO et al. (1994a). Após a pulverização, efetuaram-se coletas periódicas de folhas, infestando-as com ácaros predadores: o óxido de fenbutatin foi praticamente inócuo aos adultos desse ácaro, com reduções populacionais inferiores a 19%. Os acaricidas acrinathrin, fenpyroximate e cihexatin causaram reduções iniciais acima de 83%, mostrando-se significativamente prejudicial até 5 dias após a aplicação. O bifenthrin foi o produto que se mostrou mais tóxico, com 100% de mortalidade até 10 dias após o tratamento e reduções significativas até 30 dias após a aplicação. Em um trabalho semelhante, visando à observação da toxicidade residual de acaricidas a I. zuluagai, SATO et al. (1996) observaram que o abamectin se mostrou tóxico até 1 dia após a aplicação, com reduções populacionais inferiores a 62%. Os acaricidas fenpyroximate, cyhexatin e propargite induziram reduções significativas na população até 4, 4 e 10 dias após a pulverização respectivamente. Os piretróides bifenthrin e fenpropathrin foram os mais prejudiciais, com reduções significativas até de 38 e 45 dias após a aplicação respectivamente. Embora o período de toxicidade residual da maioria dos acaricidas utilizados em citros seja limitado a alguns dias (ou semanas), o tempo necessário para o restabelecimento da população de ácaros predadores após a aplicação de acaricidas, em condições de campo, tem se mostrado relativamente longo (SATO et al., 1992, 1994c), sendo variável de acordo com as condições climáticas, e a vegetação de plantas daninhas que servem de hospedeiras para esses predadores, além de outros fatores. No estudo de SATO et al. (1995), os produtos acrinathrin, fenpyroximate e cyhexatin apresentaram reduções acima de 80% nas populações de ácaros predadores, mantendo reduções significativas até 68 dias após a pulverização. O enxofre também causou mortalidade inicial elevada, apresentando reduções significativas até 39 dias depois da aplicação. Novamente, o bifenthrin foi o produto mais tóxico, provocando mortalidade inicial de
8 298 MÁRIO EIDI SATO 100%, com restabelecimento parcial da população de fitoseídeos somente 152 dias após pulverização. A maioria dos acaricidas utilizados em citros, com exceção dos piretróides, não se tem mostrado muito tóxico a outros inimigos naturais presentes nos pomares de laranja. Apesar do volume razoável de informações sobre a sensibilidade de ácaros Phytoseiidae a pesticidas, praticamente não existem estudos sobre o efeito desses compostos a ácaros Stigmaeidae no Brasil. Entre as possibilidades de melhorar o desempenho de ácaros predadores, pode-se mencionar o uso adequado de agroquímicos, baseando-se na sua seletividade aos inimigos naturais. Outra possibilidade é a introdução de ácaros predadores resistentes ou tolerantes a agroquímicos, como de algumas populações do fitoseídeo N. californicus. 5. ÁCAROS PREDADORES RESISTENTES OU TOLERANTES A AGROQUÍMICOS Embora a resistência a inseticidas não seja freqüente em inimigos naturais, são conhecidos, atualmente, diversos casos de resistência em ácaros predadores pertencentes à família Phytoseiidae (HOY, 1990). Os fitoseídeos apresentam taxas reprodutivas elevadas, pseudo-arrenotoquia, exibem características de migração e atributos de colonização que favorecem a evolução da resistência a pesticidas (CROFT & Van de BAAN, 1988). Além disso, os fitoseídeos apresentam um ciclo biológico curto, haja vista que, na maioria das espécies, o período de desenvolvimento de ovo a adulto é de, aproximadamente, uma semana (HOY, 1985). A resistência a pesticidas tem sido documentada em populações de fitoseídeos, de espécies como Amblyseius fallacis (Garman, 1948), Metaseiulus occidentalis (Nesbitt, 1951), Phytoseiulus persimilis Athias-Henriot, 1957 e Typhlodromus pyri Scheuten, 1857 (HOY et al., 1979; ROUSH & HOY, 1981; STRICKLER & CROFT, 1982; CROFT & STRICKLER, 1983; HOY, 1985). A estratégia de controle biológico de ácaros-praga utilizando ácaros predadores resistentes ou tolerantes a defensivos tem sido empregada com sucesso em diversos países da Europa, da América do Norte e da Oceania, para diversas culturas, tais como maçã, citros, videira e culturas em ca-
9 PERSPECTIVAS DO USO DE ÁCAROS PREDADORES NO CONTROLE sas-de-vegetação (FIELD, 1978; HOY & KNOP, 1981; HOY, 1985, 1990; HUSSEY & SCOPES, 1985; FOURNIER et al., 1987; HOY & OUYANG, 1989; BLOMMERS, 1994). O emprego de fitoseídeos resistentes ou tolerantes a pesticidas em programas de controle integrado, durante as últimas décadas, tem contribuído para o aprimoramento do manejo de pragas em nível mundial e redução do número de casos de resistência em ácaros-praga (FAO, 1984). Os ácaros predadores, quando abundantes na cultura, podem manter a população de ácaros fitófagos em níveis que não causem prejuízos econômicos, por longo período após o tratamento químico, exigindo, assim, menor número de aplicações, reduzindo a pressão de seleção e, conseqüentemente, retardando o desenvolvimento da resistência pelo ácaro-praga. O ácaro predador N. californicus promove o controle biológico de ácaros fitófagos em várias espécies de plantas cultivadas, como maçã, morango, citros, feijão, plantas ornamentais etc. (MORAES et al., 1986, 2004; McMURTRY & CROFT, 1997). Esse fitoseídeo ocorre em diversas regiões do continente americano (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Cuba, Guatemala, México, Peru e Venezuela), nas áreas áridas do Sul da Califórnia (EUA), Sul da Europa (Espanha, Itália e França) e Ásia (Japão e Taiwan) (McMURTRY & CROFT, 1997; MORAES et al., 2004). Segundo CASTAGNOLI & SIMONI (1999), a 25ºC, o período médio de ovo a adulto de N. californicus é 5 a 7 dias; a longevidade é de, aproximadamente, 30 dias; o número de ovos/fêmea/dia, de 2,8 a 3 ovos e a capacidade diária de consumo, de 15 a 20 ovos do ácaro-rajado Tetranychus urticae (Koch, 1836) (Tetranychidae). Uma população de ácaros fitoseídeos da espécie N. californicus, coletada de morangueiro comercial em Atibaia (SP), mostrou-se tolerante ou resistente a diversos agrotóxicos utilizados em citros no Brasil. Muitos deles foram inócuos (acrinathrin, deltamethrin, dinocap, enxofre, óxido de fenbutatin, propargite) ou levemente nocivos (azocyclotin, cyhexatin, fenpropathrin) aos ácaros dessa população de N. californicus (SATO et al., 2002b; SILVA, 2005), ao passo que vários deles foram nocivos a outras espécies de ácaros presentes em citros no Brasil (Tabela 1).
10 300 MÁRIO EIDI SATO Tabela 1. Seletividade de agroquimicos aos ácaros predaddores (Phytoseiidae) presentes em citros Produto Técnico Uso Ácaros predadores em geral Euseius concordis Euseius citrifolius Iphiseiodes zuluagai Acrinathrin A - M M N I Deltamethrin In N I Dinocap A I Enxofre F, A I/M/N I/L/M M M I Óxido de fenbutatin A L/N L/M I/L/M I/L/M I Propargite A L/M - N N I Neoseiulus californicus Azocyclotin A M N N N L Cyhexatin A L/M/N M/N M/N M/N L Fenpropathrin In, A N N N N L Abamectin A, In I/L I/M/N - L/N M Chlorfenapyr A N - - L/N N Dicofol A M/N N N N N Pyridaben A - N N N N A = acaricida; F = fungicida; In = inseticida. I = inócuo; L = levemente nocivo; M = moderadamente nocivo; N = nocivo. Fonte: KOMATSU & NAKANO (1988); REIS et al. (1998); MONTEIRO (2001), REIS & SOUSA (2001); SATO et al. (2002b);YAMAMOTO & BESSANEZI (2003) e SILVA (2005).
11 PERSPECTIVAS DO USO DE ÁCAROS PREDADORES NO CONTROLE Para alguns produtos, como o propargite, os ácaros N. californicus mostram-se 25 vezes mais tolerantes que o ácaro-rajado. Concentrações de propargite 10 vezes superiores à recomendada (216 mg de i.a./l) para diversas culturas são necessárias para matar apenas 50% dos adultos desse predador (SATO et al., 2002a). No Brasil, uma população de N. californicus tem sido criada massalmente e liberada em pomares de maçã no Sul, visando ao controle de Panonychus ulmi (Koch, 1836) (Tetranychidae). Os ácaros predadores têm- -se mostrado bastante eficientes, contribuindo para uma redução significativa no uso de acaricidas (MONTEIRO, 1994). Em algumas áreas, foi possível o controle de P. ulmi apenas com o uso de N. californicus, sem necessidade da aplicação de acaricidas, a partir do segundo ano após o início das liberações do predador (MONTEIRO, 2002). A vantagem da liberação de ácaros predadores tolerantes a defensivos agrícolas é que o agricultor pode realizar o controle químico de outras pragas (ou doenças) sem se preocupar se está matando os predadores liberados. Outra vantagem é que o agricultor poderá realizar uma eventual aplicação de acaricida caso os ácaros predadores não consigam controlar adequadamente a população do ácaro-praga, em vista, por exemplo, de uma liberação insuficiente desses predadores. A utilização de N. californicus na cultura de morangueiro também se mostrou bastante promissora, com excelentes resultados no controle biológico de ácaro-rajado em área comercial, na região de Atibaia (SP) (SATO et al., 2002b). Esses resultados indicam o elevado potencial de uso de tais ácaros em programas de manejo de ácaros-praga em diversas culturas. A importância desse predador em citros ainda é desconhecida no Brasil. Sabe-se que é fácil de ser criado e se mostra eficiente na predação de ovos e larvas de B. phoenicis. Também apresenta bom potencial para o controle biológico de outras espécies de ácaros-praga presentes em citros, tais como, P. oleivora e Tetranychus mexicanus (McGregor, 1950) (Tetranychidae) (SILVA, 2005). A utilização de N. californicus em programas de manejo de ácaros pode ser bastante interessante em pomares de citros do Estado de São Paulo, onde o uso de pesticidas é intenso.
12 302 MÁRIO EIDI SATO Uma das dificuldades no momento refere-se à indisponibilidade de grandes populações de ácaros predadores tolerantes a agroquímicos para atender a todos os produtores de citros. Existe a possibilidade de o próprio produtor multiplicar os ácaros predadores em sua propriedade, pela grande facilidade de criação desses organismos. Caso, porém, muitos agricultores passem a adotar a liberação de ácaros predadores como uma prática normal para o controle de ácaros-praga, com certeza não faltarão empresas interessadas em multiplicar esses predadores para vendê-los aos produtores de citros e de outras culturas, como ocorre na Europa e Estados nos Unidos. 6. CONSIDERAÇÕES FINAIS Apesar do aparente potencial de uso de N. californicus para o controle biológico de ácaros-praga em citros, ainda são necessários estudos para avaliar a viabilidade do emprego desses artrópodes nessa cultura no Brasil. O efeito da introdução desses inimigos naturais sobre as outras espécies de ácaros predadores presentes em citros no País também precisa ser avaliado. Da mesma forma, as táticas de introdução e manutenção de populações tolerantes a agroquímicos ainda precisam ser pesquisadas, visando à definição de um possível programa de manejo de ácaros-praga nessa cultura. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BLOMMERS, L.H.M. Integrated pest management in European apple orchards. Annu. Rev. Entomol., v.39, p , CASTAGNOLI, M. & SIMONI, S. Effect of long-term feeding history on functional and numerical response of Neoseiulus californicus (Acari: Phytoseiidae). Exp. Appl. Acarol., v.23, p , CLEMENTS, D.R. & HARMSEN, R. Stigmaeid-phytosiid interactions and the impact of natural enemy complexes on plant-inhabiting mites. Exp. Appl. Acarol., v. 14, p , CROFT, B.A. & MacRAE, I.V. Biological control of apple mites: impact of Zetzellia mali (Acari: Stigmaeidae) on Typhlodromus pyri and Metaseiulus occidentalis (Acari: Phytoseiidae). Environ. Entomol., v. 22, n. 4, p , CROFT, B.A. & STRICKLER, K.A. Natural enemy resistance to pesticides: documentation, characterization, theory and application. In: GEORGHIOU, G.P. & SAITO, T. (Eds.). Pest resistance to pesticides. New York: Plenum Press, p
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