SEGUNDA CÂMARA CÍVEL ACÓRDÃO

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1 SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO N AGRAVANTE: SEGURADORA LIDER DOS CONSORCIOS DO SEGURO DPVAT S/A AGRAVADO: JOSÉ CARLOS ALVES FERREIRA ORIGEM: Juízo de Direito da 21ª Vara Cível da Comarca da Capital ACÓRDÃO Agravo de instrumento. Ação de cobrança. Seguro DPVAT. Interlocutória que rejeitou a arguição de carência acionária. Ausência de prévio requerimento na via administrativa (Lei nº 6.194/74, art. 5º, 1º). A ausência de requerimento administrativo prévio não retira dos beneficiários do seguro obrigatório DPVAT o direito de postular a indenização diretamente em Juízo, sob pena de violar a garantia constitucional de amplo acesso à justiça (CF/88, art. 5º, XXXV). Jurisprudência predominante. Recurso a que se nega provimento. Vistos, relatados e discutidos estes autos de agravo de instrumento nº , originários do Juízo de Direito da 21ª Vara Cível da Comarca da Capital, em que figuram, como agravante, SEGURADORA LIDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A, e, como agravado, JOSÉ CARLOS ALVES FERREIRA, os Desembargadores que compõem a Segunda Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro ACORDAM, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos do voto do relator. A decisão saneadora, proferida pelo MM. Juízo de Direito da 21ª Vara Cível da Comarca da Capital, rejeitou preliminar de carência acionária no entendimento de que não é necessário

2 esgotar as instâncias administrativas para pleitear judicialmente um direito (pasta 5 anexo 1). O instrumento veio instruído com as peças obrigatórias e outras que a recorrente reputou relevantes (anexo 1). O recurso foi achado cabível e tempestivo, dando-se-lhe seguimento e deferida a eficácia suspensiva requerida (pasta 15). Pretende que se acolha a preliminar de falta de interesse de agir, conduzindo desde logo à extinção do processo sem cognição do mérito. O Juízo prestou as informações de fls. 108, dando conta de que a agravante cumpriu a regra do art. 526 do CPC e que não exerceu a retratação. Sem contrarrazões (certidão pasta 21). É o relatório. Aos , o autor, aqui agravado, foi vítima de atropelamento que lhe deixou sequela que alega ser permanente (fls. 19). Aos (pasta 9), dirigiu ação de cobrança à ora agravante, referente à indenização do seguro obrigatório DPVAT Em resposta, a Seguradora ré, em preliminar, arguiu falta de interesse de agir porque o requerente não pleiteou a indenização pela via administrativa (pasta 22). Aos , sobreveio a interlocutória ora hostilizada (pasta 5 anexo 1). Sem razão a recorrente. Não consta dos autos notícia de prévio requerimento na via administrativa para o recebimento da indenização do seguro obrigatório DPVAT, o que levaria a deduzir-se que o autor postula sua pretensão diretamente ao Poder Judiciário, sem haver requerido o direito à Seguradora. Em réplica (pasta 39), o autor invoca a aplicação do disposto no art. 5º, XXXV, da CF/88, no

3 entendimento de que a Constituição lhe assegura o livre acesso ao Judiciário e a busca da prestação jurisdicional, não se fazendo necessário, para tanto, a formulação prévia do pleito em sede administrativa (pasta 39). Não obstante a orientação do verbete 232, da Súmula deste TJRJ ( é incabível a cobrança judicial da cobertura do seguro DPVAT no prazo legal de regulação do sinistro ), predominante no Superior Tribunal de Justiça é o entendimento de que a ausência de requerimento administrativo prévio não retira dos beneficiários o direito de postular a indenização diretamente em Juízo, sob pena de violar-se o direito constitucional de acesso à justiça. Assim, v.g.: (a) AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº RS (2012/ ), em 14 de novembro de RELATOR : MINISTRO MARCO BUZZI AGRAVANTE : SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A AGRAVADO : LEANDRO DOS SANTOS LOPES DECISÃO Trata-se de agravo (artigo 544 do CPC), interposto por SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A, em face de decisão denegatória do seguimento do recurso especial, de sua vez manejado com amparo na alínea "a" do permissivo constitucional, no intuito de reformar acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Estado do Rio Grande do Sul, assim ementado: APELAÇÃO CÍVEL. PRELIMINAR. AUSÊNCIA DE PEDIDO ADMINISTRATIVO. PRESCRIÇÃO INOCORRENTE. INVALIDEZ PERMANENTE. INDENIZAÇÃO DEVIDA. SENTENÇA MANTIDA. A falta de requerimento administrativo não retira dos beneficiários o direito de postular a indenização diretamente na Justiça, sob pena de violação ao direito constitucional do acesso ao Judiciário. Preliminar de falta de interesse afastada. Prescrição inocorrente. O pedido administrativo suspendeu o lapso prescricional, nos termos da Súmula 229 do STJ, não tendo sido encerrada a regulação administrativa por falta de documentos. Ausência de recusa da seguradora em efetuar o pagamento. Suspensão mantida até o ajuizamento da ação.

4 Sendo incontroversa a invalidez permanente do autor, devida é a cobertura securitária postulada, porquanto, nos termos da legislação aplicável à espécie, desnecessária é a apuração do grau da invalidez para a quantificação da indenização devida. A Lei 6.194/74, que regula a matéria, não exige que o grau da invalidez seja perquirido, não podendo as seguradoras realizar tal aferição com base em Resoluções do CNSP, o qual não tem hierarquia superior à lei ordinária. Demonstrado o acidente e a invalidez, consoante artigo 5º da Lei 6.194/74, devida é o pagamento da indenização, em observância ao teto de 40 salários mínimos. Inaplicabilidade da Lei /2007, em face de sua incidência ser devida apenas sobre os sinistros ocorridos a partir de 29/12/2006, quando entrou em vigor a MP 340/2006. Correção monetária. Data do sinistro. Alteração de ofício. Ausência de reformatio in pejus. Precedente do STJ. (...) 3. Do exposto, nego provimento ao agravo... (Ministro MARCO BUZZI, 02/12/2013). (b) AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL Nº SP (2013/ ), em 12 de março de RELATOR : MINISTRO RAUL ARAÚJO AGRAVANTE : SEGURADORA LÍDER DOS CONSÓRCIOS DO SEGURO DPVAT S/A AGRAVADO : VALTER ALVES DE SOUSA DECISÃO Cuida-se de agravo desafiando r. decisão que inadmitiu recurso especial, este com fundamento nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, interposto contra v. acórdão proferido pelo Eg. Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, assim ementado: "SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT) - COBRANÇA - APLICAÇÃO DO PRAZO PRESCRICIONAL PREVISTO NO ART. 206, 3º, IX, DO CÓDIGO CIVIL DE 2002 C.C. SÚMULA 405 DO E. STJ - RECONHECIMENTO. A partir da entrada em vigor do Código Civil de 2002 ( ) o prazo para ajuizamento da ação de cobrança de seguro obrigatório é de três anos, conforme estabelecido no art. 206, 3º, IX, do CC/2002, cc Súmula 405 do E. STJ. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT) COBRANÇA - INVALIDEZ PERMANENTE - PRESCRIÇÃO - INÍCIO DA CONTAGEM DO PRAZO - MOMENTO EM QUE O SEGURADO TOMA CIÊNCIA DE SUA INCAPACIDADE PERMANENTE. Se do acidente automobilístico resulta

5 invalidez, só há fluência do prazo prescritivo quanto o benefício toma ciência inequívoca de sua incapacidade definitiva, geradora do seguro (DPVAT) pelo acidente sofrido. ACIDENTE DE VEÍCULO - AÇÃO DE COBRANÇA DO SEGURO DE PRÉVIO PEDIDO NA ESFERA ADMINISTRATIVA E DO RECUSA DE PAGAMENTO - DESNECESSIDADE - INDEFERIMENTO DA INICIAL POR FALTA DE INTERESSE PROCESSUAL NA DEMANDA - AFASTAMENTO. A comprovação do requerimento prévio no âmbito administrativo e da recusa da seguradora no atendimento ao pedido, não constituem pressupostos ou condições de admissibilidade para a propositura da ação de cobrança de indenização de seguro obrigatório. No caso vertente, impõe-se reconhecer o interesse processual do autor, consubstanciado no intuito de buscar na via judicial, a indenização que entende fazer jus a título de seguro obrigatório (DPVAT), sob pena de ofensa à garantia constitucional do amplo acesso à Justiça (art. 5º, XXXV, da Constituição Federal)." (e-stj, fls. 147/148) (...) Verifica-se que o v. aresto hostilizado foi proferido em consonância com a orientação jurisprudencial desta eg. Corte, segundo a qual "o cômputo do prazo prescricional, nas ações de cobrança envolvendo seguro obrigatório (DPVAT), tem por termo inicial a data da inequívoca ciência da invalidez pelo segurado." (AgRg no REsp nº /SP, Relatora a Ministra MARIA ISABEL GALLOTTI, DJe de 28/04/2011). (...) Assim, o ajuizamento da ação de cobrança de indenização decorrente de acidente de veículo automotor (DPVAT), prescinde do exaurimento da via administrativa." (e-stj, fls. 149/150) Diante desse contexto, a inversão do que ficou decidido pelo Tribunal de origem acerca da contagem do prazo prescricional, tal como postulado nas razões do apelo especial, demandaria novo exame do acervo fático-probatório constante dos autos, providência, todavia, inviável neste sede a teor do óbice previsto no enunciado nº 7 da Súmula do Superior Tribunal de Justiça. (...) Ante o exposto, nego provimento ao agravo. No mesmo sentido o precedente majoritário desta Câmara, vg: AGRAVO DE INSTRUMENTO. AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO DPVAT. RITO SUMÁRIO. INDENIZAÇÃO POR INVALIDEZ PERMANENTE. AUSÊNCIA DE REQUERIMENTO

6 ADMINISTRATIVO. PRELIMINAR DE FALTA DE INTERESSE. REJEIÇÃO. Recurso contra decisão de saneamento do processo em que o ilustre magistrado de 1º grau rejeitou a preliminar de falta de interesse de agir da parte autora ante a ausência de requerimento pela via administrativa. Jurisprudência majoritária no sentido de que a ausência de requerimento administrativo pelo segurado não inviabiliza a propositura da demanda judicial haja vista o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional previsto no art. 5º, XXXV da CRFB/88. Inaplicabilidade, no caso, do Enunciado nº 232 da súmula de jurisprudência deste Tribunal de Justiça. RECURSO DESPROVIDO. ( AGRAVO DE INSTRUMENTO DES. ELISABETE FILIZZOLA - Julgamento: 26/02/ SEGUNDA CÂMARA CÍVEL). A questão de o beneficiário do seguro DPVAT poder reclamar seu direito diretamente na via judicial suscita inúmeras discussões. Argumenta-se que a ausência de requerimento administrativo não impede o ingresso na via judicial, tanto que o fato de a demanda haver sido contestada em Juízo pela seguradora denota que a pretensão do autor resultou resistida. Argumenta-se, ainda, que tal obrigatoriedade afronta o disposto no art. 5º, XXXV, da CF/88, que garante ao cidadão o acesso à justiça. Não obstante, haveria de ser ponderada a possibilidade de a lei infraconstitucional impor condições ao exercício do direito de ação, ou se somente a Constituição Federal poderia fazê-lo, como o fez expressamente nas demandas relacionadas à Justiça Desportiva (CF/88, art. 217, 1º). Ainda que fosse relativizado o princípio da inafastabilidade da tutela jurisdicional (CF/88, art. 5º, XXXV), de sorte a respeitar as

7 regras infraconstitucionais limitadores do direito de ação, tal como ocorre, vg, com o habeas data (Lei nº 9.507/97), é importante considerar que a Lei nº 6.194/74, que dispõe acerca do seguro obrigatório, não condiciona a prévio requerimento na via administrativa o ajuizamento da ação de cobrança pelo beneficiário do seguro. Ademais, no que concerne ao termo inicial do prazo prescricional trienal para a ação de indenização, a Terceira Turma do Superior Tribunal de Justiça aponta a existência de dois marcos temporais: a data em que o segurado teve ciência inequívoca da incapacidade laboral, ficando suspenso até a resposta ao requerimento administrativo de pagamento de indenização; e, não tendo havido requerimento administrativo, o termo inicial é o da data do evento. Nesse sentido:...consta dos autos que, "às fls. 87/107, a requerida apresentou contestação, na qual alegou, preliminarmente: a inclusão da seguradora líder dos consórcios do seguro DPVAT como litisconsorte passivo; carência de ação, tendo em vista a falta de interesse de agir do autor, por não ter demonstrado que realizou requerimento prévio administrativo". Segundo o entendimento do STJ, nos casos em que não houve requerimento/pagamento administrativo, conta-se o prazo prescricional da data do evento danoso, que, no caso, ocorreu em 9/7/2001. Veja-se este precedente: "No caso dos autos, não houve requerimento administrativo, não ocorrendo negativa por parte da Seguradora, devendo prevalecer a data do acidente como sendo o termo inicial do prazo de três anos para o ajuizamento da ação de indenização. Caso contrário, o prazo prescricional ficaria sob o inteiro controle do beneficiário, que poderia eternizar seu direito em vista da inércia na formulação do pedido administrativo.

8 Ressalte-se que, embora o Apelante alegue que tomou ciência da sua invalidez permanente apenas em 10 de fevereiro de 2009, o que postergaria o termo inicial de fluência do prazo prescricional, o laudo de f. 23/24 apenas comprova que, na referida data, o Apelante estava inválido, mas não demonstra desde quando a invalidez permanente existia." (AgRg no REsp n /MG, relator Ministro Paulo de Tarso Sanseverino, Terceira Turma, DJe de 29/4/2013, sem destaques no original.)... (AgRg no AREsp / GOAGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO EM RECURSO ESPECIAL2012/ Relator(a)Ministro JOÃO OTÁVIO DE NORONHA (1123) Órgão JulgadorT3 - TERCEIRA TURMA Data do Julgamento 06/08/2013Data da Publicação/Fonte DJe 19/08/2013). Extrai-se dessa linha de orientação que a matéria atinente à condição da ação, supostamente consistente na ausência de interesse de agir, resulta superada na visão da Corte Superior quando define a data do evento como termo inicial do prazo prescricional, caso não haja prévio requerimento administrativo, com o que, por evidente, admite o aforamento da demanda sem tal requerimento. Escorreita, destarte, a interlocutória recorrida, que se alinha à predominante jurisprudência da Corte Superior, ao afastar a preliminar de carência acionária, de sorte que o beneficiário do seguro DPVAT não está obrigado socorrer-se da esfera administrativa antes de ajuizar a ação de cobrança na via judicial. Eis os motivos de a Câmara negar provimento ao agravo. Rio de Janeiro, 26 de março de 2014 Des. Jessé Torres Relator