CERTIDÃO DE JULGAMENTO RO - Sumaríssimo Fl. 1. DESEMBARGADOR ANDRÉ REVERBEL FERNANDES Órgão Julgador: 4ª Turma

Transcrição

1 RO - Sumaríssimo Fl. 1 DESEMBARGADOR ANDRÉ REVERBEL FERNANDES Órgão Julgador: 4ª Turma Recorrente: Recorrido: Origem: Prolator da Sentença: IRINEU SOARES DA SILVA - Adv. Viviane Machado Holleben Leite Moraes FABIO MAURICIO CASARIN - Adv. Marcelo Gai Veiga Vara do Trabalho de Lagoa Vermelha JUIZ MARCELO CAON PEREIRA CERTIFICO e dou fé que, em sessão realizada nesta data no Tribunal Regional do Trabalho da 4a. Região, sob a Presidência do Exmo. Desembargador JOÃO PEDRO SILVESTRIN, presentes os Exmos. Desembargadores GEORGE ACHUTTI e ANDRÉ REVERBEL FERNANDES e o(a) Exmo(a). Procurador(a) do Trabalho, CRISTIANO BOCORNY CORREA, sendo relator o Exmo. Desembargador ANDRÉ REVERBEL FERNANDES, decidiu a 4ª Turma, por unanimidade, DAR PROVIMENTO AO RECURSO ORDINÁRIO DO RECLAMANTE para condenar o reclamado ao pagamento de R$ 2.500,00 relativos aos serviços extras para a troca de telhado. Juros e correção monetária na forma da lei. Autorizam-se os descontos previdenciários e fiscais cabíveis. Valor da condenação arbitrado em R$ 2.500,00. Custas de R$ 50,00 revertidas ao reclamado, dispensado do encargo devido ao benefício da justiça gratuita deferido em sentença. RAZÕES DE DECIDIR CONTRATO DE EMPREITADA. PAGAMENTO DO VALOR AJUSTADO.

2 RO - Sumaríssimo Fl. 2 SERVIÇOS EXTRAS. Na petição inicial, o autor alega que firmou contrato verbal de empreitada com o réu para a realização de reforma em imóvel: "troca das telhas de 2mm do telhado de sua residência para o brasilire 6m, sem modificar o telhado, no valor de R$ 2.400,00" (fl. 04). Informa que no decorrer da obra foram necessários serviços extras, os quais foram ajustados de forma verbal no montante de R$ 2.500,00, nada recebendo a esse título. Requer o pagamento dos valores não adimplidos (R$ 2.500,00). Na defesa, o réu argumenta que contratou o autor para a troca de telhas de barro do seu imóvel por telhas de cimento, com execução prevista para uma semana e pagamento no valor total de R$ 2.400,00. Refere que o serviço foi realizado em cerca de um mês e que o reclamante teve grandes dificuldades em sua execução, havendo a necessidade de contratar terceiro (José Nelson Cerrão) para auxiliá-lo. Aduz que os ajustes nos serviços faziam parte do avençado, inexistindo uma segunda contratação no valor de R$ 2.500,00. O Juiz singular indefere o pedido de pagamento do valor de R$ 2.500,00 pelos serviços extras prestados em contrato de empreitada. Consta na decisão (fl. 53-verso): Tendo o reclamado negado o adendo contratual alegado na petição inicial, ao reclamante incumbia o ônus da prova para demonstrar seu crédito. Contudo, ele não se desincumbiu desse encargo. Para tentar provar o acréscimo, trouxe a testemunha Fabiano Fagundes (fl. 49), que é suspeito por ter interesse na causa, e a testemunha Marcio dos Passos da Silva (fl. 49v), que é suspeito por ser seu parente. A título argumentativo, mesmo

3 RO - Sumaríssimo Fl. 3 que não fosse considerada a suspeição, seus depoimentos pouco ajudariam na solução da causa, pois eles nada sabiam sobre o ajuste e apenas informaram que havia um plano inicial de troca de telhas de barro da casa do reclamado por outras do tipo brasilit, o qual acabou sendo mudado para troca de telhas de concreto. Nesse aspecto, veja-se que a única mudança significativa do primeiro plano para o outro seria uma alteração no ripamento do telhado, que nem de longe poderia representar um aumento equivalente ao dobro da contratação inicial. Não bastasse isso, os orçamentos juntados com a petição inicial (fls ) nada provam em relação ao contrato entre as partes e representam aquilo que profissionais amigos do reclamante cobrariam por serviços semelhantes. O reclamante recorre. Afirma que não recebeu corretamente pelos serviços prestados, sendo que o ajuste ocorreu de forma verbal, não estando presente as testemunhas no momento do acerto. Refere que o serviço de troca de telhas de concreto é superior à substituição por telhas de fibrocimento (brasilit), posto que exige o dobro do tempo e de pessoas para a realização da obra. Aduz que a exigência de alteração dos serviços após o ajuste inicial entre as partes resta comprovada nos autos. Diz que a alteração das telhas de fibrocimento, como inicialmente convencionado, por telhas de concreto exigiu a realização de outros serviços, como: troca dos ripamentos, construção de empenas (oitões) para dar caimento do telhado, ampliação de pontos e águas-furtadas. Sustenta que a modificação dos serviços convencionados gerou um acréscimo na obra no montante de R$ 2.500,00. Sinala que os orçamentos juntados demonstram a referida

4 RO - Sumaríssimo Fl. 4 diferença de valores entre os serviços. Busca a reforma da sentença. Com razão. É incontroverso nos autos que as partes firmaram contrato verbal de empreitada para realização de obra no telhado da residência do réu, sendo quitado o valor do ajuste inicial, no montante de R$ 2.400,00. Diversamente do Juízo de origem, entende-se que a prova dos autos corrobora a versão sustentada pelo reclamante. Transcreve-se, em primeiro lugar, o seu depoimento (fl. 49, grifa-se): que foi contratado pelo reclamado no final do ano de 2014; que inicialmente combinou com o reclamado a troca das telhas de barro por brasilites; que o valor por esse serviço era para ser de R$ 2.400,00; que quando o depoente foi iniciar o serviço o reclamado disse que o combinado inicial tinha que ser modificado por exigência da Caixa Econômica Federal; que as telhas não podia ser brasilites; que tinham que ser de concreto; que isso ia exigir mudar todo o ripamento da estrutura do telhado; que o reclamado ainda lhe pediu para fazer um eitão na parte de trás do telhado; que o depoente lhe disse que com esses acréscimos o valor do serviço ia dobrar; que o reclamado lhe disse que não tinha problema e que era para ele fazer mesmo assim; que as telhas de barro diferiam em tamanho das telhas de concreto em cerca de três ou quatro centímetros por telha; que ninguém presenciou o ajuste entre o depoente e o reclamado; que hoje em dia o depoente cobra R$ 45,00 por metro quadrado para fazer um trabalho como o que foi feito no

5 RO - Sumaríssimo Fl. 5 reclamado. O reclamado, por sua vez, confirma que inicialmente foi convencionado a troca do telhado da sua residência (telhas de barro) por telhas de fibrocimento (brasilit) e, posteriormente, foi feito novo acerto para a colocação de telhas de concreto. Refere em depoimento: que o depoente contratou o reclamante para fazer a troca das telhas da sua casa; que no início o depoente comentou com o reclamante que pretendia trocar as telhas de barro por brasilites; que o reclamante disse para o depoente que as telhas podiam ser trocadas por brasilites com base em seu conhecimento técnico; que logo depois se viu que não era possível a troca por brasilites; que teve então que trocar as telhas de barro por telhas de concreto; que a mudança do ripamento do telhado teria que ser feita tanto se a troca fosse por telhas brasilites quanto se ela fosse por telhas de concreto; que não houve nenhum acréscimo de trabalho por conta dessa mudança do tipo de telhas; que contratou todo o serviço por R$ 2.400,00; que não prometeu nenhum acréscimo; que a obra do depoente não foi financiada pela Caixa Econômica Federal ou por nenhum outro Banco; que a casa do depoente tem 124 metros quadrados; que o telhado dá um pouquinho mais. (grifa-se). Ora, é consabido que a troca de telhas de concreto demanda esforço de mão-de-obra maior do que a troca por telhas de fibrocimento (brasilit). Nesse sentido, afirma a própria testemunha convidada pelo réu, José Nelson Serrão: "que o depoente entende que fazer o ripamento para a troca de telhas de barro por telha de concreto é mais trabalhoso que fazer

6 RO - Sumaríssimo Fl. 6 o ripamento para a troca daquelas por brasilites; que o trabalho é maior porque as ripas precisam ficar mais próximas umas das outras". Relevante ainda a transcrição de excerto do depoimento da primeira testemunha convidada pelo autor, ouvida como informante: "que o ripamento do telhado ia ter que ser mexido tanto se a troca fosse por brasilites quanto se ela fosse por telhas de concreto; que a diferença é que a mudança no primeiro caso era muito mais simples e rápida; que no primeiro caso a troca era só dos caibros pelas ripas; [...] que foram postos os eitões". Ainda, da leitura da contestação do reclamado, observa-se que este não impugna a alegação do autor quanto à necessidade de construção de oitões (parede lateral de uma construção) e águas-furtadas (calhas). Dessa forma, o conjunto probatório dá conta de que foram necessários serviços extras para a troca do telhando da residência do réu do que aquele iniciamente contratado e pago, o que gerou um acréscimo na obra no valor de R$ 2.500,00, como consta na peça exordial. Dá-se parcial provimento ao recurso ordinário do reclamante para condenar o reclamado ao pagamento de R$ 2.500,00 relativos aos serviços extras para a troca de telhado. Porto Alegre, 28 de outubro de 2015 (quarta-feira). Luciane Ramos Barros, Secretária da 4ª Turma 075