PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 1a Turma PODER JUDICIÁRIO FEDERAL DANO MORAL. INDENIZAÇÃO. O dano moral é caracterizado quando o empregador abusa do seu poder potestativo de demitir sem justa causa, ferindo a dignidade do empregado. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário em que são partes: BANCO BRADESCO S/A e SOLANGE APARECIDA DANELUCI TOMAZINI DE ABREU LIMA, como recorrentes e os mesmos como recorridos. Recorrem ambas as partes da decisão a quo, proferida pelo MM Juiz da 73ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, fls. 181/183, que julgou procedente o pedido. Às fls. 185/195, a reclamada alega que indevida sua condenação em danos morais, por não comprovada a prática de qualquer ilícito, vez que a prova oral que fundamenta a sentença é imprestável. Requer, caso mantida a procedência do pedido, seja o valor da indenização compatível com o suposto dano causado, bem como que a atualização e juros devem ter como marco inicial a data da prolação da sentença, na forma da súmula 362 do STJ. Pretende, por fim, que a reclamante arque com a parcela que deve a título de imposto de renda. Depósito e custas às fls.215 e 216, respectivamente. Contra-razões às fls. 207/213 com preliminar. A autora, adesivamente, recorre às fls. 217/221, perseguindo a reforma do julgado a fim de que seja majorada a indenização por danos morais. A reclamada apresentou contra-razões às fls. 235/241. É o relatório. V O T O PRELIMINAR EM CONTRARRAZÕES 3714/sp 1

2 Argui a autora preliminar de não conhecimento do recurso do réu, por irregularidade de representação, alegando que o advogado subscritor não consta da procuração de fls.201/202, bem como não autenticado o instrumento. Acrescenta que o recurso também não merece ser conhecido, pois seu nome está incorreto. Sem razão. O recurso foi assinado digitalmente pelo advogado Rodrigo Maia Ribeiro Estrella Roldan (OAB ), terceiro relacionado na procuração (fl.201). No que se refere à autenticação do instrumento, realmente, não consta, mas também nenhum vício quanto ao documento foi alegado pela recorrida. Quanto ao nome da recorrida, é evidente que se trata da autora, apenas não constou os dois últimos sobrenomes, não sendo motivo para o não conhecimento do recurso. admissibilidade. Conheço, assim, do recurso do réu, por presentes todos os pressupostos de RECURSO DO RÉU Insurge-se o recorrente contra sua condenação ao pagamento de indenização por danos morais. Aduz a autora na inicial que no mesmo momento em que foi demitida com outros dois colegas, foi trocada a fechadura da porta principal e da sala onde trabalhava, deixando-a constrangida perante seus colegas que estavam presentes, bem como de outras pessoas que estavam no local. Acrescenta que em função dos inúmeros pertences que tinha em sua sala, solicitou ao representante do réu buscar uma parte deles no dia útil seguinte, sendo-lhe negado. Por tal razão, colocou-os em sacos de lixo que rasgaram na rua, motivo pelo qual teve uma crise de choro em razão da injustiça e humilhação que estava passando. Na defesa, o réu nega os fatos relatados, afirmando que jamais foi cometido qualquer ato que pudesse humilhar ou constranger a autora. Argumenta que a reclamante foi sequer dispensada por justa causa e que apenas exerceu seu direito potestativo em rescindir o contrato de trabalho. A testemunha, à fl. 161, declarou que é praxe a reclamada trocar a fechadura 3714/sp 2

3 da porta principal de departamento quando este tem suas atividades encerradas, conforme ocorreu com o departamento onde laborava a reclamante. Informou que a troca da fechadura ocorreu enquanto os empregados demitidos tiravam seus pertences do local. A segunda testemunha disse, à fl. 179, que a autora, o depoente e mais um advogado foram dispensados, em decorrência da extinção do departamento onde trabalhavam. Atestou que em virtude de não poderem pegar seus pertences em um outro dia, foram os mesmos colocados em sacos de lixo que pediram à faxineira e saíram arrastando o saco pelo chão, sendo presenciado por outros empregados. Ressaltou que alguns colegas de trabalho lhe perguntaram o que havia acontecido e que os três informaram que haviam sido dispensados. Ao contrário do que entendeu o juiz a quo, é constrangedor a troca da fechadura da sala onde o empregado trabalha no momento em que está sendo demitido, pois gera um sentimento de desconfiança de sua honestidade. Mesmo que seja uma prática do réu, não pode o Judiciário afiançá-la. Justamente num dos momentos mais difíceis de suas vidas, quando, da noite para o dia, vêem a estrutura de suas famílias ameaçada pelo desemprego, ocasião em que qualquer ser humano fica transtornado, perdido, sem saber como será o seu amanhã, não precisa passar este tipo de constrangimento, sem razão alguma. Somando-se a isso, a autora já se sentindo humilhada com a situação, é obrigada a atravessar o ambiente de trabalho, sendo observada por todos que ali se encontravam, arrastando um saco de lixo com seus pertences, baixando ainda mais sua autoestima. Note-se que se trata de uma empregada que trabalhou para a ré por 15 (quinze) anos. Deveria, portanto, ter sido melhor tratada nesse momento. Não esqueçamos que o contrato de trabalho exige fidúcia recíproca, tratamento digno recíproco, e boa-fé de ambos os lados, mas principalmente da parte de quem tem o poder. Acima de tudo, tem o empregador a obrigação de respeitar a personalidade moral do empregado na sua dignidade absoluta de pessoa humana; são obrigações que decorrem do princípio geral da execução da boa-fé do contrato, que está na base da disciplina jurídica contratuai, nos ensina Délio Maranhão (in Instituições de 3714/sp 3

4 Direito do Trabalho, vol.1, Ed.LTr, 12ª ed., p.249). Assim, não há como não se admitir que as circunstâncias, tal como descritas pela testemunha, não tenham gerado consequências danosas à privacidade, à autoridade, ao pudor, à segurança e tranquilidade, ao amor-próprio, à integridade de inteligência e de sentimentos da reclamante, devendo ser ressarcida por isso. recursos. Devido, então, o pagamento de indenização por dano moral. No que toca ao valor da indenização, é matéria que envolve ambos os Pretende o réu adequar o valor da indenização aos danos alegados, reduzindo seu valor, e a autora, sua majoração. A sentença condenou a reclamada a pagar indenização no valor de R$ ,00 (cinquenta mil reais). Entendo que tal quantia é demasiada, ante o dano causado. O constrangimento pelo qual passou a autora foi provocado pela troca da fechadura no mesmo momento em que estava sendo despedida e na maneira que foram retirados seus pertences do estabelecimento do réu. A reclamante não foi acusada da prática de qualquer delito, tampouco foi a mesma destratada por seus superiores hierárquicos. Vale ainda frisar que a autora foi dispensada em virtude da extinção do departamento onde prestava serviços. Assim, levando em conta as circunstâncias que envolvem o caso, o dano causado, o nível sócio-econômico da reclamante - percebia o salário mensal de R$ 6.309,68 (seis mil, trezentos e nove reais e sessenta e oito centavos) - e o poder econômico da reclamada, arbitro a indenização em R$ ,00 (trinta mil reais), reformando a sentença no particular. Pretende também o reclamado que a atualização do valor da indenização, bem como os juros sejam apurados a partir da prolação da sentença. Quanto à correção monetária, o juiz de primeiro grau corretamente determinou que fosse calculada a partir da publicação da sentença. Com relação aos juros, nada há a modificar na decisão a quo, ante o disposto no art. 883 da CLT. Por fim, não cabe a incidência do imposto de renda, tendo em vista a natureza 3714/sp 4

5 indenizatória, e não remuneratória, da parcela deferida. ACORDAM os Desembargadores da 1ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1 a Região, por unanimidade, conhecer dos recursos de ambas as partes, por presentes todos os pressupostos de admissibilidade e, no mérito, dar provimento parcial ao da reclamada para reduzir o valor da indenização por danos morais para $ ,00 (trinta mil reais) e negar provimento ao recurso adesivo do reclamante. Pelo reclamante compareceu Dr. Jackson Batista de oliveira (OAB 85042). Rio de Janeiro, 4 de Outubro de Gustavo Tadeu Alkmim Desembargador Relator 3714/sp 5