O envolvimento de adolescentes na prática de atos infracionais no Município de Londrina - PR. Introdução
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- Oswaldo Bastos Domingos
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1 Souza et al Rev. Bras. Adolescência e Conflitualidade, 2014(11): O envolvimento de adolescentes na prática de atos infracionais no Município de Londrina - PR Laís de O. Souza * Maria Carolina G. Luiz 1 Maria Gorett F. Vitiello 1 Loren Pelik K. Anhucci 1 Vera Lúcia T. Suguihiro 1 Mari Nilza F. de Barros 1 Introdução Atualmente, associar violência e juventude tem sido algo constante no meio de comunicação. Isso tem despertado preocupação nos diversos segmentos da sociedade e interesse das autoridades e do meio acadêmico. Os adolescentes são vistos hoje, pela grande maioria da sociedade, como os principais causadores de violência, culpabilizando e criminalizando os jovens e adolescentes que comentem ato infracional. O presente trabalho tem por objetivo apresentar o perfil dos adolescentes que cumpriram internação provisória, no Centro de Socioeducação Londrina I (CENSE I), nos anos de 2008 e Para a realização da pesquisa, utilizou-se a metodologia qualiquantitativa, o que permite articular a pesquisa de base qualitativa e quantitativa, possibilitando a integração dos dados. A pesquisa teve por base o Projeto de Pesquisa Desenho Urbano e Violência Praticada Contra Crianças e Adolescentes, realizado pelo Departamento de Serviço Social da Universidade Estadual de Londrina - UEL. 1Departamento de Serviço Social. Universidade Estadual de Londrina. * laisoliveirasouza@gmail.com O que se buscou foi compreender a violência cometida por adolescentes para além do ato infracional, resultado e as consequências da violação de direitos sofridas por este segmento etário. Embora tenha no Estatuto da Criança e Adolescente - Lei n.8.069/90 a garantia da proteção social e garantia de direitos, pode se afirmar que eles não estão plenamente efetivados na prática. O que está em pauta é a necessidade de discutir as políticas públicas voltadas a esta população, de forma a atendê-la
2 153 como portadora de Direitos, fundamentada na perspectiva da Prioridade Absoluta. Na atualidade, o adolescente ganha visibilidade somente quando pratica o ato infracional, quando torna-se usuário das políticas públicas. Até então era invisível para as políticas públicas de prevenção e de promoção social. O processo de garantia dos direitos sociais no Brasil frente à ideologia neoliberal A partir da metade da década de 1980 foi iniciado um processo político por diversos segmentos da sociedade, os quais empreenderam lutas na perspectiva de reivindicação por direitos sociais, tendo como conquista, a garantia dos direitos sociais, civis e políticos a partir da promulgação da Constituição Federal de Pelos direitos garantidos constitucionalmente, o Estado passa a ser responsável pela formulação e implementação de políticas públicas de atendimento aos diferentes segmentos da sociedade. No entanto, com o avanço do neoliberalismo no Brasil na década de 1990, identifica-se um retrocesso no âmbito da conquista dos direitos, na medida em que o Estado torna-se mínimo para as políticas sociais e máximo para o capital. O modo de produção capitalista atual está pautado no estímulo ao consumo pela sociedade, sendo considerado como uma estratégia própria de manutenção e produção da desigualdade social. A forma de organização da sociedade brasileira estimula e valoriza o consumo, não fornecendo condições para que todos o acessem de forma igualitária,
3 154 penalizando aqueles que se encontram em situação de vulnerabilidade social. Quando a violência é praticada, principalmente por adolescentes pobres, ganha proporção ideológica, sem levar em consideração o contexto social em que se encontram. Estes mesmos adolescentes almejam pertencer a algum grupo de amigos, ser reconhecidos socialmente pelo viés do ter em detrimento do ser, em conformidade à ideologia neoliberal. A C.F/88 prevê em seu Art. 227 os direitos fundamentais à criança e ao adolescente, sendo estes regulamentados pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, no ano de A legislação em vigor vem para romper com os Códigos de Menores de 1927 e 1979, ao responsabilizar o Estado pelo dever de atender com Prioridade Absoluta a condição de sujeitos de direitos. A garantia de direitos também foi estendida aos adolescentes em conflito com a lei, por meio do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo - SINASE, através da Lei Federal n /2012, assegurando que os órgãos públicos e agentes sociais deverão prestar atendimento especializado e qualificado aos adolescentes autores de ato infracional. O Estatuto surge com uma proposta educativa, em que preconiza que todas as medidas a serem aplicadas aos adolescentes infratores devem ter por objetivo sua reeducação, visando ao preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho (SALIBA, 2006, p. 16). A prática da violência pela população juvenil tem sido apresentada de forma recorrente pela mídia. Porém, é necessário compreender o adolescente para além do ato
4 155 infracional praticado, buscando conhecer o contexto vivenciado por este e os fatores que o impulsionam ao mundo do crime. O perfil dos adolescentes que cumpriram medida socioeducativa de internação no CENSE I no ano de 2008 e 2009 O estudo foi realizado por meio do Projeto de Pesquisa Desenho Urbano e Violência Praticada Contra Crianças e Adolescentes, do Departamento de Serviço Social, da Universidade Estadual de Londrina-PR, tendo como objetivo caracterizar o perfil dos adolescentes de 12 a 18 anos incompletos (faixa etária, gênero e ato infracional praticado) e que cumpriram medida socioeducativa de internação provisória no Centro de Socioeducação de Londrina I - CENSE I, nos anos de 2008 e O universo pesquisado é referente a 606 e 605 adolescentes, nos anos de 2008 e 2009, respectivamente. Quanto ao perfil dos educandos, observou-se que a faixa etária, na data de ingresso na instituição, conforme o Quadro 1, tinha determinada distribuição. Quadro 1: Faixa etária dos adolescentes Faixa etária Variação 11 anos ,00% 12 anos ,22% 13 anos ,54% 14 anos ,50% 15 anos ,98%
5 anos ,01% 17 anos ,55% 18 anos ,18% 19 anos ,71% 20 anos ,00% Não consta ,00% Fonte: Baseado em CENSE I. Constatou-se que a maior incidência nos anos de 2008 e 2009 foi entre 15 e 17 anos de idade. No ano de 2008, 117 adolescentes praticaram atos infracionais com 15 anos (19%), 166 adolescentes com 16 anos (27%), e por fim 179 adolescentes com 17 anos (30%). Referente ao ano de 2009, 124 adolescentes possuem 15 anos (20%), 161 adolescentes com 16 anos (27%), e 180 adolescentes com 17 anos (30%). Já em relação ao gênero dos adolescentes que cumpriram internação provisória na Unidade, de acordo com o Quadro 2, os dados apresentados nos anos de 2008 e 2009, a maior incidência foi de gênero masculino, sendo representado por 568 adolescentes (94%) e 574 adolescentes (95%), respectivamente. Quadro 2: Gênero dos adolescentes Gênero Variação Feminino ,42% Masculino ,05% Fonte: Baseado em CENSE I.
6 157 Com relação ao gênero feminino, 38 adolescentes (6%) e 31 adolescentes (5%). Para Assis e Constantino (apud ARRUDA 2010, p.63), os motivos mais óbvios apresentados para a ausência de estudos sobre delinquência feminina, foram a sua reduzida incidência se comparada à masculina-, o papel secundário da mulher na sociedade e na vida extrafamiliar, o preconceito [...] a falta de pressão da opinião pública que não se interessa pelo tema. A predominância do gênero masculino pode estar associada à condição de poder do homem, no sentido de ser reconhecido socialmente pelo que faz e possui, sendo atingido pela lógica do consumo propagada pelo modo de produção vigente. Em relação aos atos infracionais mais praticados pelos adolescentes, identificou-se que o roubo teve um aumento de 14,95%, entre os anos de 2008 e 2009, sendo 234 e 269, respectivamente. O segundo ato infracional mais praticado foi o tráfico de drogas, apresentando a variação de apenas 1,03%, mas se observar os números absolutos, é significativo o número de adolescentes que praticaram o ato, sendo 193 registros de tráfico de drogas em 2008 e 195 em Já em relação ao terceiro ato mais praticado, o porte de arma, constatou-se que houve uma variação de 2,27%, sendo 44 em 2008 e 45 em 2009, conforme o Quadro 3. Quadro 3: Atos infracionais com maior incidência Atos infracionais com maior incidência Roubo ,95% Tráfico de drogas ,03%
7 158 Porte de arma ,27% Fonte: Baseado em CENSE I. A partir dos dados, constatou-se que é significativo o número de adolescentes praticando roubo e tráfico de drogas no município de Londrina-PR. Segundo Tejadas (2005, p.83), a prática de atos infracionais possui inúmeras determinações, não sendo possível mencionar apenas um fator, uma vez que este é construído socialmente. Para autora, as oportunidades de vida e acesso aos serviços sociais, aspectos subjetivos e familiares relacionados à constituição da identidade e socialização do sujeito, e aspectos comunitários, tem determinado o ingresso ou não de jovens no mundo do crime. Para Mesquita Neto et al. (apud ABRAMOVAY, 2002, p.34), O crescimento do crime e da violência resulta não apenas da pobreza e da desigualdade social, da falta ou má qualidade dos serviços de segurança e da disseminação de armas e drogas. Resulta também da incerteza política e dos conflitos institucionais não resolvidos durante a transição para a democracia, e enfraquecem o impacto das ações para aperfeiçoar os serviços de segurança e justiça. Isto significa que a violência não se limita mais aos extratos da população pobre, mas a toda sociedade em geral. Cabe ao Estado implementar estratégias capazes de responder as diferentes crises (econômicas, sociais, culturais e políticas) de forma qualificada por meios de políticas públicas que atendam às necessidades da sociedade.
8 159 Considerações Finais Este estudo buscou mostrar o envolvimento de adolescente com a prática de atos infracionais no município de Londrina, no período de 2008 a 2009, que cumpriram a internação provisória no CENSE I de Londrina. Por meio dos dados sistematizados observou-se que a faixa etária com maior incidência foi entre 15 e 17 anos de idade, e os atos infracionais mais praticados foram roubo, tráfico de drogas e porte de arma. Embora o segmento infanto-juvenil tenha seus direitos assegurados constitucionalmente por meio da C.F/88, Estatuto da Criança e do Adolescente, Estatuto da Juventude, SINASE, entre outros, ainda é um desafio para que muitos direitos sejam de fato efetivados. No cenário brasileiro, o que se tem constatado são políticas públicas voltadas para crianças e adolescentes, com características fragmentadas, focalizadas e emergenciais. Não basta o discurso competente do Estado como da sociedade sobre as estratégias de enfretamento da questão social em que o adolescente em conflito com a lei está envolto. É preciso colocar na roda do debate social e político os fatores que vem impulsionando os jovens a ingressar precocemente na prática de atos infracionais, superando as políticas públicas assistenciais, com promessas de inclusão social pela via de qualificação pelo trabalho, sustentada por medidas emergenciais e descontínuas. O que a população jovem necessita é de políticas públicas capazes de promover mudanças por meio de oportunidades e desenvolvimentos de habilidades e competências para que os
9 160 jovens possam assumir a sua real condição de protagonista social e político, e dar um novo significado para a sua vida. Assim, cabe ao Estado criar condições objetivas para a efetivação dos direitos de adolescentes em conflito com a lei, a partir de um questionamento reiterado sobre a realidade social em que eles estão inseridos. Isto significa investir em ações de caráter universal, tendo por base a singularidade vivida pelos jovens, e mediadas por políticas públicas de qualidade. Referências ABRAMOVAY, M. Juventude, violência e vulnerabilidade social na América Latina: desafios para políticas públicas. Brasília: UNESCO. BID, ARRUDA, J. S. Adolescentes no sistema socioeducativo: provocações a partir de uma perspectiva feminista. Revista PUCVIVA, 39, de BRASIL. Constituição Federal de Disponível em: < caocompilado.htm. Acesso em: 24 out BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei n.8.069, de 13 de julho de Curitiba: SEDS, BRASIL. Lei Federal n /12: Sistema N acional de Atendimento Socioeducativo. Brasília: COSTA, A.P.M. Os adolescentes e seus direitos fundamentais: da invisibilidade à indiferença. Porto Alegre: Livro do Advogado, GUIRALDELLI, R. A pesquisa como subsídio para a prática profissional do assistente social. Revista Conexão Geraes, n.2, Disponível em:
10 161 cress_2.pdf. Acesso em: 23 ago IAMAMOTO, M.V.; CARVALHO, R. Relações sociais e Serviço Social no Brasil: esboço de uma interpretação teórico-metodológica. São Paulo: Cortez, MINAYO, M.C.S. Ciência, técnica e arte: o desafio da pesquisa social. Petrópolis: Vozes, SALIBA, M.G. O olho do poder: análise crítica da proposta educativa do Estatuto da Criança e do Adolescente. São Paulo: UNESP, TEJADAS, S.S. As determinações da reincidência que emergem do sistema de atendimento ao adolescente autor de ato infracional Disponível em: Acesso em: 23 ago
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