OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA DE ARBITRAGEM DE BASQUETEBOL DURANTE OS JOGOS (Sérgio Silva, Maio de 2002)
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1 OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA DE ARBITRAGEM DE BASQUETEBOL DURANTE OS JOGOS (Sérgio Silva, Maio de 2002) - Um estudo com Jovens Árbitros de Basquetebol O propósito deste estudo foi caracterizar e analisar o comportamento dos árbitros durante o jogo de basquetebol. Como tal, foram colocados os seguintes objectivos específicos: (1) Analisar o perfil de intervenção de cada um dos árbitros durante o jogo de basquetebol; (2) Definir um padrão de comportamentos destes árbitros observados; (3) Identificar a direcção dos seus comportamentos; (4) Distinguir o comportamento preventivo ou de sanção efectuado pelos árbitros durante o jogo; (5) Comparar e verificar eventuais diferenças no perfil de intervenção do árbitro mais experiente e do árbitro menos experiente. Para concretizar estes objectivos foi utilizada uma amostra constituída por 6 (seis) árbitros de basquetebol que fazem parte da Associação de Basquetebol do Porto. Cada árbitro foi escolhido para ser observado durante 1 (um) jogo, o que faz um total de 3 (três) jogos observados por nós. Os resultados indicam que os árbitros da nossa amostra gastam uma percentagem de 58% dos seus comportamentos observando sem intervir, tomam decisões em 24% dos seus comportamentos, aplicam penalidades em 8% dos seus comportamentos e esperam por um total de 7% dos seus comportamentos. Os dados retirados deste estudo sugerem as seguintes conclusões: (1) A maior parte dos comportamentos dos árbitros da nossa amostra são especificamente dirigidos para os oficiais de mesa (9,19% das suas intervenções), aparecendo de seguida os jogadores (5,79% das suas intervenções); (2) Preferencialmente os árbitros da nossa amostra actuam sobre o ajuizamento de situações, fazendo aplicar as regras do jogo, sendo os comportamentos de acção preventiva menos frequentes; (3) Os árbitros mais experientes verbalizam mais durante o jogo. A área pedagógica da arbitragem encontra-se extremamente inexplorada, sendo quase inexistente a produção de literatura neste domínio. As investigações em basquetebol centradas no árbitro, ou seja, que estudam a modalidade sob o ponto de vista do papel do árbitro, são muito escassas, ou inexistentes. Infelizmente, salvo raras excepções, ainda não surgiu a preocupação e o interesse em investigar os árbitros, mesmo sabendo que desempenham uma função tão importante para a evolução da modalidade.
2 Até ao momento, a maioria dos estudos estão direccionados para os jogadores, para o jogo propriamente dito e para os treinadores, ficando os árbitros para segundo plano. Os árbitros que também exercem um importante papel nos jogos desportivos, têm recebido muita pouca atenção dos investigadores, nunca sendo feita inteiramente uma descrição dos seus comportamentos em situações de jogo. Daqui surge o meu interesse e preocupação, que se baseia em observar o comportamento dos árbitros durante o jogo de basquetebol. Os árbitros devem possuir, acima de tudo, conhecimento básico do jogo para estarem aptos a intervir neste. No entanto, este conhecimento desportivo não é suficiente, se os árbitros não souberem quando e como intervir. Hoje em dia, e no futuro, cada vez mais se pretendem árbitros capazes de arbitrar de uma forma preventiva e acima de tudo transmitindo conhecimentos fazendo com que os conteúdos técnico-tácticos integrem as regras do jogo. Ora está, que esta intervenção necessita de ser estudada, treinada e melhorada. O treino do árbitro não pode ser algo ambíguo, mecânico e acima de tudo por referências à memória de experiências passadas. No meu entender, a presença de treinadores de jovens árbitros será, nos tempos próximos uma realidade no nosso sistema desportivo, no sentido de treinar e melhorar a qualidade de intervenção destes no jogo. Como tal, este estudo é importante, na medida em que poderá captar o interesse pelo estudo do árbitro, que se encontra ainda muito esquecido no seio da investigação cientifica, a fim de criar bases cientificas para possíveis discussões e melhorias na forma de preparação de um árbitro ou grupo de árbitros. Trata-se, portanto, de um tema bastante pertinente em que, através de um instrumento de observação sistemática usado para reunir informações sobre as acções do comportamento dos árbitros, bem como sobre os objectivos e a direcção dos seus comportamentos (adaptado para o basquetebol do instrumento de SORB (Sistematic Observation of Referee Behaviors) desenvolvido e aplicado no estudo de Trudel et al. 1996), iremos caracterizar quantitativamente essas mesmas acções e/ou intervenções em árbitros de basquetebol. Sendo assim, o objectivo do presente estudo é caracterizar o comportamento dos árbitros observados durante o jogo de basquetebol. Metodologia Amostra A amostra deste estudo experimental foi constituída por 6 (seis) Árbitros de Basquetebol, que fazem parte da Associação de Basquetebol do Porto. As idades destes árbitros variam entre os 18 (dezoito) e 23 (vinte e três) anos. Cada árbitro foi escolhido para ser observado durante 1 (um) jogo, o que faz um total de 3 (três) jogos observados por nós. A escolha desta amostra, com a com a colaboração do CAD (Conselho de Arbitragem Distrital) do Porto, assentou num critério de, por um lado ter numa metade Árbitros jovens de
3 idade (entre os 21 e os 23 anos) mas relativamente experientes na arbitragem (Árbitros Nacionais de 2ª Categoria, com 6 anos ou mais de prática), e na outra metade ter Árbitros ainda mais jovens de idade (entre os 18 e os 20 anos), com pouca experiência na arbitragem (Árbitros Regionais, com 2 anos de prática). Procedimentos e recolha de dados O processo de recolha de dados foi efectuado através da filmagem de 3 (três) jogos e posteriormente a visualização destes mesmos em que foi aplicado o instrumento de observação sistemática adaptado por nós. No final de cada jogo, cada árbitro observado respondeu à seguinte questão, no sentido de comprovar o grau de dificuldade dos referidos jogos: Comparando com outros jogos que eu arbitrei neste escalão, este último jogo foi: a) Muito Difícil b) Difícil c) Igual a outros jogos d) Fácil e) Muito Fácil Cada árbitro foi filmado durante um jogo, correspondente ao período competitivo da época 2001/2002 na 2ª fase do Campeonato Distrital da Associação de Basquetebol do Porto, no escalão de Juniores B Masculinos. As câmaras de filmar foram colocadas de modo a obter uma visualização óptima de todo o campo de jogo e dos árbitros, sendo a preocupação do Câmara Men colocar o árbitro num canto da imagem e o restante ocupado com o jogo em si. Estes mesmos árbitros usaram um microfone sem fio, para que fosse possível gravar as suas intervenções verbais durante o jogo. Instrumento e tabela de observação sistemática Foi previamente adaptado ao basquetebol um instrumento de observação sistemática utilizado para caracterizar os comportamentos dos árbitros de hóquei no gelo durante os jogos. Após esta adaptação foi comentado e rectificado por 5 (cinco) árbitros internacionais que consensualmente identificaram as categorias de comportamentos que melhor representava as acções dos árbitros. Este instrumento adaptado que passamos a intitular de Observação Sistemática do Comportamento dos Árbitros, e a designar por OSCA, permitirá recolher dados em 3 (três) componentes da intervenção dos árbitros, ou seja, o comportamento do árbitro, o objectivo desse comportamento e por fim o alvo desse mesmo comportamento. Por sua vez, cada componente é dividido em diversas categorias, sendo 8 (oito) categorias descrevendo o Comportamento dos Árbitros, 9 (nove) categorias descrevendo o Objectivo do Comportamento e 5 (cinco) categorias descrevendo o Alvo dos Comportamentos.
4 Das 8 (oito) categorias do Comportamento dos Árbitros em OSCA, as suas definições são: 1 Intervenção Verbal (V): o árbitro fala ou usa o apito. Ex.: O árbitro apita para indicar uma interrupção do jogo. 2 Informa com gestos (G): o árbitro informa usando gestos. Ex.: O árbitro levanta o braço indicando uma tentativa de lançamento de 3 pontos. 3 Corre (C): o árbitro corre energicamente com o propósito de seguir o jogo. Ex.: O árbitro desloca-se correndo no terreno de jogo. 4 Passo (P): O árbitro anda a passo com o propósito de seguir o jogo. Ex.: O árbitro desloca-se andando no terreno de jogo. 5 Observa (M): o árbitro move-se pouco e fica no lugar enquanto observa o jogo. 6 Espera (E): o árbitro não se move ou move-se pouco enquanto o jogo está parado (incluí a troca de árbitros, quando existe uma falta ou bola presa e esta é marcada pelo outro árbitro). 7 Aplicação de uma penalidade (A): O árbitro movimenta-se a fim de interpretar as regras (L.L. ou para repor a bola em jogo). Ex.: O árbitro entra na área de lances livres para administrar 2 lances livres. 8 Outros (O): incluí qualquer conduta por parte do árbitro fora das listadas, incluindo todos os gestos não oficiais à técnica de arbitragem. Ex.: O árbitro faz um gesto de o.k. para um jogador. A cada momento que o árbitro interferir no jogo, seja verbalmente ou gestualmente, o Objectivo do Comportamento tem de ser codificado em uma das categorias abaixo: 1 Aconselhamento (AC): o árbitro direcciona um comentário a um jogador ou treinador. Ex.: O árbitro diz a um jogador: N.º 7 atenção aos 3 segundos. 2 Conversa (CO): o árbitro conversa com o jogador ou treinador. Ex.: O árbitro interroga o jogador sobre uma questão do jogo, por ex. Foi falta porque empurras-te com as mãos, entendes? 3 Recolher Informação (RI): o árbitro pede e/ou dá informações ao outro árbitro ou aos oficiais de mesa. Ex.: O árbitro dirige-se aos oficiais de mesa indicando o n.º do jogador que fez a falta. 4 Sinal de Falta/Violação (FV): o árbitro indica uma violação às regras ou uma bola fora. Ex.: O árbitro apita para assinalar uma falta. 5 Confirma ou invalida um cesto (CC): O árbitro indica se o cesto foi válido ou não. Ex.: O árbitro faz um gesto com as mãos para os oficiais de mesa a validar um cesto. 6 Pára o Jogo (PJ): o árbitro apita para interromper o jogo ou faz sinal para o seu fim. Ex.: O árbitro termina o jogo com dois breves apitos. 7 Observando a troca de jogadores (OJ): o árbitro dá autorização para proceder à substituição de jogadores, ou observa o normal funcionamento de um desconto de tempo. Ex.: O árbitro apita e faz o sinal característico de substituição.
5 8 Interpretação das regras (IR): O árbitro interpreta uma violação ou falta de acordo com as regras oficiais. Ex.: O árbitro após assinalar uma falta e a indicar aos oficiais de mesa, desloca-se para o local aonde vai reiniciar o jogo. 9 Outros (OU): o árbitro intervêm verbalmente ou informa com gestos para transmitir uma mensagem que o seu objectivo não esteja nas categorias anteriores. Ex.: O árbitro indica ou faz algo que não conseguimos codificar nas categorias anteriores. Além de descrever as condutas e objectivos dos árbitros, o observador usando o OSCA também regista, quando aplicável, a quem a conduta foi direccionada (Alvo dos Comportamentos). A conduta pode ser direccionada para 5 (cinco) possíveis indivíduos: Outro Árbitro (OAR), Jogadores (JOG), Treinadores (TRE), Oficiais de Mesa (OFM) e Todos os intervenientes no jogo (TIJ). Apresentamos de seguida um exemplo prático de codificação reproduzida num jogo. A informação codificada no quadro n.º 1 representa um exemplo de 15 (quinze) sequências de conduta que podem ser lidas nos temas abaixo: 1 (C) O árbitro corre para seguir a acção do jogo. 2 (M) O árbitro move-se pouco enquanto observa o jogo. 3 (P) O árbitro anda a passo para seguir a acção do jogo. 4 (V/AC/JOG) O árbitro aconselha um jogador: N.º 7 atenção aos 3 segundos. 5 (C) O árbitro corre para seguir a acção do jogo. 6 (M) O árbitro move-se pouco enquanto observa o jogo. 7 (G/CC/OFM) O árbitro levanta os dois braços a indicar que o cesto valeu 3 pontos para os oficiais de mesa. 8 (C) O árbitro corre para seguir a acção do jogo. 9 (M) O árbitro move-se pouco enquanto observa o jogo. 10 (V/FV/TIJ) O árbitro assinala uma falta pessoal. 11 (G/RI/OFM) O árbitro indica aos oficiais de mesa o n.º do jogador que cometeu falta. 12 (A/IR) O árbitro entra na área restritiva para indicar 2 lances livres. 13 (C) O árbitro corre para seguir a acção do jogo. 14 (M) O árbitro move-se pouco enquanto observa o jogo. 15 (G/RI/OAR) O árbitro avançado levanta o braço a indicar ao árbitro recuado que o lançamento efectuado na zona 4 foi de 3 pontos.
6 Quadro n.º 1 Exemplo da ficha de observação com 15 sequências de conduta registada OBSERVAÇÃO SISTEMÁTICA DOS COMPORTAMENTOS DOS ÁRBITROS (OSCA) Nome do Árbitro Data da Observação Equipas: vs Resultado Final x Folha 1 1 Comportamentos Intervenção Verbal (V) Informa com gestos (G) Corre (C) Passo (P) Observa (M) Espera (E) Aplicação de uma penalidade (A) Outros (O) 2 Objectivos Aconselhamento (AC) Conversa (CO) Recolher Informação (RI) Sinal de Falta/Violação (FV) Confirma ou invalida um cesto (CC) Pára o jogo (PJ) Observa a troca de jogadores (OJ) Interpretação das regras (IR) Outros (OU) 3 Direcção Outro Árbitro (OAR) Jogadores (JOG) Treinadores (TRE) Oficiais de Mesa (OFM) Todos os intervenientes no jogo (TIJ) Acção n.º Comportamentos C M P V C M G C M V G A C M G Objectivos AC CC FV RI IR RI Direcções JOG OFM TIJ OFM OAR Validade O instrumento de observação sistemática aplicado no estudo experimental foi adaptado do instrumento SORB desenvolvido por Trudel et al. (1996) para a modalidade de Hóquei no Gelo. Todas as adaptações realizadas no desenvolvimento do instrumento de observação sistemática aplicado no estudo experimental, foram discutidas e analisadas por um grupo de 5 (cinco) árbitros internacionais da Federação Internacional de Basquetebol Amador (FIBA). Fiabilidade Na tentativa de estabelecer níveis aceitáveis de fiabilidade, foi realizada uma avaliação intra-observador, com o intuito de assegurar a obtenção de resultados de codificação consistentes. Através do refinamento dos critérios de codificação inerentes da prática e treino da observação, foram conseguidos elevados níveis de fiabilidade em todas as categorias, que permitiram a consistência dos resultados. O método de avaliação da fiabilidade intra-observador usado é denominado de percentagem de acordos (Van der Mars, 1989) e consiste em comparar as duas sessões de codificação com um intervalo de uma semana entre elas. O coeficiente de codificação foi posteriormente calculado para cada categoria do instrumento (comportamento, objectivos e direcção), usando a fórmula: número de acordos / (número de acordos + número de desacordos) x 100. Esta avaliação evidenciou elevados níveis de fiabilidade (acima dos 80%), em todas as componentes de intervenção do árbitro no instrumento de observação, tal como está referido por Van der Mars (1989).
7 Resultados Um total de 3733 comportamentos foram observados nos 3 jogos analisados. O Quadro n.º 2 representa a percentagem em que cada comportamento ocorreu, assim como as características dos jogos observados através de cada árbitro. Quadro n.º 2 Resultados percentuais relativos ao perfil de intervenção e comportamento de cada árbitro Árbitr o Avaliação do Árbitro* Faltas Comportamento dos Árbitros V G C P M E A O MD D I F MF N.º % % % % % % % % A F 16 9,3 11,9 23,5 5,6 28,8 9,0 8,9 3,0 B I 23 10,0 13,6 23,3 6,3 29,3 8,6 8,0 0,8 C D 25 13,3 13,4 22,4 6,2 25,8 6,7 7,7 0,0 D I 17 9,7 13,0 25,8 3,2 28,9 8,7 6,7 3,9 E I 24 14,5 11,8 22,8 7,2 27,5 6,7 9,3 0,2 F D 18 8,7 11,1 23,5 8,1 27,2 8,3 9,2 3,8 * MD Muito Difícil; D Difícil; I Igual a Outros Jogos; F Fácil; MF Muito Fácil Por exemplo, olhando para o Quadro n.º 2 podemos ver o árbitro C que interviu verbalmente em 13,3% dos seus comportamentos, embora para ele tenha sido difícil de arbitrar e por consequência marcou um total de 25 faltas ao longo do jogo, que foi o maior número de faltas marcadas pelos árbitros observados. Através dos comportamentos observados nos diversos árbitros, foi nossa intenção definir um perfil de intervenção destes árbitros de basquetebol que vem expresso no Quadro n.º 3 que vemos a seguir: Quadro n.º 3 Resultados percentuais relativos ao perfil de intervenção e comportamentos observados nos 6 árbitros Comportamento dos Árbitros Faltas V G C P M E A O n.º % % % % % % % % Perfil de intervenção 21 10,9 13,4 23,8 6,2 28,2 7,1 8,4 2,0 Os dados do Quadro n.º 3 indicam que cada árbitro marca por jogo em média 21 faltas, estes utilizam uma percentagem de 10,9% dos seus comportamentos verbalizando, gestualizam em 13,4% dos seus comportamentos, correm em 23,8% dos seus
8 comportamentos, andam a passo em 6,2% dos seus comportamentos, observam o jogo em 28,2% dos seus comportamentos, esperam em 7,1% dos seus comportamentos, aplicam penalidades em 8,4% dos seus comportamentos e por fim utilizam uma percentagem de 2,0% dos seus comportamentos com outros gestos ou acções. Através do Quadro n.º 3, podemos verificar que os árbitros da nossa amostra gastam uma percentagem de 58,2% dos seus comportamentos observando sem intervir (C+P+M = 23,8 %+6,2 %+28,2 %), tomam decisões durante 24,3% dos seus comportamentos (V+G = 10,9 %+13,4 %) e aplicam penalidades em 8,4 % dos seus comportamentos. Os árbitros esperam por um total de 7,1 % dos seus comportamentos. O objectivo para que o comportamento está direccionado foi identificado unicamente com a exibição dos árbitros no comportamento interventivo, verbalizando ou informando através de gestos, tal como aparece no Quadro n.º 4 que apresentamos a seguir: Quadro n.º 4 Resultados percentuais relativos ao tempo em que os árbitros gastam intervindo verbalmente (V), informando através de gestos (G) e direcção dos seus comportamentos Direcção Comportamentos Objectivos OAR JOG TRE OFM TIJ % % % % % % V (10,9 %) Aconselhamento 2,84 0,00 2,68 0,16 0,00 0,00 Conversa 1,53 0,16 0,94 0,27 0,16 0,00 Sinal de Falta/Violação 6,21 0,00 0,00 0,00 0,00 6,21 Pára o Jogo 0,32 0,00 0,00 0,00 0,00 0,32 G (13,4 %) Recolher Informação 7,37 1,85 0,03 0,00 5,41 0,08 Confirma ou invalida um cesto 3,88 0,00 0,00 0,00 3,62 0,27 Observa a Troca de Jogadores 2,14 0,00 2,14 0,00 0,00 0,00 Total 24,30 2,01 5,79 0,43 9,19 6,88 Os dados do Quadro n.º 4 mostram quando os árbitros intervêm verbalmente, a maioria das vezes é para marcar uma falta ou sinalizar uma violação (6,21% das suas intervenções), ou para aconselhar os jogadores (2,68% das suas intervenções). Por outro lado, os árbitros actuam em grande parte do jogo interagindo com os oficiais de mesa, quer seja a recolher informação (5,41% das suas intervenções) ou a confirmar ou invalidar um cesto (3,62% das suas intervenções). Finalmente, os árbitros direccionam especificamente os seus comportamentos através dos oficiais de mesa (9,19% do total das suas intervenções), para todos os intervenientes do jogo (6,88% do total das suas intervenções), para os jogadores (5,79% do total das suas intervenções), para o outro árbitro (2,01% do total das suas intervenções) e para os treinadores (0,43% do total das suas intervenções). Outro aspecto pertinente na construção deste modelo de observação é ser possível separar e quantificar o comportamento preventivo e/ou de sanção nos árbitros observados. O
9 Quadro n.º 5 indica-nos de uma forma quantitativa a percentagem que estes árbitros dedicaram a estas duas categorias: Quadro n.º 5 Resultados percentuais relativos ao comportamento preventivo e de sanção dos árbitros observados Preventiva Aconselhamento 2,84 % (4,37 %) Conversa 1,53 % Sinal de Falta/Violação 6,21 % Sanção Confirma ou Invalida um Cesto 3,88 % (10,41 %) Pára o Jogo 0,32 % Nestes árbitros, 4,37% dos comportamentos observados são para prevenir/avisar os diversos intervenientes no jogo e 10,41% dos comportamentos observados são a fim de decidir/aplicar uma sanção. Discussão dos Resultados Dois aspectos deste estudo devem ser discutidos: a) O desenvolvimento de uma ferramenta para analisar o comportamento dos árbitros de basquetebol, e; b) O comportamento dos árbitros num jogo de basquetebol de um escalão de formação. No entanto, o actual estudo tem algumas limitações: (1) Por ser um estudo pioneiro no basquetebol, poderá o instrumento não ser totalmente eficaz. (2) A amostra é bastante reduzida, ou seja, apenas foram observados 6 (seis) árbitros durante 1 (um) jogo cada. Apesar de existir um papel óbvio dos árbitros no decorrer de um jogo, para Clegg e Thompson (1989), não existem instrumentos para aceder ao comportamento destes e desse modo evoluir o seu trabalho e contribuição. O instrumento desenvolvido e avaliado no presente estudo é certamente o ponto de começo para gerar uma base de dados oficial. Este instrumento (OSCA) é fácil de usar, o tempo para treinar a observação é curto e o registo de dados é razoavelmente evidente e claro de efectuar. Por outro lado, este instrumento pode ser usado e adaptado para investigar o comportamento dos árbitros nos diferentes desportos e pode ser usado para elaborar programas de aprendizagem para árbitros. Por exemplo, um treinador pessoal de árbitros usando o OSCA tem dados objectivos para iniciar uma discussão formativa nos comportamentos usados pelos árbitros.
10 Com este instrumento podemos claramente construir e analisar o perfil de intervenção de cada árbitro durante o jogo de basquetebol, embora a total ausência de dados relativamente a este aspecto crie uma impossibilidade de comparação com outros árbitros de basquetebol. Tal como Weinberg e Richardson (1990) realçam, os árbitros de diferentes desportos, como basquetebol, futebol e hóquei no gelo, devem ser mentalmente e fisicamente preparados porque têm de seguir o jogador de maneira a estar bem posicionado para reagir imediatamente ás infracções ás regras. No presente estudo, os árbitros da nossa amostra estão envolvidos na acção sem intervir em cerca de 58% dos seus comportamentos, tomam decisões em 24% dos seus comportamentos, aplicam penalidades em mais de 8% dos seus comportamentos e esperam ou optam por não se envolver na acção em apenas 7% dos seus comportamentos. Trudel et al. (1996) indicam que os árbitros de hóquei no gelo utilizam uma percentagem de cerca de 48% do jogo observando sem intervir, tomam decisões em 41% do jogo e esperam por um total de 13% do jogo. Ora está, que a diferença de resultados entre estas modalidades reflecte as exigências impostas por cada uma ao acto de arbitrar, não se reportando aos árbitros em si, o que explica a lógica ou normalidade destes valores distintos. Em resumo, considerando a velocidade a que cada jogo de basquetebol, hóquei no gelo, futebol ou outra modalidade desportiva colectiva é jogada, os árbitros devem ser preparados mentalmente e fisicamente de modo a tomarem as decisões apropriadas quando são solicitadas. Face a todas estas exigências, é de realçar que não terá sido por acaso, o facto de as entidades que tutelam a arbitragem de basquetebol europeia, introduzirem mais um árbitro ao jogo. Este terceiro árbitro introduzido no jogo fez com que estes mesmos corressem menores distâncias e se possível analisando cada vez mais parados, o que lhes permite a tomada de decisões mais apropriadas. No que se refere à comunicação com os jogadores, Clegg e Thompson (1989) indicaram que os árbitros devem prevenir as infracções às regras, antes delas ocorrerem falando com os atletas. No presente estudo, os árbitros da nossa amostra utilizam uma considerada quantidade de tempo na prevenção de certos acontecimentos, quer aconselhando, quer conversando com os intervenientes no jogo, de modo a facilitar a sua acção e normal desenrolar do jogo (4,37% dos seus comportamentos), e como seria de esperar devido à sua função de ajuizar, utilizam uma maior quantidade de tempo a sancionar as mais diversas situações do jogo (10,41% dos seus comportamentos), o que veio reforçar as nossas expectativas iniciais. Situações logísticas no desenrolar do jogo, tais como, indicar o n.º do jogador que cometeu falta ou confirmar um cesto, são os comportamentos mais dominantes dos árbitros quando comunicam com os oficiais de mesa durante o jogo (9,19% do total das suas intervenções), ou seja a interacção entre estes deve ser feita com respeito mútuo, confiança, aceitação, companheirismo e encorajamento de forma a darem-se bem e a trabalharem como uma só unidade (Weinberg e Richardson, 1990).
11 Conclusões Os dados retirados deste estudo sugerem as seguintes conclusões: (1) Os árbitros de basquetebol da nossa amostra marcam em média 21 faltas por jogo, utilizam uma percentagem de 10,9% dos seus comportamentos verbalizando, gestualizam em 13,4% dos seus comportamentos, correm em 23,8% dos seus comportamentos, andam a passo em 6,2% dos seus comportamentos, esperam em 7,1% dos seus comportamentos, aplicam penalidades em 8,4% dos seus comportamentos e utilizam uma percentagem de 2,0% dos seus comportamentos com outros gestos ou acções. (2) A maior parte dos comportamentos dos árbitros da nossa amostra são especificamente dirigidos para os oficiais de mesa (9,19% do total das suas intervenções), aparecendo de seguida os jogadores (5,79% do total das suas intervenções). (3) Preferencialmente os árbitros da nossa amostra actuam sobre o ajuizamento de situações, fazendo aplicar as regras do jogo, sendo os comportamentos de acção preventiva menos frequentes. Para terminar, os resultados do presente estudo permitiram definir uma primeira ideia do perfil de intervenção do árbitro de basquetebol e podem servir como um ponto de partida para futuros estudos que analisem os árbitros no seu ambiente natural, ou seja num jogo de basquetebol, resultando numa melhoria das suas intervenções. Desta forma, não foi esquecido o papel destes no seio dos jovens desportistas, pois para além de ter a certeza que as regras são respeitadas, estes podem ser a posição central para criar um melhor ambiente para os jovens envolvidos no desporto. Por fim, pensamos que mais investigações são necessárias para examinar uma profunda natureza do papel dos árbitros nos jogos de basquetebol.
12 Referências Bibliográficas ANSHEL, M. (1995). Development of a rating scale for determining competence in basketball referees: implications for sport psychology. The Sport Psychologist, 9, ARAÚJO, D. (1997). O treino da capacidade de decisão. Treino Desportivo, 1, BARATA-MOURA, J. (1991). Arbitragem e Juízo. A Regra e o Jogo. Horizonte, 43, CLEGG, R. e THOMPSON, W. (1989). Modern Sports Oficiating. Dubuque, IA: William C. Brown. GAMA, A. (1986). Contributos da Arbitragem no desenvolvimento do voleibol. Horizonte, 15, JANEIRA, M. A. (1993). O esforço específico do Árbitro de Basquetebol. Comunicação apresentada no II Clinic Internacional da ANJB Não publicado. LIMA, T. (1982). Fora o Árbitro! Lisboa: Editorial Caminho. MARIVOET, S. (1998). Tempos e espaços de realização humana no contexto das novas necessidades sociais. Horizonte, 81, SARMENTO, P. (1988). A observação como tarefa de ensino. Horizonte, 25, SILVA, P. C. (1995). O lugar do corpo. Tese de Doutoramento. Faculdade de Ciências do Desporto e de Educação Física da Universidade do Porto. SILVA, S. (2000). A preparação física do Árbitro de Basquetebol. Comunicação apresentada no IX Clinic Internacional da ANJB Não publicado. TRUDEL, P.; CÔTÉ, J. e SYLVESTRE, F. (1996). Systematic observation of ice hochey referees during games. Journal of sport behavior, vol 19, n.º 1, VAN DER MARS, H. (1989). Observer reliability: Issues and procedures. In P. W. Darst, D. B. Zakrajsek, & V. H. Mancini (Eds). Analyzing physical education and sport instruction, (pp ). Champaign, IL: Human Kinetics. WEINBERG, R. e RICHARDSON, P. (1990). Psychology of officiating. Champaign: Human Kinetics Publishers. WEINBERG, R. e RICHARDSON, P. (1991). Características psicológicas do bom árbitro. [Online]:
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