O ESTOQUE DA OSTRA DE MANGUE Crassostrea SP. NO ESTUÁRIO DE CANANÉIA, SÃO PAULO, BRASIL NO ANO DE 2007
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1 340 O ESTOQUE DA OSTRA DE MANGUE Crassostrea SP. NO ESTUÁRIO DE CANANÉIA, SÃO PAULO, BRASIL NO ANO DE 2007 Ingrid Cabral Machado 1 ; Marcelo Barbosa Henriques 2 ; Orlando Martins Pereira 3 e Nivaldo Nordi 4 1 Doutoranda PPGERN/UFSCar, Pesquisadora do Núcleo de Pesquisa e Desenvolvimento do Litoral Sul do Instituto de Pesca/SAA-SP. Av. Prof. Wladimir Besnard, s/n, Morro do São João, Cananéia-SP, CEP , ipcananeia@yahoo.cm.br 2 Pesquisador do Centro APTA do Pescado Marinho do Instituto de Pesca/SAA-SP. Avenida Bartolomeu de Gusmão, Ponta da Praia, Santos (SP) - Brasil. Tel/fax. (13) ; henriquesmb@uol.com.br 3 Pesquisador do Centro APTA do Pescado Marinho do Instituto de Pesca/SAA-SP 4 Professor Associado do Departamento de Hidrobiologia da UFSCar. Laboratório de Ecologia Humana e Etnoecologia. Rodovia Washington Luís, km 235, Caixa Postal 676, CEP: Tel/fax (16) ; nivaldo@ufscar.br RESUMO O presente estudo compara o estoque estimado de ostras no estuário de Cananéia, no ano de 2007 com os dados obtidos para as mesmas áreas em 1999/2000, a fim de possibilitar a realização de inferências relativas ao status do recurso nas áreas estudadas. Os dados obtidos mostram que, em 2007, as Áreas 2 e 3 figuraram como as de maior abundância no estoque da ostra de mangue Crassotrea sp, respectivamente, nos Rios e Gamboas e Canal Principal do estuário. ABSTRACT This study compares the estimated stock of oysters in the Cananéia estuary, in the year 2007 with data obtained for the same area in 1999/2000, to enable inferences on the status of the resource in the studied areas. In 2007, the Areas 2 and 3 showed greater stock of mangrove oyster Crassotrea sp, respectively, in Rivers and Gamboas and Main Channel of estuary. INTRODUÇÃO A ostra de mangue Crassostrea sp é um recurso de manguezal de elevada importância para a pesca artesanal no estuário de Cananéia, sendo a região considerada o maior banco natural da espécie no Estado de São Paulo (Henriques et al. 2008, no prelo; Pereira et al., 2001; Bastos, 1997; Campolim & Machado, 1997). O extrativismo deste recurso é realizado por pouco mais de 100 extrativistas de diversas comunidades
2 341 distribuídas na porção insular e continental do município constituindo uma alternativa para muitos pescadores da região. Os primeiros estudos destinados à avaliação de estoque da ostra de mangue, iniciados em 1999, foram conduzidos na área paulista de ocorrência do recurso, no estuário de Cananéia (Pereira et al. 2000; 2001). Os autores citados estimaram o estoque de ostras em dúzias, quantificando indivíduos de tamanhos comercial e não comercial. Tais trabalhos foram complementados pelo estudo da curva de crescimento da ostra em ambiente natural (Pereira et al. 2003). Os estudos para avaliação de estoque de recursos naturais explorados por extrativismo são de fundamental importância como subsídio à gestão e direcionamento de formas de manejo (Machado et al, submetido). Neste sentido, o presente estudo teve o objetivo de comparar a situação do estoque de ostras em 2007 com os dados obtidos para as mesmas áreas, por Pereira et al. (2000; 2001), a fim de, a partir das avaliações consideradas, possibilitar a realização de inferências relativas ao status do recurso nas áreas estudadas. MATERIAL E MÉTODOS Para avaliação do estoque da ostra de mangue Crassostrea sp, a área de ocorrência da espécie no estuário de Cananéia foi dividida em grandes Áreas, conforme descrito por Pereira et al (2000, 2001). A Figura 1 ilustra as Áreas de amostragem nos manguezais da região de trabalho. A fim de possibilitar comparações com as estimativas de estoque prévias, as parcelas, amostradas entre 03/2007 e 03/2008, foram coincidentes com a avaliação anterior, conduzida nos anos de 1999/2000 (Pereira et al, 2000; 2001). Nas Áreas 1, 2, 3 e 4 foram amostrados, respectivamente, dez, doze, oito e oito parcelas, escolhidas por sorteio (cerca de 35% das amostradas em 1999/2000). Procedimentos de campo As parcelas apresentavam 40 m 2 de área, medidas à margem da região entremarés do canal principal e rios e gamboas do estuário de Cananéia. De cada parcela amostrada, contamos o número total de árvores da espécie Rhizophora mangle (mangue vermelho) e do conjunto de árvores de Laguncularia racemosa (mangue branco) e Avicennia shaueriana (mangue preto). Para avaliação do estoque da ostra de mangue, analisamos 10% das árvores de mangue vermelho das duas primeiras fileiras de árvores, onde ocorre a maior fixação de ostras. As árvores amostradas tiveram suas raízes contadas, sendo 10% das mesmas cortadas desde a inserção superior até a altura do solo.
3 342 Área 1 Área 2 Área 4 Área 3 Figura 1: Áreas amostradas na avaliação de estoque da ostra de mangue no estuário de Cananéia Procedimentos de laboratório As raízes amostradas foram medidas em comprimento e diâmetro. A fórmula da área lateral do cilindro (Al = 2.π.r.h) foi utilizada para a estimativa da área de cada raiz. Calculouse, então, a área média das raízes das árvores amostradas (m 2 de raiz.árvore -1 ), extrapolando-se o valor para toda a parcela (m 2 de raiz.parcela -1 ) a partir do número de árvores da parcela. Todas as ostras fixadas nas raízes foram contadas e medidas em altura, com paquímetro de precisão. Foi calculada a densidade média de ostras fixadas nas raízes (nº médio.raiz -1 ) e estimado o número total de ostras de cada parcela. Os valores de estoque de cada parcela amostrada foram extrapolados para a área entre-parcelas subseqüente, a partir das distâncias entre-parcelas definidas por Pereira et al (2000; 2001). Estimou-se, assim, estoque total nas Áreas estudadas.
4 343 RESULTADOS Os valores estimados de estoque de ostras para os Sítios 1, 2, 3 e 4 encontram-se na Tabela I e nas Figuras 2 e 3. Tabela I Estoque estimado da ostra de mangue Crassostrea sp nos bosques de mangue do canal principal e rios e gamboas pertencentes às Áreas 1, 2, 3 e 4 nos anos de 1999/2000 e 2007 (milhares de dúzias) Áreas Ano do estudo CP RG CP RG CP RG CP RG 1999/ / Estoque total estimado Total CP Total RG em 1999/ Estoque total estimado Total CP Total RG em A partir da Tabela I, considerando-se todas as Áreas estudadas em conjunto, verificase que estoque estimado em 2007 ( dúzias de ostras) foi muito próximo ao estimado em 1999/2000 ( dúzias de ostras). Considerando-se os estoques totais estimados no Canal Principal e nos Rios e Gamboas, verifica-se a inversão das proporções, com o Canal Principal comportando um valor estimado de estoque superior em 1999/2000, ao contrário de 2007, em que os Rios e Gamboas ocupavam esta posição. Comparando-se, ainda na Tabela I, os resultados por Área obtidos em 2007 ao estudo realizado em 1999/2000, pode-se observar que as parcelas estudadas das Áreas 2 e 3 apresentaram, em 2007, valores de estoque perto do dobro dos estimados em 1999/2000, enquanto que as parcelas estudadas pertencentes às Áreas 1 e 4 apresentaram em 2007 valores reduzidos para em torno da metade, em relação a 1999/2000. Verifica-se, por meio das Figuras 2 e 3, que os valores estimados de estoque da ostra nas áreas de mangue do Canal Principal das Áreas 1, 2 e 4 foram menores no estudo mais recente (2007) e que nos Rios e Gamboas foram, em todas as áreas, maiores que os obtidos em 1999/2000. A exceção a este padrão foi a Área 3, onde o estoque estimado foi maior também nas parcelas de Canal Principal.
5 344 Figura 2: Estimativa de estoque da ostra de mangue no Canal Principal das Áreas 1, 2, 3 e 4 nos anos de 1999/2000 e 2007 dúzias de ostras Áreas Figura 3: Estimativa de estoque da ostra de mangue nos Rios e Gamboas das Áreas 1, 2, 3 e 4 nos anos de 1999/2000 e / dúzias de ostras Áreas 1999/ A Tabela II compara a densidade de ocupação da ostra nas parcelas estudadas (dz.m - 2 de área de mangue) obtida por meio da divisão do valor estimado de estoque pela área de mangue considerada nos estudos dos anos de 1999/2000 (Pereira et al, 2000; 2001) e Pode-se verificar que a densidade de ocupação nas Áreas estudadas apresentou, nos anos estudados, o mesmo comportamento que o estoque estimado, com redução no Canal Principal e aumento nos Rios e Gamboas nas Áreas 1, 2 e 4 e aumento em ambos, na Área 3. Observa-se que, em termos de abundância absoluta (número estimado de dúzias) a Área 2 figurou, em 2007, como a área mais rica, seguido pelas Áreas 3 e 1, com a Área 4 apresentando o menor valor de estoque estimado (Tabela I). Em termos de abundância relativa (valor de estoque ponderado pela área de mangue considerada), quando consideramos o canal principal do estuário, a Área 3 figurou em 2007 como o principal banco da espécie em área de manguezal, seguido pela Área 2. Nas áreas
6 345 de rios e gamboas, a Área 2 sobressaiu-se sobre as demais, em 2007, com o maior número de dúzias por área de mangue (Tabela II). Tabela II - Densidade de ocupação da ostra nas áreas de mangue estudadas do Canal Principal e Rios e Gamboas pertencentes às Áreas 1, 2, 3 e 4 em 1999/2000 e 2007 (dz.m -2 mangue) Áreas CP 2000 CP 2007 RG 2000 RG ,8 1,8 1 2,6 2 23,1 11,2 2, ,2 21,9 1 2,9 4 25,9 9 1,7 2,5 CONCLUSÃO Os dados obtidos no estudo de estoque mostram que, de acordo com os dados do ano de 2007, as Áreas 2 e 3 figuraram como as de maior abundância no estoque da ostra de mangue Crassotrea sp, sendo a importância das duas Áreas mais significativa, respectivamente, nos Rios e Gamboas e Canal Principal do estuário. Tais informações, confrontadas com as formas de manejo do recurso adotadas nas diversas Áreas por diferentes grupos de usuários da região, serão úteis para subsidiar a análise da atividade extrativista sobre o recurso, apoiando a tomada de decisões relativas ao ordenamento da atividade. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS BASTOS, A.A A coleta de ostra Crassostrea brasiliana e manejo sustentado em áreas de manguezal (Mandira Cananéia). Dissertação de Mestrado, PROCAM - Universidade de São Paulo, São Paulo-SP. 99p. CAMPOLIM, M. B & MACHADO, I.C., Proposta de ordenamento da exploração comercial da ostra do mangue Crassostrea brasiliana na região estuarino-lagunar de Cananéia-SP. Seminário Ciência e Desenvolvimento Sustentado. Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo São Paulo. HENRIQUES, M.B.; PEREIRA, O. M.; CASARINI, L.M.; MACHADO, I.C Avaliação do estoque e proposta de extração sustentada da ostra Crassostrea brasiliana (Lamarck, 1819) na Reserva Extrativista do Mandira, Cananéia-SP (25º S; 48º W). Arquivos de Ciências do Mar, 41(2). no prelo
7 346 MACHADO, I.C.; NORDI, N.; HENRIQUES, M. B.; PEREIRA, O. M.; FERNANDEZ, T.A.C. Variations on the mangrove oyster Crassostrea sp. natural stock, related to the management procedures in the Mandira Extractive Reserve, Cananéia City-São Paulo State, Brazil, from 2000 to Artigo submetido à Revista Biotemas. PEREIRA, O.M.; MACHADO, I.C.; HENRIQUES, M. B ; GALVÃO, M.S.N.; BASTOS, A.A Avaliação do estoque da ostra Crassostrea brasiliana (Lamarck, 1819) no manguezal da região estuarino-lagunar de Cananéia (25ºS; 48ºW). Boletim do Instituto de Pesca, 26(1): PEREIRA, O. M; MACHADO, I.C.; HENRIQUES, M. B.; GALVÃO, M.S.N.; YAMANAKA, N. 2001a. Avaliação do estoque da ostra Crassostrea brasiliana em rios e gamboas da região estuarino-lagunar de Cananéia (São Paulo, Brasil). Boletim do Instituto de Pesca, 27 (1): PEREIRA, O. M; HENRIQUES, M. B.; MACHADO, I.C Estimativa da curva de crescimento da ostra Crassostrea brasiliana em bosques de mangue e proposta para sua extração ordenada no estuário de Cananéia, SP, Brasil. Boletim do Instituto de Pesca, 29(1):
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