JUSTICA AMBIENTAL: CONCEITO, ORIGEM E CONSIDERAÇÕES
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- Martín Azenha Cortês
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1 JUSTICA AMBIENTAL: CONCEITO, ORIGEM E CONSIDERAÇÕES Thays Machado 1 - Mestranda IE/UFMT m_tai2003@yahoo.om.br O escopo deste trabalho é apresentar parcialmente a pesquisa que está sendo desenvolvida na Universidade Federal do Estado de Mato Grosso a fim de discutir teoricamente o conceito de Justiça Ambiental e iniciar nos estudos acadêmicos e na militância ambientalista a perspectiva das desigualdades sociais. Buscando compreender a partir do levantamento bibliográfico a problemática da poluição ambiental e das sucessivas ameaças a saúde coletiva da população afro-descendente. Na primeira parte do trabalho, busca-se conceituar a partir da historicidade a origem da justiça ambiental diante do contexto norte-americano que se desenvolveu, mormente, pelo seu movimento negro. Na segunda parte tecerá algumas considerações de modo a abrir um espaço de reflexão e ação sócio-ambiental visando à sistematização e divulgação da problemática referente à Justiça Ambiental e a criação da Rede Brasileira de Justiça Ambiental por meio do Colóquio Internacional sobre Justiça Ambiental, Trabalho e Cidadania. Palavras-chave: justiça ambiental, desigualdades sócio-ambientais, movimentos ambientalistas. 1 Trabalho apresentado sob orientação da Prof.ª Dr.ª Michèle Sato-michelesato@ufmt.br
2 1. CONSIDERAÇÕES INICIAIS O referido trabalho tem caráter eminentemente bibliográfico, pois busca compreender a justiça ambiental no cerne das implicações sociais do racismo ambiental. Neste contexto o termo justiça ambiental relaciona-se a desigual distribuição dos benefícios e dos gravames impostos pela legislação ambiental, ou mesmo pelos problemas ambientais, entre diferentes grupos sociais. Nesse diapasão, grupos mais vulneráveis de uma dada comunidade, como a população de baixa renda, grupos raciais ou étnicos, entre outros, podem ser afetados desproporcionalmente por efeitos negativos da legislação ambiental, devendo a eles ser conferido o direito de participar efetivamente das decisões que os afetem e pleitear medidas compensatórias pelos gravames por eles suportados. Diante disso se observa que o conceito decorreu da percepção de que os depósitos de lixos químicos e radioativos, ou de indústrias com efluentes poluentes, concentravam-se desproporcionalmente na vizinhança das áreas habitadas por estes grupos. Nos termos de Robert Bullard, sociólogo da Clark University, intelectual e ativista norte-americano, a justiça ambiental e a condição de existência social configurada através da busca do tratamento justo e do envolvimento significativo de todas as pessoas, independentemente de sua raça, cor, origem ou renda no que diz respeito a elaboração, desenvolvimento, implementação e reforço de políticas, leis e regulamentações ambientais. Por tratamento justo entende-se que nenhum grupo de pessoas, incluindo-se ai grupos étnicos, raciais ou de classe, deva suportar um parcela desproporcional das conseqüências ambientais negativas resultantes de operações industriais, comerciais e municipais, da execução de políticas e programas federais, estaduais, locais ou tribais, bem como das conseqüências resultantes da ausência ou omissão dessas políticas. Robert Bullard descreve ainda o amplo espectro que a justiça ambiental engloba. Ele afirma: Basicamente o ambiente é tudo: onde vivemos, trabalhamos, nos divertimos, vamos à escola, assim como o mundo físico e natural. Desse modo, não podemos separar o meio físico do meio cultural. Temos que falar sobre o assunto para ter certeza de que a justiça esta totalmente integrada a todas as coisas que fazemos. O
3 que o movimento da justiça ambiental esta buscando é tentar equacionar todos os problemas relativos a alocação de lixo tóxico e ao desenvolvimento industrial. 2. Coadunando com o movimento ecologista e sindicalista traçado por Robert Bullard entende-se que a expressão racismo ambiental significa o direcionamento intencional ou não dos efeitos da degradação para determinadas comunidades raciais ou étnicas. Sem levar em consideração os negros, que seriam as principais vítimas desse problema, existiriam também os índios, os latinos e os ciganos, significando, pois, que o racismo ambiental se concentra um aspecto social que se mescla ao racial e étnico. 2. BREVE HISTÓRICO E CONSIDERAÇÕES O movimento, que ficou conhecido como justiça ambiental (Environmental Justice), surgiu nos Estados Unidos na década de 80 do século XX. Na década anterior, o movimento ambientalista ganhara forca naquele país e haviam sido editadas as primeiras e importantes leis de proteção ambiental (especialmente o Clean air Act e o Clean Water Act). Embora o movimento ambientalista considerasse a proteção ambiental objeto de consenso nacional, representantes de minorias raciais posicionaramse criticamente a ele e ao correspondente sistema de proteção legal, acusando-os de iniciativas da classe média, não benéficos as comunidades pertencentes as classes sociais desfavorecidas e as minorias raciais. Essas críticas transformaram-se em protestos na década de 80, ocasionados por decisões de governos estaduais ou locais de instalar aterros de resíduos perigosos próximos a bairros de residência predominante de negros. Por esse motivo, o movimento era identificado com a bandeira de racismo ambiental (environmental racism), tendo, porém, prevalecido expressão justiça ambiental (environmental justice) para designá-lo. No Brasil, o marco inicial de sistematização e divulgação da problemática referente à Justiça Ambiental foi a coleção intitulada Sindicalismo e Justiça Ambiental, publicada em 2000 pela Central Única dos Trabalhadores CUT/RJ, em conjunto com o IBASE, o Instituto de Pesquisas e Planejamento Urbano IPPUR da UFRJ e com o apoio da Fundação Heinrich Boll. O intuito era estimular a discussão sobre a responsabilidade e o papel dos trabalhadores e das suas entidades representativas, na defesa de um ambiente urbano e sustentável e com qualidade de vida 2 SCHWEIZER, 1999.
4 acessível a todos os seus moradores, dentro da perspectiva de crítica ao modelo dominante de desenvolvimento e entendendo que os recursos ambientais são bens coletivos, cujos modos de apropriação e gestão são objeto de debate público. Também em 2000, o sociólogo Paulo Roberto Martins apresentava em um congresso um estudo em que descrevia casos de sindicatos que têm desenvolvido ações que indicam a institucionalização de uma luta por justiça ambiental, envolvendo tanto os trabalhadores e suas instituições representativas quanto os moradores do entorno das fábricas e os movimentos ambientalistas: por exemplo, o caso do Sindicato dos Químicos de São Paulo, na sua luta contra a Nuclemom, empresa estatal pertencente a Nuclebras e do Sindicato dos Químicos do ABC na sua luta contra a empresa Solvay, no Estado de São Paulo. Seu estudo contrastava os avanços ocorridos neste campo dentro da CUT com a compreensão ainda que parcial de seus dirigentes a este respeito. É importante aduzir que o movimento ambientalista brasileiro teria um grande potencial para se renovar e expandir o seu alcance social na medida em que se solidarizasse e se associasse com as massas pobres e marginalizadas, em lugar de vê-las como fator poluente e que, complementarmente, os movimentos sociais renovariam e ampliariam o alcance de suas lutas se nelas incorporassem a dimensão da justiça ambiental, já que tudo converge para uma mesma luta por uma sociedade sustentável, justa e democrática, e por conta disso organizou-se no ano de 2001 o Colóquio Internacional sobre Justiça Ambiental, Trabalho e Cidadania, realizado na Universidade Federal Fluminense. Esta foi a primeira das iniciativas de cunho acadêmico e político no Brasil, feita para discutir enfoques teóricos e implicações políticas da proposta de Justiça Ambiental, como também para fazer o histórico e avaliação de campanhas e ações de cidadania, dos casos de injustiça ambiental no Brasil e na América Latina, refletir sobre a experiência dos sindicatos e propor a construção de uma agenda; parcerias e uma coalizão nacional e internacional. Ademais, foi nesta ocasião que foi criada a Rede Brasileira de Justiça ambiental a qual apregoa os seguintes objetivos: a) elaborar coletivamente uma Declaração de Princípios da Justiça Ambiental no Brasil, b) criar um ou mais centros de referências de Justiça Ambiental, c) diálogo permanente entre atores, d) desenvolvimento de instrumentos de promoção de justiça ambiental, e) pressionar órgãos governamentais e empresas para que divulguem informações ao público, f) contribuir para o estabelecimento de uma nova agenda de ciência e tecnologia, g) estratégia de articulação internacional.
5 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Busca-se compreender o movimento da justiça ambiental para com os benefícios da aplicação em uma sociedade sustentável, bem como entender a circularidade dos bens ambientais postos à disposição para fruição racional. Visa assim, trazer a tona discussões coletivas sobre o ônus decorrente do progresso, especialmente se realizado de forma irresponsável que afeta, principalmente, a população de baixa renda. Pois, se considerarmos a compreensão já abordada sobre justiça ambiental, uma situação de injustiça ambiental é o direcionamento da maior carga dos riscos e dos danos ambientais para aqueles socialmente desfavorecidos, como trabalhadores, populações de baixa renda e grupos sociais discriminados. BIBLIOGRAFIA ACSELRAD, H. HERCULANO, S. PÁDUA, José Augusto. Justiça Ambiental e Cidadania. Rio de Janeiro: Relume Dumará p. 82. BULLARD, Robert D. Dumping in Dixie: race, class and environmental quality. Boulder, Westview Press, BULLARD, Robert. Enfrentando o racismo ambiental no século XXI. In: Acserlrad Henri; PÁDUA, José Augusto de; HERCULANO, Selene (orgs). Justiça ambiental e cidadania. São Paulo: Delume Lumará, 2004, p. 79. LAZARUS, Richard. Pursuing environmental justice : the distributional effects of environmental protection. Northwestern university Law Review, n. 87, 1993, p. 787/857. SCHWEIZER, Errol. Interview with Robert Bullard. In Earth First Journal. 6 de julho de Versão . TORRES, Gerald. Environmental burdens and democratic justice. Fordham Urban Law journal. v. XXI, 1994, p. 431/460.
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