ECONOMIA SOLIDÁRIA: CONCEITOS E CONTRASTES COM A ECONOMIA CAPITALISTA

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1 Eixo temático: Administrativas ECONOMIA SOLIDÁRIA: CONCEITOS E CONTRASTES COM A ECONOMIA CAPITALISTA Rebeca Cristine Ferreira da Silva 1 Isabella Presotto Possignolo 2 Karen Beneton 3 Lucas Arantes Garcia 4 Orientador: Roberto Arruda de Souza Lima 5 RESUMO: O cenário da economia internacional no início da década de 70 era de práticas do modelo Taylorista-Fordista de produção em escala, segmentação e mecanização especializada da produção. Na década de 1980, o desemprego no Brasil foi intensificado por uma crise cambial e inflacionária. A onda de desemprego e insatisfação gerada a partir desse contexto favoreceu o surgimento de cooperativas e de novas relações de trabalho que, mais tarde, viriam a ser vetores da consolidação da Economia Solidária. Após levantamento bibliográfico e discussões dos autores, ficou evidente crescente importância que o tema vem ganhando no cenário nacional e internacional, sendo assim, o objetivo desse trabalho é retratar o cenário dessa alternativa econômica ao modelo tradicional no Brasil e no mundo. Palavras-chave: Economia Solidária. Capitalismo. Alternativa Econômica. 1. INTRODUÇÃO O cenário da economia no início da década de 70, época que precedeu o surgimento da Economia Solidária, era de práticas do modelo Taylorista-Fordista de produção em escala, segmentação e mecanização especializada da produção. Na década de 1980, o desemprego no Brasil foi intensificado por uma crise cambial e inflacionária. Dessa forma, muitas empresas entraram em falência. A onda de desemprego e o atualizado padrão de produção diversificado favoreceram o surgimento de cooperativas e de novas relações de trabalho que, mais tarde, viriam a ser vetores da consolidação da Economia Solidária. Em meados de 1990, o movimento tomou força, resultado de alterações ocorridas nas esferas econômica e social, além da abertura do mercado interno às importações. Houve uma necessidade de melhorar a qualidade de vida, repensar os vínculos sociais, gerar trabalho e motivar a implantação de autogestão nos empreendimentos. Foi necessário, enfim, rediscutir o direito de cidadania e meios alternativos de geração de renda. O objetivo desse trabalho é retratar o cenário dessa economia no Brasil que vem ganhando relativa importância devido às frequentes crises no modelo econômico tradicional. 1 Graduanda em Gestão Ambiental, ESALQ-USP. rebeca.cristine.silva@usp.br 2 Graduanda em Engenharia Agronômica, ESALQ-USP. isabella.possignolo@gmail.com 3 Graduanda em Engenharia Florestal, ESALQ-USP. kareneton@gmail.com 4 Graduando em Gestão Ambiental, ESALQ-USP. lucas13garcia@gmail.com 5 Docente do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ-USP. raslima@usp.br

2 Busca também definir os conceitos e características da economia solidária, caracterizando seus segmentos e sua forma de organização. 2. METODOLOGIA A metodologia utilizada foi o levantamento bibliográfico em livros, sites como o da Secretaria Nacional da Economia Solidária, do Ministério do Trabalho, entre outros. Em seguida, por meio de discussões dos autores e do grupo de extensão ao qual fazem parte (PET-GAEA), chegamos a conclusões que proporcionaram no desdobramento do tema em um segundo artigo e de extensões como um Workshop de Economia Solidária. 3. RESULTADOS E DISCUSSÃO Na sociedade capitalista, a interação social está dividida em dois campos distintos: o competitivo e o solidário. Paul Singer (2002) acredita que para que tivéssemos uma sociedade em que predominasse a igualdade entre todos os indivíduos, seria preciso que a economia fosse solidária em vez de competitiva. A solidariedade na economia só pode se realizar se ela for organizada igualitariamente pelos que se associam para produzir, comercializar, consumir e poupar. Paul Singer apresenta a Ecosol não apenas como um inibidor de mazelas socioeconômicas através da criação ou manutenção de postos de trabalho, mas também como forma alternativa de modo de produção (Cornelian, A. R., 2006). Ao longo de sua história, recebeu apoio de diversas entidades, como do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), das Incubadoras Tecnológicas de Cooperativas Populares (ITCPs) e dos sindicatos através da Central Única de Trabalhadores (CUT), que criou em 1999 a Agência de Desenvolvimento Solidário (ADS). 3.1 Cooperativismo Para Paul Singer (2002), foi justamente o cooperativismo que promoveu as bases materiais, organizacionais e valorativas da Ecosol. Tal tipo de organização teria trazido uma ideologia fundamental da Economia Solidária contemporânea, assim como a excelência no desenvolvimento econômico-solidário, a organização produtiva e trabalhista. As cooperativas se dividem em dois tipos fundamentais, diz Singer: cooperativas de trabalho (sócio que trabalham juntos no mesmo empreendimento) e cooperativas de usuário (sócios que adquirem bens ou serviços prestados pela cooperativa).

3 3.2 Economia Solidária: características e conceitos ISSN Segundo a Secretaria Nacional de Economia Solidária do Ministério do Trabalho e Emprego (MTE SNAES), é uma nova forma de organização econômica a partir do trabalho coletivo, um jeito diferente de produzir, vender, comprar e trocar o que é preciso para viver. Na economia solidária não existe patrão e empregado, todos decidem em conjunto e se beneficiam igualmente, sem levar vantagens sobre o outro ou destruir a natureza. De acordo com o Fórum Brasileiro de Economia Solidária (FBES) a Ecosol se enquadra em três dimensões: Econômica: um jeito de fazer a atividade econômica de produção, oferta de serviços, comercialização, finanças ou consumo baseado na democracia e na cooperação, o que chamamos de autogestão: ou seja, na economia solidária todos os/as integrantes do empreendimento (associação, cooperativa ou grupo) são ao mesmo tempo trabalhadores e donos. Cultural: um jeito de estar no mundo e de consumir produtos locais, saudáveis, que não afetem o meio ambiente, não sejam transgênicos e nem beneficiem grandes empresas. Neste aspecto, também simbólico e de valores, há mudança do paradigma da competição para o da cooperação e da inteligência coletiva, livre e partilhada. Política: um movimento social, que luta pela mudança da sociedade, por uma forma diferente de desenvolvimento, que não seja baseado nas grandes empresas nem nos grandes latifúndios e proprietários, mas sim um desenvolvimento para as pessoas. Além disso, a Ecosol trabalha em prol da organização e conscientização sobre o consumo responsável, permitindo uma ação mais crítica do consumidor sobre qualidade de vida, alimentação e desenvolvimento, fortalecendo relações entre produtores e consumidores e entre campo e cidade. Em conformidade com a SNAES, a Ecosol possui as seguintes características: (a) Cooperação: existência de interesses e objetivos comuns, a união dos esforços e capacidades, a propriedade coletiva de bens, a partilha dos resultados e a responsabilidade solidária. (b) Autogestão: os/as participantes das organizações exercitam as práticas participativas de autogestão dos processos de trabalho, das definições estratégicas e cotidianas dos empreendimentos, da direção e coordenação das ações nos seus diversos graus e interesses, etc., todas essas se assegurando da transparência no exercício da direção (Luiz Inácio Gaiger, 1999). Os apoios externos não devem substituir nem impedir o protagonismo dos verdadeiros sujeitos da ação. (c) Dimensão Econômica: é uma das bases de motivação da agregação de esforços e recursos pessoais e de outras organizações para produção, beneficiamento, crédito, comercialização e consumo. Envolve o conjunto de elementos de viabilidade econômica,

4 permeados por critérios de eficácia e efetividade, ao lado dos aspectos culturais, ambientais e sociais. (d) Solidariedade: expresso em diferentes dimensões: na justa distribuição dos resultados alcançados; nas oportunidades que levam ao desenvolvimento de capacidades e da melhoria das condições de vida dos participantes; no compromisso com um meio ambiente saudável; nas relações que se estabelecem com a comunidade local; nas relações com os outros movimentos sociais e populares de caráter emancipatório; na preocupação com o bem; etc. O FBES estrutura-se de forma a garantir a articulação entre três segmentos do movimento de Economia Solidária: i) Empreendimentos Econômicos Solidários, ii) Entidades de Assessoria e/ ou Fomento e iii) Gestores Públicos. 3.3 Organização da Ecosol no Brasil A organização da economia solidária no Brasil é distribuída em várias instituições e estão concentradas em Fóruns e Redes, Instâncias Governamentais, Ligas ou Uniões, EES e Entidades de Apoio e Fomento. Estas representadas na figura abaixo: Figura 1. O campo da Economia Solidária no Brasil. Fonte: Atlas da Economia Solidária, MTE (2005). 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS O projeto se propôs a compreender o conceito de Economia Solidária segundo o FBES (Fórum Brasileiro de Economia Solidária), partindo das três dimensões: econômica - pela autogestão, com atividades econômicas baseadas na democracia e cooperação; cultural, e politica - como um movimento social que luta pela mudança da sociedade, por uma forma diferente de desenvolvimento.

5 O FBES estrutura-se de forma a garantir a articulação entre três segmentos do movimento de Economia Solidária: i) Empreendimentos Econômicos Solidários - organizações coletivas e supra-familiares (singulares ou complexas), permanentes, dispondo ou não de registro legal, que realizam atividades econômicas de produção de bens, prestação de serviços, fundos de crédito, comercialização e consumo solidário, ii) Entidades de Assessoria e/ ou Fomento - organizações que desenvolvem variadas ações de apoio junto aos empreendimentos solidários, e iii) Gestores Públicos - elaboram, executam, implementam e/ou coordenam políticas de Ecosol das prefeituras e dos governos estaduais. Considerando a crescente importância que o tema vem ganhando no cenário nacional e internacional, os autores, juntamente a seu grupo consideram de extrema importância a realização de mais pesquisas que tratem da Economia Solidária, assim como estudos de casos de iniciativas que já existam a fim de fornecer subsídios para implantação de outros empreendimentos que queiram seguir os princípios da Ecosol. REFERÊNCIAS Cornelian, A. R. A concepção de Economia Solidária em Paul Singer: Descompassos, Contradições e Perspectivas. Tese de Mestrado em Sociologia da Faculdade de Ciências UNESP. Araraquara: Faces do Brasil. ANTEAG Associação Nacional de Trabalhadores e Empresas de Autogestão. Disponível em: < Acesso em 18 de agosto de Fórum Brasileiro de Economia Solidária. A trajetória do Movimento da Economia Solidária no Brasil: do Fórum Social Mundial (FSM) ao Fórum Brasileiro da Economia Solidária (FBES). Disponível em: Acesso em 18 de agosto de Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Cartilha: Campanha pela lei da Economia Solidária. Iniciativa Popular para um Brasil Justo e Sustentável. Fórum Brasileiro de Economia Solidária. Sobre o FBES. Disponível em: < Acesso em: 04 de junho de Gaiger, L. I. Significados e Tendências da Economia Solidária. Curso de Formação de Formadores para Gestão em Desenvolvimento Sustentável e Solidário Ministério do Trabalho e Emprego. Conceito e origens recentes da Economia Solidária no Brasil. Disponível em: < Acesso em 26 de agosto de Ministério do Trabalho e Emprego. Economia Solidária. Disponível em: < Acesso em 03 de junho de SINGER, ENTREVISTA COM PAUL. Economia solidária. ESTUDOS AVANÇADOS, v. 22, n. 62, p , Singer, P. Introdução à Economia Solidária. Fundação Perseu Abramo, 2002.