II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores
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- Kevin Garrau Malheiro
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1 II Congresso Nacional de Formação de Professores XII Congresso Estadual Paulista sobre Formação de Educadores O ENSINO DA ARTE CONTEMPORÂNEA POR MEIO DA CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Maria Inês Ruas Vernalha Eixo 1 - Formação inicial de professores para a educação básica - Relato de Experiência - Apresentação Oral Este trabalho apresenta resultados obtidos a partir do desenvolvimento de projetos em arte, realizados com os alunos de Artes Visuais, focando o ensino da arte contemporânea na Educação Básica. O estudo buscou instigar os alunos a refletirem sobre as possibilidades de abordagem da arte contemporânea nas escolas utilizando como motivação a pesquisa e a interação com o fazer artístico. A paisagem na arte foi o tema escolhido para a pesquisa e para a criação dos trabalhos, Paisagem Horizontal, síntese poética surgida a partir da aproximação de pinturas com imagens de árvores, intervenção feita nos espaços internos da FAAT-Faculdades, em Atibaia, Paisagem de Encontros, trabalho de arte postal que priorizou a ideia de paisagem em construção, exposto no Solar Manoel Jorge Ferraz, casarão tombado pelo patrimônio histórico, e Paisagem Retornável, instalação artística, apresentada no Centro de Convenções Victor Brecheret, que teve como proposta a criação de uma paisagem com galhos de árvores re-significados como uma forma de devolvê-los ao seu lugar de origem, um lugar ideal: a paisagem. O desenvolvimento dos trabalhos auxiliou os alunos a buscarem meios de diagnosticar e encontrar soluções para as dificuldades teóricas e práticas constatadas por meio do Estágio Supervisionado, em relação ao ensino e aprendizagem da arte contemporânea nos espaços escolares. 0761
2 O ENSINO DA ARTE CONTEMPORÂNEA POR MEIO DA CONSTRUÇÃO DA PAISAGEM: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES Maria Inês Ruas Vernalha. Universidade Estadual de Campinas e Faculdades - FAAT, Atibaia, São Paulo Introdução Este estudo traz reflexões sobre a formação docente e o ensino da arte contemporânea. O foco de interesse está centrado na ideia de que o aluno, futuro professor de Arte, precisa lidar com as complexas questões da produção, apreciação e reflexão do próprio sujeito, o futuro professor, e das transposições das suas experiências com a Arte para a sala de aula com seus alunos (COUTINHO In BARBOSA, 2003, p.157). A abordagem da arte contemporânea nos espaços escolares é muito rara ou quase nula, percepção adquirida como resultado dos relatos dos estágios feitos pelos alunos do curso de Artes Visuais. Perece haver uma resistência, por parte dos professores de arte, em trabalhar com arte contemporânea, uma modalidade desafiadora que requisita uma percepção renovada sobre arte e uma observação mais atenta sobre o que é proposto pelo artista. O objetivo deste estudo foi propiciar que professores do curso de licenciatura em Artes Visuais participassem do processo de criação de propostas de arte contemporânea para praticarem o fazer artístico, aprenderem a conhecer e, deste modo, poderem articular seus repertórios artísticos às teorias e práticas na ação docente. Tais questões estão presentes neste artigo como partes integrantes de um relato de experiência que apresenta algumas possibilidades de práticas de ensino da arte contemporânea. Foram desenvolvidas três propostas sobre o tema da paisagem, com a participação de alunos do curso de Licenciatura em Artes Visuais, da FAAT Faculdades, em Atibaia, abordando conteúdos de arte contemporânea. São elas: uma intervenção denominada Paisagem Horizontal, um trabalho de Arte Postal, Paisagem de Encontros, e uma instalação que recebeu o nome de Paisagem Retornável. O assunto escolhido para a realização dos trabalhos foi centrado no tema da paisagem na arte, um gênero artístico que passou por várias mudanças na maneira de expressão, aparecendo como pano de fundo de pinturas renascentistas, mostrando lugares infinitos nas pinturas surrealistas, apresentando locais repletos de valores simbólicos nas obras de Caspar David Friedrich, William Turner ou interagindo com o espaço do museu Guggenheim, de Nova Iorque, na Paisagem X de Nicola López, uma instalação (Disponível em: < 1
3 landscape-x-under-construction>). Segundo Paulo Menezes (1997), o espaço pictórico que vai do Renascimento até o século XIX, era um espaço de representação, apoiava-se nas ideias da perspectiva e de ilusão. Relata o autor que se tratava de um espaço exterior, físico, um dado natural, [torna-se, em contrapartida] intelectual, subjetivo, perceptivo. Um novo espaço que vai incorporar a um só tempo várias dimensões: física, psicológica, sentimental e temporal (1997, p.127). O enfoque deste estudo centrou-se no aprimoramento da formação docente utilizando como método o fazer, fruir e refletir sobre arte. Buscou-se fornecer subsídios teóricos e práticos acerca da arte contemporânea para auxiliar os professores em formação a desenvolverem propostas para a prática pedagógica. As conclusões foram elaboradas com o propósito de promover uma reflexão em torno da formação docente como um processo em construção que necessita de ampliação e contínuo desenvolvimento do repertório artístico, teórico e prático, aspecto que pode ser conseguido por meio da interação do aluno com o campo da arte Formação de professores de arte e o ensino da arte contemporânea Sobre a formação dos professores de Arte, Mirian Celeste Martins salienta ser imprescindível que esses profissionais aprendam como são construídos os sentidos a partir das leituras, como aprimorar o olhar, o ouvido, o corpo (MARTINS In BARBOSA, 2003, p.52). A aprendizagem e a construção do conhecimento em arte possuem significados específicos sobre o ensinar e aprender no campo da arte, pontua Hernandez (2000). Na atuação docente, o futuro professor ensina o educando a aprender a conhecer e a considerar os conteúdos relacionados à cultura local, à cultura de outros grupos que pertencem às outras localidades. As correntes atuais de pesquisas dão ênfase ao conhecimento que o sujeito possui sobre arte e o quanto essa característica facilita ou dificulta a aprendizagem na área artística. Diante dessas afirmações, é preciso fazer algumas reflexões em torno do processo de ensino e aprendizagem dos professores em formação. É preciso pesquisar de que maneira o curso de licenciatura em Artes pode disponibilizar conteúdos que venham a propiciar aos alunos uma imersão na linguagem artística e ao mesmo tempo uma reflexão crítica e contextual das questões relativas aos conhecimentos implicados no processo. (COUTINHO In BARBOSA, 2003, p.157). Segundo Fernando Hernandez (2000), inúmeros estudos foram feitos em relação à compreensão dos fatos artísticos. Para dar início à reflexão, alguns questionamentos foram feitos, como por exemplo, como são produzidas as obras de arte? Qual é o motivo que leva os artistas a fazerem obras de arte? Onde está o mérito de uma obra de arte? (HERNANDEZ, 2000). Algumas das questões utilizadas na pesquisa, sobre o desenvolvimento do conhecimento artístico, giram em torno do processo de ensino e 2
4 aprendizagem em arte: Como se utiliza o conhecimento sobre uma obra de arte numa situação de ensino de sujeitos com diferentes conhecimentos básicos? (p.120). São perguntas que instigam os professores a refletirem acerca das possibilidades de apreensão do conhecimento em arte: Como se utiliza o conhecimento que se possui para estabelecer relações entre diferentes obras de arte? Como se vincula o conhecimento estético e/ou histórico com a prática do atelier de arte? (HERNANDEZ, 2000, p.120). De acordo com as pesquisas indicadas por Hernandez, para se compreender as linguagens artísticas é preciso vivenciar situações de aprendizagem em arte (...) quando o objeto do conhecimento é a própria arte (p.120). Várias pessoas envolvidas no processo educacional, frequentemente os gestores e coordenadores pedagógicos, esperam que seus professores induzam os alunos a produzirem trabalhos esteticamente bonitos, para agradar aos pais ou à família. Essa constatação foi feita a partir dos relatos dos alunos do curso de Licenciatura em Artes Visuais, da FAAT Faculdades, com base nos estágios realizados em escolas de Atibaia. Foram poucas as descrições sobre professores de arte que instigam os alunos a produzirem trabalhos com poética pessoal, a usarem materiais diversificados, a experimentarem técnicas inovadoras ou a exercitarem a capacidade criativa. Enfim, são raros os professores que estimulam os alunos a enfrentarem as dúvidas, as incertezas. Nos relatos de estágio, realizados pelos alunos de Artes Visuais, constatou-se que não é comum os alunos poderem falar de si em seus trabalhos, investirem na expressão pessoal. Surgiram vários questionamentos entre os alunos que fizeram estágio em torno das propostas que estão sendo trabalhadas nas escolas, como por exemplo, em relação à arte educadora que trabalhou com o tema Halloween no Ensino Fundamental, em uma escola estadual, do 6º ao 9º ano. A professora solicitou que os alunos fizessem desenhos sobre Halloween. Quais conteúdos são desenvolvidos ao se fazer desenhos sobre Halloween? Por que esse tema foi escolhido para ser trabalhado com todos os anos do Ensino Fundamental? O que é Halloween? Será que os alunos sabem que o Halloween é um evento cultural originário da Irlanda e Inglaterra? Após feitas algumas pesquisas, verificou-se que os professores trabalham com o tema Halloween nas aulas de arte com o intuito de comemorar essa data e, também, desenvolver atividades ligadas aos conteúdos de inglês. Trabalhos de arte que não contêm elementos da linguagem plástica e não mostram traços de individualidade ou expressão pessoal não contribuem para a construção do repertório imaginativo do aluno. Mirian Celeste Martins amplia a reflexão sobre a apropriação da arte fazendo os seguintes questionamentos: Será que artistas, educadores (mediadores) são fruidores de Arte? Visitam feiras de arte popular, assistem a concertos musicais e peças teatrais? Frequentam mostras e bienais de arte? Os alunos
5 falam sobre o que produzem ou fazem comentários somente acerca de trabalhos de artistas famosos? (MARTINS In BARBOSA, 2003). O papel relevante do educador está em atuar como um mediador que auxilia os alunos na apreensão dos conteúdos escolares. Seu maior desafio é formar indivíduos que saibam dialogar e interpretar suas vivências. Nesse contexto, (...) é possibilitar que o outro construa sentidos, isto é, construa signos internos, assimilando e acomodando o novo em novas possibilidades de compreensão, processos e valores (MARTINS, PICOSQUE & GUERRA, 1998, p ). Pensando em uma formação docente em que o aluno consiga tomar decisões na prática pedagógica e na construção de sua poética pessoal, supõe-se que o professor de arte deva, também, produzir arte. Vivenciar o fazer artístico pode contribuir para a atuação na educação no sentido de criar soluções, investigar hipóteses e saber desenvolver conteúdos que utilizem as diferentes linguagens artísticas. Fernando Hernandez (2005, p.32) ressalta que o importante não é somente ensinar aos futuros professores métodos prontos para usarem na prática pedagógica, mas sim, estimulá-los a vivenciarem essas estratégias mediante a criação de situações de vivência, convivência e colaboração (...). O professor deve criar situações de aprendizagem que propiciem a ampliação e a compreensão da cultura e do mundo contemporâneo, levar para a sala de aula propostas de arte provocadoras que instiguem os alunos a pensar, a imaginar, a buscar soluções inovadoras. Uma formação docente que abriga a experiência do fazer, fruir e refletir sobre arte e fornece subsídios teóricos e práticos acerca da arte contemporânea auxilia os professores em formação a desenvolverem propostas para a prática pedagógica. No prefácio da obra Arte contemporânea: uma história concisa, de Michael Archer (2012), encontra-se a afirmação: Quem examinar com atenção a arte dos dias atuais será confrontado com uma desconcertante profusão de estilos, formas, práticas e programas. A partir do contexto em que está inserida, a obra de arte contemporânea ganha significado social, político, cultural ou pessoal. Até o início dos anos 60, ainda se pensava em arte como inserida em dois grandes tipos de categorias: pintura e escultura. No decorrer dos anos, com as colagens cubistas, a performance futurista, as criações dadaístas, as novas propostas de fotografia, que passaram a requisitar seu reconhecimento como expressão artística, esse sistema de classificação das artes caiu por terra (ARCHER, 2012). Na arte contemporânea, um campo expandido que recorre a inúmeras formas de suportes, técnicas, com diversificadas maneiras de recepcionar o espectador, encontramse produções nas modalidades: objetos, performances, vídeo arte, instalação, intervenção, happening. A concepção de belo na arte contemporânea tem um significado
6 diferente de harmonioso, distante do conceito que os alunos geralmente possuem sobre gosto e beleza. Pode estar na mensagem ou na experiência que o observador tem diante da obra. A qualidade estética dos trabalhos artísticos é deixada de lado, comenta Noemi Jaffe, no artigo De urubus e outros entortamentos: (...) um dos méritos da arte moderna e contemporânea foi relativizar e ampliar a ideia de belo. A lembrança que aparece diante da observação de uma obra ocorre como uma experiência singular e pode instigar pessoas que pertencem a um mesmo grupo social a apreender uma obra de arte de maneira diferente. O que conta é a experiência vivenciada por ocasião do contato com a arte, com objetos, que por sua vez, geram relações que se associam com experiências passadas. As referências pessoais, proveniente das experiências individuais e as referências culturais, geradas a partir do meio de convívio, fornecem os caminhos para poetizar, fruir e conhecer arte levando os indivíduos a construir sentidos significações que serão atribuídas ao que está sendo observado (MARTINS, PICOSQUE & GUERRA, 1998). A paisagem na arte foi escolhida para participar da criação dos trabalhos por ser um tema que oferece possibilidades diferentes de leitura e apreensão no decorrer da história da arte. A partir do século XVI, a paisagem passou a ser tratada na arte como um gênero independente, em uma época em que a igreja católica exercia forte influência na sociedade, (...) principalmente na Itália, as pinturas da época retratavam a nobreza e o clero e tinham a paisagem apenas como pano de fundo, sendo responsável mais pelo equilíbrio da composição do que como elementos simbólicos, (FERRAZ, 2013, p.5). Os artistas que pertenciam ao movimento Impressionista, interessados pela cor e pela luz, passaram a criar pinturas que apresentavam alterações da luz no decorrer do dia. Pierre Francastel (1990) observa que, a partir dos impressionistas, a pintura tornouse um instrumento novo de exploração do universo porque firmou um acordo entre os meios e as novas intenções. Através da pintura, a noção de real centrada no mundo voltou-se para a percepção mental. Christiane Schmidt nos remete ao encontro do Impressionismo lembrando-nos de que a motivação comum dos artistas desse movimento era redefinir a essência e a finalidade da pintura frente ao novo instrumento de representação mecânica da realidade, a fotografia. Sobre a predileção do tema fluvial pelos artistas impressionistas, Schmidt relata: (...) o tema fluvial exclui a estabilidade dos planos perspectivos e a iluminação fixa, que eram a base da perspectiva (2002, p.1). A metáfora que prevaleceu sobre representação visual, antes da invenção da fotografia, foi a ideia de janela. A pintura funcionava como uma espécie de janela para o mundo (SANTAELLA, 2007). O papel dessa função era espelhar a realidade através da representação. O que se entendia sobre representação da realidade, no século XIX e parte do século XX, estava vinculado à concepção de espelhamento, seja na literatura,
7 no cinema documental ou no teatro. Por meio da fotografia, inúmeras maneiras de ver o mundo eram mostradas às pessoas. Já nas pinturas, a natureza passou a ser apresentada de acordo com a vontade do artista, não atendendo mais a antiga função de retratar a natureza mimeticamente. O espaço, na tela, passou a ser valorizado como uma síntese pessoal do artista. Apropriando-se e modificando o que observavam na natureza, Caspar David Friedrich, William Turner, Paul Cézanne, Van Gogh, Pissaro, pintaram paisagens carregadas de valores simbólicos. Diante da paisagem, o artista observa, imagina e recria. Vincent Van Gogh mudou-se para Arles, sul da França, para pintar sob o sol do Mediterrâneo e aprofundar os estudos sobre cores. Para o artista, por meio das cores puras era possível representar emoções. Wanner (2010, p.107) relata que os elementos naturais são invisíveis na obra, pois existem apenas na comunhão entre artista e seu entorno durante seu processo criativo. Os surrealistas, por volta de 1920, inovaram a apreensão acerca da paisagem criando espaços que não possuem vínculos com a paisagem tradicional. Nas suas pinturas, aparecem planos sem a presença de figuras, horizontes longínquos e objetos que não são próprios de uma paisagem natural, e sim advindos de um espaço criado pelo subconsciente. Após a primeira Guerra Mundial, alguns artistas investiram em pintar cenas naturalistas, expressando a busca pela paz com a natureza. Na arte contemporânea, o que prevalece é a experiência do espectador diante da paisagem, longe da ideia de cópia mimética da natureza. O artista cria uma paisagem autônoma a partir de conteúdos interiores, a partir do relacionamento que mantém com a natureza. Até mesmo a escolha da técnica para se pintar uma paisagem é influenciada pelas impressões sentidas na observação da natureza. Traços, cores e formas devem sugerir sensações para quem cria e para quem contempla a obra. O conceito de paisagem na arte continuou a modificar-se de acordo com o surgimento de paisagens urbanas e das modificações dos espaços geográficos. Conforme as percepções foram sendo renovadas, a apreensão da natureza e os meios de expressão da paisagem também se alteraram. 2. Relato de experiência: três propostas para o ensino da arte contemporânea A intervenção Paisagem Horizontal, o trabalho de arte postal Paisagem de Encontros e a instalação Paisagem Retornável integram a pesquisa sobre formação de professores e a atuação na ação docente. São propostas que os alunos de licenciatura podem utilizar no Ensino Fundamental ou Médio. O objetivo do trabalho foi auxiliar na formação de apreciadores e futuros mediadores da arte: sujeito professor/formador. É preciso aprender a aprender a ensinar (COUTINHO in BARBOSA, 2003, p.153)
8 Diante da necessidade de instigar os alunos a produzirem e a pesquisarem sobre arte contemporânea, três propostas foram elaboradas seguindo algumas questões norteadoras já apresentadas neste estudo. O tema escolhido para a realização dos trabalhos foi a paisagem na arte contemporânea. Todas as propostas privilegiaram o poetizar, fruir e conhecer arte abordando, na sala de aula, conceitos acerca do gênero paisagem na história da arte e concepções sobre categorias artísticas que vão além da pintura e da escultura, como por exemplo, a instalação artística, a intervenção e a arte postal. As relações entre espaço, obra e visitante foram amplamente estudadas, visto que, nessas modalidades de arte, o espectador contribui no processo de criação da obra. 2.a. Paisagem Horizontal / Intervenção No desenvolvimento da proposta Paisagem Horizontal, abordaram-se temas relacionados à arte e à matemática, sobre repetições de padrões na arte, na natureza e na ciência, e à técnica do afresco, assunto estudado no tópico Renascimento, nas aulas de Arte e Estética na Comunicação. Com o objetivo de complementar a atividade estudou-se o tema da Paisagem na arte contemporânea. Foram utilizadas metodologias para favorecer os futuros professores a desenvolverem práticas pedagógicas e a vivenciarem a experiência estética. A árvore foi o tema escolhido para servir de padrão a ser repetido nas pinturas. Cada aluno criou uma peça com a imagem de uma árvore pintada em branco e preto, utilizando a técnica do afresco. A tinta utilizada foi o guache e o suporte foi um papelão resistente, descartável, adquirido em supermercados. O desafio estava em usar somente duas cores na pintura da árvore e fazer o trabalho rapidamente sobre o gesso ainda úmido (base do afresco). Alguns alunos se mostraram animados ao participaram da oficina, outros não gostaram e comentaram: - não vou conseguir porque preciso pintar rápido; - não vai ficar perfeito ; - não sei desenhar com rapidez; - é difícil usar somente duas cores; - trabalhos em branco e preto ficam feios. Durante a realização da oficina, foi dito aos alunos para não se preocuparem com acabamentos impecáveis. A importância estava no fato de que a pintura que faziam seria uma peça importante da intervenção. A Intervenção Paisagem Horizontal resultou em uma construção poética surgida a partir da aproximação de pinturas com imagens de árvores, fixadas lado a lado, no sentido horizontal. A Intervenção foi apresentada nos corredores da FAAT Faculdades, contendo trabalhos de 300 alunos, dos cursos de Artes Visuais, Publicidade e Propaganda, Relações Públicas e Jornalismo. Nem todos os alunos envolvidos pertenciam somente aos cursos de licenciaturas. Foi importante envolver os alunos de
9 Comunicação Social porque também estudaram Renascimento e repetições de padrões na arte. O objetivo em montar a Intervenção no interior da faculdade foi o de provocar algum tipo de transformação em um espaço ocupado por alunos de todos os cursos de graduação. Ao se redefinir a função da parede interna da faculdade, transformando-a em um espaço expositivo, os alunos interagiram com o universo da arte. No momento de registrar o resultado, ao fotografar a intervenção, um grupo de alunos fez alguns comentários apontando para as pinturas: - não sabe desenhar; - feio; - árvore torta; - exagerou na criatividade; árvore assim não existe, fato que reforça a ideia de que a arte precisa ser levada aos espaços públicos. Thistlewood ressalta que os alunos precisam ter acesso à arte contemporânea: Sejam quais forem as reações que as últimas manifestações da arte nos provoquem choque, prazer, repulsão, afeição, indiferença parto da consideração de que nós temos a responsabilidade de ensiná-las, para que nossos estudantes possam absorvê-las criticamente (THISTLEWOOD In BARBOSA, 2005, p.114). No momento da observação, o espectador pode fazer livres associações, criar metáforas, perceber que é possível se construir paisagens diferentes daquelas que, até então, ele tinha como modelo. 2.b Paisagem de Encontros / Arte Postal Na proposta de Arte Postal, os alunos fizeram interferências em cartões postais posteriormente enviados pelo correio. Para dar início à proposta de arte postal, foi feita a convocatória: Paisagem abrigo, desejada e rejeitada, de encontros e ausências, destruída ou reconstruída. O que vai acontecer com a paisagem? Uma paisagem, uma construção, outra paisagem. O trabalho foi desenvolvido com os alunos de pósgraduação em Educação Infantil, Pedagogia e Artes Visuais. A Arte Postal é uma obra coletiva, não existe um júri que seleciona as obras. Todas as pessoas podem participar, artistas ou não artistas, pessoas de todas as localidades do mundo podem trocar ideias contestadoras ou expressar opiniões (CAUQUELIN, 2005). A troca de cartões pelo correio facilita o encontro entre pessoas de culturas diferentes, grupos diversificados, pessoas com ideias criativas. Na arte postal, os participantes podem usar materiais e técnicas diversificadas. Não há restrições quanto ao processo de criação. Ao longo da história, os artistas utilizaram a arte postal como um instrumento de protesto contra a institucionalização e contra os circuitos expositivos convencionais da arte. Produziam obras em suportes difíceis de serem expostos em museus ou galerias (WOOD, et al., 1998). O objetivo da arte postal é prevalecer o processo de comunicação e dar ênfase ao conteúdo da mensagem, criado em texto e
10 imagem ou texto-imagem (FREIRE, 2006). A distância percorrida por meio do correio, o manuseio do cartão por diferentes pessoas e os selos que a arte recebe fazem parte do trabalho. No desenvolvimento da proposta Paisagem de Encontros prevaleceu a ideia de paisagem em construção, um lugar inventado, que iria se formar a partir da aproximação de cartões recebidos com interferências feitas pelos participantes, em texto, com imagem ou com texto-imagem. Os alunos da FAAT, artistas, crianças de escolas de Atibaia e de outras cidades, pessoas de locais distantes, receberam a convocatória, que serviu para instigar a imaginação, e cartões postais com fragmentos de uma imagem de paisagem. Finalizadas as interferências, os cartões foram devolvidos pelo correio. A afirmação de Milton Santos (1997) foi motivadora para a escolha da proposta. A paisagem nada tem de fixo, de imóvel. Cada vez que a sociedade passa por um processo de mudança, a economia, as relações sociais e políticas também mudam, em ritmos e intensidades variados. A mesma coisa acontece em relação ao espaço e à paisagem que se transforma para se adaptar às novas necessidades da sociedade (p. 37). Com a aproximação dos cartões surgiu uma construção poética de uma paisagem, com textos e imagens de lugares com conteúdos existenciais. A quebra da linearidade na apreensão das imagens apresenta ao observador uma variação de lugares, uma nova paisagem construída. A primeira exposição de arte postal foi realizada em Atibaia, no solar Manoel Jorge Ferraz, denominado Casa Júlia Ferraz, tombado pelo patrimônio histórico. Foram distribuídos cartões e recebidos de volta em torno de 400 cartões c Paisagem Retornável / Instalação A escolha da proposta Paisagem Retornável motivou os alunos por ser um tema que envolve arte e meio ambiente. O objetivo principal foi o de trabalhar com arte e educação ambiental, uma proposta que pode ser utilizada na educação básica. Todas as possibilidades de conscientização em torno da preservação de recursos naturais devem ser utilizadas como instrumento de educação ambiental, seja por meio da arte, do turismo, da educação. A paisagem é um atrativo importante no imaginário das pessoas, aparece como uma espécie de paraíso, (...) um local perfeito, edênico e distante de sua realidade (...) o local ideal e remoto, mas que agora pode ser re-encontrado por meio de uma experiência pessoal e única (VERNALHA In NEIMAN e RABINOVICI, 2010, p.280). Na realização da instalação Paisagem Retornável, procurou-se trabalhar com conteúdos que abordassem preservação do meio ambiente. Para montar a instalação, os alunos encaparam galhos de árvores encontrados ao acaso com revistas descartadas. 9
11 Esses galhos foram deslocados da vida cotidiana e inseridos no contexto da arte. A proposta foi a de criar, com os galhos re-significados, uma paisagem esteticamente bela, um lugar ideal, uma espécie de paraíso. A ideia foi formar uma nova paisagem utilizando os galhos secos que já haviam pertencido a uma paisagem natural (assim como usar revistas que também foram feitas a partir de árvores cortadas). A instalação Paisagem Retornável, de certo modo, devolveu os galhos ao seu lugar de origem: a paisagem. A Instalação artística é uma modalidade de arte que incorpora o espaço como parte integrante da obra. O local de montagem de uma Instalação torna-se um espaço sensorial que interage com quem entra esse lugar. O visitante adota uma atitude estética e interfere no processo criativo. No momento em que o espectador entra no interior de uma Instalação, local neutro, o mundo exterior não participa, a obra é isolada de tudo o que possa prejudicar sua apreciação de si mesma (O DOHERTY, 2002, p.3). A percepção e a relação estética entre a obra e o visitante acontecem de maneiras diferentes porque os indivíduos possuem repertórios cultural e histórico pessoais. A Instalação Paisagem Retornável foi montada no Centro de Convenções Victor Brecheret, em Atibaia, em uma exposição coletiva. As peças da instalação foram penduradas com fios de nylon, próximas ao teto de uma sala própria para exposições, com 5 m de largura por 4 m de profundidade, formando um segundo teto, uma cobertura de galhos de árvores. Algumas das peças foram posicionadas a 50 ou 80 cm do solo, de uma maneira diferente das que cobriam o teto, disputando o espaço com os visitantes. No espaço interno da obra, as pessoas interagiram mais de perto com as formas dispostas um pouco acima do solo. Ao entrar na instalação Paisagem Retornável, alunos de várias escolas manifestaram-se com opiniões positivas. Os visitantes gostaram da experiência, comentando que parecia uma floresta, um lugar de sonhos Conclusão Pelo exposto, conclui-se que os professores em formação precisam vivenciar situações de aprendizagem que os auxilie na organização de percursos educativos para utilizarem na prática docente. Auxiliar os professores em formação, por meio de propostas que possibilitem a proximidade desses educadores com os objetos artísticos, permitirá que construam novos conhecimentos e adquiram uma ampliação nos níveis de compreensão sobre arte. Com este estudo, percebeu-se que a formação docente deve ser um processo em construção que necessita de constante renovação do repertório artístico, teórico e prático, aspecto que pode ser conseguido por meio da interação do aluno com o campo da arte. Ao longo do desenvolvimento das propostas artísticas, observou-se que os 10
12 alunos do curso de Artes Visuais se envolveram com os trabalhos e mantiveram-se motivados, contribuindo por todo o tempo com reflexões e ideias inovadoras. Observou-se que a experiência vivida pelos grupos, professores e educadores em formação promoveu momentos de reflexões e discussões em torno do processo de formação de professores. Foram muitos os depoimentos positivos dos alunos sobre serem estimulados a produzir arte e aprenderem a tomar decisões no momento de interação com a linguagem artística. Todos concordaram que o estudo da arte contemporânea e dos conteúdos que abordaram o tema da paisagem na arte vai auxiliálos a definir caminhos para trabalharem com propostas na educação básica em consonância com um ensino que aborde os vários códigos da linguagem contemporânea e promova o encontro com as formas de arte da atualidade. BIBLIOGRAFIA 0772 ARCHER, Michael. Arte contemporânea: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, CAUQUELIN, Anne. Arte contemporânea: uma introdução. São Paulo: Martins Fontes, COUTINHO, Rejane C. A formação de professor de arte. In: BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2 a ed., São Paulo: Cortez, 2003, cap.13, p FERRAZ, Maíra K. Origem e utilizações do conceito de paisagem na geografia e nas artes. Reencuentro de saberes territoriales Latinoamericanos. IG, Unicamp, FRANCASTEL, Pierre. Pintura e sociedade. São Paulo: Martins Fontes, FREIRE, Cristina. Arte Conceitual. Rio de Janeiro: Zahar Ed., HERNANDEZ, Fernando. A construção da subjetividade docente como base para uma proposta de formação inicial de professores de Artes Visuais. In: OLIVEIRA, Marilda de O. & HERNANDEZ, Fernando (orgs). A formação do professor e o ensino das artes visuais. Ed. UFSM, p Cultura visual, mudança educativa e projeto de trabalho. Porto Alegre: Artmed, JAFFE, Noemi. De urubus e outros entortamentos. Artigo. Folha de São Paulo, Tendências e debates, A3, 29 de setembro de MARTINS, Mirian Celeste. Aquecendo uma transforma-ação: atitudes e valores no ensino da Arte. In: BARBOSA, Ana Mae. Inquietações e mudanças no ensino da arte. 2 a ed., São Paulo: Cortez, 2003, cap.4, p MARTINS, PICOSQUE & GUERRA. A língua do mundo: poetizar, fruir e conhecer arte. São Paulo: FTD, MENEZES, Paulo. A trama das imagens: manifestos e pinturas no começo do século XX. São Paulo: EDUSP, O DOHERTY, Brian. No interior do cubo branco: a ideologia do espaço da arte. São Paulo: Martins Fontes, SANTAELLA, Lucia. Linguagens líquidas na era da mobilidade. São Paulo: Paulus, SANTOS, Milton. Pensando o espaço do homem. 4.ed. São Paulo: Hucitec, SCHMIDT, Christiane. Do Impressionismo ao Pós-Impressionismo. Apostila do curso Arte e Ciências Exatas: pós-graduação, Unicamp, organizada por Christiane Schmidt. 11
13 Campinas, 3 pg. Item I: Discussão teórica sobre a fronteira entre arte figurativa e não representativa (informação apostilada), THISTLEWOOD, David. Arte contemporânea na educação, construção, des-construção, re-construção, reações dos estudantes britânicos e brasileiros ao contemporâneo. In: BARBOSA, Ana Mae. Arte/educação contemporânea; consonâncias internacionais. São Paulo: Cortez, 2005, cap.3, p VERNALHA, Maria Carolina R. & NEIMAN, Zysman. Potencial turístico no Brasil. In: NEIMAN & RABINOVICI (orgs). Turismo e meio ambiente no Brasil. São Paulo: Ed. Manole, 2010, p WANNER, Maria Celeste de A. Paisagens sígnicas: uma reflexão sobre as artes visuais contemporâneas. Salvador: EDUFBA, Disponível em: < pdf>. Acesso em maio de WOOD, Paul, FRASCINA, Francis, HARRIS, Jonathan & HARRISON, Charles. Modernismo em disputa: a arte desde os anos quarenta. São Paulo: Cosac & Naif,
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