RELATOR(A): DESEMBARGADOR(A) FEDERAL MANOEL DE OLIVEIRA ERHARDT - 1º TURMA
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- Eliza Padilha Franco
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1 PROCESSO Nº: APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO RELATÓRIO Cuida-se de apelação interposta pelo INSS contra sentença proferida pelo Juízo da 10ª Vara Federal de Pernambuco que julgou parcialmente procedente o pedido formulado na inicial para condenar o recorrente ao ressarcimento de todos os valores indevidamente descontados da aposentadoria do autor a partir de 21/07/2009 a 04/12/2013, acrescidos de correção monetária pelo IPCA e juros de mora desde o evento danoso (Súmulas 43 e 54 do STJ), bem como no pagamento de indenização por dano moral equivalente a R$ 3.000,00 (três mil reais), acrescidos de compensação moratória, a partir da citação, calculados de acordo com o art.1-f da Lei nº 9.494/97. Alega o Instituto apelante, preliminarmente, a necessidade de citação dos sucessores da Sra. Carmen Maria Luna de Carvalho, uma vez que, se os valores recebidos indevidamente não foram devolvidos ao autor, o patrimônio da ex-esposa do demandante deverá responder pela dívida daí decorrente, com os acréscimos legais. Ainda em preliminar, sustenta a ocorrência de cerceamento de defesa decorrente do indeferimento de seu pedido de produção de provas. No mérito, defende a ausência de nexo causal entre o suposto prejuízo material sofrido pelo autor e os atos da Administração e a inexistência de dano moral. Contrarrazões pela parte recorrida. Éo breve relatório. FP PROCESSO Nº: APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO VOTO Pelo que consta dos autos, o autor, em decorrência de ação de exoneração de alimentos, foi
2 desobrigado a pagar pensão alimentícia em favor de sua ex-esposa desde o ano de 1985, havendo o INSS sido regularmente notificado para suspender o desconto do percentual de 30% (trinta por cento) de sua aposentadoria. Pretendendo atender ao comando judicial, o recorrente, através do Ofício nº /15/86, datado de 22 de janeiro de 1986, informou ao Juízo da Ação de Exoneração de Alimentos "o cancelamento da pensão alimentícia que vinha sendo descontada do segurado Laércio Cavalcanti Cabral, em favor de D. Carmem Maria Luna Carvalho". Todavia, por razões até então não justificadas, o desconto da pensão alimentícia persistiu até o ano de 2013, ou seja, por 29 anos, momento em que o recorrido procurou guarida judicial para fins de ressarcimento daquilo que lhe foi indevidamente descontado, bem como reparação pelos danos morais alegadamente sofridos. Inicialmente, acerca da preliminar de litisconsórcio passivo, filio-me integralmente às razões invocadas pelo juízo recorrido para afastá-la. É que, como bem acentuado na sentença, não há na relação fática descrita na inicial nenhum envolvimento de terceiros, não tendo a beneficiária praticado nenhum ato que a fizesse continuar recebendo os valores descontados. Ademais, o julgamento desta ação, ainda que procedente, não implicará em condenação do Espólio da Sra. Carmen Maria Luna Carvalho, mas apenas do INSS, a quem caberá, se for o caso, buscar o ressarcimento pelos meios apropriados e contra quem entender pertinente. Também não há se falar em cerceamento de defesa, pois as provas pretendidas pelo Instituto seriam exclusivamente destinadas à solução de matéria estranha à lide e que a ordem de interrupção da pensão e a indevida continuidade do desconto (fundamentos da ação) são fatos incontroversos, não interessando ao objeto da demanda a destinação dada aos valores retidos pelo INSS. No mérito, no capítulo referente aos danos materiais, não merece qualquer reparo a sentença combatida, eis que o juízo de primeiro grau demonstrou, com acerto, que o autor faz jus ao ressarcimento daquilo que foi indevidamente descontado de sua aposentadoria, ainda que só tenha procurado seu direito quase 3 (três) décadas depois. Confira-se: (...) a Constituição da República Federal do Brasil de 1988 consagra a teoria da responsabilidade objetiva do Estado no 6º do artigo 37, dispondo que as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos que seus agentes, nessa qualidade, causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa. Por outro lado, além da responsabilidade objetiva, é possível a incidência da responsabilidade subjetiva, que se configura em face de dano causado ao administrado por omissão da administração, quando o serviço prestado não funcionou, funcionou tardiamente ou de forma deficiente, caracterizando o que na doutrina francesa denomina de faute du service, ou seja, a culpa do serviço, ou a falta do serviço. Tal responsabilidade somente seria afastada na hipótese de comprovada a culpa exclusiva da vítima. Por força desse dispositivo legal, infere-se que a responsabilidade civil, in casu, é objetiva, é dizer, independe da existência de culpa. Na situação em apreço, ainda que se cogite que o autor quedou inerte por longos 29 (VINTE E NOVE) ANOS, sofrendo descontos indevidos em sua aposentadoria, não há
3 que se falar em sua culpa exclusiva. Ao contrário, o cumprimento de ordem judicial pelo INSS deveria ter sido fiscalizado por seu causídico e não por ele em particular que não detém capacidade postulatória (arts.1º e 3º da lei nº8.906/94). Outrossim, não é a hipótese de se aplicar a teoria do Duty to Mitigate the loss. Isto porque competiria ao réu ter provado a alegada má-fé do autor e o dolo na pretensão de enriquecimento sem causa. Ademais, que vantagem teria o autor em ser privado de parte de sua aposentadoria por 29 (vinte e nove) anos para reavê-las em Juízo através de Precatório e com risco de prescrição de grande parte de seu crédito? O tão só fato do decurso do tempo para que o autor propusesse esta ação judicial, e o fato dela ter sido distribuída após o óbito da beneficiária, não induzem a presunção de má-fé do autor. Na situação em apreço restou comprovado que o autor recebia uma aposentadoria por invalidez no valor de R$1.482,84 (comp. Nov./ 2013), e que sofria um desconto de 30% em seu contracheque as título de pensão alimentícia a sua ex-esposa para a finalidade de custear as despesas de seus filhos menores que estavam sob a guarda dela. Segundo sentença de exoneração de alimentos nos autos do processo nº7513/84, os filhos menores teriam sido entregues sob a guarda do autor em novembro de 1984, pelo que justificaria a cessação dos descontos em folha de pagamento. Não há como se presumir que o INSS teria recebido a intimação da referida sentença em 19/06/1985, uma vez que a assinatura no ofício nº380/85-1º não possui carimbo ou protocolo oficial da autarquia. Contudo, o Ofício nº /15/86 expedido pelo INSS (Divisão Local de Seguros Sociais), datado de 22 de janeiro de 1986, acusou o recebimento do ofício 380/85 e informou ao Juízo da Ação de Exoneração de Alimentos que "foi processado o cancelamento da pensão alimentícia que vinha sendo descontada do segurado Laércio Cavalcanti Cabral, em favor de D. Carmem Maria Luna Carvalho". Assim, considera-se intimado o INSS em 22/01/1986 para cessação dos descontos em folha de pagamento a título de pensão alimentícia. Comprovado com o contracheque de setembro de 2013 que o referido desconto ainda não havia cessado. Demonstrado ainda na tela do sistema DATAPREV, que a Sra. Carmem Maria Luna Carvalho deixou de receber a pensão alimentícia, tendo indicado como data da cessação do benefício (DCB) a data do protocolo perante o INSS do segundo ofício do Juízo do processo de exoneração de alimentos (15/08/2013), tendo efetivamente cessado em 04/12/2013. Inconteste, portanto, o prejuízo material sofrido pelo autor com os descontos em seu contracheque de aposentadoria até 04/12/2013, devendo ser ressarcido dos descontos não prescritos. Provado também o nexo causal entre a mora do INSS no cumprimento da ordem judicial exonerativa dos alimentos e o prejuízo material sofrido pelo autor.
4 Já em relação aos danos morais, o fato de haver o autor ficado privado de numerário necessário ao sustento de seus filhos não revela, por si só, circunstância suficiente para o abalo à imagem ou à honra do indivíduo, ou dor, vexame, sofrimento ou humilhação além da realidade, de tal forma que pudesse interferir intensamente em seu comportamento psicológico, causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio em seu bem estar. Não há demonstração que o desconto mensal em sua aposentadoria, ainda que indevida, tenha provocado prejuízos concretos ao demandante (além do material, obviamente), especialmente quando se constata que durante décadas não procurou o alimentante conferir efetividade ao provimento judicial que lhe era favorável. Inexistindo, portanto, demonstração de efetivo dano moral, é insubsistente a reparação destinada a este fim. Finalmente, sobre a pretensão recursal de reconhecimento de sucumbência recíproca, entendo que a fixação dos honorários em percentual sobre o valor da condenação (10%) reflete de forma justa a distribuição do ônus processual. Em outras palavras, a despesa a ser arcada pelo INSS será proporcional àquilo em que sucumbiu nos autos. Com essas considerações, dou parcial provimento à apelação para excluir da condenação a reparação por danos morais. Écomo voto. PROCESSO Nº: APELAÇÃO / REEXAME NECESSÁRIO ADMINISTRATIVO. PROCESSUAL CIVIL. APELAÇÃO. PRELIMINARES AFASTADAS. DESCONTOS INDEVIDOS EM APOSENTADORIA. RESPONSABILIDADE CIVIL DO INSS. FALHA DA ADMINISTRAÇÃO. DANOS MATERIAIS. OCORRÊNCIA. DANOS MORAIS. AUSÊNCIA DE COMPROVAÇÃO. RECURSO PARCIALMENTE PROVIDO. 1. Apelação interposta pelo INSS contra sentença proferida pelo Juízo da 10ª Vara Federal de Pernambuco que julgou parcialmente procedente o pedido formulado na inicial para condenar o recorrente ao ressarcimento de todos os valores indevidamente descontados da aposentadoria do autor a partir de 21/07/2009 a 04/12/2013, observada a prescrição quinquenal, acrescidos de correção monetária pelo IPCA e juros de mora desde o evento danoso (Súmulas 43 e 54 do STJ), bem como no pagamento de indenização por dano moral equivalente a R$ 3.000,00 (três mil reais), acrescidos de compensação moratória, a partir da citação, calculados de acordo com o art.1-f da Lei nº 9.494/ Pelo que consta dos autos, o autor, em decorrência de ação de exoneração de alimento,
5 foi desobrigado a pagar pensão alimentícia em favor de sua ex-esposa desde o ano de 1985, havendo o INSS sido regularmente notificado para suspender o desconto do percentual de 30% (trinta por cento) de sua aposentadoria. Todavia, por razões até então não justificadas, o desconto da pensão alimentícia persistiu até o ano de 2013, momento em que o recorrido procurou guarida judicial para fins de ressarcimento daquilo que lhe foi indevidamente descontado e reparação pelos danos morais sofridos. 3. No capítulo referente aos danos materiais, não merece qualquer reparo a sentença combatida, eis que o juízo de primeiro grau demonstrou, com acerto, que o autor faz jus ao ressarcimento daquilo que foi indevidamente descontado de sua aposentadoria, ainda que só tenha procurado seu direito quase 3 (três) décadas depois. Em razão da passividade do interessado, contudo, grande parte de seu direito foi atingido pelo advento da prescrição quinquenal. 4. Já em relação aos danos morais, o fato de haver o autor ficado privado de parte do numerário necessário ao sustento de seus filhos não revela, por si só, circunstância suficiente para o abalo à imagem ou à honra do indivíduo, ou dor, vexame, sofrimento ou humilhação além da realidade, de tal forma que pudesse interferir intensamente em seu comportamento psicológico, causando-lhe aflições, angústias e desequilíbrio em seu bem estar. 5. Não há demonstração de que o desconto mensal em sua aposentadoria, ainda que indevida, tenha lhe provocado prejuízos concretos (além do material), especialmente quando se constata que durante décadas não procurou conferir efetividade ao provimento judicial que lhe era favorável. 6. Apelação parcialmente provida, apenas para excluir da condenação a reparação por danos morais. FP Vistos, relatados e discutidos estes autos, em que são partes as acima mencionadas, ACORDAM os Desembargadores Federais da Primeira Turma do TRF da 5a. Região, por unanimidade, em dar parcial provimento à apelação, nos termos do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte do presente julgado.
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