Pró-Reitoria de Graduação Curso de Direito Trabalho de Conclusão de Curso A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO VIRTUAL
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- Luciano Zagalo Vilanova
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1 Pró-Reitoria de Graduação Curso de Direito Trabalho de Conclusão de Curso A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO VIRTUAL Autor: Filipe Daniel de Mello e Silva Orientador: Especialista Amaury Walquer Ramos de Moraes Brasília - DF 2011
2 FILIPE DANIEL DE MELLO E SILVA A PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR NO COMÉRCIO VIRTUAL Monografia apresentada ao curso de graduação em Direito da Universidade Católica de Brasília, como requisito parcial para obtenção do Título de Bacharel em Direito. Orientador: Especialista Amaury Walquer Ramos de Moraes Brasília 2011
3 Espaço reservado para a folha de aprovação
4 Este trabalho é dedicado aos meus pais, Francisco e Analleide, eles são os maiores mestres da minha vida.
5 AGRADECIMENTO Agradeço imensamente a todas as pessoas que compartilharam comigo um instante que seja no decorrer desta jornada acadêmica, primeiramente aos colegas de aula, aos meus professores, e aos meus diversos colaboradores em cada instituição de ensino que atravessei. Contudo agradeço em especial a aquele que contribuiu para que esta etapa final fosse verdadeiramente alcançada, meu professor no decorrer do curso e orientador no trabalho de conclusão, Especialista Amaury Walquer Ramos de Moraes, que com paciência e apoio, aceitou minha proposta de trabalho e me norteou nos caminhos da pesquisa e elaboração.
6 O estudo é uma espécie de alimento natural da mente. (Stevenson)
7 RESUMO Referência: SILVA, Filipe Daniel de Mello e. A Proteção do Consumidor no Comércio Virtual páginas. Curso de Direito Universidade Católica de Brasília, Taguatinga, O comércio eletrônico é uma recente categoria de comércio no mundo, seu crescimento é evidenciado pelo número de adesões dos consumidores, o conforto a praticidade e preços baixos são os atrativos. O e-commerce permite a transposição de barreiras, físicas, políticas o que facilita o acesso do consumidor a produtos ou serviços. As ofertas são publicadas em páginas da internet, não havendo restrições formais para isso, assim basta que os consumidores estejam conectados à web para que sua tela de navegação receba propagandas e comerciais. Entretanto, surgem fornecedores que vêem na fraqueza do consumidor, que não detém informações transparentes a respeito do objeto de contrato, a oportunidade de aferir lucro. O comércio eletrônico substituiu documentos físicos por documentos eletrônicos, e questiona-se sobre a devida segurança dos consumidores nos ambientes virtuais de compra. É preciso prevalecer o entendimento que o consumidor pode se considerar protegido em toda relação de consumo, independentemente se esta for realizada por meio eletrônico, este fato é determinado pela Lei n /90, e seus artigos que trazem o rol protetivo à parte mais vulnerável na relação de consumo, soma-se a isso os princípios de proteção ao consumidor e as garantias constitucionais de proteção da pessoa. Por ocasião, se discutirá também a existência de concorrentes doutrinárias, opiniões diversas, que discutem a necessidade ou não de criação de um aparato jurídico específico para regular o comércio eletrônico no país, ou se, apenas uma atualização no Código de Defesa do Consumidor constitui meio eficiente de conferir maior segurança jurídica ao e-commerce. Palavras-chave: Consumidor. Internet. Comércio eletrônico. Responsabilidade. Fornecedor. Código de Defesa do Consumidor. Legislação.
8 ABSTRACT Reference: SILVA, Filipe Daniel de Mello e. The Consumer Protection in the Virtual Trade pages. Course of Law - Catholic University of Brasilia, Taguatinga, Electronic commerce is a recent category of trade in the world, its growth is evidenced by the number of accessions of consumers, comfort convenience and low prices are attractive. The e- commerce enables the implementation of barriers, physical, political, which facilitates consumer access to products or services. Offers are published on websites, there are no formal restrictions for this, so just that consumers are connected to the web to your navigation screen to receive advertisements and commercials. However, there are vendors who see the weakness of the consumer, which does not have transparent information about the object of the contract, the opportunity to measure profit. Electronic commerce has replaced paper documents by electronic documents, and raises questions about the proper security of consumers to purchase in virtual environments. We must prevail understanding that the consumer can be considered protected throughout the consumption process, regardless if it is done electronically, this fact is determined by Law n. 8078/90, and his articles with the protective role to the most vulnerable in the consumption process, adds to it the principles of consumer protection and the constitutional guarantees of protection of the person. On occasion, it will also discuss the existence of competing doctrines, different opinions, discussing the necessity of creating a specific legal apparatus to regulate commerce in the country, or just an update to the Consumer Protection Code is a means efficient greater legal certainty to the e-commerce. Keywords: Consumer. Internet. Electronic commerce. Responsibility. Supplier. Consumer Protection Code. Legislation.
9 SUMÁRIO 1. INTRODUÇÃO...pág METODOLOGIA...pág O COMÉRCIO E A INTERNET...pág CONCEITO E HISTÓRIA...pág A INTERNET, UNIVERSO LIVRE, PRÓSPERO, TODAVIA, VULNERÁVEL..pág PRINCÍPIOS GERAIS DE DEFESA DO CONSUMIDOR...pág O E-COMMERCE, MODALIDADES, O CRESCIMENTO E A REALIDADE...pág A COMPRA ON-LINE...pág OS CONTRATOS: OFERTA, ACEITAÇÃO E REVOGAÇÃO...pág A FORMAÇÃO DOS CONTRATOS NO DIREITO CIVIL E O LOCAL DA CONCLUSÃO PARA O DIREITO DO CONSUMIDOR...pág O SÍTIO WEB CONSTITUI OFERTA? COMO SE COMPROVAR UM CONTRATO CELEBRADO POR VIA ELETRÔNICA?...pág GOLPES COMUNS NA INTERNET E CUIDADOS ÚTEIS PARA O E- CONSUMIDOR...pág OS MEIOS DE PROTEÇÃO...pág ÓRGÃOS DE DEFESA DO CONSUMIDOR...pág OBRIGAÇÕES NO CONTRATO ELETRÔNICO...pág A RESPONSABILIDADE DO FORNECEDOR...pág O DIREITO DE ARREPENDIMENTO NO COMÉRCIO VIRTUAL...pág. 81.
10 6. AS NOVAS CONCEPÇÕES PARA O COMÉRCIO ELETRÔNICO...pág DIRETRIZES DO MINISTÉRIO DA JUSTIÇA...pág A DISCUSSÃO SOBRE A CRIAÇÃO DE PREVISÕES LEGAIS ESPECÍFICAS PARA O COMÉRCIO ELETRÔNICO...pág A UNIÃO DE SITES ESPECIALIZADOS NA PROTEÇÃO DO CONSUMIDOR COM OS CONSUMIDORES...pág CONCLUSÃO...pág REFERÊNCIAS...pág. 112.
11 10 1. INTRODUÇÃO A Proteção do Consumidor no Comércio Virtual, quais são os meios existentes para a efetiva proteção do consumidor no comércio eletrônico? Comparado com o nascimento do comércio, com as primeiras trocas de produtos, os primeiros serviços prestados, a criação da moeda, a criação dos lugares de troca, o surgimento dos mercados. O Comércio Eletrônico está nascendo agora, é uma recente modalidade comercial existente no mundo, contudo, é cada vez mais evidente e incontestável que veio para ficar e se estabelecer na sociedade em que vivemos. O comércio virtual transcende as limitações físicas naturais, é preciso observar cuidadosamente as obrigações que nascem entre as partes e as responsabilidades frutos da oferta e da procura, da compra e da venda, garantindo a segurança e a legalidade na relação de consumo. É importante meditar sobre a possibilidade de recusa dos acordos na esfera do consumo, lembrando nessa oportunidade de todos os Princípios do Direito do Consumidor e fazendo valer o direito, garantido por lei, que os consumidores detêm de se arrependerem ao realizar compras fora do estabelecimento comercial e receber o produto diverso daquele que desejavam, com base no pressuposto de que as partes devem ficar satisfeitas com o negócio acordado, caso contrário haverá a possibilidade da troca dos produtos ou mesmo de ser declarada a desistência do contrato realizado, inclusive no âmbito das compras feitas online. E estes são institutos de proteção previstos no principal diploma legal de defesa dos consumidores, o Código de Defesa do Consumidor, instituído pela lei n o 8.078/1990 (CDC), que deve ser utilizado para o resguardo das relações de consumo no país, e mesmo havendo uma ausência de um regramento específico, o CDC deve ser aplicado para a questão do comércio eletrônico. Efetivamente existem atualmente, diversos princípios norteadores de direito, que fundamentam primeiramente as garantias constitucionais que defendem os direitos
12 11 indisponíveis da pessoa humana, assim como há os princípios (teoria do dano, a oferta, a publicidade, o princípio da boa-fé objetiva, a responsabilidade objetiva, dentre outros) que firmam o Código de Defesa do Consumidor (CDC), como um diploma legal capaz de reger as relações de consumo reais, bem como as relações de consumo oriundas de ambientes virtuais. Essa é uma das hipóteses que os magistrados utilizam hoje para motivar suas decisões, auxiliados pela analogia, com a utilização do Código de Defesa do Consumidor, principalmente em seu artigo 49, que prevê mecanismos de defesa para o consumidor a troca, o arrependimento diante da insatisfação fruto do negócio realizado e todas as ocorrências conflituosas que nascem perante uma expectativa diversa ao que foi recebido pelo comprador. O referido dispositivo do Código de Defesa do Consumidor foi criado antes do surgimento do comércio virtual, feito para reger as relações de consumo convencionais, no entanto, é perfeitamente válido para ser utilizado na solução de uma lide que envolva o comércio eletrônico. O objetivo deste trabalho é também apresentar, de forma clara e simples, este universo que permeia o Direito do Consumidor no Comércio Eletrônico, analisando as particularidades do e-commerce, e os mecanismos de defesa que o consumidor detém para sair ileso, ou no mínimo com os eventuais danos ocorridos devidamente reparados, no que diz respeito às particularidades desta nova modalidade comercial. Estabelecendo como objetivos específicos, apresentar as características da relação de consumo virtual, como operam os contratos no Direito Civil brasileiro, estudar as leis aplicáveis ao comércio eletrônico, e identificar todos os meios de proteção do consumidor, principalmente aqueles que possibilitam efetiva responsabilização do fornecedor (responsável pela oferta de produtos/serviços em páginas da Internet), por eventuais danos que venha a causar aos consumidores de produtos oferecidos em ambiente virtual. Assim como especificar respostas para diversos questionamentos que implicam o Comércio Eletrônico, tais como, o site que apresenta oferta de produtos e serviços, e que possibilita qualquer meio de transação onerosa entre duas ou mais partes, é entendido como estabelecimento comercial? O que é Comércio Eletrônico, e quais são suas modalidades? Como hoje se prova a efetiva existência de contrato celebrado eletronicamente entre as partes? Quem o consumidor deve procurar, ao ser lesado em uma relação de consumo eletrônica? Órgãos protetores da sociedade, que defendem o consumidor e colaboram na
13 12 garantia de um universo de consumo mais justo e transparente. Qual o entendimento dos Tribunais a respeito do comércio virtual? Qual prazo para reflexão previsto no Código de Defesa do Consumidor? No comércio eletrônico, é aplicável o prazo de reflexão? Quando começa a contar este prazo, para que reste assegurada a satisfação do consumidor com sua aquisição? Existe na atualidade, algum projeto de lei destinada ao regramento dessa modalidade de comércio? É importante descrever, os motivos que justificam a escolha dessa área de pesquisa, principalmente pela atualidade e a expressividade do tema escolhido, visto que os negócios realizados online tendem a se tornar a regra e não mais a exceção, o comércio mundial e a web têm vários desafios a baterem, os cidadãos passaram a deter uma poderosa ferramenta de pesquisa mercantil, que pode ser acionada de vários lugares do planeta e capaz de trazer resultados em tempo real. Neste cenário, ante a inexistência de um regramento específico para a questão do comércio eletrônico, afere-se um ineditismo a essa discussão jurídica, vez que o Código de Defesa do Consumidor passou a ser interpretado para resguardar as relações de consumo em ambiente virtual. O trabalho contribui para o estudo da rede mundial de computadores, presente pelo planeta a fora e permite que milhares de redes de computadores do mundo inteiro se interliguem. A web nasceu de forma livre, desimpedida e se desenvolveu dessa forma, não possui dono nem governo, em paralelo não se sabe se ela pode ou deva existir sem regramentos, como reflexo da sociedade, certamente o Direito pode trazer contribuições protetivas ao consumidor. Os produtos disponíveis na Internet podem ser comercializados pelos próprios produtores, sem interferência de intermediários ou comerciantes. Inúmeros obstáculos também passam a existir com o desenvolvimento do comércio eletrônico, tais como, a forma de pagamento, a validade e aperfeiçoamento do contrato, comprovação de vícios dos produtos, problemas de entrega, qualidade, quantidade, garantia e prazos de validade, além dos riscos que os produtos possam apresentar à saúde e segurança dos consumidores. O comprador deve atentar para a legitimidade da oferta de produtos e de serviços para garantir a sua satisfação final.
14 13 O tema se mostra efetivamente pertinente, as relações de consumo são pilares do desenvolvimento de um país, delas a produção de riqueza de um país cresce, ou dessa relação também nascem contratos internacionais entre países. Isso faz com que certamente o e- commerce se torne cada vez mais componente chave para o desenvolvimento econômico do setor comerciário, contribuindo relevantemente para a circulação de capital, o que atrai investimentos em pesquisas e criam novas expectativas de faturamento para o setor. A consolidação do comércio virtual é uma realidade muita próxima, entretanto para uma estabilização plena é de extraordinária importância que exista uma fiscalização e vigilância efetiva, para que se identifiquem os fornecedores, os fabricantes e os prestadores de serviços, enfim todos aqueles com os quais o consumidor irá estabelecer o negócio jurídico. É preciso buscar todos os meios de responsabilização na relação de consumo, atribuindo às partes as suas respectivas responsabilidades, para que dessas resultem as conseqüências jurídicas e o direito de pedir em juízo por uma tutela jurídica, garantindo a realização plena do instituto da compra e venda. Além inclusive, de manter íntegras as regras constitucionais de proteção da pessoa, acionando juntamente o CDC para defesa do consumidor, amparando assim a integridade física, moral e intelectual. Entretanto, o comércio virtual se mostra vulnerável, as regras de identificação e autoria no mundo virtual não são objetos de um controle efetivo e, mais ainda, diante da constante modificação das tecnologias eletrônicas o direito não consegue escoltar essas alterações, e acaba por se mostrar improdutivo e ineficaz. Mas neste paradigma, social, econômico, e jurídico, cabe ao governo e aos órgãos da administração, proteger as pessoas e as entidades familiares em suas relações entre vendedor e comprador, assegurando que a relação de consumo seja uma atividade útil e benéfica não apenas na esfera econômica, mas ao mesmo tempo para toda a humanidade.
15 14 2. METODOLOGIA A metodologia empregada é o método dedutivo, que por oportuno, serão apresentados estudos e pesquisas de cunho comparativo. Os dados estatísticos e pesquisas destacaram a importância do comércio virtual, na configuração do estilo de vida da sociedade contemporânea e a necessidade da proteção do consumidor no comércio eletrônico, as bases destes estudos estarão apoiadas em pesquisas realizadas por organizações que atuam na esfera do Comércio Eletrônico especificamente, e nas leis que protegem o consumidor no Brasil, tendo como referência principal a lei N o /90, o Código de Defesa do Consumidor. Também fomentarão a elaboração desse trabalho, comentários de referências bibliográficas acerca do tema e textos disponíveis em sites especializados sobre o assunto na web.
16 15 3. O COMÉRCIO E A INTERNET CONCEITO E HISTÓRIA O significado do termo comércio deriva do latim (latim commercium) e pode ser conceituado como: a compra, troca ou a venda de mercadorias, produtos, valores, etc. O que se entende como negócio. Do comércio também surge à idéia de classe dos comerciantes. 1 Seu conceito deriva da palavra mercancia, que por sua vez significa trato de negócios, a prática habitual de atos de comércio ou o conjunto deles, exercido por comerciante. Portanto, se depreende do comércio, como a prática habitual de atos de mercancia. 2 As atividades comerciais não podem ter sua origem determinada, simplesmente em um momento exato na história do desenvolvimento da espécie humana e das civilizações. Certamente apenas projeções podem dizer como nasceram as primeiras trocas comerciais, é preciso entender, todavia, que o princípio das atividades comerciais, apoiava-se no papel que cada indivíduo ou chefe familiar desempenhava em seu meio familiar, social e na sua comunidade, suas habilidades específicas para realização de um determinado trabalho, foi o que alçou o homem a imaginar as primeiras trocas de serviços. O desenvolvimento das trocas naturais foi o primeiro passo para que a atividade comercial se firmasse. 3 Segundo Rainer Sousa, o sustento da família do indivíduo trabalhador, dependia da quantidade de produtos que ele produzia, extraia, plantava e etc. O que fez com ele passasse a ampliar consideravelmente sua jornada de trabalho, minimizando o seu tempo de intervalo, contudo, esse meio de sobrevivência obrigava o proletário a produzir algo em maior escala, deixando outros produtos e serviços essenciais de lado. A solução encontrada foi estabelecer uma troca com outro produtor, para então suprir a necessidade familiar pelos produtos pertinentes. Por exemplo, o pescador poderia trocar peixes com um agricultor que tivesse tomates disponíveis para troca. 1 PRIBERAM INFORMÁTICA. Comércio. Disponível em: < Acesso em: 12 set HORCAIO, Ivan. Dicionário Jurídico Referenciado. São Paulo: Primeira Impressão, SOUSA, Rainer. História do Comércio. Disponível em: < Acesso em: 07 set
17 16 Nasceram assim, as atividades comerciais que se baseavam em trocas naturais, onde as partes estipulavam livremente a quantidade e os produtos que queriam envolver em suas negociações. Entretanto, ao longo do desenvolvimento da história comercial no mundo, essa atividade evoluiu extraordinariamente, e ganhou enormes proporções, aumentando sua complexidade e atraindo cada vez mais comerciários. Ainda conforme o pensamento de Rainer Sousa, em determinadas situações foi evidenciado que uma parte na relação comercial tinha interesse no produto de outra, porém, a outra parte que iria fornecer o produto não havia interesse na troca natural uma vez que o produto oferecido para a troca poderia não atender suas necessidades. Para que fosse estabelecida a troca, e para que as duas partes ficassem satisfeitas com o negócio realizado, foi pensado pela primeira vez na criação da moeda. Como uma ferramenta dinâmica, capaz de permear as atividades comerciais entre as civilizações, uma vez que ela se tornava um meio de troca que não envolvia os produtos naturais específicos, após se estabelecer em uma liga de metal, as moedas adquiriram grande durabilidade, as moedas eram aceitas em diversos povos, ela permitiu fracionar valores nas transações, além de serem facilmente transportadas. É importante ressaltar que neste momento do desenvolvimento comercial, já surgi um instituto essencial para que se cumpra um negócio de compra e venda. Este instituto permanece, é sempre buscado e é protegido por lei, a saber: a satisfação plena entre as partes, com o negócio jurídico realizado. E mais adiante aparecerá a unilateralidade, que inicialmente pressupôs que a vontade do fabricante, fornecedor e prestador de serviços, sobrevinha à vontade do comprador, deixando de lado os interesses do próprio consumidor, parte que detém grande importância nas relações de consumo e que mais tarde deverá ser efetivamente protegida, por via de lei. Desde os primórdios das atividades comerciais, a quantidade de trabalho empregada para a fabricação de uma riqueza ou mercadoria era um pressuposto fundamental para que o preço dela fosse determinado. Assim sendo, a dificuldade de produção de uma riqueza ou a raridade da mesma seriam fatores essenciais que indicariam o seu preço elevado. Em contrapartida, outra mercadoria de fácil obtenção ou de fabricação simples teria uma valoração bem menor. Progressivamente, vemos que o desenvolvimento do comercio estipulou uma valoração não limitada ao custo natural da mercadoria. Transporte, impostos, salários e outros gastos foram incorporados paulatinamente ao processo de fabricação de tais riquezas. Foi dessa forma que a atividade comercial passou a ganhar ainda mais complexidade entre os envolvidos. No mundo atual, vemos que a
18 17 compreensão das atividades comerciais abarca um universo cada vez maior de fatores e variantes. 4 O progresso iniciou-se consideravelmente no período pós - Revolução Industrial, esse período caracterizou-se pelo aumento populacional nas cidades, que já se configuravam como metrópoles, esse aumento da população afetou a produção comercial, pois passou a haver um aumento de demanda, o que possibilitou um aumento na quantidade de produtos ofertados, a produção e as vendas cresceram. O pensamento da época era atingir o maior número de pessoas, com uma diminuição dos custos e um aumento da oferta. 5 A partir da Primeira Guerra Mundial, a produção passou a ser feita em larga escala, e se consolidou alcançando níveis exorbitantes. Mas foi na Segunda grande guerra, A Segunda Guerra Mundial, onde o domínio da ciência, o estudo das leis naturais, e com os meios para se explorar e trabalhar os recursos que a natureza disponibilizava, o homem pode alcançar o domínio das armas e surgiram à tecnologia de ponta, o fortalecimento da informática e o incremento das telecomunicações. Após a Segunda Guerra, a partir da segunda metade do século XX, com a comunicação vivendo novos tempos, o mundo se deparou com um novo sistema que passou a reger as relações entre os cidadãos de todos os cantos do mundo, nasceu à idéia de um globo terrestre interligado, o que ficou conhecido nas últimas décadas como mundo globalizado. 6 Temos, assim, a sociedade de massa. Dentre várias características desse modelo destaca-se uma que interessa: nele a produção é planejada unilateralmente pelo fabricante no seu gabinete, isto é, o produtor pensa e decide fazer uma larga oferta de produtos e serviços para serem adquiridos pelo maior número possível de pessoas. A idéia é ter um custo inicial para fabricar um único produto, e depois reproduzi-lo em série. Assim, por exemplo, planeja-se uma caneta esferográfica única e a partir desta reproduzem-se milhares, milhões de vezes em série. [...] Esse modelo de produção industrial, que é o da sociedade capitalista contemporânea, pressupõe planejamento estratégico unilateral do fornecedor, do fabricante, do produtor, do prestador do serviço etc. Ora, esse planejamento unilateral tinha de vir acompanhado de um modelo contratual. E este acabou por ter as mesmas características da produção. Aliás, já no começo do século XX, o contrato era planejado da mesma forma que a produção. 7 Diante disso, o comércio marcou a história da humanidade, uma atividade que se tornou intrínseca a própria evolução das relações entre as civilizações, o mundo de hoje 4 SOUSA, Rainer. História do Comércio. Disponível em: < Acesso em: 07 set NUNES, Luis Antonio Rizatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios. 4. ed. São Paulo: Saraiva, Ibdi., p Ibdi. p. 4.
19 18 jamais se configuraria da maneira que se faz, sem a presença das relações de comércio, sem as trocas, sem as transações, sem a presença do capital. Ainda com base no pensamento do referido autor, foi a partir dessa atividade comercial, que no século XX firmou-se o modelo de massa, a produção de massa, assim como a oferta de produtos e serviços. Entretanto, o Brasil utilizou até 10 de março de 1991, o Código Civil para regular as relações de consumo no país, porém cabe ressaltar que, este diploma legal civil não serve para reger as relações de consumo, uma vez entende os contratos apenas com fundamento do pacta sunt servanda, que significa dizer que os contratos devem ser cumpridos, é uma das características do contrato no direito civil, que se fundamentam na autonomia da vontade, as partes se reúnem e protegidos pelo direito de expressar suas vontades, primeiro negociam para então firmar o acordo contratual. 8 Foi diante deste paradigma, que fundado nos princípios constitucionais, foi motivada a elaboração do Código de Defesa do Consumidor (CDC) com ele a oferta, a procura e todos os elementos essenciais que constituem a relação de consumo, passaram a ser reguladas. O autor ilustra de forma transparente, dando um exemplo para a diferenciação dos dois regramentos, dizendo que no direito privado a oferta é um convite, no direito do consumidor a oferta vincula o ofertante. E esse entendimento é fundamental para compreender que, o ofertante ou fornecedor poderá ser responsabilizado de diversas maneiras no âmbito da relação de consumo, por exemplo, no tocante a propaganda que veicula para a oferta que faz. Qualquer ferramenta que o fornecedor ou que o ofertante utiliza para atrair o consumidor poderá objeto de regulamentação. O que pode ser entendido como o instituto da responsabilização. Diante de todos esses fatos históricos, as guerras, os desenvolvimentos tecnológicos e a produção industrial, que durante décadas de análises, forjaram o aprendizado humano, culminaram, no Brasil, na Constituição Federal de Conhecida como a constituição cidadã, trouxe nos fundamentos da República Federativa do Brasil um regime capitalista, todavia diferenciado. Logo no início, em seu art. 1 o, diz que a República Federativa é formada com alguns fundamentos, dentre eles a cidadania, a dignidade da pessoa humana. 8 NUNES, Luis Antonio Rizatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
20 19 A CF/88 trouxe no Ato das Disposições Constitucionais Transitórias, a garantia da existência da lei que defenderá a parte hipossuficiente nas relações de consumo, o próprio consumidor, in verbis: Artigo 5, inciso XXXI: Art. 48. O Congresso Nacional, dentro de cento e vinte dias da promulgação da Constituição, elaborará código de defesa do consumidor. 9 XXXII - o Estado promoverá, na forma da lei, a defesa do consumidor; 10 Artigo 170, inciso V, da Constituição Federal: Art A ordem econômica, fundada na valorização do trabalho humano e na livre iniciativa, tem por fim assegurar a todos existência digna, conforme os ditames da justiça social, observados os seguintes princípios: [...] V - defesa do consumidor; 11 O disposto no art. 170, CF/88, configura o consumidor como um agente econômico e social, inserindo no princípio da ordem econômica, a defesa do consumidor. O que admitiu a capacidade do Estado de intervir nas relações privadas, de modo a garantir os direitos fundamentais dos cidadãos. 12 E em 1990, nasceu uma das mais importantes leis já elaboradas no Brasil, a Lei n /90, o Código de Defesa do Consumidor, por meio dela passou a existir de fato, o Direito do Consumidor, que marcou o exercício de cidadania no país. A partir do início de sua vigência, em , as relações jurídicas entre os consumidores e fornecedores tomaram novos rumos. Alterou-se o sistema de responsabilidade, da informação e da publicidade, das garantias, da segurança, da qualidade dos produtos e dos serviços, da proteção processual etc., enfim, um novo modelo de sociedade de consumo de massa acabou se desenhando. 13 A referida lei, logo de entrada, acarreta consigo definições e orientações expressas de grande valia para o estudo dos meios de proteção do consumidor: 9 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de Ato das Disposições Constitucionais Transitórias. Disponível em: < Acesso em: 09 set BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil de Disponível em: < Acesso em: 09 set id., GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor: Código Comentado, jurisprudência, doutrina, questões, Decreto n / ed. Niterói: Impetus, NUNES, Luis Antonio Rizatto. Curso de direito do consumidor: com exercícios. 4. ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
21 20 Art. 1 O presente código estabelece normas de proteção e defesa do consumidor, de ordem pública e interesse social, nos termos dos arts. 5, inciso XXXII, 170, inciso V, da Constituição Federal e art. 48 de suas Disposições Transitórias. 14 O CDC então traz claramente duas definições de grande importância, primeiro conforme o teor do artigo 2 o, do referido diploma legal, in verbis: Art. 2 Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço como destinatário final. Parágrafo único. Equipara-se a consumidor a coletividade de pessoas, ainda que indetermináveis, que haja intervindo nas relações de consumo. 15 E nesse mesmo sentido o artigo 3 o, vem arrazoar sobre a conceituação de fornecedor suas aplicações no Código de Defesa do Consumidor (CDC), in verbis: Art. 3 Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividade de produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação, distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços. 1 Produto é qualquer bem, móvel ou imóvel, material ou imaterial. 2 Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista. 16 O termo fornecedor para o CDC é demarcado como um gênero, do qual se interpretam como espécies, nos termos do art. 3 o : o produtor, montador, criador, fabricante, construtor, transformador, importador, exportador, distribuidor, comerciante e o prestador de serviços. Sendo de grande importância compreender que, a norma consumerista visa que todas as espécies do referido gênero fornecedor, sejam de qualquer forma obrigados e/ou responsabilizados A INTERNET, UNIVERSO LIVRE, PRÓSPERO, TODAVIA, VULNERÁVEL 14 BRASIL. Lei nº 8.078, de 11 de setembro de Dispõe sobre a proteção do consumidor e dá outras providências. Disponível em: < Acesso em: 09 set id., id., GARCIA, Leonardo de Medeiros. Direito do Consumidor: Código Comentado, jurisprudência, doutrina, questões, Decreto n / ed. Niterói: Impetus, 2010.
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