DIVERSIDADE CULTURAL, UM DESAFIO CONSTANTE DE CIDADANIA E CONSCIÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR: APOIO TEÓRICO-PRÁTICO
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1 DIVERSIDADE CULTURAL, UM DESAFIO CONSTANTE DE CIDADANIA E CONSCIÊNCIA NO AMBIENTE ESCOLAR: APOIO TEÓRICO-PRÁTICO Jessé Gonçalves Cutrim 1 RESUMO: Trata-se de um ensaio propositivo sobre Diversidade Cultural no ambiente escolar. O objetivo principal é mostrar como, por meio de práticas pedagógicas via projeto participativo e dinâmico é possível estimular nossos alunos e a nós mesmos a um desafio constante de cidadania e consciência cidadã. O estudo aborda os aspectos teórico-práticos de um ensino com base na interdisciplinaridade e por meio das competências e habilidades apregoados nos Parâmetros Curriculares Nacionais. PALAVRAS-CHAVE: Diversidade Cultural, História e Cultura Afro-brasileira e indígena, Cidadania, Ambiente escolar. Apresentação Este ensaio pedagógico, no formato de um projeto pedagógico tem como base o aspecto da Lei /2008 que torna obrigatório no ensino fundamental e médio, nas escolas brasileiras públicas e particulares, o estudo da História e Cultura Afro-brasileira e Indígena. A nova legislação (que altera a Lei 9.394/96) estabelece que o conteúdo programático incluirá diversos aspectos da história e da cultura que formaram a população brasileira, levando em consideração os Índios e Africanos. Para tanto a lei institui aspectos como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. A dita Lei coloca a sociedade inteira diante da obrigatoriedade de assumir o legado africano e indígena como uma precondição essencial para desenvolver o conhecimento e a diversidade cultural. O que aqui se propõe serve não apenas para efetivação em salas de aulas, mais no seio dos movimentos sociais de todo e qualquer naipe (apesar de reconhecermos sua maior aplicabilidade no ambiente escolar, dada a sua indicação), considerando o seu alcance cultural e cidadão. 1 Jessé Gonçalves Cutrim, professor da Universidade Estadual do Maranhão em Imperatriz, acadêmico do Mestrado em Desenvolvimento e Planejamento Territorial na UCG. jessecutrim@bol.com.br 1
2 Os debates em torno de um ensino plural, que reverta o preconceito contra as culturas indígenas e afro-brasileiras nas escolas brasileiras são antigos. A própria sociedade brasileira diversa na sua essência não assimila bem isso, resquício de uma educação emoldurada pelo desprezo à diversidade humana em função de uma cultura unilateral sob a perspectiva da História Européia ressalta muito bem isso. As conseqüências são amargas do ponto de vista educativo. O princípio da pluralidade cultural deve ser respeitado e estendido amplamente pela escola atual a fim de desfazer equívocos históricos e dar vazão a um ensino politicamente correto, democrático e acima de tudo ético. A escola entre outras coisas - precisa definitivamente deixar de ser conservadora: justificar e reproduzir desigualdades, de enfatizar o conformismo social e de ensinar o desrespeito à diversidade cultural, via conteúdos e posturas formativas não integrativas. As considerações feitas aqui se encontram respaldo na capacidade dos educandos em lidar com as informações através dos processos que implicam na sua apropriação e - não na quantidade de informações que receberiam normalmente em sala - abalizada por competências e habilidades e não pelo conteúdo como um fim em si mesmo. A esse respeito veja como nos fala um especialista na matéria: Mantendo o foco no desenvolvimento do espectro de competências pessoais compatível com o âmbito desejado, as disciplinas é que devem passar a operar tacitamente. Vários conteúdos disciplinares podem servir ao desenvolvimento de cada competência; e as competências é que importam, não os conteúdos/instrumentos. É necessário desenvolver nos alunos, por exemplo, o gosto pela literatura; sendo que os livros utilizados para esse desenvolvimento são uma questão menos importante. Certamente, existem múltiplos conjuntos de livros, expressando gostos e valores diversos, que podem servir ao mesmo fim. (MACHADO, 2002, p. 154). Essas reflexões serão de grande valia para uma prática pedagógica que nos seus aspectos teórico-metodológicos alcance o saber nas suas dimensões no campo da comunicação, produção e reconstrução. A proposição pedagógica destina-se a fomentar a cidadania no ambiente escolar, estimulando a participação de todos como agentes históricos, despertando a consciência e a valorização da História e da Cultura afro-brasileira e indígena. Com isso, estabelecer um contraponto para a reflexão da cultura afro-brasileira e indígena na escola do ponto de vista da consciência cultural. Uma recriação cultural para dar vazão a maioria da população brasileira miscigenada. Considerando as lógicas simbólicas, construídas por este segmento. Nada mais justo a uma ação política e pedagógica baseada no reconhecimento institucionalizado da diversidade cultural. Mais ainda, na desconstrução do preconceito racial, na reafirmação de uma educação que valorize a população negra, mestiça e indígena. A aplicabilidade de um projeto com uma vertente assim, pode muito acontecer em todas as séries do ensino básico. Em escolas privadas e, especialmente nas escolas públicas. Ele adequa-se a 2
3 várias áreas de estudo por seu caráter interdisciplinar e acomoda-se a qualquer escola seja da área rural, da periferia e do centro urbano em qualquer cidade, Estado e Região. Apesar dos aspectos gerais, seu formato atende à situações diversas de ensino e aprendizagem. As possibilidades didáticas na abordagem devem considerar as especificidades de cada realidade escolar. Ficando o enfoque em sua essência a critério do(s) seu(s) executor(es). O ideal da duração do projeto é que aconteça em média de 4 a 8 semanas, mais vale a autonomia de seus autores e de seus alcances. Bem como, as áreas do ensino a serem contempladas diretamente. O mais importante é a interdisciplinaridade, é o fazer acontecer. Objetivos Expressar experiências didático-pedagógicas, com vistas à educação da diversidade humana no ambiente escolar, ressaltando a temática: História e Cultura e afro-brasileira e indígena sob a perspectiva interdisciplinar das Ciências Humanas e suas Tecnologias no Ensino Médio. - Proporcionar entendimento da formação da sociedade brasileira como multirracial, valorizando culturalmente a todos; - Compreender as práticas dos diferentes agentes, que resultam em profundas mudanças na organização e no conteúdo do espaço; - Construir identidade social e política, atuando para que haja uma reciprocidade de direitos e deveres entre o poder público e o cidadão e também entre os diferentes grupos. Ações para a sala de aula e outros espaços Na perspectiva de uma educação multicultural, com estímulo à conscientização, o senso crítico e o raciocínio reflexivo, procede-se ao (re)conhecimento de dinâmicas que potencializarão práticas pedagógicas rumo a uma aprendizagem significativa. Pautada no educando(a) como sujeito ativo do processo ensino-aprendizagem. A intenção é que os educandos(as) interajam na busca de se verem eles próprios dignos representantes dos diferentes grupos sociais que compõem o vasto painel dos agentes históricos, sendo portanto, protagonistas da história brasileira. Pelo dinamismo autônomo de suas ações em sala de aula, passarão a ser construtores do conhecimento em sua ação educativa. 3
4 Nas competências e habilidades a serem exploradas com base nos Parâmetros Curriculares Nacionais em um ensino com base na diversidade cultural, são fundamentais, entre outros: a) Domínio da leitura; b) Conhecer, aceitar e respeitar a diversidade cultural, rejeitando todas as formas de preconceito e discriminação; c) Construção da identidade coletiva partindo da recuperação da memória de grupos sociais pertencentes à história e cultura afro-brasileira e indígena; d) Capacidade de planejar, trabalhar e decidir em grupo. Tomando como exemplo um projeto a ser trabalhado em quatro semanas consecutivas: têm-se na primeira uma tomada de consciência do projeto, seus objetivos, metas e avaliação. Também de sensibilização da temática ficando reservada para pesquisa e estudos interdisciplinares. Há a necessidade de divisão das equipes e do número de integrantes que ela deve ter e, as pesquisa serão de caráter individual através de textos e sites indicados. Na segunda, após a tomada de consciência do projeto e o levantamento preliminar dos conceitos, e dos temas por parte de todas as equipes realizarão uma seleção dos textos lidos e captados sobre a diversidade cultural, apontando os mais importantes, sob nossa coordenação buscamos reordenar de forma a ficarem enfoques diversificados em todos os grupos. Feito isso todos os integrantes das equipes ficarão com uma cópia de seus respectivos textos. Na terceira, acontecerá o estudo do conteúdo dos textos e a discussão da metodologia a ser adotada: apresentação oral, jograis, por tópicos usando cartazes, ilustrações, representações teatrais, em comunicação multimídia, em DVD, músicas, danças etc. A idéia é a diversificação de metodologias por parte das equipes. Na quarta e última com todas as classes envolvidas e convidados as equipes precederão a apresentação de seus estudos no pátio da escola. Roteiro de atividades e etapas 1ª semana Seleção e captação [em equipes/individual] Deverão fazer uma pesquisa para levantar os seguintes dados: - Os significados dos termos: Cultura, Diversidade cultural, Multiculturalismo, Negritude, Etnocentrismo, Civilização, Racismo, Discriminação e Preconceito e suas representações; - Constituição da República Federativa do Brasil: Titulo II Dos direitos e garantias fundamentais. Capítulo I Dos direitos e deveres individuais e coletivos, e Capítulo II Dos direitos sociais. - Como se expressa a diversidade sócio-cultural dos afro-brasileiros e indígenas; - A Geografia, a África e os negros brasileiros; 4
5 - Cronologia da História africana desde o aparecimento do Homo Sapiens; - História dos povos indígenas brasileiros; - Negros e índios na História do Brasil de forma realista e democrática. 2ª semana Expressão critíco-analítica [em equipes] Seleção dos textos e temas pelas equipes com enfoques diversificados. 3ª semana Expressão e construção [em equipes] Estudo dos conteúdos e a metodologia a ser apresentada. 4ª semana Transmissão do conhecimento [Todas as equipes e turmas envolvidas no projeto e convidados] Apresentação dinâmica dos grupos - Avaliação será processual, em todas as etapas e medirá o nível qualitativo em relação ao engajamento, estudo e apresentação de todos na execução do projeto. Fontes básicas indicadas para pesquisa inicial dos estudantes e cidadãos BENTO, Maria A. Silva. Cidadania em preto e branco: discutindo as relações raciais. São Paulo: Ática, BERND, Zilá. O que é negritude. São Paulo: Brasiliense, BRASIL, CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL, Brasília: Senado Federal, disponível em: BRASIL, Povos Indígenas, Brasília: FUNAI Fundação Nacional do Índio, disponível em: BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: BRASIL. Lei n.º , de 10 de março de 2008 História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Brasília: MOURA, História do negro brasileiro. São Paulo: Ática, SILVA, Aracy Lopes da. A Questão indígena na sala de aula: subsídios para professores de 1º e 2º graus. São Paulo: Brasiliense,
6 Considerações finais A pretensão é o participar e não o assistir às aulas por parte dos alunos(as) e cidadãos. E com a mediação do mestre orientando e administrando as aprendizagens isso se concretizará. Os passos que serão realizados devem ser avaliados e anotados após seu cumprimento. Os prazos estabelecidos uma semana em cada etapa podem ser estendidos conforme as necessidades didático-pedagógicas a serem enfrentadas e a ênfase numa ou noutra etapa. Quanto aos temas estudados é importante salientar o recado de Silva (1987, p ) A lição básica é a da equivalência das experiências humanas. Cada povo e cada cultura atualizam uma das formas possíveis de humanidade. São modos alternativos de ser gente. Isso é possível, quando ocorre no limiar de uma prática docente que tenha como palavras-chave o diálogo, o estudo, a criação, o desejo e o compromisso com a transformação social, com a construção mesmo de uma amorosa cidadania. (TRINDADE, 1989, P.16). Então, nada há a temer! Vamos construir um novo amanhã. Referências BRASIL. Diretrizes Curriculares Nacionais para a Educação das Relações Étnico-Raciais e para o Ensino de História e Cultura Afro-Brasileira e Africana. Brasília: BRASIL. Lei n.º , de 10 de março de 2008: História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Brasília: MACHADO, Nilson José. Sobre a idéia de competência in: PERRENOUD, Phillipe et al. As competências para ensinar no século XXI: A formação dos professores e o desafio da avaliação. Porto Alegre: Artmed, (p ). SILVA, Aracy Lopes da. Nem taba nem oca: uma coletânea de textos à disposição dos professores. In: SILVA, Aracy Lopes da. (Org.).A Questão indígena na sala de aula: subsídios para professores de 1º e 2º graus. São Paulo: Brasiliense, TRINDADE, Azoilda L. da. Olhando com o coração e sentindo com o corpo inteiro no cotidiano escolar. In: SANTOS, Rafael dos & TRINDADE, Azoilda L. da. (Orgs.) Multiculturalismo mil e uma faces da escola. Rio de Janeiro: DP & A, (p. 7-16). 6
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