ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Fillv)

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1 ESTADO DA PARAÍBA PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA Gab. Des. Genésio Gomes Pereira Fillv) ACÓRDÃO APELAÇÃO CÍVEL N /001 RELATOR: Des. Genésio Gomes Pereira Filho APELANTE: André Luiz Sampaio de Sá ADVOGADA: Ana Cristina de Oliveira APELADO: Imperial Construções Ltda ADVOGADO: George Ventura Morais CIVIL E CONSUMIDOR Apelação Cível Ação Anulatória de Cláusula Contratual c/c Danos Morais Terreno de Marinha Laudêmio Responsabilidade do Alienante Reforma da sentença Dano Moral Inexistência - Provimento parcial do apelo. - Atribuir ao alienantemasmitente do domínio útil do imóvel, situado em terreno de marinha, a responsabilidade ao pagamento do laudêmio respectivo é medida que se impõe, já que o fato gerador da obrigação é a transferência do seu direito de ocupante do bem, ônus que recai sobre todo aquele que não dispõe do domínio pleno do bem imóvel classificado como sendo de terreno de marinha VISTOS, relatados e discutidos os autos acima identificados. ACORDAM os integrantes da Terceira Câmara Cível do Egrégio Tribunal de Justiça da Paraíba, em dar provimento parcial ao apelo, nos termos do voto do Relator e da certidão de julgamento de fl.108. RELATÓRIO

2 André Luiz Sampaio de Sá, ajuizou Ação Anulatória de Cláusula Contratual c/c Obrigação de fazer e Pedido de Antecipação de Tutela e Dano Moral em face da imperial Construções Ltda, alegando, em síntese, que em 20 de dezembro de 2001, firmou contrato de compromisso de compra e venda de um apartamento de número 209-C, no edifício Marinas Praia Flat, situado na praia de cabo branco, joão pessoa-pb, o qual foi devidamente quitado. Argumenta ainda, que ao tentar realizar a escritura do imóvel junto ao cartório de registro de imóveis teve a surpresa de que teria que efetuar o pagamento do valor de R$ 5.421,87 (cinco mil e quatrocentos e vinte e um reais e oitenta e sete centavos) referente ao Laudêmio. Por fim, requer que seja declarada nula a cláusula abusiva no item 3.2 do contrato de compromisso de compra e venda, bem como a condenação do promovido ao pagamento do valor da taxa de Laudêmio e indenização por danos morais. Juntou documentos às fls. 21/31. O pedido de antecipação de tutela foi indeferido à fl. 33. Citada, a promovida 3presentou contestação às fls. 36/41, alegando, em síntese, que no contrato de compra e venda existe previsão expressa que o pagamento do Laudêmio ficara por conta do comprador. Pedindo, ao final, pela improcedência do pedido do autor. Impugnação à contestação às fls. 57/62. Audiência preliminar à fl. 73, sem sucesso. Conclusos os autos. o juízo "a quo" julgou improcedente o pedido inicial, cuja parte final, restou assim redigida: "Assim, tenho com IMPROCEDENTE o pedido de anulação de cláusula 3 T' do "Contrato particular de Compromisso de Compra e Venda" firmado entre as parte, mantendo os termos do mencionado dispositivo e, em conseqüência, também tenho (',)mo IMPROCEDENTES os pedido de condenação da demandada a pagar o laudêmio bem como indenização por danos morais. ". O promovente, inconformado com a sentença interpôs recurso apelatório às fls. 80/88, pedindo pela reforma da sentença, sob o fundamento de que existe previsão legal (art. 2 e 3 0 do Decreto Lei n 95760/88) atribuindo a responsabilidade ao alienante a efetuar o recolhimento do Laudêmio quando for alienado o imóvel. Contrarrazões às fls. 91 /94. Instada a se pronunciar. a Procuradoria-Geral de Justiça não ofertou parecer de mérito. (fls. 100/101).

3 É o breve relato. VOTO Trata-se de apelação cível interposta por André Luiz Sampaio de Sá contra sentença que julgou improcedente o pedido de anulação de cláusula contratual, c/c danos morais em face da Imperial Construções Ltda. Colhe-se dos autos. que o apelante interpôs a presente demanda objetivando a anulação de cláusula contratual de contrato de compra e venda de imóvel, sob o fundamento de que existe previsão legal (art. 2 e 3 do Decreto Lei n 95760/88) atribuindo a responsabilidade ao alienante a efetuar o recolhimento do Laudêmio quando for alienado o imóvel. Cediço no Superior Fribunal de Justiça que os contratos de promessa e compra e venda são regidos. também, pelas disposições do Código de Defesa do Consumidor (REsp n /PR, rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j ), impõe-se o dever da Construtora, promitente vendedora, prestar "a informação adequada e clara sobre os difelentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, caracteristica. composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem". Nesse intento de conferir segurança aos consumidores, os arts. 46 e 47 do CDC estabelecem que os contratos não obrigarão os consumidores se forem redigidos com vagueza que lhes dificulte precisar o alcance de suas cláusulas. Existe previsão legal (art. 2 e 3 do Decreto Lei n 95760/88) atribuindo a responsabilidade ao alienanle a efetuar o recolhimento do Laudêmio quando for alienado o imóvel. Transcrevo o dispositivo legal: "Art. 2 O alienar -1(e, foreiro ou ocupante, regularmente inscrito efetuará a transferência, sem a prévia autorização do Serviço do Patrimônio da União - SPU, desde que cumpridas as seguintes formalidades: I - recolhimento do laudêmio ao Tesouro Nacional, por meio da rede bancária, mediante Documento de Arrecadação de Receitas Federais (W1RF); II - apresentação, ao Cartório de Notas, dos seguintes documentos, em nome do alienante: a) comprovante do peoamento do laudêmio; e b) no caso de aforamento, o respectivo contrato, com as eventuais Ewerbações ou termo de transferência, se houver; ou, no caso de ocupação, a certidão de inscrição.

4 1 Da escritura pública, deverá constar referência aos documentos apresentados, especificando-se, quanto ao DARF, o valor pago, a data do recolhimento, o banco e a agência arrecadadora. 2 No caso de tran sferência de aforamento, o interessado deverá apresentar ao Registro de Imóveis, junto com o traslado da escritura, cópia autenticada, pelo Cartório de Notas, dos documentos mencionados no item II deste artigo, bem assim dos comprovantes de pagamento dos foros referentes aos três últimos anos. Art. 3 0 O valor do laudêmio, correspondente a cinco por cento do valor atualizado do domínio pleno do terreno da União e das benfeitorias nele existentes, será calculado pelo próprio alienante. 10 Se o alienante não tiver elementos para calcular a área física pertencente à União, para efeito do cálculo do laudêmio, poderá solicitar verbalmente, ao órgão local do SPU que lhe informe a cota do tencho que a ela corresponde. 2 O órgão local do SPU deverá fornecer os elementos solicitados na forma do parágrafo anterior, no prazo de vinte e quatro horas, sob pena de responsabilidade funcional de quem der causa à demora. 3 Não será permitido o cálculo do laudêmio, nem o preenchimento do DARF, em órgão do SPU ou por qualquer de seus servidores." Da análise do contrato de fls. 23/26, vê-se que restou consignado, na cláusula n 3.2, que caberia ao comprador o pagamento do laudêmio. Vejamos: "3.2 Acordam a pode COMPRADOR (a es), que todas as despesas com financiamiento do imóvel, perante qualquer órgão financiador, se este vier a ser feito. tais como: TAXA DE EXPEDIENTE, ALOCAÇÃO DE RECURSOS, FUNDHAB, AVALIAÇÃO, IMPOSTO DE TRANSMISSÃO, REGISTROS CARTORIAIS, LAUDÊMIO e outras taxas que venham a ser criadas no decorrer do cumprimento do presente contrato, correrão por conta do (a,$) COMPRADOR (a, es) No presente caso, o ônus do pagamento do

5 laudêmio foi transferido ao promitente comprador, de acordo com a previsão contida no contrato de compra e venda envolvendo o autor ora apelante, em que pretende ver anulada tal cláusula. Na interpretação dos dispositivos mencionados, no exercício da atividade hermenêutica que cabe ao julgador, posiciono-me no sentido de reformar a sentença para recair sobre o transmitente a responsabilidade sobre o pagamento do Laudêmio, haja vista a menção nos dispositivos acima mencionados recair sobre ele o cálculo do referido montante. Vejamos o entendimento da jurisprudência: "ADMINISTRATIVO. TERRENO DE MARINHA. TRANSFERÊNCIA 00 DOMÍNIO ÚTIL DE IMÓVEL. LAUDÊMIO. RESPONSABILIDADE DO ALIENANTE. APULAÇÃO 1MPROVIDA. 1. Hipótese de apelnão contra sentença que em sede de ação ordinária, julgou improcedente * o pedido de desconstituição de inscrição de débito perante a Secretaria de Patrimônio da União - SPU, relativo ao laudêmio de imóvel alienado em O Decreto n 95760/88 regulamenta o Decreto-Lei n 2.398/87 dispõe que o valor do laudêmio será calculnclo pelo próprio alienante, cuja disposição se interpreta recair sobre o referido transmitente a responsabilidade pelo pagamento do débito que se pretende desconstituir. 3. Sendo ausente atriluição da responsabilidade específica sobre o pagamento seja para o alienante, seja para o adquirente, de modo expresso sem que dependa de uma atividade de interpretação daquele que aplica a legislação, cabível se remeter à5 lições oriundas do Código Civil de 1916 (Lei n 3.071/16), cujas disposições são invoopdas pelo art da Lei n /2002 ( atli,91 Código Civil de 2002) para as questões rcrerentes às enfiteuses e subentiteuses, que em seu art. 686 atribui ao alienante o dever de recolher o laudêmio. 4. Atribuir ao a fienante/trasmitente do domínio útil do imóvel, situado em terreno de marinha, a responsgbilidade ao pagamento do laudêmio respectivo é medida que se impõe, já que o fato gerador da obrigação é a transferência do seu direito de ocupante do bem, ônus que recai sobre todo aquele que não dispõe do domínio pleno do bem imóvel,

6 classificado como sendo de terreno de marinha. 5. Precedentes: APELREEX , Desembargador Fednfal Paulo Gadelha, TRF5 Segunda Turma, D,IE - Data::24/02/ Página::527 e - 4C , Desembargador Federal Emiliano Zapata Leitão, TRF5 - Quarta Turma. DJE - Data::07/10/ Página:: Apelação conhecida mas não provida." (TRF5a; Apelação Cível AC539361/SE; Relator: Desembargador Federal Francisco Barros Dias; Data dg Julgamento: 08/05/2012; Órgão Julgador: Segunda Turma) Ainda: ADMINISTRATIVO E PROCESSUAL CIVIL. AÇÃO ORDINÁRIA AJUIZADA POR ADQUIRENTE DO DOMÍNIO ÚTIL DE IMÓVEL FOREIRO. LAUDÊMIO. ILEGITIMIDADE ATIVA PARA QUESTIONAR EVENTUAIS VÍCIOS QUE TERIAM OCORRIDO DURANTE O PROCEDIMENTO DEMARCATÓRIO. AVENÇA FIRMADA ENTRE AS PARTES PARA TRANSFERIR AO ADQUIRENTE O ENCARGO DE PAGAMENTO DO LAUDÊMIO. NECESSIDADE DE ANUÊNCIA DO CREDOR. 1. "A obrigação legal de pagamento do laudêmio na transferência de imóvel foreiro da União é, nos termos do art. 3. do Decreto- Lei n /87 c/c o art. 2. do Decreto n /88, do alienao(e, e não, do adquirente do imóvel, sendo condição de eficácia da negociação em relação à União e da possibilidade de registro imobiliário do negócio." (AC 50714A/SE, Rel. Des. Fed. Conv. Emiliano Zapata Leitão. TRF5a - 4 a Turma, DJE - Data: 07/10/ Pina: 983.) 2. A mera existência de avença firmada entre as partes, atribuindo responsabilidade ao adquirente pelo pagnmento do laudêmio, não tem o condão de conferir legitimidade ativa a ele - ao adquirente - para discutir em juizo eventuais irregularidades que Int -iam ocorrido durante o procedimento demarcntório que culminou com a sua declaração de trrreno de marinha sob o regime de ocupação ; mais especificamente no que concerne a forma de citação para fins de

7 anulação do ato denwcatório. 3. Para que haja a transmissão de obrigação, via cessão de débito, é necessária a anuência da parte credora (af(. 299 do CC/02), o que inexistiu na hipótese. visto que a União sequer participou do negócio jurídico firmado entre particulares. 4. Se o autor ora recorrente não é titular do direito que alega possuir, nem tampouco possui autorização legal expressa para pleiteá-lo em juízo (art. 60 do CPC), deve ser mantida a sentença que reconheceu a carência de ação, por ilegitimidade ativa, e, por consequência, extinguiu o processo. sem resolução do mérito, nos termos do art. 267, VI, do CPC. 5. Apelação improvid=.1.(trf5a; Apelação Cível AC533884/PE; Número do Processo: ; Data do Julgamento: 28/02/2012; Órgão Julgador: Segunda Turma; Relator: Desembarcrodor Federal Francisco VVildo) Além disso, para que haja a transmissão de obrigação, via cessão de débito, é necessária a anuência da parte credora (art. 299 do CC/02), o que inexistiu na hipótese, visto que a União sequer participou do referido negócio jurídico. Por fim, não vislumbro, no presente caso, a ocorrência de dano moral, pois, conquanto, em razão da anulação da cláusula contratual, tenha a parte sofrido transtornos, não se pode dizer que lhe tenham causado grande abalo psicológico, dor moral ou afronta à sua honra, não tendo sequer havido repercussão externa do fato. Diante do exposto, DOU PROVIMENTO PARCIAL AO RECURSO, para recair sobre a recorrida a responsabilidade sobre o pagamento do Laudêmio, além de declarar abusiva a cláusula 3.2 do Contrato Particular de Compromisso de Compra e Venda. Sucumbência reciproca, devendo cada parte arcar com os honorários de seu advogado, observando-se a gratuidade da justiça concedida ao autor. É como voto. Presidiu a Sessão o Exmo. Sr. Des. Genésio Gomes Pereira Filho. Participaram do julgamento, o Exmo. Des. Genésio Gomes Pereira Filho, Dr. João Batista Barbosa, Juiz Convocado em substituição ao Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos e o Exmo. Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides. Presente ao julgamento o Dr. Francisco de Paula Ferreira Lavor, Promotor de Justiça Convocado.

8 Sala de Sessões da Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça da Paraíba, João Pessoa, 06 dqnovembro de Des. Gen sio C-0m Pereira Filho Relator

9 é Diretoria Judiciária Registrado e /71ft 1,0fri