PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO GABINETE DO DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS

Transcrição

1 HABEAS CORPUS Nº 3575-CE ( ) IMPTTE: EDUARDO SAMPAIO TEIXEIRA E OUTROS IMPTDO: JUÍZO DA 11ª VARA FEDERAL DO CEARÁ (FORTALEZA) PRIVATIVA EM MATÉRIA PENAL PACTE: DAVID SILVANO DA SILVA RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS SEGUNDA TURMA RELATÓRIO O EXCELENTÍSSIMO SENHOR DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS (Relator): Trata-se de Habeas Corpus, impetrado por EDUARDO SAMPAIO TEIXEIRA E OUTROS em favor do paciente DAVID SILVANO DA SILVA, envolvido no Furto Qualificado ao Banco Central do Brasil, objetivando a transferência do mesmo da PENITENCIÁRIA DE SEGURANÇA MÁXIMA DE CAMPO GRANDE-MS para um presídio estadual do Ceará, para fins de tratamento médico por haver contraído o vírus da AIDS. Argumenta que o paciente é casado e pai de duas menores impúberes, com residência e domicílios fixos, tudo comprovado conforme a documentação que anexou. Foi argumentado que o paciente encontra-se sofrendo coação ilegal, caracterizado pela injusta perseguição por ter ele participado do "Furto ao Banco Central do Brasil", consistente na indevida e desmotivada renovação de sua permanência no Presídio de Segurança Máxima de Campo Grande, vez que concluídos 360 (trezentos e sessenta dias) sob custódia na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande (inclusão em ), atualmente ultrapassados cerca de 400 (quatrocentos) dias. Aduz que nada se apurou acerca dos fatos que originaram tal medida (a inclusão), muito menos agora, no pedido de renovação da sua permanência em mencionado estabelecimento. Alega que a custódia do paciente, a depender do Impetrado, somente findará em , quando então alcançará 720 (setecentos e vinte dias) em referido estabelecimento penal, apesar de não haver motivo para tanto e mesmo diante das condições de saúde do paciente. O Juízo Federal, apreciando o pleito de que o paciente necessitaria ser transferido para um presídio estadual para fins de tratamento médico por haver contraído o vírus da AIDS, asseverou que a Penitenciária Federal em que o mesmo se encontra encarcerado possui melhores condições e recursos de proporcionar-lhe a adequada assistência médica, o que decerto não aconteceria em qualquer presídio cearense, estado para o qual deseja transferência. (BFSL) HC 3575-CE 1

2 A liminar foi indeferida (fls ). Foram prestadas informações pela autoridade apontada como coatora. ordem. O Ministério Público Federal Regional opinou pela denegação da É o relatório. (BFSL) HC 3575-CE 2

3 HABEAS CORPUS Nº 3575-CE ( ) IMPTTE: EDUARDO SAMPAIO TEIXEIRA E OUTROS IMPTDO: JUÍZO DA 11ª VARA FEDERAL DO CEARÁ (FORTALEZA) PRIVATIVA EM MATÉRIA PENAL PACTE: DAVID SILVANO DA SILVA RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS SEGUNDA TURMA VOTO (Relator): O Exmo. Sr. Desembargador Federal FRANCISCO BARROS DIAS Inicialmente, acerca do pleito de transferência do paciente de presídio de segurança máxima para penitenciária estadual, para que o mesmo supostamente receba melhor tratamento médico (é portador do vírus da AIDS), ele se revela, na realidade, como um nítido interesse para que o paciente seja menos vigiado, podendo então encetar uma provável fuga, a qual seria inviável se tentada de onde ele está encarcerado. Demais disso, o writ of habeas corpus não é instrumento adequado para se pleitear referida transferência, e esta Corte não seria o Juízo competente para apreciá-lo, devendo dito pleito ser submetido ao Juízo das Execuções Penais. Sobre idêntico pleito de transferência, embora sob outros fundamentos, o TRF da 3ª Região já decidiu que: "PROCESSO PENAL - HABEAS CORPUS - PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA IMEDIATA DO PACIENTE PARA CUMPRIMENTO DA PENA EM LOCAL ADEQUADO - ALEGAÇÃO DE CONDIÇÕES DEGRADANTES E INAPROPRIADAS NA PENITENCIÁRIA FEDERAL DE CAMPO GRANDE/MS - IMPETRAÇÃO DESPROVIDA DE DOCUMENTAÇÃO - INFORMAÇÕES PRESTADAS PELA AUTORIDADE COATORA QUE CONTRADIZEM A IMPETRAÇÃO - ATO DISCRICIONÁRIO - MATÉRIA A SER DECIDIDA PELO JUÍZO DAS EXECUÇÕES CRIMINAIS - ORDEM DENEGADA - 1. Habeas corpus destinado a viabilizar a transferência imediata do paciente para cumprimento da pena em local adequado, nos termos da Lei de Execução Penal. Alega-se, em síntese, que o paciente encontra-se recolhido na penitenciária federal de Campo Grande/MS, em condições degradantes e inapropriadas para a sobrevivência, em (BFSL) HC 3575-CE 3

4 isolamento, acometido de depressão profunda, sem assistência médica, sem alimentação adequada, enfim, cerceado de todos os seus direitos e garantias constitucionais. 2. A presente impetração veio desacompanhada de qualquer documento comprobatório que lhe confira suporte. Contudo, à vista da gravidade dos fatos relatados, foram solicitadas informações à autoridade impetrada e ao diretor do presídio federal de Campo Grande/MS acerca da realidade carcerária do paciente discorrida no mandamus. 3. Depreende-se do teor das informações prestadas pela ilustre autoridade apontada como coatora, e ratificadas pelo diretor do presídio federal de Campo Grande/MS, que o presídio federal é dotado de uma estrutura totalmente adequada ao cumprimento de pena em regime fechado, abarcando serviço de saúde, com médicos, dentistas, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos, farmácia e instalações pertinentes, sendo que os profissionais encontram-se presentes durante todo o dia; atividades recreativas; acesso à livros nos limites da biblioteca da penitenciária; alimentação fornecida por empresa especializada sob a orientação de nutricionistas; atendimento adequado inclusive sob o aspecto da higiene ambiental e pessoal; assistência religiosa e jurídica. 4. O artigo 86 da Lei de Execução Penal não criou um direito subjetivo absoluto ao preso, sendo a transferência de presídio ato discricionário, determinado consoante juízo de oportunidade e conveniência, levando-se em consideração não apenas os interesses do preso, mas também os interesses de segurança pública. 5. O habeas corpus não é instrumento processual adequado para se deliberar sobre pedido de transferência do apenado para outro presídio, matéria que deve ser decidida pela vara das execuções criminais. 6. Ordem denegada. (TRF-3ª R. - HC (30062) - 1ª T. - Rel. Des. Fed. Johonsom Di Salvo - DJU p. 346) (grifos nossos) De outro turno, faz-se mister gizar aqui o alerta de que a gravidade dos fatos em liça recomenda extrema cautela no exame da questão, a fim de que se mantenha o paciente nesta rígida custódia, para se evitar a odiosa sensação de impunidade no seio da população em geral e de impotência do Poder Judiciário, para não falar no seu descrédito, inibindo-se a frustração da aplicação da lei penal, o que ocorreria com a provável fuga do réu. Da mesma forma, há premente necessidade de garantia da ordem pública frente à continuidade das atividades desenvolvidas pela organização criminosa constituída, dentre outros, pelo ora paciente, justificando-se a manutenção do mesmo na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo (BFSL) HC 3575-CE 4

5 Grande, como forma de desestruturar e interromper as atividades ilícitas das quais participava, impedindo-se a reiteração delitiva e propiciando a desarticulação da quadrilha. Precedente: TRF 4ª R. - HC ª T. - Relª Desª Fed. Maria de Fátima Freitas Labarrère - DJU p É forçoso se concluir que a mudança de penitenciária máxima para outro presídio sem essa última característica depende das situações e peculiaridades que o caso específico venha a exigir. Tanto do presídio simples para o presídio de segurança máxima, como em sentido contrário, são as condições de segurança, periculosidade, além de outras que indicam a medida a se tomar. A simples alegação de ser portador de determinada doença, por mais grave que seja, não é suficiente para se atender ao pleito. Ademais, é sabido que a penitenciária de segurança máxima sempre tem melhores condições de tratamento medido do que outro presídio sem essas características, mormente quando se trata, em regra, dos presídios estaduais. Isso posto, denego a ordem de habeas corpus. É como voto. (BFSL) HC 3575-CE 5

6 HABEAS CORPUS Nº 3575-CE ( ) IMPTTE: EDUARDO SAMPAIO TEIXEIRA E OUTROS IMPTDO: JUÍZO DA 11ª VARA FEDERAL DO CEARÁ (FORTALEZA) PRIVATIVA EM MATÉRIA PENAL PACTE: DAVID SILVANO DA SILVA RELATOR: DESEMBARGADOR FEDERAL FRANCISCO BARROS DIAS SEGUNDA TURMA EMENTA PENAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. FURTO QUALIFICADO AO BANCO CENTRAL DO BRASIL. ORDEM DENEGADA. DELITOS DE LAVAGEM DE ATIVOS E DE FORMAÇÃO DE QUADRILHA. FUNDAMENTADA RENOVAÇÃO DO PERÍODO DE CUSTÓDIA EM PRESÍDIO FEDERAL DE SEGURANÇA MÁXIMA. PEDIDO DE TRANSFERÊNCIA DO PACIENTE PARA PENITENCIÁRIA ESTADUAL. RECHAÇO. ELEVADO RISCO DE EVASÃO. ORDEM DENEGADA. 1. Trata-se de Habeas Corpus, impetrado em favor de paciente envolvido no Furto Qualificado ao Banco Central do Brasil, objetivando a transferência do mesmo da PENITENCIÁRIA DE SEGURANÇA MÁXIMA DE CAMPO GRANDE-MS para um presídio estadual do Ceará, para fins de tratamento médico por haver contraído o vírus da AIDS. Argumenta que o paciente é casado e pai de duas menores impúberes, com residência e domicílios fixos, tudo comprovado conforme a documentação que anexou. 2. Acerca do pleito de transferência do paciente de presídio de segurança máxima para penitenciária estadual, para que o mesmo supostamente receba melhor tratamento médico (é portador do vírus da AIDS), ele se revela, na real, como um nítido interesse para que o paciente seja menos vigiado, podendo então encetar uma provável fuga, a qual seria inviável se tentada de onde ele está encarcerado. 3. O writ of habeas corpus não é instrumento adequado para se pleitear referida transferência, e esta Corte não seria o Juízo competente para apreciá-lo, devendo dito pleito ser submetido ao Juízo das Execuções Penais. 4. Faz-se mister gizar aqui o alerta de que a gravidade dos fatos em liça recomenda extrema cautela no exame da questão, a fim de que se mantenha o paciente nesta rígida custódia, para se evitar a odiosa sensação de impunidade no seio da população em geral e de impotência do Poder Judiciário, para não falar no seu descrédito, (BFSL) HC 3575-CE 6

7 inibindo-se a frustração da aplicação da lei penal, o que ocorreria com a provável fuga do réu. 5. Há premente necessidade de garantia da ordem pública frente à continuidade das atividades desenvolvidas pela organização criminosa constituída, dentre outros, pelo ora paciente, justificando-se a manutenção do mesmo na Penitenciária de Segurança Máxima de Campo Grande, como forma de desestruturar e interromper as atividades ilícitas das quais participava, impedindo-se a reiteração delitiva e propiciando a desarticulação da quadrilha. Precedente: TRF 4ª R. - HC ª T. - Relª Desª Fed. Maria de Fátima Freitas Labarrère - DJU p É forçoso se concluir que a mudança de penitenciária máxima para outro presídio sem essa última característica depende das situações e peculiaridades que o caso específico venha a exigir. Tanto do presídio simples para o presídio de segurança máxima, como em sentido contrário, são as condições de segurança, periculosidade, além de outras que indicam a medida a se tomar. A simples alegação de ser portador de determinada doença, por mais grave que seja, não é suficiente para se atender ao pleito. Ademais, é sabido que a penitenciária de segurança máxima sempre tem melhores condições de tratamento medido do que outro presídio sem essas características, mormente quando se trata, em regra, dos presídios estaduais 7. Ordem denegada. ACÓRDÃO Vistos e relatados os autos em que são partes as acima indicadas, decide a Primeira Turma do Tribunal Regional Federal da 5a. Região, por unanimidade, denegar a ordem de Habeas Corpus, na forma do relatório, voto e notas taquigráficas constantes dos autos, que ficam fazendo parte integrante do presente julgado. Recife, 12 de maio de (data do julgamento) Desembargador Federal FRANCISCO BARROS DIAS Relator (BFSL) HC 3575-CE 7