Leopoldo Augusto Brüggemann RELATOR

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1 Habeas Corpus n , de Blumenau Relator: Des. Leopoldo Augusto Brüggemann HABEAS CORPUS. PRETENSÃO DE REVOGAÇÃO DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR DA PACIENTE. AVENTADA A NULIDADE DA PRISÃO EM FLAGRANTE. SUPOSTA IRREGULARIDADE DO MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO. IRRELEVÂNCIA. TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES. DELITO DE CARÁTER PERMANENTE. SITUAÇÃO DE FLAGRANTE QUE TORNA DESNECESSÁRIA A EXISTÊNCIA DE MANDADO. ORDEM DENEGADA. PLEITO SUBSIDIÁRIO DE SUBSTITUIÇÃO POR PRISÃO DOMICILIAR. ALEGAÇÃO DE QUE A PACIENTE TEM FILHOS PEQUENOS, LACTENTE INCLUSIVE. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT NESTE PONTO. Vistos, relatados e discutidos estes autos de Habeas Corpus n , da comarca de Blumenau (3ª Vara Criminal), em que é impetrante Ronaldo Ferreira Gonçalves, e paciente Telma de Fátima Dias Correia: A Terceira Câmara Criminal decidiu, por votação unânime, conhecer parcialmente do writ e denegar a ordem. O julgamento, realizado no dia 8 de maio de 2012, foi presidido pelo Exmo. Sr. Des. Torres Marques, com voto, e dele participou o Exmo. Sr. Des. Moacyr de Moraes Lima Filho. Funcionou pela douta Procuradoria-Geral de Justiça o Exmo. Sr. Dr. Ernani Guetten de Almeida. Florianópolis, 11 de maio de RELATÓRIO Leopoldo Augusto Brüggemann RELATOR Trata-se de habeas corpus, com pedido liminar, impetrado pelo advogado Ronaldo Ferreira em favor de Telma de Fátima Dias Correia, contra ato

2 proferido pela 3ª Vara da Comarca de Blumenau, arguindo que a paciente sofre constrangimento ilegal, em razão da conversão da sua prisão em flagrante em prisão preventiva, no bojo da ação penal instaurada pelo Ministério Público para apurar a prática do delito previsto no art. 33 da Lei n /2006. Aduz o impetrante, em resumo, a ilegalidade da prisão da paciente, vez que o alvo do cumprimento do mandado que resultou na apreensão da droga era seu filho adolescente, logo, deveria ter sido expedido pelo Juízo da Infância e Juventude, o que não ocorreu. Ainda, requer a substituição da prisão preventiva pela domiciliar, pois a paciente está amamentando seu filho mais novo. Indeferido o pedido de decisão liminar (fl. 19), foram solicitadas informações à autoridade apontada como coatora, que as prestou às fls Remetidos os autos à douta Procuradoria-Geral de Justiça, esta, em parecer da lavra do Exmo. Sr. Dr. Norival Acácio Engel, opinou pelo conhecimento parcial do writ e denegação da ordem (fls ). Este é o relatório.

3 VOTO Busca o impetrante a libertação da paciente ante a aventada ilegalidade da prisão. Sustenta o causídico que o mandado de busca e apreensão que culminou com a apreensão da droga na bolsa da paciente era, em verdade, destinado ao filho adolescente dela e deveria ter sido expedido pelo Juízo da Infância e Juventude, o que não se verificou. Não merecem acolhida as alegações. É cediço que o tráfico de drogas, caracterizado pelas condutas da paciente de armazenar, guardar ou ter em depósito substância entorpecente, é delito de natureza permanente, no qual a prisão em flagrante pode ser efetuada a qualquer momento, prescindindo de mandado de busca e apreensão. Nesse sentido, colhe-se da jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça: CRIMINAL. HABEAS CORPUS. TRÁFICO DE ENTORPECENTES. PRISÃO EM FLAGRANTE REALIZADA DURANTE O PERÍODO NOTURNO. CRIME PERMANENTE. DESNECESSIDADE DE MANDADO JUDICIAL. DESCUMPRIMENTO DAS FORMALIDADES NECESSÁRIAS PARA O CUMPRIMENTO DE ORDEM JUDICIAL. IRRELEVÂNCIA. LIBERDADE PROVISÓRIA. ART. 44 DA LEI /07. VEDAÇÃO LEGAL. ORDEM DENEGADA. I. Caracterizada, em princípio, a prática do delito de tráfico de entorpecentes, cuja permanência lhe é própria, podem os agentes públicos adentrar o domicílio do suspeito, independentemente de mandado judicial, para reprimir e fazer cessar a ação delituosa, a qualquer hora do dia, mesmo em período noturno. II. Verificando-se a existência de flagrante delito, mostra-se irrelevante o fato de os policiais estarem munidos de mandado de busca e apreensão, sendo inviável o reconhecimento de nulidade nos termos do art. 245 do CPP, por suposta inobservância das formalidade legais exigidas para o cumprimento da aludida ordem judicial. [...] VI. Ordem denegada, nos termos do voto do Relator. (HC /SP, Rel. Ministro Gilson Dipp, Quinta Turma, j. 04/08/2011, DJe 17/08/2011) (grifou-se). E desta Câmara: HABEAS CORPUS - CRIME DE TRÁFICO ILÍCITO DE ENTORPECENTES - ALEGADA NULIDADE POR AUSÊNCIA DE MANDADO DE BUSCA E APREENSÃO - DESNECESSIDADE - CRIME PERMANENTE - PRISÃO EM FLAGRANTE - RELAXAMENTO DA PRISÃO - IMPOSSIBILIDADE. APREENSÃO DE GRAMAS DE HAXIXE - MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA PRESENTES - PEDIDO DE RELAXAMENTO DE PRISÃO DENEGADO PELO JUÍZO A QUO - IMPETRAÇÃO DO WRIT ALEGANDO AUSÊNCIA DAS

4 HIPÓTESES AUTORIZADORAS DA SEGREGAÇÃO CAUTELAR - DENEGAÇÃO DA LIBERDADE PROVISÓRIA CARECEDORA DE FUNDAMENTAÇÃO - VEDAÇÃO DO ART. 44 DA LEI N /06 QUE NÃO ESTÁ ALIADA AOS PRESSUPOSTOS DO ART. 312 DO CPP - ORDEM CONCEDIDA (Habeas Corpus n , de Balneário Camboriú, rel. Des. Moacyr de Moraes Lima Filho, j. 16/12/2008) (grifou-se). Sendo desnecessário o mandado de busca e apreensão no caso de crime de tráfico ilícito de entorpecentes, não há falar-se em ilegalidade da prisão da paciente, devendo ser denegada a ordem, neste tocante. Quanto ao pedido de substituição prisão preventiva pela domiciliar, imperioso é o não conhecimento do writ. É sabido que o manejo deste remédio constitucional impõe ao impetrante o ônus de instruir os autos com os elementos de prova das suas alegações, já que a via do habeas corpus, por apresentar cognição sumária e não exauriente, impede a dilação probatória. No caso dos autos, o impetrante alega ser mais adequada a decretação prisão domiciliar, pois a paciente tem outros seis filhos menores que precisam dos seus cuidados, sendo que um deles contava com apenas 17 dias no momento da prisão em flagrante, estando em fase de amamentação. Contudo, compulsando-se os autos, verifica-se não ter sido acostada ao feito qualquer prova pré-constituída quanto às alegações feitas. Aliás, sequer foi apresentada a certidão de nascimento do suposto lactente. Leciona Julio Fabbrini Mirabete que "a utilização adequada do remédio constitucional do habeas corpus impõe, em conseqüência, que seja o writ instruído, ordinariamente, com documentos suficientes e necessários à análise da pretensão de direito material nele deduzida" (Código de Processo Penal Interpretado. 8. ed. São Paulo: Atlas. p. 1472). Sobre o assunto, já decidiu o Supremo Tribunal Federal: AGRAVO REGIMENTAL. HABEAS CORPUS. PROCESSUAL PENAL. COMPLETA DEFICIÊNCIA NA INSTRUÇÃO DO PEDIDO. AUSÊNCIA DE ELEMENTOS DOCUMENTAIS PRÉ-CONSTITUÍDOS. NÃO-COMPROVAÇÃO DO ALEGADO. IMPOSSIBILIDADE DE DILAÇÃO PROBATÓRIA. NEGATIVA DE SEGUIMENTO DO WRIT. DECISÃO RECORRIDA EM SINTONIA COM A JURISPRUDÊNCIA DO SUPREMO TRIBUNAL FEDERAL. AGRAVO DESPROVIDO. 1. A orientação jurisprudencial desta Casa de Justiça é firme no sentido de não conhecer de habeas corpus quando os autos não forem instruídos com as peças necessárias à confirmação da efetiva ocorrência do constrangimento ilegal [...] 2. Isso se deve à circunstância de que "a ação de habeas corpus - que possui rito sumaríssimo - não comporta, em função de sua própria natureza processual, maior dilação probatória, eis que ao impetrante compete, na realidade - sem prejuízo da complementação instrutória ministrada pelo órgão coator -, subsidiar, com elementos documentais pré-constituídos, o conhecimento da causa pelo Poder Judiciário. A utilização adequada do remédio constitucional do habeas corpus impõe, em conseqüência, seja o writ

5 instruído, ordinariamente, com documentos suficientes e necessários à analise da pretensão de direito material nele deduzida" (cf. HC /SP, Primeira Turma, da relatoria do ministro Celso de Mello, DJ 21/02/1992). 3. Agravo regimental desprovido (HC AgR, rel. Min. Ayres Britto, j. 29/3/2011, grifou-se). Colhe-se dos julgados deste Tribunal: HABEAS CORPUS. PRETENSÃO DE REVOGAÇÃO DA PRISÃO PREVENTIVA. ALEGAÇÃO DE CONSTRANGIMENTO ILEGAL. AUSÊNCIA DE PROVA PRÉ-CONSTITUÍDA. IMPOSSIBILIDADE DE ANÁLISE DO HABEAS CORPUS. NÃO CONHECIMENTO DO WRIT (Habeas Corpus n , de Blumenau, rel. Des. Hilton Cunha Júnior, j. 7/10/2010, grifou-se). HABEAS CORPUS. PLEITO LIBERATÓRIO FORMULADO POR ADVOGADO, DESPROVIDO DE DOCUMENTOS ESSENCIAIS A DEMONSTRAR O ALEGADO CONSTRANGIMENTO ILEGAL. DEFICIÊNCIA NÃO REMEDIADA PELAS INFORMAÇÕES PRESTADAS. INVIABILIDADE DE SUA APRECIAÇÃO. ORDEM NÃO CONHECIDA (Habeas Corpus n , de Joinville, rel. Des. Túlio Pinheiro, j. 16/3/2010, o grifo não é do original). Logo, ante a anemia probatória, vota-se pelo não conhecimento do presente habeas corpus, neste ponto. Destarte, o voto é no sentido de conhecer parcialmente do remédio heróico e denegar a ordem. É o voto.