Poder Judiciário TRIBUNAL REGIONAL FEDERAL DA 5ª REGIÃO Gabinete do Desembargador Federal Geraldo Apoliano RELATÓRIO
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- Luiz Gustavo de Sintra Fagundes
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1 RELATÓRIO O DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA (RELATOR CONVOCADO): Habeas Corpus liberatório impetrado pela Defensoria Pública da União, em favor de Abia Mets, Dudel Hanani, Dahan Honi, Eban Arad e Achisar Manner, presos preventivamente desde o dia , pela suposta prática dos crimes previstos nos arts. 288 (associação criminosa), 299 (falsidade ideológica) e 304 (uso de documento falso), todos do Código Penal, tendo sido detidos no Aeroporto Internacional Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante/RN, após a comunicação da Holanda acerca de estrairos de origem turca e síria que estariam viajando do Oriente Médio para a Europa com passaportes falsificados do Estado de Israel. Afirma a Impetrante que os Pacientes, de origem síria e israelense, são pessoas humildes, naturais de Estados em situação de guerra e de atentados terroristas constantes, com parentes mortos em face dos conflitos bélicos, e adquiriram passaportes falsificados para fugir da guerra e tentar a vida em um país tranquilo, no caso, a Holanda, estando em profundo desespero, não se podendo exigir deles comportamento diverso. Ressalta-se que eles não têm associação criminosa, salvo o fato de estarem viajando juntos, e que não planejam cometer crimes, procurando apenas asilo para fugir da situação de guerra de seus países, de forma que não haveria impedimento a que a eles fossem impostas medidas cautelares diversas da prisão, como a entrega dos passaportes cumulada com o comparecimento semanal em Juízo pra informar e justificar atividades. Requer, ao fim, a concessão da liminar para revogar o decreto da prisão preventiva dos Pacientes e, no final, a imposição das medidas cautelares diversas da prisão fls. 12/13. O MM. Des. Federal Geraldo Apoliano determinou a requisição de informações fls. 50. Nas informações, a Autoridade Impetrada afirmou que eles adquiriam os passaportes em uma viagem internacional a passeio, contrariando a alegação de que estariam fugindo da guerra nos seus países de origem. Além disso, em face dos passaportes falsos, há dúvidas acerca da 1
2 identidade e nacionalidade deles, além de não haver prova de qualquer endereço certo ou atividade lícita nos países de origem, sendo prematura a concessão de liberdade provisória ou de medidas cautelares diversas da prisão em face da necessidade de garantir a aplicação da lei penal fls. 54/56. Indeferi o pedido liminar fls. 57/60. A douta presentação do Parquet opinou pela denegação da Ordem, porque não ter sido carreada para os autos qualquer prova indicativa de que o Paciente possuiria condições favoráveis à concessão da liberdade provisória, estando presentes os indícios da materialidade e da autoria do delito e, bem assim, os requisitos da prisão preventiva listados no art. 312, do Código Processual Penal, ressaltando que, em face da falsificação dos passaportes, há serias dúvidas acerca de suas identidades reais, não se podendo precisar suas origens, podendo eles se furtarem à aplicação da lei penal fls. 65/72. É o relatório. Em mesa para o julgamento. 2
3 VOTO O DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA (RELATOR CONVOCADO): No tocante à plausibilidade das alegações trazidas a lume, penso que, ao menos em tese, não ostentam elas relevância suficiente para que se autorize a imediata soltura dos Pacientes. O pedido de concessão de liberdade provisória dos Pacientes, presos em virtude de suposta prática dos delitos previstos nos arts. 288 (associação criminosa), 299 (falsidade ideológica) e 304 (uso de documento falso), todos do Código Penal, fundamenta-se na falta dos requisitos autorizadores da prisão preventiva, nos termos do art. 312, do Código de Processo Penal e na possibilidade de concessão de medidas cautelares diversas da prisão aos Réus estrairos, vindos de países em conflitos bélicos em busca de asilo. A Lei nº /2011, em vigor desde , alterou a sistemática das prisões cautelares, dando nova redação aos arts. 312 e 313, do Código de Processo Penal, verbis : Art A prisão preventiva poderá ser decretada como garantia da ordem pública, da ordem econômica, por conveniência da instrução criminal, ou para assegurar a aplicação da lei penal, quando houver prova da existência do crime e indício suficiente de autoria. Parágrafo único. A prisão preventiva também poderá ser decretada em caso de descumprimento de qualquer das obrigações impostas por força de outras medidas cautelares (art. 282, 4 o ). Art Nos termos do art. 312 deste Código, será admitida a decretação da prisão preventiva: I - nos crimes dolosos punidos com pena privativa de liberdade máxima superior a 4 (quatro) anos; II - se tiver sido condenado por outro crime doloso, em sentença transitada em julgado, ressalvado o disposto no inciso I do caput do art. 64 do Decreto-Lei n o 2.848, de 7 de dezembro de Código Penal; 3
4 III - se o crime envolver violência doméstica e familiar contra a mulher, criança, adolescente, idoso, enfermo ou pessoa com deficiência, para garantir a execução das medidas protetivas de urgência; Parágrafo único. Também será admitida a prisão preventiva quando houver dúvida sobre a identidade civil da pessoa ou quando esta não fornecer elementos suficientes para esclarecê-la, devendo o preso ser colocado imediatamente em liberdade após a identificação, salvo se outra hipótese recomendar a manutenção da medida. Os ora Pacientes estão sendo investigados pelos crimes previstos nos arts. 288 (associação criminosa), 299 (falsidade ideológica) e 304 (uso de documento falso), todos do Código Penal, sendo que apenas o crime de falsidade ideológica do documento público (passaporte), é de 05 (cinco) anos de reclusão, de forma que eles já não possuem um dos requisitos objetivos para a concessão da liberdade provisória. Como bem salientou a Autoridade Impetrada, em face da falsificação dos passaportes não há como saber a real identidade dos Pacientes nem a sua verdadeira nacionalidade. Além disso, eles, nos depoimentos prestados à Autoridade Policial, afirmam que vieram ao Brasil como turistas, visitando o Rio de Janeiro/RJ e Fortaleza/CE, para, em seguida, partir para a Holanda, onde fixariam residência, após terem comprados os passaportes falsificados na Turquia, não se coadunando tal informação de que eles seriam refugiados fugidos de conflitos bélicos. Além disso, os depoimentos prestados na Polícia são contraditórios, visto que afirmam ser israelenses e depois afirmaram morar na Síria, onde não tinham vida, tendo sido detidos sem qualquer outra documentação além dos passaportes falsificados como indicadores de sua identidade, não apresentando outros meios de identificar sua identidade nos países de origem ou mesmo de Israel, de onde afirmam vir. Contrariamente ao alegado pela Impetrante, não há provas dos empregos fixos ou das residências definidas nos Estados de origem, qualquer que sejam eles, de forma que a aplicação da lei penal corre risco em caso de liberação dos Pacientes, pois não há o que os mantenha ao alcance do Poder 4
5 Judiciário na hipótese de condenação, visto que não possuem qualquer laço profissional, vínculo ou afetivo com o País, pois declararam que se dirigiam à Holanda para imigração irregular. Além disso, como bem salientou a douta Procuradoria da República, impossível a imposição de medidas cautelares diversas da prisão em face da presença dos mesmos motivos que não autorizam a liberdade provisória, consideram estapafúrdia a sugestão feita pela DPU na inicial do writ, no sentido de que os passaportes fossem acautelados na secretaria do Juízo da 14ª Vara Federal/RN. Ora, se tais passaportes são falsos, consistindo, inclusive, no produto do crime, em razão de cuja prática os pacientes foram presos, é óbvio que não faz sentido algum determinar que eles sejam retidos a fim de que os mesmos pacientes não consigam se evadir fls. 71. O direito penal se vale da formulação de juízos de probabilidade para aferir se é ou não necessária a decretação, ou, como no caso, a mantença de uma constrição cautelar; as provas constantes dos autos apontam na direção de uma possibilidade concreta da evasão dos estrairos, e, só isso, ao meu pensar, já seria suficiente para a denegação da Ordem requestada. Tudo isso, ao meu pensar, justifica a mantença da constrição preventiva, nos termos do artigo 312, do Código de Processo Penal - CPP vigente, na medida em que transparecem indicações concretas de que, soltos, os Pacientes bem poderão evadir-se à aplicação da lei penal. como voto. Isto posto, denego a ordem de Habeas Corpus requerida. É 5
6 IMPTTE IMPTDO (NATAL) RELATOR : DEFENSORIA PÚBLICA DA UNIÃO : JUÍZO FEDERAL DA 14ª VARA DO RIO GRANDE DO NORTE : ABIA METS : DUDEL HANANI : DAHAN HONI : EBAN ARAD : ACHISAR MANNER : DESEMBARGADOR FEDERAL ÉLIO SIQUEIRA (CONVOCADO) EMENTA CONSTITUCIONAL E PROCESSUAL PENAL. HABEAS CORPUS. PRISÃO EM FLAGRANTE. ESTRANGEIROS. PASSAPORTES FALSIFICADOS. MATERIALIDADE E INDÍCIOS DE AUTORIA SUFICIENTES. AUSÊNCIA DE PROVA SEQUER DA NACIONALIDADE DOS PACIENTES. PEDIDO DE LIBERDADE PROVISÓRIA INDEFERIDO. NECESSIDADE DE ASSEGURAR A APLICAÇÃO DA LEI PENAL. ORDEM DENEGADA. 1. Habeas Corpus impetrado pela Defensoria Pública da União em favor dos Pacientes, presos preventivamente desde o dia , pela suposta prática dos crimes previstos nos arts. 288 (associação criminosa), 299 (falsidade ideológica) e 304 (uso de documento falso), todos do Código Penal, tendo sido detidos no Aeroporto Internacional Aluízio Alves, em São Gonçalo do Amarante/RN, após a comunicação da Holanda acerca de estrairos de origem turca e síria que estariam viajando do Oriente Médio para a Europa, com passaportes falsificados do Estado de Israel. 2. A Lei nº /2011, em vigor desde , alterou a sistemática das prisões cautelares, dando nova redação aos arts. 312 e 313, do Código de Processo Penal, e da leitura destes artigos depreende-se que, para a concessão da liberdade provisória, é preciso que o Réu, além de ser primário e ter bons antecedentes, não preencha os requisitos do art. 312, do CPP, ou responda por crime cuja pena máxima em abstrato seja igual ou superior a 04 (quatro) anos de reclusão. 6
7 3. Os ora Pacientes estão sendo investigados pelos crimes previstos nos arts. 288 (associação criminosa), 299 (falsidade ideológica) e 304 (uso de documento falso), todos do Código Penal, sendo que o delito de falsidade ideológica do documento público (passaporte), é penalizado com até 05 (cinco) anos de reclusão, de forma que eles já não possuem um dos requisitos objetivos para a concessão da liberdade provisória. Ausência de atendimento a um dos requisitos objetivos fixados pela Lei nº /2011 para a concessão da liberdade provisória. 4. Os documentos que instruem o writ não demonstram, sequer, a nacionalidade real dos Pacientes, visto que apenas possuem, como identificação, os passaportes falsificados, não havendo provas dos empregos fixos ou das residências definidas nos Estados de origem ou mesmo em Israel, além de não possuírem qualquer laço profissional ou vínculo afetivo com o País. 5. Apesar de alegarem serem refugiados de Países em guerra ou em situação de conflito, como Síria e Israel, afirmaram à Polícia Federal que vieram ao Brasil como turistas, visitando o Rio de Janeiro/RJ e Fortaleza/CE, para, em seguida, partir para a Holanda, onde fixariam residência irregular, após terem comprados os passaportes falsificados na Turquia, não se coadunando suas condutas com as de candidatos ao refúgio humanitário. 6. Fatos que autorizam a mantença da constrição cautelar que, nos termos do artigo 312, do CPP vigente, se justifica na medida em que é muito possível, e mesmo provável, que, soltos, os Pacientes deixarem o País e, assim, inviabilizarem, ao menos em tese, a aplicação da lei penal, ou dificultarem o alcance da verdade real, objetivo da persecução penal. 7. Ordem denegada. 7
8 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os presentes autos, em que são partes as acima identificadas. Decide a Terceira Turma do Tribunal Regional Federal da 5ª Região, por unanimidade, denegar a Ordem, nos termos do relatório, voto do Desembargador Relator Convocado e notas taquigráficas constantes nos autos, que passam a integrar o presente julgado. Recife (PE), 11 de dezembro de Desembargador Federal Élio Siqueira Relator convocado 8
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