PERFIL DE SENSIBILIDADE DE ENTEROBACTÉRIAS ISOLADAS DE CARNE BOVINA COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE URUGUAIANA ESTUDO PILOTO

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1 PERFIL DE SENSIBILIDADE DE ENTEROBACTÉRIAS ISOLADAS DE CARNE BOVINA COMERCIALIZADAS NA CIDADE DE URUGUAIANA ESTUDO PILOTO 1. INTRODUÇÃO A carne bovina é um alimento de elevado valor nutricional, composta basicamente por água, além de proteínas de alto valor biológico, gorduras, carboidratos, vitaminas do complexo B, entre outros nutrientes importantes à saúde humana, fornecendo energia e contribuindo para regulação dos processos fisiológicos (PARDI et al., 2001). Seu valor nutritivo aliado às características sensoriais agradáveis faz da carne bovina um dos alimentos mais valorizados para consumo (LUCQUIN et al., 2012). Antes do abate, os tecidos internos dos animais sadios podem ser considerados estéreis, pois se encontram protegidos pela pele, que funciona como uma barreira bloqueando a entrada de micro-organismos (JAY, 2005; PRICE & SCHEIGERT, 1994). No entanto, a carne bovina pode ser contaminada antes, durante e após o abate, da mesma maneira que na comercialização em supermercados e açougues (HOWGATE, 1998; BORGES, 2002). Os antibióticos são frequentemente utilizados para tratamento de infecções em seres humanos e animais, ou para a profilaxia de animais produtores de alimentos (RASHEED et al., 2014). O uso abusivo de antimicrobianos na pecuária, a administração de doses insuficientes e o não cumprimento do período entre a administração do medicamento até o abate do animal, podem ocasionar resistência bacteriana como na pesquisa realizada por Franco em 2002, onde cepas de Escherichia coli isoladas de carnes suínas submetidas a avaliação de resistência antimicrobiana, 100% apresentaram resistência frente à sete antibióticos testados e apenas duas cepas apresentaram sensibilidade frente à dois antibióticos testados (CDC, 2013; FRANCO, 2010; KOLÁR et al., 2001; STOLKER & BRINKMAN, 2005). As enterobactérias são uma família de bacilos Gram negativos encontradas amplamente na natureza e na microbiota intestinal dos seres humanos e animais. Quando na condição de agentes patogênicos, são causa importante de infecções do trato urinário, da corrente sanguínea, infecções abdominais e pneumonias e, por isso, a resistência antimicrobiana nesses micro-organismos é preocupante e têm se mostrado cada vez mais frequente (JAY, 2005; RASHEED et. al., 2014).

2 Como o aumento da resistência aos antimicrobianos tanto de uso humano, como veterinário é uma realidade preocupante e diante do exposto, justifica-se a necessidade de realizar estudo piloto para isolar, identificar e avaliar os micro-organismos presentes em carnes bovinas, traçando seus perfis e avaliando suas respostas frente aos antimicrobianos. 2. METODOLOGIA As amostras de carne bovina foram adquiridas em supermercados e açougues do município de Uruguaiana RS. Para a realização de cada análise, foram adquiridas três amostras de carne fresca pesando, em média, 300g cada, embaladas respectivamente em bandejas vedadas com filme PVC, a vácuo e em embalagens disponibilizadas pelo estabelecimento comercial. A carne foi transportada até o laboratório dentro de uma bolsa térmica, contendo gelo. Em seguida, foram pesados 25 ± 0,2g retirados da parte interna da amostra de carne e adicionados 225 ml de solução salina peptonada 0,1%. As amostras foram homogeneizadas em uma câmara incubadora com agitação orbital por aproximadamente 18 horas a uma temperatura de 15 C e, após este período, foram realizadas diluições na faixa de 10-1 a 10-5 em água peptonada. Após as diluições, uma alíquota de 25 μl de cada diluição foi adicionada sobre a superfície de placas de Petri contendo o meio de cultura MacConkey. Após o processo, as placas foram incubadas invertidas a 35 ± 2ºC por 24 horas. Os ensaios foram realizados em duplicata. As análises foram realizadas nas placas que apresentaram contagem adequada de micro-organismos de 25 a 250 UFC/placa. Posteriormente, foram analisados todos os tipos morfológicos de colônias isoladas a partir da técnica de coloração de Gram e então, foram realizados os testes fermentação de açúcares, motilidade, sulfato, indol, citrato, urease e descarboxilação da lisina (BARTH, 2010). Para o ensaio de suscetibilidade aos antimicrobianos, foi usada a técnica de disco difusão em ágar, conforme descrito pelo Clinical and Laboratory Standards Institute (CLSI, 2015). 3. RESULTADOS e DISCUSSÃO Durante a realização do estudo piloto, foram identificados um total de seis microorganismos oriundos de três amostras, sendo: Enterobacter spp. (n=1), Enterobacter cloacae (n=1), Klebsiella oxytoca (n=1), Salmonella spp. (n=1), e Klebsiella pneumoniae (n=2). O perfil de suscetibilidade aos cinco diferentes antimicrobianos testados, estão listados na Tabela 1 abaixo:

3 Tabela 1: Perfil de suscetibilidade aos antimicrobianos, de isolados da carne bovina, pertencentes à família Enterobacteriaceae. Isolados Ampicilina Ampicilina- Aztreonam Cefazolina Gentamicina Sulbactam Enterobacter cloacae R R R R S Enterobacter spp. S S S R S Klebsiella oxytoca R R S R S Klebsiella pneumoniae* S S S S S Salmonella spp. S S S R S *n=2; S= sensível; R= resistente A RDC de nº 12 de 02 de janeiro de 2001 elenca como critério de qualidade microbiológica da carne congelada e in natura, a ausência de Salmonella spp. a cada 25g de amostra (BRASIL, 2001). No entanto, esse micro-organismo foi isolado em uma de nossas três análises, apresentando um resultado superior ao estudo feito por Macedo et. al. (2013), onde das 25 carcaças de frango provenientes de produção orgânica e das 25 carcaças de frango provenientes da produção convencional, nenhuma apresentou isolados de Salmonella spp. Além disso, nosso isolado apresentou resistência a cefazolina, antibiótico pertencente a classe das cefalosporinas de primeira geração, corroborando com perfil de resistência em isolados de Salmonella realizado por Silva et. al. (2014) onde das 17 cepas de Salmonella spp. isoladas, seis cepas apresentaram resistência a cefalexina, antibiótico também pertencentes a classe das cefalosporinas de primeira geração. Outro resultado importante foi a presença dos gêneros Klebsiella e Enterobacter, pois essas espécies são potencialmente patogênicas e se esquivalem com estudo realizado por Nyenje et al. (2012) que analisou 252 amostras de carnes bovinas, tortas de frango, entre outros alimentos de lanchonetes de beira de estrada e lojas de varejo em Alice, Província do Cabo Oriental na África do Sul e encontrou isolados de Enterobacter cloacae nas amostras de carne moída (24%) e em empadas de frango (17%), bem como Klebsiella oxytoca em tortas e batatas (17%). O isolado de Klebsiella oxytoca, no nosso estudo mostrou-se resistente à ampicilina, ampicilina-sulbactam e cefazolina, fato que corrobora com achados de Kilonzo- Nthenge (2013), que realizou um estudo com carne de frango (n=93), peru (n=94) e bovina (n=99) e observou a ocorrência dessa espécie em 27,4% das amostras analisadas, sendo que, quando essa espécie foi isolada de carnes de frangos apresentou maior resistência aos antibióticos testados (87,5%), entre eles, a ampicilina. 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS Diante dos resultados obtidos neste estudo piloto, já foi possível identificar contaminação com micro-organismos indesejáveis, bem como problemas envolvendo

4 resistência bacteriana na carne bovina. O grande aumento de casos desse tipo de resistência torna cada vez mais difícil o tratamento das infecções causadas por bactérias. Como perspectivas futuras, salientamos a necessidade de uma pesquisa mais ampla, com maior número de amostras, envolvendo novas identificações, novos estudos de suscetibilidade antimicrobiana e também um estudo de resíduos antimicrobianos na carne bovina, a fim de que através dos resultados obtidos, possa-se contribuir com a conscientização da racionalização ao uso de antimicrobianos em animais e humanos e minimizar esses fatores de contaminação. 5. REFERÊNCIAS BARTH, A. L.; Peixoto; PIETA, V. P. ; MARTINS, A. F.. Bacteriologia Clínica - Manual de Aulas Práticas. 1. ed. Porto Alegre: Editora Sulina, v p BRASIL. Ministério da Saúde. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC Nº 12, de 02 de janeiro de Regulamento Técnico sobre padrões microbiológicos de alimentos. DOU, Brasília, Disponível em: < Acesso em: 14 de abril de CDC. Antibiotic Resistance Threats in the United States.; US. Centers Disease Control and Prevention, CHEN, S.; ZHAO, S.; WHITE, D.G.; SCHROEDER, C.M.; LU, R.; YANG, H.; MCDERMONTT, P.F.; AYERS, S.; MENG, J. Characterization of multipleantimicrobialresistante Salmonella serovars isolated from retail meats. Applied and Environmental Microbiology, v.70, n.1, p.1-7, CLSI. Performance Standards for Antimicrobial Susceptibility Tests; Twenty-Fifth. CLSI document M100-S25. Wayne, PA: CLSI, FRANCO, Robson Maia et al. Resistência antimicrobiana de Escherichia coli isoladas de carne e dejetos suínos. Acta Veterinaria Brasilica, v. 4, n. 1, p , HOWGATE, P. Review of public health safety of products from aquaculture. J Food Sci, v.33, p , JAY, J. M. Microbiologia de Alimentos. 6. ed., Porto Alegre: Artmed, KILONZO-NTHENGE, A.; ROTICH, E.; NAHASHON, S. N. Evaluation of drug-resistant Enterobacteriaceae in retail poultry and beef. Poult Sci Apr; 92 (4): KOLÁR, M.; URBÁNEK, K.; LÁTAL, T. Antibiotic selective pressure and development of bacterial resistance. International Journal Antimicrobial Agents, v.17, n.5, p , LUCQUIN, I.; Zagorec, M.; Champomier-Vergès, M.; Chaillou, S. Fingerprint of lactic acid bacteria population in beef carpaccio is infuenced by storage process and seasonal changes.food Microbiology, v.29, n.2, p , 2012.

5 MACEDO, Renata Freitas et al. Resistência antimicrobiana e ocorrência de microorganismos patogênicos e indicadores em frangos orgânicos e convencionais: estudo comparativo. Biotemas, v. 26, n. 3, p , NYENJE, M.E. et al. Current status of antibiograms of Listeria ivanovii and Enterobacter cloacae isolated from ready-to-eat foods in Alice, South Africa. Int J Environ Res Public Health. 2012;9(9): PARDI, M. C., SANTOS, I.F.; SOUZA, E.R.; PARDI, H.S. Ciência, Higiene e Tecnologia da Carne. Universidade Federal Fluminense. EDUFF- Editora Universitária, p.623, RASHEED, M. U.; THAJUDDIN, N.; AHAMED, P.; TEKLEMARIAM, Z.; JAMIL, K. Antimicrobial Drug Resistance in Strains of Escherichia coli Isolated From Food Sources. Rev Inst Med Trop Sao Paulo, v.56, n.4, p , SILVA KJ, Tejada TS, Timm CD. Resistência de Salmonella isoladas de humanos e de frangos a antimicrobianos. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal out./dez.; 08(4): STOLKER, A.A.M.; BRINKMAN, U.A.T. Analytical strategies for residue analysis of veterinary drugs and growth-promoting agents in food producing animals - a review. Journal of Chromatograph A, v.1067, p.15-53, 2005.