PECADO ORIGINAL Capítulo 24 PECADO ORIGINAL. Novela de. Rômulo Guilherme. Criada e escrita por RÔMULO GUILHERME

Transcrição

1 PECADO ORIGINAL Novela de Rômulo Guilherme Criada e escrita por RÔMULO GUILHERME

2 CENA 01/HOSPITAL/QUARTO PEDRO/INT/TARDE BEATRIZ TERMINA DE AJEITAR A GOLA DA CAMISA DE PEDRO. BEATRIZ Ficou ótimo! PEDRO Não entendi meu pai, que ficou de trazer roupas pra mim e não apareceu até agora. BEATRIZ Sorte que dei um jeito... PEDRO Com o dinheiro que dei, né? (RISOS) BEATRIZ Sou anja, não mágica! PEDRO O que você disse? BEATRIZ Deixa pra lá. Vamos embora? PEDRO Alta o médico já me deu. Temos que esperar agora é o meu pai chegar. BEATRIZ Deve ter tido um bom motivo pra atrasar... (T) E com relação aquele assunto? Está decidido? PEDRO Sim... acho que sim. De uma coisa eu tenho certeza: vou fazer a coisa certa, pra mim e pra outras pessoas... BEATRIZ Rebeca! PEDRO ENCARA BEATRIZ. CENA 02/CEMITÉRIO/GALPÃO/INT/TARDE RUFINO TIRA A MORDAÇA DA BOCA DE EVA E A CORDA QUE A PRENDE NA CADEIRA. EVA PERMANECE IMÓVEL. RUFINO Sentiu minha falta? EVA VIRA O ROSTO. EVA Não fala comigo! RUFINO PEGA UMA CESTA E DEIXA PRÓXIMO DE EVA. RUFINO Narcisa mandou pra você... EVA Agradeço pela preocupação e cuidado da Narcisa. RUFINO Além disso, tem um presente meu... RUFINO RETIRA DA CESTA O LIVRO: A DIVINA COMÉDIA. RUFINO Um livro que vai te mostrar direitinho como é o inferno, pra onde você vai... Até separei uma parte, quando Dante chega lá, que faço questão de ler pra você: RUFINO ABRE O LIVRO E COMEÇA A LER: RUFINO EVA NÃO DÁ IMPORTÂNICA. RUFINO EVA Logo que entrei ouvi gritos terríveis, suspiros e prantos, que ecoavam pela escuridão sem estrelas. Os lamentos eram tão intensos que não me contive e chorei. Gritos de mágoas, brigas, queixas iradas em diversas línguas, formavam um tumulto que tinha o som de uma ventania.. Aí Dante pergunta pro mestre dele: quem são essas pessoas que sofrem tanto?. E o mestre de Dante responde: este é o destino daquelas almas que não procuram fazer o bem divino.. (fecha o livro) Ou seja, almas como a sua. Que sempre procuram desvirtuar almas puras, inocentes, como a minha, pra levar pro esse lugar terrível, como é descrito nesse grande clássico da literatura, e que será sua morada eterna! Pena que você distorce tudo, Rufino. (T) Se eu vou pro inferno, tu vai pra lá também, diante de tantas coisas ruins que vem fazendo, pra tantas pessoas. Principalmente pro nosso filho Pedro.

3 RUFINO COLOCA A MÃO NA BOCA DE EVA, COM FÚRIA. RUFINO (TOM) Se continuar dizendo tanta merda, vou te deixar amarrada aqui a noite toda novamente.. EVA Pode fazer o que quiser comigo, Rufino. Só queria, antes de partir desse mundo, ver meu filho Pedro. Poder dizer pra ele que sou sua mãe. Que foi do meu ventre que ele saiu. RUFINO Nunca! Isso nunca vai acontecer! EVA O que você quer aqui, Rufino? Me deixa sozinha. Pois o silêncio, a solidão, é melhor companhia do que você. RUFINO Vim, pra falar do Pedro. EVA SE ANIMA UM POUCO. EVA O que tem meu filho? RUFINO Vou buscar o Pedro agora. Pra sua nova morada. A igreja de Jandaia. EVA Você escreveu uma trama ardilosa, maquiavélica, sanguinária. Colocando o Pedro como o protagonista dessa história escrita com o sangue de padre Januário. RUFINO E que terá seu gran finale com a consagração do Pedro, assumindo o posto que ele merece em Jandaia. EVA Monstro! RUFINO Mas não pense que Pedro vai ficar por muito tempo aqui não. Penso grande. (T) Quero meu filho no Vaticano. Deus vai me dar vida, força e saúde pra ver meu filho sendo o papa mais novo de toda a linhagem dos papas, que a igreja já teve. RUFINO CAMINHA ATÉ A PORTA. ANTES DE IR, FALA: RUFINO Leia o livro. Vai preparar seu espírito pro que está por vir... RUFINO TRANCA A PORTA. EVA Seu destino será muito pior do que o meu, Rufino. Isso eu tenho certeza! CENA 03/CASA PATRÍCIO/QUARTO JEFERSON/INT/TARDE ISABEL ESTÁ DEITADA NA CAMA, CHEIRANDO UMA CUECA DE JEFERSON. INSTANTES. JEFERSON ENTRA NO SEU QUARTO E LEVA O MAIOR SUSTO, QUANDO VÊ ISABEL EM SUA CAMA. JEFERSON Isabel? Que cê tá fazendo aqui, garota? ISABEL Demoro, meu gato! Posso saber onde você tava? JEFERSON (RÍSPIDO) Não é da sua conta! JEFERSON VÊ SUA CUECA NAS MÃOS DE ISABEL E PEGA. ISABEL Só estava sentindo seu cheiro! JEFERSON Você não me respondeu: o que tá fazendo aqui? Como você entrou? ISABEL Isso é jeito de falar com a mãe do seu filho? JEFERSON (ASSUSTA) Como é? ISABEL COMEÇA A RIR. ISABEL (ACHANDO GRAÇA) Tô brincando, seu bobo! Você tinha que ver sua cara... ISABELA SE APROXIMA DE JEFERSON, AINDA NA CAMA. ISABEL Mas se quiser, podemos fazer com que essa brincadeira, possa se tornar verdade! JEFERSON SE AFASTA DE ISABEL. JEFERSON Vai embora, Isabel... O que você quer?

4 ISABEL Já está sabendo da novidade? Aposto que não. Tá chegando agora. JEFERSON Que novidade? ISABEL Tem a ver com a Rebeca! JEFERSON FICA MAIS SÉRIO DO QUE JÁ ESTAVA E SE APROXIMA DE ISABEL. JEFERSON (SÉRIO) O que tem a Rebeca? Fala, Isabel! ISABEL Calma, eu vou falar. Não precisa ficar nervosinho... (T) Sabe quem será o novo padre da cidade? Nada mais, nada menos, do que o Pedro, filho do Rufino! JEFERSON (SEM ACREDITAR) O Pedro?! Aquele maldito? Não pode ser... desgraçado! ISABEL Imagina como vai ser tendo o Pedro de volta? Acho que você podia desistir de uma vez por todas de ficar com a Rebeca e ser só meu, como é nosso destino, do qual você está fugindo! JEFERSON Para de dizer merda, Isabel! (T) Não pense que me esqueci do que você fez, inventando pra Rebeca que nos dois transamos. Você ainda me paga! JEFERSON PEGA NO BRAÇO DE ISABEL E A FORÇA SAIR DO QUARTO. JEFERSON E agora saí do meu quarto. Dá minha vida. Me esquece! ISABEL Você tá me machucando! JEFERSON É pra machucar mesmo. Pra ver se assim me esquece de uma vez por todas! NA PORTA, ISABEL FALA: ISABEL Você ainda vai comer na minha mão! JEFERSON BATE A PORTA NA CARA DE ISABEL. ESTÁ FURIOSO. PEGA ALGUM OBJETO E JOGA NA PAREDE. JEFERSON Merda... merda! Esse desgraçado não pode voltar a me atrapalhar. Não agora, que está tudo planejado pra Rebeca voltar pra mim... CENA 04/CASA PATRÍCIO/CORREDOR/INT/TARDE ISABEL ESCUTA ATRÁS DA PORTA. JEFERSON (OFF) Esse sequestro tem que dar certo. Só assim a Rebeca vai voltar a me amar. Eu tenho certeza disso! ISABEL (ESTRANHA) Sequestro? O Jeferson vai sequestrar a Rebeca? CENA 05/CASEBRA GORETE/PORTA/INT/TARDE GORETE ABRE A PORTA. É ISABEL. GORETE Achei que não vinha mais! CENA 06/CASEBRE GORETE/INT/TARDE GORETE ACABA DE SERVIR UM CHÁ PRA ISABEL. GORETE Se voltou é porque não desistiu do que me disse ontem... ISABEL Não mesmo! Só desisto quando eu consigo. E eu ainda não consegui ter o Jeferson pra mim. GORETE Está realmente disposta? ISABEL Sim! Quero ter o Jeferson só pra mim. Comendo aqui, na palma da minha mão, como um boneco, um fantoche, que eu manipulo a meu bel-prazer. GORETE Não vai sair barato.

5 ISABEL Pago o quanto for. GORETE Vou precisar que você consiga uma peça de roupa dele, de onde vou extrair a força, a energia necessária, que aliada a sua, serão os elementos principais do elixir. ISABEL RETIRA DO BOLSO A CUECA DE JEFERSON, QUE ELA PEGOU NO QUARTO DELE. ISABEL Já me adiantei... CENA 07/QUARTO JEFERSON/INT/TARDE FLASH-BACK A SER GRAVADO. CONTINUAÇÃO DA CENA 20, NA SEQUENCIA EM QUE JEFERSON PEGA NO BRAÇO DE ISABEL E A FORÇA SAIR DO QUARTO. NESSE MOMENTO, CAM DETALHA ISABEL PEGANDO A CUECA DE JEFERSON, QUE ELE DEIXOU EM CIMA DO MÓVEL, PERTO DA PORTA. ELA RÁPIDAMENTE COLOCA NO BOLSO. CENA 08/CASEBRE GORETE/INT/TARDE CONTINUAÇÃO DA CENA 06. GORETE E ISABEL. GORETE Ótimo! Estou vendo que você é uma garota bem esperta. (T) Agora falta só sua parte... ISABEL TIRA SUA BLUSA. TIRA SEU SUTIÃ. SEIOS A MOSTRA. ENTREGA PRA GORETE O SUTIÃ E COLOCA DE VOLTA A BLUSA. ISABEL Não falta mais nada! GORETE Tudo bem! Agora preciso de tempo. Fazer esse tipo de poção requer tempo. ISABEL Quanto tempo vai demorar? GORETE Não o nosso tempo, minha querida! Mas o tempo da natureza, pra que todos os elementos consiga passar pra poção sua contribuição pra que esse homem seja seu! ISABEL Já te disse que por esse homem sou capaz de tudo. Tudo bem! CENA 09/QUARTO /INT/TARDE ACABA DE SAIR DO BANHO. DE ROUPÃO, SENTA NA CAMA, DE FRENTE PRO ESPELHO E COMEÇA A PENTAR O CABELO. BATE NA PORTA. Entra. (ENTRANDO) Podemos conversar? Claro tio. SENTA DO LADO DE. Já fiquei sabendo de tudo. O Pedro vai voltar pra Jandaia como novo padre. Eu não vou aguentar isso, meu tio. Vai ser uma tortura diária ver o homem que amo, sem poder tê-lo comigo, como era o nosso destino se o pai dele não tivesse feito o que fez... A Mary me disse que você está querendo ir embora. É isso? Sim. É isso mesmo. Fazer um curso. Uma viagem... algo que possa ocupar minha cabeça, meus pensamentos. Que cesse, nem que seja por um período, meu sofrimento, que acho que nunca terá fim! Já pensou em algum lugar? Na Holanda. Longe assim, Rebeca? Do outro lado do mundo praticamente.

6 É um país que oferece excelentes cursos, centros de pesquisa de ponta, enfim... onde vou poder me aperfeiçoar mais, nessa imersão completa que pretendo fazer nos estudos. Você sabe que sempre pode contar comigo, não é? Claro, tio. Nem sei do que teria sido da minha vida, da Betânia, se o senhor não nos tivesse criado depois da morte dos nossos pais, naquele acidente de carro, onde nos salvamos por milagre. Então se isso vai te fazer bem, tanto pelo lado da sua profissão, quanto pelo seu coração, conta comigo mais uma vez! Te dou todo meu apoio, inclusive apoio financeiro. Não tenho muito dinheiro, mas raspamos o tacho e pagamos sua viagem. Nem pensar! Esse dinheiro que o senhor está juntando é pra comprar outro barco. (T) Eu dou meu jeito. Não se preocupe com isso. O senhor já está me ajudando muito me apoiando nessa decisão difícil, mas que será necessária, que darei na minha vida. E SE ABRAÇAM. BEIJA A TESTA DE. Fica bem, viu! Vou ficar... (T) Vou voltar pro posto. Tenho pacientes me esperando. SAÍ. VOLTA A SE OLHAR NO ESPELHO. Uma nova Rebeca vai nascer, renascida das cinzas como uma fênix. CENA 10/HOSPITAL/SALA ESPERA/INT/TARDE BEATRIZ ESTÁ SENTADA, MEXENDO EM UMA REVISTA, VIRANDO-A DE TODOS OS LADOS. RUFINO CHEGA E SE APROXIMA. RUFINO Cadê o Pedro? BEATRIZ Tá na capela. CENA 11/HOSPITAL/CAPELA/INT/TARDE PEDRO ESTÁ AJOELHADO, REZANDO. RUFINO ENTRA, SE APROXIMA. RUFINO Desculpa pela demora, filho. PEDRO Tudo bem, pai. Aproveitei pra rezar um pouco. RUFINO Vamos? A cidade está toda ansiosa a sua espera. Já contei a novidade pra todo mundo, como cabe a mim, o prefeito! PEDRO LEVANTA E ENCARA RUFINO, QUE PERCEBE A EXPRESSÃO PESADA DE PEDRO. RUFINO Tá tudo bem, meu filho? PEDRO Antes de ir, eu preciso falar uma coisa com o senhor. RUFINO O que foi? Você não está se sentindo bem? Vamos falar com o médico.../ PEDRO (CORTA, FIRME) Não é isso. Estou bem, graças a Deus! É sobre minha ida pra Jandaia? RUFINO O que tem isso? PEDRO Eu decidi que não quero assumir o lugar que padre Januário deixou. RUFINO É PEGO COMPLETAMENTE DE SURPRESA PELO QUE PEDRO FALA. DESSE MOMENTO, CORTA PARA: FIM DO CAPÍTULO 24