A ANÁLISE DA PAISAGEM ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS TIRADAS PELOS PRÓPRIOS ALUNOS: OS POSSÍVEIS USOS PARA O CELULAR NAS AULAS DE GEOGRAFIA
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1 A ANÁLISE DA PAISAGEM ATRAVÉS DE FOTOGRAFIAS TIRADAS PELOS PRÓPRIOS ALUNOS: OS POSSÍVEIS USOS PARA O CELULAR NAS AULAS DE GEOGRAFIA Ires de Oliveira Furtado Universidade Federal de Pelotas iresfurtado@gmail.com 1. INTRODUÇÃO Diariamente nos deparamos com as mais variadas formas de informação, que chegam até nós através da televisão, do rádio, de jornais e de revistas impressas e da internet. Porém, se essas informações não forem processadas e organizadas, não há conhecimento (ALARCÃO, 2010). O conhecimento surge a partir da organização e da reflexão crítica sobre essas informações, que podem ser verdadeiras ou falsas. O processo de ensino-aprendizagem irá dar-se de diferentes formas, nas diferentes sociedades, sendo sempre fundamental estabelecer relações entre o saber que é adquirido no cotidiano com aquele que é produzido na escola. Mas para que isso aconteça é importante que o conhecimento escolar seja organizado com a finalidade de valorizar a realidade do aluno e os saberes que este carrega, estimulando a reflexão e a crítica sobre o meio em que vive. Porém, em algumas escolas, os métodos tradicionais de ensino não despertam o interesse dos alunos, levando-os a desmotivação em relação às aulas. A escola acaba, mesmo que não intencionalmente, competindo com o mundo fora dela, que é repleto de novas tecnologias e novas formas de obter informações. Esse fato leva a pensar sobre novas práticas de ensino que valorizem a realidade do meio onde os alunos vivem. De acordo com Porto (2006), o grande número de alunos em sala de aula dificulta a aproximação do professor com o cotidiano e a subjetividade de cada um, ou seja, é difícil saber o que cada aluno anseia. Apesar de ser difícil para o professor conhecer a vida de cada um de seus alunos, ele pode relacionar suas aulas com o contexto da cidade onde os alunos moram e onde
2 se localiza a escola, integrando as vidas dos educandos aos conteúdos trabalhados, ressignificando os conceitos, que na maioria das vezes, parecem ser tão distantes e sem utilidade no cotidiano. Para romper com a concepção tradicional de ensino, têm sido valorizadas metodologias que estimulem os alunos à reflexão crítica sobre a ação humana no processo de produção do espaço, de modo que os conteúdos de aula tenham sentido também para atender as questões da vida, e não só para responder às exigências curriculares da escola. Para isso, esse projeto visa investigar o uso de um instrumento que muitos hoje possuem: o telefone celular. Esse aparelho não é mais utilizado somente para fazer ligações telefônicas, mas também para ouvir música, fotografar e conectar-se a internet por meio da operadora ou por rede de internet sem fio, hoje disponível livremente em muitos lugares, como restaurantes, escolas e outros espaços públicos. Pesquisas recentes mostram que o barateamento dos smartphones fez com que crescesse o número de brasileiros que possuem telefone celular. Em pesquisa divulgada no dia dezesseis de maio do presente ano, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), afirma que o percentual de brasileiros com telefone celular subiu de 36,6%, em 2005, para 69%, em Em números absolutos, o total passou de 55,7 milhões de pessoas para 115,4 milhões, um crescimento de 107,2%. (AGÊNCIA BRASIL, 2013). 1 Essa pesquisa mostrou também que a Região Sul do Brasil está entre as regiões com os maiores índices de pessoas que possuem aparelho celular. Esse dado pode ser visível nas salas de aula, pois muitos alunos têm celulares e os levam pra escola, fato que levou o governo do Estado do Rio Grande do Sul a sancionar a Lei , de 3 de janeiro de 2008, que proíbe a utilização de celulares em sala de aula, nas instituições de ensino público ou privado, deixando a fiscalização e tomada de medidas a cargo da instituição. 1 Fonte: < 107-entre-2005-e-2011> Acesso em 29 de junho de 2013, às 22h45min.
3 Dessa forma, o celular é visto como um vilão em sala de aula, pois ele desvia a atenção do aluno para um mundo diferente do quadro, do giz e do caderno, um mundo onde ele pode jogar video games, conversar com amigos que não estão por perto, fotografar, etc. Então, se o celular tem tantos atrativos e está ao alcance de professores e alunos, por que não utilizá-lo para fins didáticos? Já que muitas escolas públicas carecem de recursos, por que desperdiçar uma tecnologia que pode ser utilizada na construção de conhecimento? São questões como estas que a pesquisa do presente projeto buscará responder e explorar. A presente pesquisa irá dedicar-se a investigar quais são as possibilidades de utilização dos recursos do celular para a construção de conhecimento, focando-se no ensino de Geografia, mas com dados e experiências que possam também contribuir para outros componentes curriculares, pois a transdisciplinaridade também é uma preocupação atual. 2. OBJETIVOS O objetivo geral da seguinte pesquisa é investigar o uso do celular em sala de aula e suas possibilidades para a construção do conhecimento, focando no ensino de Geografia através da leitura da paisagem da cidade por meio de fotografias tiradas pelos próprios alunos com as câmeras de seus celulares, buscando aprofundar o conhecimento sobre esse tipo de experiência, a fim de identificar os seus possíveis ganhos para o processo de ensino-aprendizagem. O processo de construção do conhecimento buscará proporcionar aos alunos um espaço de reflexão sobre o local onde vivem. Optou-se pelo uso da fotografia como um meio porque esta tem a capacidade de desacelerar o olhar (DANTAS, 2009, p. 5), para enxergar detalhes do cotidiano, que ao olhar acostumado, parecem não portar sentido no processo de modificação do espaço geográfico.
4 Já a escolha da leitura da paisagem deu-se por diversos motivos. Um deles é que os Parâmetros Curriculares Nacionais definem que o estudo sobre o espaço através da análise e leitura da paisagem, é de responsabilidade da Geografia, e que sua atividade constante permite aos alunos conhecer os processos de construção do espaço geográfico (PCNs, 1998, p. 19). Outro, por acreditar que a leitura da paisagem, do conteúdo escrito da Geografia e das fotografias associados às novas tecnologias de informação e comunicação despertam o interesse do aluno sobre a aprendizagem, ajudando a estabelecer a autonomia do pensar e do fazer (SCHÄFFER, 2000, p. 88). No caso da paisagem da cidade onde vive, por exemplo, a análise crítica do lugar retratado irá permitir ao aluno fazer relações do assunto que foi visto com outros lugares diferentes, ampliando o conhecimento construído sobre o seu cotidiano e, posteriormente, transportá-lo para outras realidades. Já nos objetivos específicos, encaixam-se: a) Investigar, por meio de entrevistas, a opinião de professores sobre o uso do celular em sala de aula e se este é utilizado para fins didáticos; b) Investigar o interesse de alunos em participar de atividades com o uso do celular para a construção do conhecimento; c) Construir atividades partindo da percepção dos alunos sobre o entorno, estabelecendo o que os mesmos consideram ser importante discutir no âmbito das aulas de Geografia; d) Mostrar que, mesmo com as dificuldades enfrentadas pelas escolas públicas, existe a possibilidade de produzir o conhecimento voltado para o cotidiano; e) Construir um material que possa contribuir para prática de outros professores. 3. METODOLOGIA
5 O processo de investigação buscará basear-se na abordagem qualitativa de pesquisa, que, de acordo com Minayo (2008): trabalha com o universo dos significados, dos motivos, das aspirações, das crenças, dos valores e das atitudes. Esse conjunto de fenômenos humanos é entendido aqui como parte da realidade social, pois o ser humano se distingue aqui não só por agir, mas por pensar sobre o que faz e por interpretar suas ações dentro e a partir da realidade vivida e compartilhada com seus semelhantes (p. 21). Seguindo o ciclo também proposto pela autora (idem ibidem), dividindo-se em três etapas, sendo elas: (1) fase exploratória; (2) trabalho de campo; (3) análise e tratamento do material empírico e documental (p. 26). Na fase exploratória, haverá a revisão bibliográfica de textos referentes à temática abordada pela pesquisa. Com base nesse referencial teórico, serão construídas entrevistas a serem respondidas por professores e alunos, bem como a experimentação de atividades elaboradas no decorrer na pesquisa. Posteriormente a essas etapas, haverá a análise e escrita sobre o material da pesquisa, que tem como finalidade estabelecer uma compreensão dos dados coletados, confirmar ou não os pressupostos da pesquisa e/ou responder as questões formuladas, e ampliar o conhecimento sobre o assunto pesquisado, articulando-o ao contexto cultural do qual faz parte. (GOMES, 2008, p. 69). Os dados obtidos na pesquisa também podem ir sendo analisados no decorrer da fase de coleta de dados (GOMES, 2008) A pesquisa buscará pautar-se também na abordagem de pesquisa-ação, que é aquela que, além de compreender, visa intervir na situação, com vistas a modificá-la. O conhecimento visado articula-se a uma finalidade intencional de alteração da situação pesquisada. Assim, ao mesmo tempo que realiza um diagnóstico e a análise de uma determinada situação, a pesquisa-ação propõe ao conjunto de sujeitos envolvidos mudanças que levam a um aprimoramento das práticas analisadas. (SEVERINO, 2008, p 120).
6 Ou seja, a pesquisa não será apenas uma investigação sobre o já existente, mas também uma proposta de novas práticas que possam auxiliar no processo de construção de conhecimento na escola. 4. RESULTADOS PRELIMINARES A presente pesquisa ainda encontra-se na sua fase inicial. Até o presente momento já foram realizadas entrevistas e questionários com uma turma de oitava série de uma escola da rede pública estadual da cidade de Pelotas/RS - Brasil. As respostas mostraram que todos os alunos dessa turma possuem celular com câmera integrada e que fotografavam vários motivos diariamente, armazenando essas fotografias no próprio celular e em redes sociais. Diante disto viu-se possível a realização de uma série de atividades em que os alunos utilizassem essa tecnologia para a construção do conhecimento nas aulas de Geografia. Pois principalmente nas escolas públicas, que carecem de recursos para a realização de atividades que despertem o interesse dos alunos, é fundamental explorar as tecnologias que estão disponíveis para alunos e professores. Nesta etapa, os alunos foram convidados a fotografar partes do seu cotidiano que lhes fossem interessantes de compartilhar com os colegas e discutir sobre elas em sala de aula. Essas fotografias foram levadas para as aulas e visualizadas por meio de um notebook conectado a um projetor, para que através delas fossem construídos em conjunto os conceitos da Geografia. Esta pesquisa tem buscado possibilitar que os alunos levassem para as aulas de Geografia partes de seu cotidiano que lhe interessavam, permitindo conhecer um pouco sobre a realidade destes alunos, bem como analisar os possíveis ganhos com a utilização do telefone celular no processo de ensino-aprendizagem. Nesse tipo de trabalho, a análise da imagem fotográfica permite que se compreenda mais profundamente elementos que parecem não carregar sentido no processo de
7 formação da cidade e no seu desenvolvimento, permitindo que sejam melhor compreendidos pelos alunos, mostrando que estes também tem um papel importante na sociedade. 5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS: ALARCÃO, Isabel. Professores reflexivos em uma escola reflexiva. São Paulo: Cortez, BRASIL. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros curriculares nacionais: geografia. Brasília: MEC/SEF, DANTAS, Eugênia Maria. Memória, educação, fotografia: leituras complexas. Disponível em: Acesso em: 10 de junho de 2013, às 14h25min. GOMES, Romeu. A análise dos dados em pesquisa qualitativa. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 27 ed. Petrópolis: Vozes, 2008 MINAYO, Maria Cecília de Souza. O desafio da pesquisa social. In: MINAYO, Maria Cecília de Souza (org.). Pesquisa Social. Teoria, método e criatividade. 27 ed. Petrópolis: Vozes, PORTO, Tânia Maria Esperon. As tecnologias de comunicação e informação na escola; relações possíveis... relações construídas. In: Revista Brasileira de Educação. V. 11, n. 31 jan./abr RIO GRANDE DO SUL. Lei , de 3 de janeiro de SCHÄFFER, Neiva Otero. Ler a paisagem, o mapa, o livro... Escrever nas linguagens da geografia. In: NEVES, Iara Conceição Bitencourt et. al. (org). Ler e escrever. Compromisso de todas as áreas. Porto Alegre: UFRGS, (p ). SEVERINO, Antônio Joaquim. Metodologia do trabalho científico. São Paulo: Cortez, VILELLA, Flávia. Número de brasileiros com celular cresce 107% entre 2005 e Disponível em: < Acesso em 29 de junho de 2013, às 22h45min.
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