As transformações do AM: perspectiva da programação frente a concorrência do FM e a digitalização das transmissões Nicolau Maranini (UGF) 1

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1 As transformações do AM: perspectiva da programação frente a concorrência do FM e a digitalização das transmissões Nicolau Maranini (UGF) 1 Resumo Quais as características da programação da Rádio AM para os próximos anos? Como os profissionais do meio estão prevendo as mudanças? Este trabalho pretende apresentar algumas opiniões sobre o possível encaminhamento da Rádio AM para os próximos anos, sem pretender ser um exercício de futurologia. Para isso foram entrevistados profissionais do rádio - entre comunicadores, jornalistas, publicitários, engenheiros e diretores e programadores de emissoras do Rio de Janeiro e de São Paulo - que contribuíram para formatar este trabalho com : Introdução; as projeções para rádio AM; os ouvintes do presente e do futuro da AM; a audiência das FMs; as tendências da rádio AM e conclusão. Palavras-chaves: rádio AM, programação radiofônica, tendências do rádio. Introdução O Rádio AM no Brasil sofreu profundas transformações desde seu surgimento, em Ele marcou uma mudança nas relações de poder com ressonância popular no período que antecedeu os anos Primeiro, foram as rádios sociedades com sua programação elitizada. A entrada da publicidade poucos anos depois provocou um crescimento no setor com o lançamento de novos produtos, influenciando grupos sociais para o seu consumo 3 culminando com a época de ouro do Rádio Brasileiro. As dificuldades surgiram com advento da TV, na década de 50, com perda de receita publicitária e a fuga de profissionais para o novo veículo que surgia com todo um glamour. A entrada em funcionamento do transistor na década de 60 permitiu a mobilidade do aparelho de rádio dando um novo alento para o veículo. Poucos anos depois, o AM voltou a sofrer um novo golpe com a entrada da Freqüência Modulada, que trouxe uma qualidade melhor de som e um novo conceito de musicalidade com interação de ouvintes. A preferência pelas emissoras FM continua em escala crescente. Cerca de 75% da audiência de rádio em São Paulo acontece nessa freqüência 4. Muitos especialistas chegaram a levantar hipóteses na época de que o rádio teria seu ciclo encerrado. Ao contrário das previsões catastróficas, o rádio conseguiu manter-se como um 1 Formado em Relações Públicas e em Jornalismo pela Universidade Gama Filho, Mestre em Comunicação pela Universidade Metodista de São Paulo UNIMESP. Doutorando em Comunicação Social pela UNIMESP. Professor da Universidade Gama Filho. 2 SODRÉ- Nélson Werneck. História da Imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966, p CAPARELLI, Sérgio.Comunicação de massa sem massa, São Paulo, Summus,1986, p.74 4 Jornal Meio & Mensagem. Mídia e Mercado. 20/09/1999

2 veículo de altíssima credibilidade dosando música, informação e serviço com entretenimento e humor. O Rádio ganhou um formato de talk radio, uma rádio mais falada diferentemente de uma rádio musical, através de programas com a participação de comunicadores 5. As emissoras AM estão mais vocacionadas ao rádio que fala, isto é, ao jornalismo e à prestação de serviços, enquanto o FM se destina mais à música 6. Dados recentes do Instituto Brasileiro de Opinião Pública- Ibope- indicam que a soma da audiência média das emissoras do Rio em 1990, apresentava uma audiência média do AM de 350 mil ouvintes por minuto, o que representava a soma da audiência de todas as emissoras AM juntas, contra uma média do FM de 650 mil ouvintes por minuto. Em 1999 o Ibope constatou que a média do AM subiu para 400 mil ouvintes por minuto, enquanto que a média do FM chega a 1,3 milhão ouvintes por minuto. Isto significa um crescimento geral de 40% na audiência total do rádio, uma leve subida do AM e uma significativa subida do FM 7. As Projeções para a Rádio AM Informação, serviço e humor. Este trinônimo que serviu de base para a atuação da Rádio nos últimos anos está sendo considerado como uma das possíveis fórmulas para o futuro. A rádio vai ser dinâmica, liberta, com a conquista da livre expressão e os jovens saberão exatamente o que fazer. A opinião é da locutora Julia Soares, da Rádio Comunitária Jacarepaguá. O assistente comercial João Carlos Marcondes 8 observa, que as mudanças deverão ser profundas com um novo posicionamento dos comunicadores. As características dos antigos comunicadores já estão ultrapassadas, o novo comunicador deve ser muito próximo ao de um âncora, com conhecimento dos fatos passando credibilidade, gerando retorno de audiência. A mudança do posicionamento dos comunicadores no futuro da Rádio AM gera opiniões discordantes. O comunicador Gilson Ricardo 9, defende a profissão, o comunicador tem a missão de passar alegria para as pessoas. As vezes você tem que dar uma notícia ruim, uma notícia triste, de alguém que morreu de acidente, de uma explosão ou de avião que caiu. Isso é uma notícia ruim, mas que tem que ser dada, fazendo parte da comunicação e as vezes você tem que comunicar isso, você lamenta que tenha acontecido, mas não tem jeito, é uma situação muito complicada, mas é a importância da comunicação, quer dizer, para o ser humano em modo geral. E para a gente, 5 NOVIS, Paulo. Paulo Novis é Diretor da Rádio Globo Am, entrevista em 10/08/99, em depoimento para esta pesquisa. 6 Jornal Meio & Mensagem. Mídia e Mercado. 20/09/ AURÉLIO, Marco. Marco Aurélio é âncora do programa CBN Total, diário no horário das 14h às 17h. Entrevista em 05/09/1999, em depoimento para esta pesquisa 8 João Carlos Marcondes trabalha na Rádio Tupi há 26 anos e atualmente é Assessor Comercial da Diretoria da Empresa, em depoimento para esta pesquisa 9 Gilson Ricardo é repórter esportivo do sistema Globo de Rádio e já esteve a frente de um programa diário na emissora intitulado Sacode Geral, em depoimento para esta pesquisa

3 principalmente que convive nesse meio, é ter tranqüilidade para passar a notícia, o objetivo é o que? atingir o ouvinte. Gilson Ricardo acredita que o modelo atual do comunicador vai ser mantido e a tendência é o comunicador ganhar mais espaço na programação das emissoras de rádio AM. Francisco Barbosa 10, concorda com uma participação alegre e acrescenta a que o comunicador tem que ter muito o humor, com piadas e brincadeiras, mas tudo revestido com a informação e do serviço. Mas nem todos concordam com a fórmula alegre e humorística de alguns comunicadores. O Diretor Osmar Frazão 11 critica quem comete exageros evitamos que os nossos comunicadores fiquem contando piadas de mal gosto, piadas indecentes, piadas que a sua filha ou sua irmã pequena não têm o direito de ouvir: uma piada imoral. Não tem esse direito porque de repente ela vai perguntar ao seu pai o que é determinada palavra. Então hoje, o que existe hoje, o que eu acho e brigo, nós brigamos sempre, graças ao que a nossa emissora luta, é pela tranqüilidade de vocabulário, não ter piadas chulas, não ter palavrão, não aceitamos isso. O Diretor da Rádio Globo, Paulo Novis, tem como expectativa para os próximos anos um formato modernizado e atualizado dos atuais comunicadores, já que o formato clássico, antigo que está sendo utilizado há 40 anos. Estamos estudando fortemente a modernização e atualização desse formato, provavelmente continuará com essa mesma idéia de talk rádio, uma rádio falada uma rádio companheira, uma rádio de entretenimento, porém o conteúdo desse programa certamente serão modificados. O jornalista Marco Aurélio acredita na evolução do comunicador para âncora que tem que trazer utilidade para as pessoas, informações úteis, colocar temas polêmicos, ativar a participação do ouvinte. Fugir um pouco da economia e da política, onde economia e política só entram no factual, quando tem notícia, não entram como tema, entram como notícia com os repórteres. E no resto é discutir comportamento humano, sexualidade, religião, cultura e esporte, abordando uma variedade maior de temas. Ao analisarmos o Show do Antônio Carlos 12 (11), um programa típico do Rádio AM da atualidade,verificamos que presta serviços de ajuda aos ouvintes, registrando queixas contra órgãos 10 Francisco Barbosa foi comunicador da Rádio Globo de 1985 até Jan 2000 e possuía um programa diário de três horas de duração de Segunda a Sábado chamado de Show datarde, em depoimento para esta pesquisa. 11 Osmar Frazão é Diretor da Rádio Nacional /RJ e comanda um programa aos domingos chamado Histórias da Música Popular Brasileira, que vai ao ar de 11 horas da manha até o meio dia, um programa que conta a história da Música Popular Brasileira. Aos Domingos, às 21 horas, tem um programa chamado Parada de Todos os Tempos, que eu apresento com o comunicador Gerdau dos Santos que é um dos mais antigos funcionários e brilhantes da Radiofonia do Brasil, em depoimento para esta pesquisa. 12 O Programa Show do Antônio Carlos teve início no ano de 1977 na Rádio Tupi. Lá foi apresentado por 10 anos, quando então, passou para a Rádio Globo onde está no ar há 11 anos.. O show que ia ao ar de 5 às 7h da manhã, passou para o horário de 6 às 9h. Fazendo a produção do programa existem quatro produtores nas seguintes tarefas: coordenação de todas as atividades do programa, assistente do coordenador geral, atendimento ao ouvinte e porta voz dos ouvintes. Não existem reuniões para definição de pautas. A participação do público é diversificada e acontece

4 públicos e outras denúncias, fornece informações sobre o trânsito e o tempo e entrevista autoridades e pessoas ligadas ao dia-a-dia dos ouvinte. Fizemos uma análise distribuindo entre os Gêneros Jornalísticos e Opinativos, segundo Marques de Mello. A distribuição do Gênero Jornalístico Nota = 23 50, Notícia = 6 50, Entrevista 5 40, Reportagem 3 50, Enquete 50, Totalizando Enquanto que no Gênero Opinativo; Editorial = Não tem, Crônica = Não tem, Artigo = Não tem, Coluna = 43 40, Comentário = 10 20, Carta = 2 00, Total de Gênero Opinativo = Uma média de participação Comercial de 32 10, com Música = 7 30, Vinheta = 6 00, Outros = Ouvintes do Presente e do Futuro da AM A programação do Rádio AM atual atinge basicamente mulheres com idade acima dos anos. A informação é de Paulo Novis que deixa transparecer que está preocupado com a criação de motivos que levem a um rejuvenescimento dos atuais ouvintes da rádio AM. Nós queremos rejuvenescer essa programação, a gente quer que essa programação atinja mulheres acima de trinta. O objetivo é abaixar essa faixa de 45 para 30 anos. Basicamente teremos maior número de ouvintes por mais tempo. A medida que você não renova seus ouvintes, que você não capta pessoas novas, a tendência é que sua audiência vai envelhecendo e quando você não incorpora novos ouvintes sua tendência é perder audiência ao longo do tempo. Segundo Novis os ouvintes que querem atingir pertencem a classe de mulheres acima de 30 anos, das classes B e C, sendo que o desafio é procurar entender os anseios desse ouvinte, sua família, sua comunidade. O que esse target gostaria de ouvir dessa rádio que ela gosta de ouvir, que é a rádio companheira dela?. Francisco Barbosa concorda com o envelhecimento dos ouvintes da rádio AM e classificou de o fenômeno de robertocarliano.. O que acontece com as rádios é o sistema Robertocarliano. O que Roberto Carlos fez de 83 prá cá continua repetindo com medo de perder o público que tinha, as pessoas vão morrendo e ele vai diminuindo a audiência, e não vai renovando. E o rádio peca em não se renovar, está viciado em uma determinada faixa de ouvintes, e se torna a partir desta faixa: e é por isso que levamos mais pro lado do humor, na linguagem arejada mais não menos complicado, simples e direta que todo mundo fala com gente jovem. Podemos constatar ouvintes de 7 anos e ouvintes de 70 e 80, fazemos rádio para todo mundo, o mal é que alguns comunicadores acham que AM é direcionado somente para idosos. João Carlos Marcondes informa que as pesquisas que constantemente estão sendo feitas junto ao IBOPE tem como principal objetivo descobrir as características e fazer uma programação através de cartas e telefonemas durante todo o programa de ouvintes que denunciam problemas que ocorrem em seu bairros, são os chamados repórteres amadores.

5 para voltada para o ouvinte. Ele afirma que a rádio AM não conquista o ouvinte pelas músicas. Para se ter uma idéia, entre cinco da manhã e três da tarde, toca três músicas Na verdade, o ouvinte quer 38% de noticiário e reportagens, 28% de futebol, 9% de utilidade pública, 8% de atendimento, 10% de comunicadores e 7% para os demais. Sistema Globo de Rádio tem a Globo/SP, líder no AM. De forte apelo popular, a Globo é voltada para um público feminino, na faixa dos 40 os 50 anos, das classes C, D e E, que tem a figura do comunicador Paulo Lopes sua maior expressão. Líder no horário das 9h às 10h da manhã, Lopes atinge picos de 400 mil ouvintes por minuto, gerando 3 pontos de audiência. No concorrido mercado AM, a Globo se consagrou por conseguir cativar esse público e manter a audiência estável. O estilo talk gera, em média, cinco horas de audiência por ouvinte na Globo 13. A Audiência das FMs Luiz Miguel Borgerth, diretor comercial da FM Jovem Pan, afirma que todas as vezes em que a emissora deixa seu estúdio original e passa a transmitir de outro ponto, a audiência cresce sensivelmente. Da mesma forma, quando há alguma promoção no ar, o ouvinte é instigado a ficar ligado e observar as dicas para ganhar prêmios. Em geral, o público jovem gosta de concorrer a automóveis, mas a promoção Eu tô quebrado, em que enviava contas atrasadas para a emissora e concorria a R$ 5 mil para quitá-las, teve retorno expressivo, segundo Borgerth. Prioritariamente, a programação da Jovem Pan tem como público-alvo os jovens de 17 a 24 anos, mas impacta também os adultos, pais dos ouvintes, com os esquetes de humor. Segundo os estudos da Dainet Multimídia, a Jovem Pan atinge 15 milhões de ouvintes das classes A e B. Borgerth credita esse volume à popularização da TV, obrigando os jovens a ouvir suas músicas preferidas em rádios segmentadas. Outro fator que contribui para alavancar a audiência, especialmente na praça de São Paulo, é o trânsito, que faz com que o motorista ligue o rádio para se distrair. Ele explica que a emissora teve um crescimento de audiência de 30% em função desses fatores no último ano, sem alteração na programação. Como novidade, a emissora mantém o personagem Paulo Jalasca, que atua com música light, contando também com o programa carro-chefe Pânico, comandado por Emílio Surita. Nele, o ouvinte que liga para a emissora tem muitas vezes o telefone desligado na cara, caracterizando situações cômicas. Dependendo do entrevistado, o Pânico pode ter pico de 300 mil ouvintes, correspondendo a 3 pontos de audiência, em São Paulo, embora o programa tenha repercussão nacional. 13 Áureo Ameno é repórter e vereador no Município do Rio em depoimento para esta pesquisa.

6 Entre as rádios segmentadas, dirigidas ao público jovem, há uma rivalidade entre a Jovem Pan, que possui marca forte no mercado, e a 89, detentora de maior audiência nesse target. As duas rádios juntas proporcionam praticamente cobertura total desse público. Após o boom nacional do estilo sertanejo romântico, o público de rádio está migrando para suas emissoras de origem. No Sul, a RBS Rádio tem notado um crescimento na audiência das emissoras da Rede Atlântida FM. Para Roberto Pauletti, gerente geral do Sistema RBS de Rádio, das classes B e C incrementaram a audiência de emissoras como a Cidade, de Porto Alegre, que pertence ao grupo. Passada a euforia do início do ano, parte dos ouvintes jovens estão retornando às suas emissoras, diz ele. Prova disso é que há dois meses a Atlântida FM vem registrando crescimento gradual. Já a Cidade, que acusava 18 pontos em 1999, passou para 16 pontos neste ano. Em Porto Alegre, a Cidade lidera há quatro anos a audiência, mas passou a enfrentar a concorrência de emissoras como a Eldorado e a 104 (ambas da Rede Pampa) que mudaram sua programação adulta para o sertanejo. Ainda assim, a Cidade tem três pontos a mais que a Segunda emissora, mantendo a convivência do pop com o axé e o sertanejo romântico. As Tendências da Rádio AM Qual é a tendência mundial do rádio AM. O que se está fazendo na Europa e nos Estados Unidos? As emissoras de AM estão sendo usadas como uma rádio de caráter regional durante o dia, de informação e utilidade pública, e a noite as rádios são verdadeiros grandes noticiários nacionais. Este é o atual modelo da RTI francesa, informa Marco Aurélio. O AM caminha para uma rádio falada e de notícias, o FM caminha para uma rádio do batepapo, como já é nos Estados Unidos, em que boa parte das FMs já dedicam parte da horário da noite para fazer Talk-radio, que é uma programação que tem um âncora que provoca o ouvinte, que fala coisas provocativas e depois pede para telefonar para a rádio. Nesse talk-radio cada rádio muda apenas o estilo, umas abordam questão mais sexual, outras mais política, outras de maneira mais baixarias, e outras, de bom nível. Mas sempre no mesmo estilo, é o apresentador no estúdio e os debates rolando. Isso porque é a companhia dos solitários. A rádio AM caminha, mesmo que seja implantado a rádio AM estéreo, para ser a rádio de utilidade pública durante o dia, e noticiário nacional durante noite. E o FM a rádio de música ou de talk-radio, a rádio de bate-papo, desabafo, verdadeiros cartazes emocionais, porque o rádio é a companhia dos solitários e das pessoas que estão em estado de solidão.

7 Gilson Ricardo lembra que o rádio AM tem um grande concorrente que é a rádio FM. Com o passar dos tempos, a FM vai predominar, porque a qualidade de som é melhor. A tendência do ouvinte é passar a escutar a FM, quer dizer, com som estéreo, um som mais dinâmico, mais amplo, mais bonito, mais limpo, porque o futuro do rádio é a FM. Áureo Ameno 14 (13) faz uma projeção otimista para o rádio e lembra que nos EUA existe um tipo de rádio que não é mais nem AM, nem FM, é o rádio padrão. No futuro vamos acabar com esse conceito de rádio AM e FM, vamos ter o rádio padrão, o som padrão, o som excelente. A ciência está avançando cada vez mais, a tecnologia de ponta avança cada vez mais. Nós vamos ter o rádio padrão, uma espécie de rádio digital, então você não teria mais essa diferenciação de AM e FM. O rádio AM é claro que ele persiste, por causa do futebol, ele faz esporte, por causa da notícia, é um rádio informativo, de prestação de serviços, coisa que a FM também já está fazendo. As emissoras atuarão mais junto à comunidade. Com o trânsito cada vez mais caótico nas grandes cidades, o rádio espera dinamizar intensamente sua atuação comercial com o maior volume de audiência fora de casa. A informação é de Ângelo Franzão, vice-presidente de mídia da McCann-Erickson, ele acredita que o rádio perdeu as verbas comerciais para os outros veículos em conseqüência dos problemas tidos no passado, quando algumas emissoras deixaram de atender às solicitações dos anunciantes e de cumprir algumas programações. Isso acabou inibindo alguns anunciantes. Ao mesmo tempo, observo que o rádio está mais voltado para a comunidade e existem momentos específicos em que é fundamental a programação do meio, diz Franzão. Ele acha que as emissoras poderiam ser ainda mais vinculadas à comunidade, propondo campanhas sobre o trânsito, por exemplo, e assumindo o papel mobilizador de segmentos de públicos, como já fazem a Eldorado e a Jovem Pan. O rádio tem a capacidade de adequar projetos grandiosos, dando maior sentido ao conceito de comunidade. Essa também seria uma fórmula para ampliar os valores com que o meio trabalha" sugere. Antônio Rosa Neto, diretor da Dainet e do Grupo de Profissionais de Rádio (GPR), afirma que o rádio foi um dos meios que mais cresceram em publicidade, segundo o projeto Inter-Meios, de Meio & Mensagem. Ele acha que a digitalização das transmissões tornará o rádio mais atrativo. Com esse processo, o veículo viverá profundas alterações nos próximos cinco anos. Com som praticamente idêntico, AM e FM irão se comparar às revistas, que estão cada vez mais segmentadas por assunto, faixa etária, formato e regionalização. As emissoras viverão a experiência de transformar-se em grandes redes, com até 400 afiliadas e cobertura realmente nacional Fonte: Jornal Meio & Mensagem. Mídia e Mercado. 20/09/ Jornal Meio & Mensagem. Mídia e Mercado. 20/09/1999

8 O avanço tecnológico vai fazer com que as rádios mudem muito numa evolução tão rápida que não se pode dizer o que teremos daqui a cinco anos. Atualmente as rádios já estão na internet, permitindo ouvintes em todo o mundo. Isso também vai fazer com que se tenha muito mais opções de rádio, em um mercado, embrionário mas existente, em expansão. A informatização da programação também fará com que muitos profissionais percam seus empregos, pois o computador fará quase toda a programação. Porém, rádio é proximidade com o ouvinte e entra em questão a interatividade que cresce sempre. O que vem por aí na área de tecnologia é ilimitado. Luis Filipe Mello 16 (15) lembra que está chegando ao Brasil uma antena de transmissão, que já está sendo comercializada lá fora, de 9 metros de altura, enquanto que as nossas têm em torno de 100 metros ou mais. Então, em cinco anos ainda vai acontecer muita coisa de evolução do rádio que não dá para descrever. Roberto Feres 17 concorda que as mudanças da tecnologia e da globalização vão trazer mais audiência para as emissoras a globalização veio trazer mais audiência ao rádio, e um maior crescimento ao rádio. Já no horário nobre o rádio é bem ouvido, já na parte da tarde a televisão tem um maior espaço, e é bem assistida, porque tem os canais a cabo, mais qualidade. O desenvolvimento tecnológico pode levar à assinatura de emissoras de rádio. Os americanos parecem já caminhar para essa realidade. As duas maiores fabricantes de veículos dos Estados Unidos estão correndo para oferecer rádio via satélite em todo o território americano uma das maiores mudanças na arena do rádio desde a estréia da FM há mais de uma geração. A Ford Motor Co. planeja incluir a nova opção de rádio em alguns carros novos daqui a 18 meses. Por US$ 9,95 mensais, o usuário poderá captar cem canais de música com qualidade digital, sem comerciais, ou notícias em tempo integral, por meio de um sinal que cobrirá todos os EUA. Para instalar a novidade nos painéis, a Ford fez um acordo com a CD Rádio Inc. Já a General Motors Corp. anunciou recentemente que está investindo US$ 50 milhões na arqui-rival da CD Rádio, a XM Satélite Rádio Inc., assinando um contrato exclusivo para equipar seus novos veículos com rádios que poderão captar a programação da XM a partir do fim de No processo, a montadoras colocaram as duas empresas de rádio por satélite no mapa. Elas também levantaram um potencial desafio para os modelos empresariais de estações de rádio solidamente estabelecidas para quem os motoristas são uma grande fatia do mercado. Os novos sistemas vão transmitir programação digital por meio de satélites em órbita no espaço diretamente para o carro, onde quer que ele esteja. Antenas especiais em terra vão dar suporte à cobertura, para que prédios e outros obstáculos não interrompam os sinais dos satélites. 16 O jornalista Luiz Filipe Mello nasceu em Lisboa, Portugal, no ano de Veio para o Brasil menino. Chegou a cursar um ano de Ciências Sociais na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), mas logo percebeu sua vocação para o jornalismo. Iniciou sua carreira em Hoje, Luiz Filipe é diretor da FM 94, a conhecida Roquete Pinto, onde também apresenta um programa diário pela manhã. em depoimento para esta pesquisa 17 Roberto Feres é chefe de jornalismo da Rádio Tupi em depoimento para esta pesquisa

9 O serviço é como uma TV a cabo para o seu rádio, diz Michael Ledford, executivo da Ford responsável pelo projeto. As montadoras ganham mais do que uma engenhoca legal para seus produtos. Nos acordos feitos com a Ford e a GM, a CD Rádio e a XM vão ajudar a cobrir os custos de instalação de seus receptores nos carros e as montadoras vão receber uma parcela das taxas mensais que as empresas de rádio cobrarão dos usuários. No futuro, os fabricantes de veículos esperam usar a conexão por satélite para vender dados e outros serviços aos consumidores, atingindo o velho objetivo de tirar dinheiro dos compradores de carros bem depois que eles deixam as concessionárias. A Ford diz que, no começo, vai oferecer aparelhos de rádio via satélite em apenas alguns modelos para despertar interesse. Se a demanda crescer, o equipamento pode tornar-se padrão em alguns modelos. A DaimlerChrysler AG diz que está analisando a tecnologia e a CD Rádio e a XM afirmam que estão negociando com outras grandes montadoras a instalação dos rádios em seus veículos. Os defensores da tecnologia dizem que o rádio via satélite pode no final tirar ouvintes das estações locais e oferecer aos anunciantes uma audiência nacional. A CD Rádio e a XM planejam oferecer programação de redes de emissoras para minorias. Alguns canais de música não terão comerciais, outros terão. A Clear Channel Communications Inc., que com 650 estações é uma das maiores emissoras de rádio do país, pagou US$ 75 milhões no começo do mês de junho de 1999 por uma participação de 19% na XM. Não vemos (a aquisição) como uma apólice de seguros para proteger nosso investimento no rádio, diz Lowry Mays, presidente do Conselho de Administração da Clear Rádio. Ele diz que vê o rádio por satélite como um nicho de sucesso para fornecer programação não oferecida por meio das estações existentes em muitos mercados Jornal do Brasil, 21 de junho de 1999.

10 Conclusão Os profissionais que trabalham e se dedicam às emissoras de rádio no Brasil e no Exterior sabem que, neste mundo globalizado, as mudanças surgem rapidamente e que as novas tecnologias vão agregar novas modelos de gestão para a administração das emissoras de Am e de FM. Todos percebem que existe uma necessidade latente de melhorias nas programações das rádios AMs, mas ninguém sabe ao certo para onde devem caminhar, ou quais os caminhos que as emissoras deverão tomar frente aos novos tempos e desafios impostos pela concorrência acirrada das FMs e até mesmo de outros veículos de comunicação. Os problemas apontados, como a questão dos comunicadores, a grade de programação, o envelhecimento dos ouvintes de AM e as novas tecnologias são alguns dos desafios discutidos neste trabalho, que sem sombra de dúvida, estão longe de se esgotar. Um afirmação podemos fazer sem medo de errar: o rádio continua sendo o veículo mais privilegiado em termos de potencialidades, em conseqüência de suas características. Referências Bibliográficas 1- SODRÉ- Nélson Werneck. História da Imprensa no Brasil, Rio de Janeiro, Civilização Brasileira, 1966, p CAPARELLI, Sérgio.Comunicação de massa sem massa, São Paulo, Summus,1986, p Jornal Meio & Mensagem. Mídia e Mercado. 20/09/ Jornal do Brasil, 21 de junho de MURCE, Renato. Bastidores do Rádio. Imago. Editora.