Comentário. Autor: Fabiana Carsoni Alves F. da Silva Paulo Coviello Filho Débora Regina March

Transcrição

1 Autor: Fabiana Carsoni Alves F. da Silva Paulo Coviello Filho Débora Regina March CÂMARA SUPERIOR REAFIRMA INCIDÊNCIA DAS CONTRIBUIÇÕES PREVIDENCIÁRIAS SOBRE PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS PAGA A DIRETORES ESTATUTÁRIOS Em sessão de julgamentos realizada no dia , a 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais ( CSRF ) apreciou o recurso especial do contribuinte interposto nos autos do processo n / , oportunidade em que foi proferido o acórdão n Em resumo, trata-se de processo administrativo decorrente de autos de infração lavrados para exigir as contribuições previdenciárias incidentes sobre valores pagos a titulo de participação nos lucros paga a diretores não empregados da pessoa jurídica, com fulcro nos art. 12, inciso V, e 22, inciso III, ambos da Lei n. 8212, de Valendo-se do acórdão n como paradigma para a interposição do recurso, o contribuinte fundamentou suas razões de recorrer, em suma, nas seguintes alegações: O art. 7º, inciso XI, da Constituição Federal, estabelece a participação nos lucros e resultados como direito dos trabalhadores, definindo que tal verba é desvinculada da remuneração; O pagamento da participação nos lucros em análise se deu nos termos do art. 152, parágrafo 1º, da Lei n. 6404/76, a qual foi 1

2 recepcionada pela Constituição Federal de 1988 e, assim, acolhida como regulamentação do art. 7º, inciso XI, da Carta Magna; e Ausência de fundamentação capaz de afastar a aplicação da Lei n. 6404/76, recepcionada pela Constituição, em relação às exclusões pleiteadas. Pois bem. O cerne da questão reside na alegada impossibilidade de tais pagamentos serem excluídos da base de cálculo das contribuições, em decorrência da ausência de dispositivo contendo tal autorização, posto que o art. 7º, inciso XI, da Constituição não teria sido regulamentado pela Lei n. 6404/76. Diante da controvérsia em tela, a 2ª Turma da Câmara Superior de Recursos Fiscais, em decisão colhida por voto de qualidade, negou provimento ao recurso especial do contribuinte, mantendo a incidência das contribuições previdenciárias sobre os valores pagos a título de participação nos lucros aos diretores não empregados. O voto condutor da decisão, de lavra da Conselheira Relatora Elaine Cristina Monteiro e Silva Vieira, inicialmente, pautou-se na premissa de que o art. 7º, inciso XI, da Constituição Federal determina que a fixação dos direitos da participação nos lucros se dará mediante lei ordinária. Nessa ordem de ideias, para atender à exigência constitucional prevista no art. 7º, inciso XI, teria sido editada a Medida Provisória n. 794, de , a qual foi posteriormente convertida na Lei n , de Passou-se, portanto, a ter uma lei dispondo especificamente sobre a participação dos trabalhadores nos lucros ou resultados das empresas. Sobre a importância de uma lei específica para tanto, destacou que o Supremo Tribunal Federal ( STF ), quando do julgamento do RE /RJ, consignou que o citado art. 7º, inciso XI, da Constituição Federal não é autoaplicável, como alegou o contribuinte no caso em referência, sendo possível sua efetivação somente após a regulamentação conferida pela edição da citada Medida Provisória, posteriormente convertida na Lei n /00. 2

3 No entendimento do voto condutor, o STF teria afastado, portanto, as alegações do contribuinte no sentido de que a norma constitucional seria autoaplicável ou de que a Lei n. 6404/76 teria sido recepcionada para efeitos de regulamentação do dispositivo em comento. Adiante, o voto condutor do acórdão da CSRF afirmou que o art. 2º da Lei n /00 prevê que a participação nos lucros ou resultados será objeto de negociação entre a empresa e seus empregados, não servindo para regulamentar os valores pagos a título de participações estatutárias. Assim, o voto condutor do acórdão da CSRF entendeu que o art. 7, inciso XI, da Constituição Federal é direcionado apenas aos empregados, e não a toda a classe de trabalhadores, na qual estariam enquadrados os diretores estatutários, como defendeu o contribuinte recorrente. Diante dessas considerações, concluiu que a lei específica exigida pela Lei n. 8212/91, em seu art. 28, parágrafo 9º, alínea j (que afasta a incidência da contribuição previdenciária sobre a participação nos lucros e resultados), é a Lei n /00, que, no entanto, se destina somente aos empregados, isto é, àqueles trabalhadores que possuem vínculo pessoal específico resultante na relação empregatícia, consubstanciada pela subordinação (principal característica). Tal situação não teria se verificado no caso analisado pela CSRF, cuidando-se de diretores estatutários não empregados, cujo contrato de trabalho anterior quando existente - foi suspenso, nos termos da Súmula n. 269 do TST 1. Por fim, ao analisar a natureza jurídica dos pagamentos realizados pelo contribuinte, entendeu que possuem natureza remuneratória, na medida em que decorrem de contrato de prestação de serviços, tratando-se de verba paga pelo trabalho e não para o trabalho. 1 A referida súmula tem os seguintes dizeres: DIRETOR ELEITO - CÔMPUTO DO PERÍODO COMO TEMPO DE SERVIÇO. O empregado eleito para ocupar cargo de diretor tem o respectivo contrato de trabalho suspenso, não se computando o tempo de serviço deste período, salvo se permanecer a subordinação jurídica inerente à relação de emprego. 3

4 O entendimento exteriorizado pela Conselheira durante o seu voto é importante, pois, além de se tratar de entendimento proferido pela Câmara Superior de Recursos Fiscais, coaduna-se com diversos julgados do próprio Conselho Administrativo de Recursos Fiscais ( CARF ) em segundo grau, a exemplo dos acórdãos n (fevereiro de 2014), (fevereiro de 2012), (julho de 2013), (agosto de 2013), (abril de 2014), (maio de 2014), bem como coaduna-se com o entendimento da própria Receita Federal do Brasil ( RFB ), manifestado na Solução de Consulta COSIT n. 368, de , abaixo ementada: ASSUNTO: CONTRIBUIÇÕES SOCIAIS PREVIDENCIÁRIAS EMENTA: DIRETOR DE SOCIEDADE ANÔNIMA. CONDIÇÃO DE SEGURADO. PARTICIPAÇÃO NOS LUCROS E RESULTADOS. LEI Nº , DE SALÁRIO-DE-CONTRIBUIÇÃO. CONTRIBUINTE INDIVIDUAL. O diretor estatutário, que participe ou não do risco econômico do empreendimento, eleito por assembleia geral de acionistas para o cargo de direção de sociedade anônima, que não mantenha as características inerentes à relação de emprego, é segurado obrigatório da previdência social na qualidade de contribuinte individual, e a sua participação nos lucros e resultados da empresa de que trata a Lei nº , de 2000, integra o salário-de-contribuição, para fins de recolhimento das contribuições previdenciárias. SEGURADO EMPREGADO. O diretor estatutário, que participe ou não do risco econômico do empreendimento, eleito por assembleia geral de acionistas para cargo de direção de sociedade anônima, que mantenha as características inerentes à relação de emprego, é segurado obrigatório da previdência social na qualidade de empregado, e a sua participação nos lucros e resultados da empresa de que trata a Lei nº , de 2000, não integra o salário-de-contribuição, para fins de recolhimento das contribuições previdenciárias. DISPOSITIVOS LEGAIS: Lei nº 8.212, de 1991, art. 12, incisos I, alínea a, e V, alínea f, art. 22, incisos I e III, 2º, e art. 28, incisos I e III, e 9º, alínea f ; Lei nº , de 2000, arts. 1º a 3º; Decreto nº 3.048, de

5 O posicionamento ora comentado ratifica corrente majoritária da jurisprudência administrativa no sentido da incidência das contribuições previdenciárias sobre as verbas pagas a título de participação nos lucros a diretores não empregados (estatutários). A própria 2ª Turma da CSRF já havia se manifestado nesse sentido anteriormente. A despeito disso, tem-se o tema ainda será objeto de profunda análise pelo Poder Judiciário. No mais, registre-se que o entendimento manifestado pela CSRF merece críticas, porque, se é verdade que o art. 7º, inciso XI, da Constituição Federal não é autoaplicável, necessitando de regulamentação, como decidiu o STF, esta regulamentação, para os diretores estatuários, foi feita pelo art. 152, parágrafo 1º, da Lei n. 6404/76, segundo o qual o estatuto da companhia pode atribuir aos administradores participação no lucro da companhia, desde que o seu total não ultrapasse a remuneração anual dos administradores, nem 0,1 (um décimo) dos lucros (artigo 190), prevalecendo o limite que for menor. O parágrafo 2º do mesmo dispositivo ainda acrescenta que os administradores somente farão jus à participação nos lucros do exercício social em relação ao qual for atribuído aos acionistas o dividendo mínimo obrigatório. Logo, a todo rigor, mesmo no caso de pagamento de participação nos lucros a diretores estatutários, tem aplicação a norma prevista na Lei n. 8212/91, em seu art. 28, parágrafo 9º, alínea j, tendo em vista sua regulamentação pela Lei n