PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO

Transcrição

1 Acórdão 1a Turma INSS. ACORDO JUDICIAL. PRESTAÇÃO DE SERVIÇOS. ALÍQUOTA 11%. CONTRIBUIÇÃO PREVIDENCIÁRIA. Reconhecida a prestação de forma eventual, por pessoa física, sem o reconhecimento judicial do vínculo de emprego, é cabível o recolhimento previdenciário calculado sobre as parcelas de natureza salarial. Isto, tanto por parte da empresa (20%), quanto por parte do trabalhador (11%), observado o limite máximo do salário-contribuição. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de Recurso Ordinário, onde figura como recorrente, UNIÃO FEDERAL (INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS) e, como recorridos, FABIANA BARCELOS DA SILVA e ACADEMIA SAÚDE E VIGOR DE MERITI LTDA. Inconformada com a r. decisão de fls. 20, proferida pela MM. 2ª Vara do Trabalho de São João de Meriti, da lavra do ilustre JUIZ OSWALDO MESQUITA, que homologou o Termo de Conciliação entre as partes, interpõe a UNIÃO FEDERAL (INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS) recurso ordinário (fls.37/40). Sustenta, em síntese, que o MM juiz de primeiro grau homologou o acordo entre as partes estabelecendo que os serviços foram prestados a título eventual, e em assim sendo, não teria o reclamante direito às verbas discriminadas no item IV do termo de conciliação, decorrentes de direitos trabalhistas assegurados pela legislação aos trabalhadores submetidos à relação formal de emprego. Alega que, por esta razão, deve ser declarada a nulidade da cláusula supramencionada (item IV do acordo), para que seja determinada a incidência da contribuição previdenciária sobre o total acordado, de modo que, tanto a empresa como o contribuinte, tenham a obrigação de efetivar o respectivo recolhimento da Seguridade Social, nos termos do artigo 195 da Constituição Federal. Por fim, afirma que a Lei 8212/91, discriminou os percentuais devidos por cada contribuinte da Previdência, sendo cabível o recolhimento previdenciário, calculado sobre as parcelas de natureza salarial, tanto por parte da empresa (20%),

2 quanto por parte do trabalhador (11%), observado o limite máximo do salário-decontribuição.relativa ao prestador de serviço, nos termos da Lei nº /03. A reclamada ofereceu contra-razões às fls. 42/44, arguindo preliminar de intempestividade do recurso ordinário.. A reclamante, em que pese regularmente intimada, não ofereceu contra-razões. Parecer do Ministério Público do Trabalho a fls.48, da lavra da ilustre Procuradora prosseguimento do feito. INÊS PEDROSA DE ANDRADE FIGUEIRA, opinando pelo Tendo em vista a prorrogação da licença médica do eminente Desembargador Luiz Carlos Teixeira Bomfim, os autos foram redistribuídos a esta relatora em 17 de junho de É o relatório. V O T O DA PRELIMINAR DE INTEMPESTIVIDADE ARGUÍDA EM CONTRA- RAZÕES PELA RECLAMADA A reclamada em suas contra-razões argüi a preliminar de intempestividade da presente medida. De conformidade com o disposto no art. 774 da CLT, os prazos processuais, inclusive para efeito de interposição de recursos, contam-se a partir da intimação da parte, seja por notificação postal, pessoal ou publicação no Diário Oficial. Assim sendo, a despeito de o acordo de fls. 20 ter sido firmado em 12/04/2005, o recurso apresentado pela autarquia em 23/05/2006 se encontra, tempestivo, já que não há nos autos qualquer expediente endereçado ao INSTITUTO NACIONAL DO SEGURO SOCIAL - INSS dando ciência do acordo homologado, conforme determinado pelo Juiz de primeiro grau na cláusula V do termo de conciliação. Portanto, tem-se que a autarquia previdenciária apenas tomou ciência do acordo quando retirou os autos, na Secretaria da MM Vara de origem. Logo, considerando-se a ausência de certificação da data

3 supramencionada, ou seja, quando os autos foram retirados do cartório, bem como pelo fato de que a autarquia previdenciária, por força da norma inserta no inciso III do art. 1º do Decreto-Lei nº 779/69, possui prazo em dobro para recorrer, não há falar em intempestividade. Rejeito a preliminar de intempestividade e conheço do recurso, por observados os pressupostos legais de admissibilidade. DO MÉRITO DA CONTRIBUIÇÃO DO SEGURADO INDIVIDUAL Busca o órgão previdenciário, na qualidade de terceiro juridicamente interessado, ver determinada a cobrança da contribuição previdenciária percentual de 11% sobre a mesma base de cálculo relativa à contribuição do prestador de serviço (Lei n /03). No caso em tela o acordo foi homologado sem reconhecimento de vínculo de emprego (cláusula I). Inicialmente, cumpre ressaltar que, diante das reiteradas decisões do Colendo Tribunal Superior do Trabalho em sentido diverso, reformulo meu entendimento, na forma que se segue: De fato, quando caracterizada a prestação de serviços de feição autônoma e/ou eventual, a lei previdenciária reconhece o trabalhador prestador de serviços como contribuinte individual obrigatório, na forma, por exemplo, do artigo 12, inciso V, alíneas g e h, da Lei nº 8.212/91. Assim, ambos os partícipes da relação, prestador e tomador de serviços, estão obrigados a recolher contribuição previdenciária, nos termos dos artigos 21, 22, III, e 30, da Lei nº 8.212/91. O Instituto Nacional do Seguro Social - INSS, sustenta que a aplicação das alíquotas de 20% (vinte por cento) e de 11% (onze por cento) sobre as parcelas salariais do acordo de fls.19, com base no inciso III do artigo 22 da Lei nº 8.212/91 (20% - empresa) e no parágrafo 26º do artigo 216 do Decreto nº 3.048/99 (11% - trabalhador), respectivamente. Afirma que tais dispositivos encontram respaldo na alínea a do inciso I e no inciso II, ambos do artigo 195 da Constituição da República. Assiste razão ao recorrente. Inicialmente, vale dizer que a Justiça do Trabalho é competente para no

4 executar, de ofício, as contribuições sociais devidas em decorrência de decisão proferida pelos Juízes e Tribunais do Trabalho, resultantes de condenação ou homologação de acordo, nos termos do parágrafo único do artigo 876 da CLT. Cumpre transcrever o teor dos dispositivos legais supracitados. Art A seguridade social será financiada por toda a sociedade, de forma direta e indireta, nos termos da lei, mediante recursos provenientes dos orçamentos da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, e das seguintes contribuições sociais: I - do empregador, da empresa e da entidade a ela equiparada na forma da lei, incidentes sobre: (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998) a) a folha de salários e demais rendimentos do trabalho pagos ou creditados, a qualquer título, à pessoa física que lhe preste serviço, mesmo sem vínculo empregatício; (Incluído pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998); II - do trabalhador e dos demais segurados da previdência social, não incidindo contribuição sobre aposentadoria e pensão concedidas pelo regime geral de previdência social de que trata o art. 201; (Redação dada pela Emenda Constitucional nº 20, de 1998). (C.R.F.B./88). Art. 22. A contribuição a cargo da empresa, destinada à Seguridade Social, além do disposto no art. 23, é de: (Vide Lei nº 9.317, de 1996) III - vinte por cento sobre o total das remunerações pagas ou creditadas a qualquer título, no decorrer do mês, aos segurados contribuintes individuais que lhe prestem serviços; (Incluído pela Lei nº 9.876, de ). (Lei nº 8.212/91). Art A arrecadação e o recolhimento das contribuições e de outras importâncias devidas à seguridade social, observado o que a respeito dispuserem o Instituto Nacional do Seguro Social e a Secretaria da Receita Federal, obedecem às seguintes normas gerais: I - a empresa é obrigada a: a) arrecadar a contribuição do segurado empregado, do trabalhador avulso e do contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração; (Redação dada pelo Decreto nº 4.729, de 2003). 26. A alíquota de contribuição a ser descontada pela empresa da remuneração paga, devida ou creditada ao contribuinte individual a seu serviço, observado o limite máximo do salário-de-contribuição, é de onze por cento no caso das empresas em geral e de vinte por cento quando se tratar de entidade beneficente de assistência social isenta das contribuições sociais patronais. (Incluído pelo Decreto nº 4.729, de 2003)

5 (Decreto 3.048/99). Por outro lado, tem-se que a Medida Provisória nº 83/2002 foi convertida na Lei nº /03, a qual dispõe em seu artigo 4º sobre a contribuição do segurado contribuinte individual, nos seguintes termos: Art. 4º Fica a empresa obrigada a arrecadar a contribuição do segurado contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração, e a recolher o valor arrecadado juntamente com a contribuição a seu cargo até o dia dois do mês seguinte ao da competência. (Vide Medida Provisória nº 351, de 2007). Posteriormente, foi dada nova redação ao artigo 4º da Lei nº /03, pela Lei nº /2007, alterando o prazo para o recolhimento: Art. 4º Fica a empresa obrigada a arrecadar a contribuição do segurado contribuinte individual a seu serviço, descontando-a da respectiva remuneração, e a recolher o valor arrecadado juntamente com a contribuição a seu cargo até o dia 10 (dez) do mês seguinte ao da competência. (Redação dada pela Lei nº , de 2007) A leitura do aludido preceito legal, comprova, portanto, que tanto a empresa como o segurado contribuinte individual que lhe presta serviços, tem obrigação de proceder cada qual com a sua respectiva quota, ao recolhimento da contribuição ao INSS. Quando a Lei 8212/91 fala em alíquota máximo de 20% está se referindo, por óbvio, à empresa e ao segurado contribuinte, considerados individualmente, o que não significa que, em conjunto, não possam recolher contribuição previdenciária ao Inss em valor superior a 20%, mas apenas que, cada qual tem a sua respectiva alíquota limitada àquele montante. Ressalte-se que o artigo 15 da Lei nº /03 fixou que a produção de efeitos do artigo 4º do mesmo diploma legal somente começaria em 1º de abril de Logo, a partir de abril de 2003 é devida a contribuição do prestador de serviço no percentual de 11% (onze por cento), autorizando o respectivo desconto de sua remuneração. Portanto, depreende-se dos textos legais supramencionados, que mesmo em se tratando de prestação de serviços de forma eventual, por pessoa

6 física, sem o reconhecimento judicial do vínculo de emprego, é cabível o recolhimento previdenciário calculado sobre as parcelas de natureza salarial, tanto por parte da empresa (20%), quanto por parte do trabalhador (11%), observado o limite máximo do salário-de-contribuição. Assim sendo, dou provimento ao recurso para determinar que o recolhimento previdenciário tanto por parte da empresa (20%), quanto por parte do trabalhador (11%), observado o limite máximo do salário-de-contribuição. A C O R D A M os Desembargadores que compõem a Primeira Turma do Tribunal Regional do Trabalho da Primeira Região, por unanimidade, rejeitar a preliminar de intempestividade arg da em contra-raz s, pelo reclamado, conhecer do recurso ordin 疵 io e, no m 疵 ito, DAR-LHE PROVIMENTO para determinar que seja feito o recolhimento previdenci 疵 io, calculado sobre as parcelas de natureza salarial, tanto por parte da empresa (20%), quanto por parte do trabalhador (11%), observado o limite m 疵 imo do sal 疵 io-de-contribui 疵 o, nos termos do voto da Desembargadora Relatora. Rio de Janeiro, 9 de Setembro de Desembargadora Federal do Trabalho Mery Bucker Caminha Relatora Ciente:José Antonio Vieira de Freitas Filho Procurador-Chefe mfcf/tcl