REESCRITA COMO PRÁTICA AVALIATIVA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NAS LICENCIATURAS

Transcrição

1 Aliny Sousa MENDES Wagner Rodrigues SILVA REESCRITA COMO PRÁTICA AVALIATIVA NA FORMAÇÃO INICIAL DE PROFESSORES NAS LICENCIATURAS 1 Aluna do curso de Licenciatura em Letras; Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína; alinymendes.uft@gmail.com. PIBIC/CNPq. 1 Orientador do curso de Licenciatura em Letras; Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína; wagnerodriguesilva@hotmail.com. RESUMO: Integrante do grupo de estudo denominado Práticas de Linguagens em Estágio Supervisionado (PLES), este trabalho apresenta os resultados finais de um estudo de caso de práticas de reescrita do gênero relatório de estágio, produzido como trabalho escrito final das disciplinas de estágio supervisionado na Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Tocantins, campus de Araguaína. Na primeira fase da pesquisa (SILVA e MENDES, 2012) foram identificadas quatro atividades linguísticas na referida prática de reescrita, as quais são aqui denominadas de (i) apagamento da informação apresentada, (ii) expansão da informação apresentada, (iii) reflexão sobre a prática observada e (iv) fuga da informação solicitada. Essas atividades foram instauradas em resposta às indicações de reescrita do professor da disciplina (aqui denominado formador), as quais procuraram proporcionar principalmente a reflexão crítica na escrita dos estagiários, conforme idealizado para o gênero relatório de estágio supervisionado. Agora, investigamos o desenvolvimento dos alunos-mestre na escrita desse gênero. Concebemos aqui a produção textual veiculada por três caminhos: a escrita (primeira versão), a correção (feita pelo formador) e a reescrita (segunda versão). Caminhos esses que levam à fixação das características inerentes ao gênero discursivo, no caso, relatório de estágio. PALAVRAS-CHAVE: reescrita; avaliação; linguística sistêmico-funcional. INTRODUÇÃO As disciplinas de estágio supervisionado obrigatório nas licenciaturas brasileiras devem proporcionar uma maior familiarização dos acadêmicos, aqui denominados de alunos-mestre, com a sala de aula do ensino básico, em especial na rede pública de

2 ensino. Na Licenciatura em Letras, na Universidade Federal do Tocantins (UFT), campus de Araguaína, contexto de geração dos dados desta pesquisa, há quatro disciplinas de estágio supervisionado obrigatório por habilitação (Língua Portuguesa ou Língua Inglesa). Além de outras habilidades, os estágios visam desenvolver nos acadêmicos a capacidade crítico-reflexiva sobre as práticas pedagógicas experienciadas no local de atuação profissional, o que precisa se perpetuar ao longo da carreira docente. Em função disso, os alunos-mestre produzem, como trabalho final das disciplinas, um relatório escrito onde deve constar uma análise crítica das atividades de observação e regência de aulas, realizadas em escolas de educação básica. Esse documento deve conter as atividades didáticas desenvolvidas (tanto pela dupla de estágio, no período de regência de aulas, quanto pelo professor colaborador do estágio, responsável pela disciplina na escola de educação básica), bem como reflexões sobre as mesmas. Tais reflexões devem preferencialmente ser justificadas por pressupostos teóricos trabalhados durante as disciplinas de estágio na universidade. MATERIAL E MÉTODOS Apresentamos aqui os resultados finais de um estudo de caso sobre atividades de reescrita de relatórios de estágio supervisionado, produzidos por alunos-mestre como trabalhos finais das disciplinas Investigação da Prática Pedagógica e Estágio Supervisionado em Língua Portuguesa: Língua e Literatura I e II 1 ofertadas como disciplinas obrigatórias do curso de Licenciatura em Letras da Universidade Federal do Tocantins (UFT), Campus Universitário de Araguaína. Seguindo as mesmas estratégias do semestre letivo anterior, o formador recebeu e devolveu os relatórios por . Os textos foram corrigidos com auxílio da ferramenta de controle de alterações textuais do Word. Por sua vez, os alunos-mestre deveriam reescrever os relatórios, aceitando ou não as intervenções escritas realizadas pelo formador. Por fim, as duplas reescreveram os textos e entregaram a versão final do relatório gravado em CD-ROM. Dessa forma, foram comparadas primeira e segunda versões dos relatórios para a produção do corpus da pesquisa. 1 Este trabalho contribui para os projetos de pesquisa Formação Inicial de professores mediada pela escrita (CNPq/CAPES /2010-1) e Implicações dos relatórios de estágio supervisionado para a formação inicial de professores (CNPq /2009-1).

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO Na primeira fase da pesquisa (SILVA e MENDES, 2012) foram identificadas quatro atividades linguísticas na referida prática de reescrita, as quais são aqui denominadas de (i) apagamento da informação apresentada, (ii) expansão da informação apresentada, (iii) reflexão sobre a prática observada e (iv) fuga da informação solicitada. Na segunda fase, encontramos apenas três dessas categorias. Vejamos um quadro expositivo da quantificação dos dados nas duas fases da pesquisa. CATEGORIAS 1º semestre (onze relatórios) PERÍODO 2º semestre (oito relatórios) Apagamento da Informação apresentada Expansão da Informação apresentada Reflexão sobre a prática observada (e/ou aplicada) Fuga da informação solicitada Correções Linguísticas A tabela indica que o apagamento, a expansão e a fuga da informação apresentada e as correções linguísticas diminuíram significativamente, o que pode ser justificado tanto pelo fato de a turma já conhecer o professor-orientador da disciplina e suas exigências quanto por já terem adquirido, de certa forma, uma habilidade na escrita do gênero, graças ao processo de reescrita. Assim, observamos que a prática da reescrita refletiu de maneira significativa no exercício do próprio estágio de regência, pois, houve uma dupla que também aplicou essa prática durante as aulas que ministraram, ou seja, o próprio aluno-mestre já percebe a importância dessa atividade no processo de produção textual.

4 LITERATURA CITADA Esta pesquisa está situada no campo da Linguística Aplicada (LA), pois temos como objeto de estudo usos da escrita reflexiva como instrumento de mediação na formação inicial do professor. Essa escrita mediada pelas intervenções do formador contribui para a construção do processo avaliativo desencadeador do fortalecimento dos participantes da interação escrita. Há contribuições para o aluno-mestre, ao refletir sobre ação pedagógica vivenciada e, até mesmo, sobre o próprio exercício da escrita. Há também contribuições para o formador, ao avaliar a próprio trabalho realizado a partir do feedback possibilitado pelos textos escritos. Nessa perspectiva, considerando também que o gênero são tipos relativamente estáveis de enunciados (BAKHTIN 1997, p. 279), os relatórios de estágio são tomados como gêneros catalisadores, pois têm uma função significativa na formação de professores. Segundo Signorini (2006, p. 8), gêneros catalisadores são formas linguístico-discursivas que favorecem o desencadeamento e a potencialização de ações e atitudes consideradas mais produtivas para o processo de formação, tanto do professor quanto de seus aprendizes. Partindo da noção de gênero (BAKHTIN 1997, EGGINS 2004, KOCH & ELIAS 2011 entre outros), tomamos os dados como pertencentes a um determinado contexto de situação, o acadêmico, e os analisamos sem perder de vista as premissas da Linguística Sistêmico-Funcional, princípio norteador desta pesquisa, a qual é definida por Bárbara e Macêdo (2009) como uma teoria estruturada de uma forma que permite mostrar, sistematicamente, por meio da linguagem, características vivas da sociedade ao se fazer a análise dos textos produzidos pelos seus participantes, desde textos informais de falantes anônimos a textos institucionais, sejam eles orais ou escritos, formais ou informais. É uma teoria que utiliza um método detalhado de análise de texto em contexto, que permite explicar, com um alto grau de objetividade, como os indivíduos usam a língua e como a linguagem é estruturada em seus diferentes usos para produzir significado. Por trás desse pressuposto está uma teoria probabilística da linguagem. (BÁRBARA & MACÊDO 2009, p. 95) Durante a análise dos dados, constatamos que o tipo de correção feita pelo professor-orientador da disciplina (que se aproxima bastante da indicativa e textualinterativa LEITE e PEREIRA, 2009) é de grande valia para a caracterização do

5 gênero relatório de estágio, pois é através dessa que os alunos-mestre recebem orientações para adequar seus textos ao gênero discursivo em questão. A reescrita se deu, então, como prática avaliativa da disciplina de estágio supervisionado em Língua Portuguesa na qual o professor-orientador teve um importante papel de mediador intervindo nas produções do aluno-mestre de forma a reforçar as características do gênero focalizado, o relatório. Nessa avaliação, portanto, houve uma tentativa de se evitar a redução do processo avaliativo à mera atribuição de nota. Na licenciatura, a avaliação pode desencadear o estreitamento do diálogo entre formador e aluno-mestre, proporcionado a participação ativa desse último no processo de construção do conhecimento. Os equívocos pontuados e comentados nos textos devem ser vistos como ponto de partida para construção do conhecimento, o que não deveria ser diferente na educação básica. Destacamos a importância do trabalho pedagógico nas licenciaturas servirem como modelo de avaliação a serviço da aprendizagem. Assim, concordamos com Faustini & Rodrigues (2006) ao dizerem que a universidade deve se preocupar com a construção de processos avaliativos que permitam compreender a realidade social que se desenha e as possibilidades de protagonismo dos sujeitos nas relações a serem construídas (p. 04). AGRADECIMENTOS O presente trabalho foi realizado com o apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq Brasil.