SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RECURSO ESPECIAL Nº RJ (2003/ ) RELATOR : MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA

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1 SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA RECURSO ESPECIAL Nº RJ (2003/ ) RELATOR : MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA RECORRENTE : ELAINE DO ESPÍRITO SANTO MARQUES ADVOGADO : CARLOS ALBERTO DE SOUZA E OUTRO RECORRIDO : BRADESCO SEGUROS S/A ADVOGADO : ROBERTO MORAES DE LIMA ROCHA E OUTROS EMENTA AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). FALTA DE PAGAMENTO DO PRÊMIO. SINISTRO OCORRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI N /92. VÍTIMA PROPRIETÁRIA DO VEÍCULO. INDENIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. "A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento 1 / 10

2 da indenização". Verbete n. 257 da Súmula do STJ. A indenização devida a pessoa vitimada, decorrente do chamado Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), pode ser cobrada mesmo tendo ocorrido o acidente previamente à modificação da Lei 6.194/74 pela Lei 8.441/92 e antes da formação do consórcio de seguradoras. Precedentes. O fato de a vítima ser o dono do veículo não inviabiliza o pagamento da indenização. Recurso conhecido e provido. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, conhecer do recurso e dar-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior e Barros Monteiro votaram com o Sr. Ministro Relator. Brasília, 08 de junho de 2004 (data do julgamento). MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA, Relator RELATÓRIO 2 / 10

3 O EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA: Elaine do Espírito Santo Marques, ora recorrente, ajuizou ação de cobrança contra Bradesco Seguros S.A., almejando receber indenização do seguro obrigatório (DPVAT) a que faria jus em razão de sinistro que vitimou seu marido. Narra a exordial que o mesmo pedido fora formulado à seguradora, restando desatendido pela falta de comprovação de pagamento do seguro. A ação foi julgada improcedente em 1º grau, mantida a r. sentença pelo egrégio Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro, que negou provimento à apelação interposta pela autora em v. aresto assim ementado: "SEGURO OBRIGATÓRIO - Acidente fatal do dono do veículo, estipulante legal do DPVAT, de 91, reclamado em Improcedência da indenização, segundo as leis vigentes ao tempo do acidente (Dec. 73/66 e Lei 6.194/74). Tempus regit actum. Os precedentes pretorianos respaldam o improvimento recursal." Rejeitados os aclaratórios, a demandante interpôs o presente recurso especial, fundado nas alíneas "a" e "c" do permissor constitucional, por sustentada contrariedade aos arts. 5º e 7º da Lei n /74, com a redação dada pela Lei nº 8.441/92, e dissídio pretoriano. Respondido, o apelo foi inadmitido na origem, tendo seu trânsito desembaraçado em virtude de agravo de instrumento provido em decisão de lavra do eminente Ministro Ruy Rosado de Aguiar (AG n /RJ). É o relatório. 3 / 10

4 EMENTA AÇÃO DE COBRANÇA. SEGURO OBRIGATÓRIO (DPVAT). FALTA DE PAGAMENTO DO PRÊMIO. SINISTRO OCORRIDO ANTES DA VIGÊNCIA DA LEI N /92. VÍTIMA PROPRIETÁRIA DO VEÍCULO. INDENIZAÇÃO. POSSIBILIDADE. "A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização". Verbete n. 257 da Súmula do STJ. A indenização devida a pessoa vitimada, decorrente do chamado Seguro Obrigatório de Danos Pessoais causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT), pode ser cobrada mesmo tendo ocorrido o acidente previamente à modificação da Lei 6.194/74 pela Lei 8.441/92 e antes da formação do consórcio de seguradoras. Precedentes. O fato de a vítima ser o dono do veículo não inviabiliza o pagamento da indenização. Recurso conhecido e provido. VOTO O EXMO. SR. MINISTRO CESAR ASFOR ROCHA (Relator): 4 / 10

5 1. Merece êxito a irresignação. Com efeito, o egrégio Tribunal de origem manteve a improcedência da ação com base em três fundamentos, todos merecedores de reparo: o primeiro, por não poder "retroagir a Lei 8.441/ 92 para regular acidente de 26/03/91 " (fl. 135); o segundo, " falta de prova do pagamento do prêmio do seguro " e o terceiro, " por se tratar de acidente com o dono do veículo e estipulante do seguro " (fl. 136). 2. Primeiramente, a questão referente à aplicabilidade da Lei n /92 aos sinistros ocorridos antes de sua vigência já está superada pela firme jurisprudência desta Corte, proclamada no sentido de que "mesmo nos acidentes ocorridos anteriormente à modificação da Lei n /74 pela Lei n /92, a falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização." (REsp n /SP, relatado pelo eminente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira, DJ de 18/02/2002). Confiram-se, no mesmo sentido, dentre outros: REsps ns /SP, /ES e /ES, relatados pelo eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito (DJs de 17/08/1998, 01/07/2002 e 03/05/2004, respectivamente); REsp n /ES, por mim relatado (DJ de 05/03/2001). 3. O segundo fundamento também não prospera, pois contraria a orientação do verbete n. 257 da Súmula deste Sodalício, in verbis: "A falta de pagamento do prêmio do seguro obrigatório de Danos Pessoais Causados por Veículos Automotores de Vias Terrestres (DPVAT) não é motivo para a recusa do pagamento da indenização". 4. Por derradeiro, a circunstância de a vítima ser o dono do veículo tampouco autoriza o órgão julgador a obstaculizar a pretensão. 5 / 10

6 A questão já foi apreciada no REsp n /SP, relatado pelo eminente Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, assim sumariado: "Seguro obrigatório. Lei nº 6.194/74, com a redação da Lei nº 8.441/ Como está em precedente da Corte, a "falta de pagamento do prêmio de seguro obrigatório não é motivo para a recusa do pagamento da indenização", nos termos da Lei nº 8.441, de 13/07/ Não tem pertinência deixar de efetuar o pagamento devido pela razão de ser a vítima proprietária do veículo. 3. Recurso especial conhecido e provido" (grifei). Naquela oportunidade, discutiu-se a exegese do caput e do 1º do art. 7º da Lei n /74, com redação dada pela Lei n /92, que reza: "Art. 7o A indenização por pessoa vitimada por veículo não identificado, com seguradora não identificada, seguro não realizado ou vencido, será paga nos mesmos valores, condições e prazos dos demais casos por um consórcio constituído, obrigatoriamente, por todas as sociedades seguradoras que operem no seguro objeto desta lei. 1o O consórcio de que trata este artigo poderá haver regressivamente do proprietário do veículo os valores que desembolsar, ficando o veículo, desde logo, como garantia da obrigação, ainda que vinculada a contrato de alienação fiduciária, reserva de domínio, leasing ou qualquer outro." 6 / 10

7 A controvérsia ali teve lugar porque o proprietário do veículo foi causador do acidente e ao mesmo tempo vítima, assim como na hipótese presente. Nessa situação, o caput e o parágrafo citado dariam a entender que o cônjuge supérstite e os herdeiros seriam concomitantemente credores e devedores do seguro. Solucionando esse aparente paradoxo, o eminente Ministro Ari Pargendler proferiu voto-desempate do qual se colhe: "A regra contida no caput do artigo 7º não distingue entre proprietário do veículo e terceiro, referindo-se tão somente à pessoa vitimada. Já a do 1º autoriza a cobrança regressiva dos valores desembolsados. Quer dizer, a primeira obriga ao pagamento do seguro ; a segunda faculta o ressarcimento. O pressuposto do acórdão recorrido é o de que o pagamento do seguro só é devido se o ressa rcimento puder ser exigido de pessoas estranhas ao círculo familiar da vítima. A lei, todavia, não faz essa distinção, nem se pode interpretar o caput a partir dos seus parágrafos, porque a técnica recomenda exatamente o inverso." Apoiando-me nos mesmos fundamentos, por também entender que o intérprete não deve distinguir onde o legislador não o fez, é de se afastar a improcedência da ação. 3. Diante do exposto, conheço e dou provimento ao recurso especial para julgar procedente a demanda, condenando a recorrida a pagar a importância requerida, corrigida a partir do sinistro, juros moratórios a partir da citação, custas processuais e honorários advocatícios, os quais arbitro em 15% sobre a condenação. CERTIDÃO DE JULGAMENTO 7 / 10

8 QUARTA TURMA Número Registro: 2003/ RESP / RJ Números Origem: PAUTA: 03/06/2004 JULGADO: 08/06/2004 Relator Exmo. Sr. Ministro CESAR ASFOR ROCHA Presidente da Sessão Exmo. Sr. Ministro ALDIR PASSARINHO JUNIOR Subprocurador-Geral da República Exmo. Sr. Dr. FERNANDO HENRIQUE OLIVEIRA DE MACEDO Secretária Bela. CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK 8 / 10

9 AUTUAÇÃO RECORRENTE : ELAINE DO ESPÍRITO SANTO MARQUES ADVOGADO : CARLOS ALBERTO DE SOUZA E OUTRO RECORRIDO : BRADESCO SEGUROS S/A ADVOGADO : ROBERTO MORAES DE LIMA ROCHA E OUTROS ASSUNTO: Civil - Responsabilidade Civil - Indenização - Acidente - Transporte Rodoviário / Trânsito - Seguro Obrigatório CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUARTA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, conheceu do recurso e deu-lhe provimento, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Fernando Gonçalves, Aldir Passarinho Junior e Barros Monteiro votaram com o Sr. Ministro Relator. 9 / 10

10 O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 08 de junho de 2004 CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE 10 / 10