Superior Tribunal de Justiça

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1 RECURSO ESPECIAL N SP (2001/ ) RELATOR RECORRENTE ADVOGADO RECORRIDO ADVOGADO : MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA : UNIMED DE SAO PAULO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO : EDSON GRAMUGLIA ARAUJO E OUTROS : MARLIES GIRKINGER : ROSANA CHIAVASSA E OUTROS EMENTA DIREITO CIVIL. CONTRATO DE SEGURO-SAÚDE. TRANSPLANTE. COBERTURA DO TRATAMENTO. CLÁUSULA DÚBIA E MAL REDIGIDA. INTERPRETAÇÃO FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR. ART. 54, 4 o, CDC, RECURSO ESPECIAL. SÚMULA/STJ, ENUNCIADO 5. PRECEDENTES. RECURSO NÃO-CONHECIDO. I - Cuidando-se de interpretação de contrato de assistência médico-hospitalar, sobre a cobertura ou não de determinado tratamento, tem-se o reexame de cláusula contratual como procedimento defeso no âmbito desta Corte, a teor de seu verbete sumular n cinco. II - Acolhida a premissa de que a cláusula excludente seria dúbia e de duvidosa clareza, sua interpretação deve favorecer o segurado, nos termos do art. 54, 4 o do Código de Defesa do Consumidor. Com efeito, nos contratos de adesão, as cláusulas limitativas ao direito do consumidor contratante deverão ser redigidas com clareza e destaque, para que não fujam de sua percepção leiga. ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam os Ministros da Quarta Turma do Superior Tribunal de Justiça, na conformidade dos votos e das notas taquigráficas a seguir, por unanimidade, não conhecer do recurso. Votaram com o Relator os Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Júnior. Brasília, 3 de maio de 2001 (data do julgamento). Ministro Ruy Rosado de Aguiar Presidente Ministro Sálvio de Figueiredo Teixeira Relator Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2001 Página 1 de 5

2 RECURSO ESPECIAL N (2001/ ) - SÃO PAULO RECTE RECDO : UNIMED DE SÃO PAULO COOPERATIVA DE TRABALHO MÉDICO : MARLIES GIRKINGER EXPOSIÇÃO O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA: - Aforou a recorrida ação de preceito cominatório contra a recorrente, pretendendo ter cobertura de todas as despesas advindas de tratamento médico a que foi submetida. Afirmou que tinha plano de saúde contratado com a ré, mas mesmo assim essa se negava a prestar-lhe a assistência médica, sob a alegação de que no contrato não havia cobertura para tratamento consistente em coleta e transplante de células. A sentença julgou procedentes os pedidos formulados nesta ação e na cautelar em apenso, tornando definitiva a liminar anteriormente deferida. Submetida a questão ao Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, este negou provimento à apelação, assim sumariando, no que interessa: "Plano de saúde - Cominatória - Contrato - Transplante de medula - Cláusula excludente de cobertura que não possui a clareza exigida pelo Código de Defesa do Consumidor - Hipótese em que não é patente a exclusão contratual do procedimento realizado, uma vez que, não se pode obrigar ao leigo discernir a natureza do transplante. Interpretação que lhe deve ser sempre favorável - Inteligência do art. 47 da Lei n /90 - Recurso desprovido". Adveio recurso especial da apelante, fundado na alínea c do permissor constitucional, sustentando dissídio jurisprudencial com julgados de outros tribunais. Argumenta a recorrente que a cláusula contratual que prevê a exclusão de tratamentos decorrentes de transplantes é clara e seu comando é inequívoco, aduzindo ser vedado ao Judiciário interferir em cláusulas e condições contratuais firmadas pelas partes. Com as contra-razões, foi o recurso admitido na origem. É o relatório. Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2001 Página 2 de 5

3 RECURSO ESPECIAL N (2001/ ) - SÃO PAULO VOTO O SR. MINISTRO SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA(RELATOR): 1. A Turma julgadora, ao confirmar a sentença, concluiu que a cláusula que exclui a prestação de serviços relativos a transplantes e implantes seria dúbia e não estaria redigida de forma clara e induvidosa, por não esclarecer se a exclusão alcançaria transplantes "de qualquer natureza". Assim sendo, sua interpretação deveria ser favorável ao segurado, nos termos dos art. 47 e 54, 4 o do Código de Defesa do Consumidor. A recorrente, de seu turno, argumenta que "a explicitude da cláusula bloqueia erro na interpretação, dado que a clareza do comando é inequívoca". Como se vê, indispensável seria a interpretação da cláusula contratual excludente para concluir como quer a recorrente, ou seja, pela sua clareza e precisão, procedimento vedado nesta instância, a teor do verbete 5 da súmula/stj. Em casos semelhantes, que também tratam de exclusão de tratamentos em contrato de seguro-saúde, esta Turma vem entendendo pela incidência do referido óbice sumular, de que é exemplo, dentre outros, o REsp n SP(DJ ), de minha relatoria, com esta ementa, no que interessa: "I - A interpretação de contrato de assistência médico hospitalar, sobre a cobertura ou não de tratamento de moléstia tida como de natureza compulsória, reclama o reexame de cláusulas contratuais e dos fatos da causa, procedimentos defesos no âmbito desta Corte, a teor de seus verbetes 5 e 7º. Outra não é a orientação da Terceira Turma, como se vê do REsp n SP(DJ ), relator o Ministro Menezes Direito, assim ementado: "1. Estando a sentença e o acórdão recorrido assentados no exame da prova dos autos e da apólice, com a conclusão de não ter a seguradora provado as restrições que alegou, estão presentes as Súmulas n 05 e n 07 da Corte, inviabilizando a passagem do especial". 2. Acolhida a premissa de que a cláusula em controvérsia é dúbia e de duvidosa clareza, não se mostra o recurso especial via hábil para o reexame da controvérsia. Assente está na doutrina e na jurisprudência, outrossim, que nos contratos de adesão as cláusulas limitativas ao direito do consumidor contratante devem ser redigidas com clareza e destaque, para que não fujam de sua percepção leiga (art. 54, 4 o, CDC). Nesse sentido, o decidido no REsp SP, julgado pela Terceira Turma em Pedro Alvim, em obra específica sobre o tema (O Contrato de Seguro, Forense, cap. XI, n. 135, p. 170), ao tratar dos princípios de hermenêutica aplicáveis aos contratos, e mesmo antes da vigência do Código de Defesa do Consumidor, já sustentava, dentre outras regras de interpretação, que, "em Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2001 Página 3 de 5

4 caso de dúvida, deve a cláusula ser interpretada contra aquele que estipulou alguma coisa em favor do que contraiu a obrigação", e que, "quando num contrato houver termos em sentido duplo, devem ser eles atendidos naquele que mais convier à natureza do contrato". Na espécie, ademais, o contrato é de seguro-saúde, cujo objetivo é custear os gastos necessário à preservação da saúde do segurado. 3. À vista do exposto, não conheço do recurso. Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2001 Página 4 de 5

5 CERTIDÃO DE JULGAMENTO QUARTA TURMA Número Registro: 2001/ RESP / SP PAUTA: 03/05/2001 JULGADO: 03/05/2001 Relator Exmo. Sr Ministro: SÁLVIO DE FIGUEIREDO TEIXEIRA Presidente Exmo. Sr. Ministro: RUY ROSADO DE AGUIAR Subprocuradora-Geral da República Exma. Sra. Dra.: CLAUDIA SAMPAIO MARQUES Secretária Bela: CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK AUTUAÇÃO RECORRENTE : UNIMED DE SAO PAULO COOPERATIVA DE TRABALHO MEDICO ADVOGADO : EDSON GRAMUGLIA ARAUJO E OUTROS RECORRIDO : MARLIES GIRKINGER ADVOGADO : ROSANA CHIAVASSA E OUTROS CERTIDÃO Certifico que a egrégia QUARTA TURMA ao apreciar o processo em epígrafe, em sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão: A Turma, por unanimidade, não conheceu do recurso. Os Srs. Ministros Barros Monteiro, Cesar Asfor Rocha, Ruy Rosado de Aguiar e Aldir Passarinho Junior votaram com o Sr. Ministro Relator. O referido é verdade. Dou fé. Brasília, 03 de Maio de 2001 CLAUDIA AUSTREGÉSILO DE ATHAYDE BECK Secretária Documento: IT Inteiro Teor do Acórdão - Site certificado - DJ: 25/06/2001 Página 5 de 5