RAMAL, Andréa Cecília. Educação na cibercultura: hipertexto, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002, 268 p.
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- Pedro Marcos Benevides de Sequeira
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2 RAMAL, Andréa Cecília. Educação na cibercultura: hipertexto, leitura, escrita e aprendizagem. Porto Alegre: Artmed, 2002, 268 p. Andréa Cecília Ramal é doutora em Educação pela PUC Rio, graduada em Letras, tendo sido professora de Língua Portuguesa e Literatura na Educação Básica, até seu ingresso no doutorado. Pesquisa há oito anos a construção do pensamento a partir das multimídias e tecnologias digitais. Atualmente é consultora em educação à distancia e produtora de sites aplicativos pedagógicos, com base na teoria construtivista. Publicou vários artigos em jornais e revistas especializadas, além dos seguintes livros: Educação e novas tecnologias, pela Editora Loyola e Histórias de gente que ensina e aprende, pela EDUSC. Educação na cibercultura coloca o leitor diante de uma obra que aborda a relação educação, métodos de ensino e tecnologia. O texto está subdividido em cinco capítulos intitulados de maneira criativa e coerente com a proposta. O primeiro capítulo, nomeado de Monologismo, questiona o sentido da leitura dos textos veiculados na escola que não possibilitam novos olhares sobre a interpretação, extraindo seu sentido dialógico. Aponta alguns estudos (Paulino; 1990) que descrevem como a relação sujeito, leitura e escola é posta de modo objetivo, com critérios de verdades universais, atribuindo o surgimento da escrita e da imprensa como grandes responsáveis pelo limitado olhar sobre a leitura. As sociedades orais, ágrafas, não letradas ou acústicas são marcadas pelo tempo circular num constante retorno às origens. Nessa mesma perspectiva o conhecimento é tratado de forma subjetiva, pois depende da interpretação do narrador, que através da estratégia mnemônica, transmite o conhecimento. Com a objetivação da palavra, a escrita passa a representar a fala. As sociedades escritas segundo pólo do espírito humano - dão novo impulso ao tratamento dado ao conhecimento. A noção de tempo passa a ser linear, entendendo este, como encadeamento Gideon Borges dos Santos Mestrando em Educação UFBA gidborges@bol.com.br Revista da FACED, nº 06,
3 sucessivo de fatos; A memória cede lugar ao registro; O conhecimento é objetivado e a apresentação da obra independe da presença do seu autor, o que traz desconfianças quanto ao entendimento da mensagem. A língua escrita passa ocupar lugar de prestígio social em detrimento da oralidade, embora não se possa falar da substituição da escrita pela língua oral, espelhada no grande número de analfabetos que existem e que se comunicam sem maiores obstáculos. O que não se pode negar é que a escrita traz novas formas e possibilidades de pensamento. No segundo capítulo, chamado por Ramal de Polifonia, a autora resgata em Bakhtin o discurso polifônico jogo dramático de vozes em oposição ao monologismo para as análises da estrutura escolar vigente. As sociedades tecnológicas e o advento da cibercultura acentuam um novo olhar sobre o campo da linguagem. Trata-se do terceiro pólo do espírito humano. Nessa perspetiva, a percepção de tempo se traduz na noção de tempo real, veloz e presente; A informação se produz e se processa em curcularidade, interdisciplinarizando discursos que ganham verdade através de imagens produzidas em tempo real; A rede (Web) se traduz num megatexto de construção coletiva e polifônica; A memória é auxiliada por recursos tecnológicos; O texto é substituído pelo hipertexto como nova forma de escrita e comunicação da sociedade informáticomediática. Trata-se de uma forma de leitura e escrita (janelas, links) global, próximo do nosso esquema mental, conforme defende a autora. No hipertexto, sai de cena a figura de um único autor e sua produção se torna responsabilidade de um nós interconectado que navega de maneira não linear. Inspirada em Pierry Levy, Andréa Ramal apresenta seis características do hipertexto. São elas, a metamorfose (transformação constante de seu conteúdo e forma), heterogeneidade (os conteúdos são os mais diversos e com várias conexões), multiplicidade e encaixe de escalas (qualquer parte do texto está ligado ao todo), exterioridade (o conteúdo não se dá maneira isolada, está vinculado com a realidade exterior), topologia (não há espaço fora do hipertexto), e mobilidade de centro (no hipertexto não há um centro dinamizador dos conteúdos). Em Educação na Cibercultura, a autora tece críticas à escola, que mantém currículos rígidos e dissociados da realidade social, impossibilitando a criação, a autonomia dos sujeitos, pois se con- 180 Revista da FACED, nº 06, 2002
4 solida, em tempos de internet, num ensino propedêutico e monológico. Buscando inspiração em Bakhtin e Pierry Lévy, Ramal levanta as seguintes categorias de análises: a subjetividade, a autoria e a relativização da busca de objetividade e as verdades universais. O conceito de subjetividade em Bakthin se opõe ao idealismo e ao empirismo como oriundos de elementos apriorísticos ou resultante da experiência sensível conforme defendiam, respectivamente, os sistemas filosóficos supracitados. A consciência é resultante de processos sociohistóricos e ideológicos concretizados na interação que os indivíduos estabelecem. Essa mediação só é possível pela palavra, pela cultura, como arena de contradições. Para Lévy, a consciência é construída por meio de redes complexas de interação que o indivíduo tece, tanto com outros atores humanos, organismos biológicos e mesmo técnicos. Ambos autores compartilham da idéia de que essa interação rompe a fronteira do consenso e se concretiza no conflito, resultando numa pluralidade de significações que os diversos leitores podem fazer sobre um mesmo texto. Lévy ainda acrescenta que os aparelhos eletrônicos se configuram numa perspectiva extensionista do sujeito. A autora apresenta dados, a partir das análises de chats, que revelam como a subjetividade é construída na interação da rede como espaço de relacionamento, de conversa séria e de superficialidade, de verdades e mentiras, envolvendo sujeitos de todas as idades, com uma ética e linguagem próprias, enfim, como uma subversão aos modos tradicionais de leitura e escrita textuais. A palavra ou discurso nessas situações passam a ter significados no contexto e a consciência se constitui na relação dialógica. Tem-se o hipertexto digital como resultado dessa formatação polifônica, onde o sentido da mensagem não é produzido por seus autores, mas pela interatividade que todos sujeitos estabelecem. O terceiro capítulo, chamado de Redes, destaca a cultura polifônica como capaz de oferecer possibilidades de superação da cultura monológica veiculada pela escola. Essa mesma proposta é defendida por outros teóricos, como Wittgenstein, Uelmam, Foucault e Rosestehil. Dessa forma, o hipertexto pode se concretizar, no espaço da sala de aula, como um momento de construção interativa, polifônica e coletiva. O hipertexto subverte a relação autor/leitor, pois se constrói com a presença de vários autores; Subverte a linearidade, pois, Revista da FACED, nº 06,
5 numa única página pode se acessar várias outras informações e, também, subverte a forma, apresentada de maneira global; Muda a relação entre mensagens, espaço e temporalidade, uma vez que, a todo momento o hipertexto está sendo construído e modificado; Por fim, subverte a postura física do leitor na relação que este estabelece, agora, com o computador. O último capitulo, Invenções, a autora conclui que no mundo da cibercultura, o professor como transmissor de conhecimento poderá ser substituído pelo computador. Assim, é necessário o professor ressignificar o seu papel, reiventar a sua profissão, construindo-se como professor pesquisador, arquiteto cognitivo, dinamizador da inteligência capaz de organizar situações de aprendizagens interativas, coletivas e polifônicas nos diversos espaços de aprendizagem, devendo os currículos de formação professor considerar esses aspecto. A influência da cibercultura na educação permite apontar alguns cenários possíveis, diz Ramal: O primeiro cenário, da tecnologia da alienação, refere-se a uma tecnocracia domesticadora, capaz de transformar o ser humano em escravo da tecnologia, autômato e sem capacidade crítica. Nesse caso, o professor seria substituído pelo computador, e o homem, esmagado pelo meio em que vive, num processo de desumanização; O segundo cenário, o da tecnologia da exclusão, a educação se daria através da rede e para isso deveria contar com escolas, tecnologicamente bem equipadas, que se propunham a formar usuários das tecnologias, ou massas educadas para o consumo. Os professores seriam, então, contratados por suas destrezas técnicas e o homem tentaria continuamente se adaptar ao meio, que estaria em constante processo de transformação; No terceiro cenário, o da tecnologia da liberdade, haveria uma ressignificação da escola para integrar o real e o virtual, o humano e o tecnológico. A escola, ambiente polifônico, se propunha a formar alunos autores de textos e da própria vida; Os professores seriam parceiros, instigadores de pesquisas; O ambiente escolar seria uma realidade gestora de desigualdades e conflitos; A pessoa seria educada criticando e transformando o meio em função de promover a sua humanidade. Dentre os possíveis cenários, o da tecnologia da liberdade se propõe a uma formação humanista, posiciona-se Andréa Ramal. 182 Revista da FACED, nº 06, 2002
6 A obra é dirigida aos interessados na educação de modo geral, e especificamente, aos profissionais interessados nas formas de pensamento na cultura contemporânea que envolvem dispositivos tecnológicos e novos métodos de ensino, podendo ser adotada nos cursos de formação de professores e por pesquisadores interessados na área de educação. Revista da FACED, nº 06,
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