INSTITUTO DE DESENVOLVIMENTO EDUCACIONAL DO ALTO URUGUAI FACULDADES IDEAU
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- Lucca de Paiva Camilo
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1 LEVANTAMENTO DE CASOS DE ZOONOSES EM PEQUENOS ANIMAIS NA REGIÃO NORTE DO RIO GRANDE DO SUL BEAL, Janaína* BOCCA, Maristela¹ BORGES, Liana¹ MARCHETTO, Paola¹ NICOLAU, Luana 1 PRIOR, Francieli¹ ZANCANARO, Gabriela¹ ALMEIDA, Mauro Antonio de² BRUSTOLIM, Joice Magali² MAHL, Deise Luiza² OLIVEIRA, Daniela dos Santos de² RIBEIRO, Ticiany Maria Dias² RESUMO: O relacionamento mais próximo dos proprietários com seus animais de estimação a possibilidade de transmissão de zoonoses aos seres humanos aumenta, daí a grande importância do médico veterinário no diagnóstico destas doenças. Considerando a importância sobre vários aspectos de conhecer as principais zoonoses comumente atendidas em pequenos animais da região norte do Rio Grande do Sul, este trabalho objetivo o levantamento dos casos de Giardíase e Leptospirose em animais atendidos no Hospital Veterinário São Francisco de Assis de Getúlio Vargas/RS. Durante os meses de agosto e setembro foram atendidos no hospital um total de 240 animais domésticos, sendo que destes, 14 foram confirmados como sendo portadores de zoonoses: 12 cães com giardíase e 2 cães com leptospirose (sorovares Leptospira brastislava e Leptospira canicola). No Brasil, poucos trabalhos foram feitos com relação a registros de surtos e ocorrência de Giardia spp. A leptospirose afeta muitas espécies de animais domésticos e o homem, doença multissistêmica, largamente disseminada e com manifestações clínicas variando desde infecção inaparente até doença fulminante. Boas práticas de higiene, sanidade e vacinação dos animais reduzem o risco de contrair ambas as doenças; trata-se de uma ação de saúde pública. Palavras-chave: Giardia spp; Leptospira spp; animal; homem; doenças. ABSTRACT: The closer relationship of owners with their pets, the possibility of transmission of zoonoses to humans increases, hence the great importance of the veterinarian in the diagnosis of these diseases. Considering the importance of several aspects of knowing the main zoonoses commonly seen in small animals in the northern region of Rio Grande do Sul, this study had as objective to survey the Giardiasis and Leptospirosis cases in animals attended at the São Francisco de Assis Veterinary Hospital in Getúlio Vargas / RS. During the months of August and September, a total of 240 domestic animals were attended, of which 14 were confirmed as having zoonoses: 12 dogs with giardiasis and 2 dogs with leptospirosis (sorovares Leptospira brastislava and Leptospira canicola). In Brazil, few studies have been done regarding records of outbreaks and occurrence of Giardia spp. Leptospirosis affects many species of domestic animals and man, a multisystemic disease, widely disseminated and with clinical manifestations varying from inapparent infection to fulminant disease. Good animal hygiene, sanitation and vaccination practices reduce the risk of contracting both diseases; it is a public health action. Keywords: Giardia spp; Leptospira spp; animal; man; diseases. 1 Discentes do Curso Medicina Veterinária, Nível /2- Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. ² Docentes do Curso Medicina Veterinária, Nível /2 - Faculdade IDEAU Getúlio Vargas/RS. * para contato: jana_beal@hotmail.com Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 1
2 1 INTRODUÇÃO As doenças transmitidas dos animais para os seres humanos são denominadas zoonoses e encontram-se no mundo inteiro. Este problema vem aumentando conforme as ações do homem no meio ambiente e geralmente acometem locais onde há uma higiene precária, aumentando assim os agentes patogênicos e com isso aumentando o risco de contaminação. Os cães e gatos são hospedeiros definitivos para algumas zoonoses e o ascendente número destes animais domiciliados e errantes, somado ao acesso facilitado a locais de lazer e convívio, eleva o risco de infecção. São frequentes as contaminações por zoonoses e estas estão diretamente relacionadas à carência de condições de saneamento básico e dos hábitos de higiene. Os protozoários do gênero Giardia spp. são parasitos flagelados que habitam o trato intestinal de uma grande variedade de espécies de vertebrados, estando listados entre os patógenos gastrintestinais mais importantes na clínica médica de pequenos animais. A espécie mais estudada, Giardia intestinalis (sinonímias: G. duodenalis; G. lamblia) infecta, além de cães e gatos, outras espécies de mamíferos, inclusive seres humanos. A giardíase é uma zoonose frequente e comum em animais de companhia, o contato direto de animais infectados com animais saudáveis tende a ser o grande responsável pela disseminação do protozoário. Os sinais clínicos nos animais normalmente são diarreia, perda de peso, e em alguns casos o animal apresenta-se debilitado. Já nos humanos a giardíase é marcada por cólicas abdominais, flatulência, náuseas e episódios de diarreia aquosa. A leptospirose é uma zoonose de distribuição mundial que afeta muitas espécies de animais domésticos e silvestres, sendo que os gatos são geralmente resistentes à infecção. Doença multissistêmica, largamente disseminada e com alto índice de infectividade, de causa infecciosa com manifestações clínicas variando desde infecção inaparente até doença fulminante. Mais de 200 sorovares já foram identificados, alguns hospedados em animais de forma endêmica e quando atingidos por sorovares não endêmicos podem desenvolver doença grave e fatal. A contaminação dos animais domésticos ocorre através do contato com urina de ratos contaminados pela bactéria, estando estes uma vez contaminados, podem transmitir a doença para o homem. Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 2
3 Em humanos é uma doença infecciosa que se caracteriza por uma vasculite que é a causa básica das manifestações clínicas. Pode envolver múltiplos sistemas e provocar disfunção renal e hepática, miocardite e hemorragia alveolar na qual a necessidade de ventilação mecânica está associada a uma taxa de mortalidade entre 30% e 60%. O diagnóstico tanto da giardíase quando da leptospirose podem ser feitos através de testes rápidos, porem o diagnóstico da giardíase tende a ser mais simples quando comparado ao da leptospirose já que os sinais apresentados são mais característicos. O objetivo do tratamento é eliminar os sinais clínicos apresentados pelos animais, além disso, interromper a fonte de infecção. As medicações indicadas dependem muito dos sinais apresentados, porém obrigatoriamente incluem antibióticos para ambos os casos. A prevenção através da vacinação é o mais indicado e cuidados com a limpeza e higiene são de suma importância. Ante ao exposto, e considerando a importância sobre vários aspectos de conhecer as principais zoonoses comumente atendidas em pequenos animais da região norte do Rio Grande do Sul, este trabalho teve como objetivo o levantamento dos casos de Giardíase e Leptospirose em animais atendidos no Hospital Veterinário São Francisco de Assis de Getúlio Vargas/RS. 2 DESENVOLVIMENTO Nesta parte do trabalho sera detalhado o referencial teórico, a metodologia empregada e os resultados encontrados. Contém a exposição ordenada e pormenorizada do assunto tratado do estudo. 2.1 Referencial Teórico Giardia spp. Foi descoberta em 1681, por Anton Van Leeuwenhoek quando ele examinava as suas fezes no microscópio. Esse parasita foi descrito novamente em 1859, pelo médico tcheco Vilém Dusan Lambl, o qual o denominou Cercomas intestinalis. Em 1915, a equipe do zoólogo Charles Stiles criou o nome Giardia lamblia, para homenagear as pesquisas do biólogo francês Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 3
4 Alfred Mathieu Giard e Vilém Dusan Lambl. Atualmente, a Giardia lamblia também recebe as denominações de G. intestinalis, G. duodenalis ou Lamblia intestinalis (NEVES et al., 2005). Segundo Vicente (1997) o ciclo dos protozoários do gênero Giardia spp. é direto. Trofozoítas são encontrados no intestino delgado dos animais infectados, onde permanecem aderidos à mucosa. Cistos (formas infectantes) são eliminados juntamente com as fezes e podem permanecer viáveis por vários meses em ambientes úmidos. A transmissão é fecal-oral e a infecção de um hospedeiro em potencial pode ocorrer pela ingestão de água, alimentos ou fezes contendo cistos. Nos gatos, o período pré-patente varia de 5 a 16 dias (COSTA, et al., 1996). Essa característica de sobrevivência no meio ambiente é o fator mais importante para a alta prevalência da giardíase mundialmente. Os cistos são infecciosos quando excretados pelas fezes, permitindo completar o ciclo de vida logo após 72 horas da infecção. Estudos sugerem que o período pré-patente varia em torno de 4 a 10 dias, mas outros indicam período pré-patente em torno de 12 a 35 dias após a infecção. A infecção pode ser autolimitante em 27 a 35 dias ou ser recorrente (ARAUJO, 2006). O gênero Giardia spp. possui seis espécies, das quais só uma delas é parasita de múltiplas espécies, denominada G. lamblia, intestinalis ou duodenalis. Essa espécie é constituída por pelo menos sete grupos de genótipos, que diferem significantemente entre si e parecem representar diferentes espécies. Esses grupos apresentam especificidade ou limitação de hospedeiros. Os genótipos A e B são encontrados em humanos e em vários mamíferos; os C e D em cães; o E em animais de produção; o F em gatos e o G em ratos. Apenas o grupo um do genótipo A foi isolado em humanos e em animais (ADAM, 2001). Os sinais clínicos da giardíase não são patognomônicos, tendem a ser comuns de outras doenças intestinais e sua infecção depende da imunidade, condições do animal e virulência da cepa, porém normalmente causam sintomas moderados a grave, mas também podem ser assintomáticas. Quando a doença é clínica, o que se observa é diarréia que pode ser autolimitante, aguda ou crônica, e após alguns dias os cistos aparecerão nas fezes. Em filhotes a incidência da doença é maior e tende a ser mais fatal comparando a animais mais velhos, devido a gravidade dos sinais. Além de diarréia (com presença ou não de muco), pode-se observar dor abdominal, desidratação e perda de peso devido a má absorção intestinal (BECK, 2003; LENZI, 2013). O diagnóstico baseia-se na identificação dos cistos ou trofozoítos através da coleta de fezes. Conforme Mundim et al. (2002) o método de diagnóstico considerado mais eficaz para a Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 4
5 giardíase é a técnica de centrífugo-flutuação em solução de sulfato de zinco a 33%. Essa técnica baseia-se na diferença de densidade entre os cistos, os detritos fecais e a solução utilizada na flutuação, sendo possível observar os cistos com uma menor distorção além de ter baixo custo (BECK, 2003; LENZI, 2013). Além disso, outro método de identificação dessa zoonose é através do exame sorológico ELISA onde apresenta alta sensibilidade e especificidade. Este método consegue identificar os antígenos do parasita nas fezes mesmo que o animal não esteja eliminando no momento das fezes, sendo de grande praticidade no diagnóstico rotineiro (ADDEO et al, 2008; LENZI, 2013). Segundo Lenzi (2013) o objetivo do tratamento é a eliminação dos sinais clínicos, da infecção e interromper a eliminação de cistos. Entretanto, animais assintomáticos com o parasito também podem necessitar de tratamento. Vários medicamentos podem ser utilizados, entre eles o mais comum é o metronidazol (25-30 mg/kg, BID por 7-10 dias) e tem aproximadamente 67% de eficácia em cães e 100% de eficácia em gatos. O metronidazol pode ser utilizado associado com a sulfadimetoxina, um age contra a giardia enquanto o outro age contra protozoários e bactérias patogênicas do trato gastrointestinal, respectivamente (CRIVELLENTI & CRIVELLENTI, 2012). Porém Souza et al. (2010), afirma que atualmente a composição anti-helmíntica mais empregada no controle de helmintos gastrintestinais nos cães, em todo o mundo, é constituída de praziquantel, pamoato de pirantel e febantel, em função de seu amplo espectro de atividade, segurança e altos níveis de eficácia. Outros medicamentos que podem ser utilizados são o albendazol e a furazolidona que também funciona muito bem para gatos. O controle desta enfermidade baseia-se na desinfecção do ambiente através da descontaminação com água fervente ou com amônia quaternária, deixando agir em torno de 30 a 40 minutos e também limpeza do ambiente retirando matérias orgânicas onde o protozoário possa estar presente. Além disso, deve-se realizar desinfecção dos animais com banhos pois podem ter cistos aderidos a pele (VIGNARD-ROSEZ et al., 2009). Lenzi (2013) diz que locais onde há aglomerações de animais e ambientes com muitos filhotes são mais propícios a infecções por Giardia spp, justificando a importância de medidas sanitárias serem adotadas quando há suspeitas da doença. Todos os animais devem ser examinados pois, muitos assintomáticos eliminam os cistos pelas fezes. A prevenção pode ser feita através de vacinação, essa vacina foi desenvolvida através de antígenos de trofozoítos, induzindo assim, uma imunidade protetora em cães (BECK, 2003). Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 5
6 2.1.2 Leptospirose A leptospirose afeta várias espécies de animais domésticos, silvestres e os roedores. Trata-se de uma zoonose e por isso, o cão tornou-se de grande importância na epidemiologia da doença por sua estreita relação com o homem. Os cães domiciliados podem adquirir a leptospirose pela convivência com outros cães e ratos que urinam em áreas comuns. Animais que vivem em áreas urbanas periféricas, cujas condições sanitárias e de infraestrutura são precárias, junto a lixões, esgoto a céu aberto, depósitos de materiais descartados, restos alimentares e exposição à água contaminada com urina ou tecidos provenientes de animais infectados, se constituem particularmente em populações de risco (GENOVEZ 1996). Vários inquéritos sorológicos realizados em cães no Brasil mostram a variabilidade na distribuição de sorovares de Leptospira interrogans em diferentes regiões. Esta patologia é constituída por diversos sorovares, as mais expressivas são canicola, e icterohaemorrhagiae. Os cães podem ser portadores da sorovar canicola e não manifestar nenhum sinal clinico, porem dissemina a leptospira através da urina, assim contamina o ambiente, outros animais e consequentemente o homem. O sorotipo L. canicola, para os cães urbanos, tem seu reservatório nos próprios cães. O agente localiza-se nos rins, ocorrendo leptospirúria contínua ou intermitente por um ou dois meses ou por períodos ainda maiores. Em cães, a enfermidade é caracterizada por diversos sinais clínicos, podendo os animais infectados apresentarem desde um quadro assintomático até forma superaguda, aguda, subaguda ou crônica da doença. A severidade dos sinais clínicos varia de acordo com o estado de vacinação do cão, idade, virulência do sorovar, grau de exposição à doença e resposta imune do hospedeiro. Deve-se suspeitar de leptospirose em casos que os cães apresentem sinais clínicos de insuficiência renal e/ou hepática, uveíte, hemorragia pulmonar, febre aguda e aborto. Leucopenia seguida de leucocitose, anemia, hiponatremia, hipocalcemia, hiperfosfatemia, hipoalbuminemia, azotemia, hiperbilirrubinemia, aumento de ALT, FA e AST são achados laboratoriais que podem estar presentes em animais doentes (LAPPIN, 2006). A leptospirose no ser humano pode ser assintomática, subclínica ou causar quadros clínicos leve, moderado ou grave. Dependendo do quadro os sinais clínicos vão aparecer, no caso leve a pessoa apresenta febre, cefaleia e mialgias, em casos moderados além desses sinais apresentam dor abdominal, icterícia, vômitos e diarreia e nos casos graves além dos já citados, Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 6
7 hipotensão arterial, insuficiência respiratória, hemorragia pulmonar, choque, insuficiência renal aguda e transtornos de consciência. Quanto antes identificado os sinais clínicos e realizado o tratamento correto, maior será a chance de sobreviver (BROD, 2016). Para o diagnóstico da leptospirose canina é necessário a realização de exames laboratoriais, sendo o exame bacteriológico considerado definitivo. A visualização direta de leptospiras em microscópio de campo escuro tem sido utilizada principalmente em amostras de urina durante a fase de leptospirúria. Entre as provas sorológicas, a soroaglutinação microscópica (SAM) com antígenos vivos é a mais utilizada em todo mundo (FAINE et al., 1999). Provas laboratoriais como o hemograma, dosagem dos valores séricos de ureia e creatinina e urinálise, podem ser utilizadas como exames complementares, pois indicam as alterações funcionais nos diferentes órgãos acometidos, contribuindo assim para a avaliação clínica do animal (NAVARRO & KOCIBA, 1982) O tratamento da leptospirose canina varia de acordo com cada caso específico. Entre as condutas terapêuticas, as que se destacam incluem a hidratação e correção dos distúrbios hidroeletrolíticos, diálise, transfusão sanguínea e antibioticoterapia (GUIDUGLI, 2000). O tratamento em humanos é através de antibioticoterapia a base de penicilina G cristalina, porém pode utilizar doxiciclina, amoxicilina, eritromicina entre outros preferencialmente antes do quinto dia do início da infecção devido a possibilidade de ocorrência da reação de Jarish-Herxheimer. A hidratação é de suma importância e dependendo dos sinais clínicos que a pessoa apresenta deve-se realizar o tratamento suporte através de ventilação e diálise (CERBINO & SILVA, 2007). 2.2 Material e Métodos Os dados para elaboração deste trabalho foram obtidos através do acompanhamento da rotina de atendimentos do Hospital Veterinário São Francisco de Assis na cidade de Getúlio Vargas/RS, durante os meses de agosto e setembro de O hospital recebe pacientes oriundos de várias cidades da região norte do Rio Grande do Sul. Nesses dois meses foram atendidos um total de 240 animais entre cães e gatos, após atendimento as fichas de anamneses dos casos suspeitos de zoonoses eram separadas para posterior coleta de dados. Dos 240 animais atendidos 14 foram confirmados através de exames Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 7
8 laboratoriais serem portadores de zoonoses: 12 cães com giardíase e 2 cães com leptospirose (sorovares Leptospira brastislava e Leptospira canicola). Para confirmação dos casos suspeitos de giardíase, realizou-se a coleta de fezes diretamente do reto dos gatos, acondicionadas em recipientes específicos fornecidos pelo laboratório. Cada amostra logo após a coleta foi identificada, fotografada e armazenada dentro de uma caixa de isopor com gelo para serem encaminhadas ao laboratório que realizou os exames pela técnica parasitológica de Faust-Hoffman, Pons e Janer. Não foi realizado teste para tipagem de Giardia spp. devido o alto custo do exame. Os animais suspeitos de leptospirose tiveram amostras de sangue coletados através da veia jugular, este sangue foi armazenado em frasco coletor sem anticoagulante, identificado, armazenado em caixa de isopor com gelo e encaminhado para o laboratório responsável (externo) que utilizou método de microaglutinação para obter o resultado. Após confirmação dos resultados o laboratório enviou os resultados por para o hospital, que prosseguiu com os protocolos necessários. 2.3 Resultados e Discussão Giardia spp. Do ponto de vista da saúde pública, a giardíase animal foi estudada nos Estados Unidos como sendo uma parasitose responsável pelo alto número de surtos com transmissão pela água, e pelo menos parte desses surtos pensava-se ser devido à contaminação animal nos abastecimentos de água. Bovinos e em menor grau os animais silvestres, têm sido considerados como potentes reservatórios dessa transmissão hídrica. Os animais de companhia também estão associados com a transmissão direta da giardíase para os seres humanos, especialmente em ambientes endêmicos (GEURDEN & OLSON, 2011). Conforme afirma Xavier (2006) a giardíase é uma importante zoonose, reconhecida como tal pela Organização Mundial de Saúde (OMS). No Brasil, trabalhos indicam que a transmissão zoonótica dessa doença parece ser frequente. No Brasil, poucos trabalhos foram feitos com relação a registros de surtos e ocorrência deste protozoário em água superficial não tratada, pois não é rotina analisar estes patógenos em Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 8
9 água de abastecimentos público, havendo registros somente para o estado de São Paulo. Em estudo realizado em 1999, no estado de São Paulo, 28 mananciais de rede básica de monitoramento foram avaliadas com o objetivo de verificar a ocorrência de Giardia spp. nas águas captadas para consumo humano. Das 162 amostras analisadas, 31,5% foram positivas, mostrando que o patógeno esta disseminado nas águas superficiais de São Paulo (FRANCO, 2000). Em outro estudo realizado no Rio Atibaia (Campinas/SP), todas as amostras de água foram positivas para estes protozoários. Outro estudo verificou frequência de 16,6% de Giardia spp. em águas de recreação e água tratada no município de Araras/SP (RÉ, 1999). Outro fator importante a ser considerado é o número de amostras analisadas por hospedeiro, pois os cistos são excretados de forma intermitente. Quanto maior o número de coletas, maior a chance de se obter amostras positivas. Dessa maneira, se recomenda o exame em três amostras consecutivas colhidas em dias alternados, evitando assim os falsos negativos (TABOADA & MERCHANT, 1997). Giardia spp. tem sido detectada nas fezes de cães em todo o mundo. Entretanto, a prevalência relatada tende a variar consideravelmente entre os estudos, pois é influenciada pela sensibilidade do teste de diagnóstico usado, e pela análise de uma única amostra, o que pode resultar em falsos negativos dada a natureza intermitente da excreção do cisto (THOMPSON et al., 2008). Embora a prevalência real de Giardia spp. em cães seja desconhecida, geralmente acredita-se ser a causadora de 1 a 20% dos casos de diarreia em cães. No Brasil, a prevalência de cães infectados varia de 5,9% a 31,25%, tornando o exame parasitológico importante na rotina dos clínicos em casos de suspeita da infecção, especialmente devido ao alto potencial zoonótico (SCORZA & LAPPIN, 2010). Pereira (2007) associa o número de gatos na família como um dos fatores de risco da giardíase, em uma pesquisa realizada em hospitais pediátricos de Goiânia, Goiás, entre crianças hospitalizadas com diarreia. E em um estudo na população de uma favela do Rio de Janeiro, em 96,8% das amostras humanas e em todas os animais (7 cães e 1 gato), os parasitas eram do mesmo grupo, o genótipo A1, demonstrando um provável ciclo zoonótico nessa população (MELDAU, 2009). Esses autores defendem que no nosso país a transmissão zoonótica é favorecida por fatores socioculturais e condições sanitárias. Em Curitiba, uma clínica veterinária observou um surto de giardíase, atendendo em três meses 7 cães e 3 gatos com a doença. Este surto ocorreu em meses de temperatura elevada e Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 9
10 dentre os animais acometidos os caninos tinham acesso a um parque municipal muito frequentado por animais e os felinos não tinham acesso à rua. Em um dos casos uma criança contactante apresentou sintomas de giardíase alguns dias depois do diagnóstico do cão, tendo sido feito o posterior diagnóstico terapêutico pelo médico (PEREIRA, 2007). Atualmente observa-se o relacionamento mais próximo dos proprietários com seus animais de estimação e, desta forma, a grande possibilidade de transmissão da giardíase aos seres humanos, especialmente a crianças, idosos e pessoas imunossuprimidas. Daí a grande importância do veterinário no diagnóstico desta doença e posterior tratamento, bem como na sua prevenção; trata-se de uma ação em saúde pública (MIRTES, 2013) Leptospirose Freire et al. (2003) em estudo para identificar variáveis ambientais e individuais associadas a cães positivos para leptospirose em Londrina PR, examinaram 160 cães, destes a prevalência foi de 30,52% positivos para leptospirose, e os sorovares mais frequentes foram L. pyrogenes e L. icterohaemorrhagiae. Em Pelotas (RS), Furtado et al. (1997) examinaram 260 cães com prevalência de 28,9% e destaque para os sorovares L. canicola e L. icterohaemorrhagiae. Também em Pelotas, Avila et al. (1998) encontraram 34,8% de soros positivos em 425 cães, com predomínio dos sorovares L. canicola, L. icterohaemorrhagiae e L. copenhageni. Mascolli et al. (2002) encontraram em cães, na Cidade de Santana do Parnaíba, São Paulo, Brasil, 15% de positividade em relação à leptospirose, com maior freqüência das variantes L. copenhageni (24%), L. canicola (16%) e L. hardjo (16%). A prevalência do sorovar L. copenhageni aponta a importância da população de roedores na transmissão da doença e reforça a necessidade de programas de controle de roedores, adotando, além das medidas ofensivas (desratização), normalmente as únicas utilizadas, a inclusão de modificações ambientais como medidas preventivas (anti-ratização) e a educação em saúde. Os ratos e, em especial, as ratazanas, tidos como os principais portadores universais das leptospiras, são considerados um dos principais responsáveis pela transmissão da doença ao homem (Mascolli et al., 2002). Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 10
11 Lopes et al (2005) com o objetivo de conhecer a frequência sorológica antileptospírica em cães e sua correlação com roedores e fatores ambientais, na área territorial urbana do município de Botucatu, SP, examinaram amostras de sangue de cães, onde ocorreram reações para 20 sorovares, com maior importância para: L. castellonis (28,68%), L. autumnalis (19,12%), L. pyrogenes (17,65%), L. icterohaemorrhagiae (11,03%) e L. canicola (9,56%). Também em Botucatu SP Modolo et al (2006), investigaram, soroepidemiologicamente a leptospirose em 775 cães em amostras de sangue, obtidas durante a campanha anual de vacinação anti-rábica, nesta pesquisa obtiveram 119 (15,3%) amostras positivas, com reação para 11 sorovares diferentes, com maior importância para o L. canicola, em 48 (40,3%) das amostras, e L. pyrogenes, em 41 (34,5%). Estudo realizado por Castro et al (2011), verificar a ocorrência dos principais sorovares de Leptospira spp. em cães domésticos e humanos, notificados no ano de 2008, bem como os principais fatores de riscos em uma abordagem geográfica relacionados à doença no município de Uberlândia, Estado de Minas Gerais, Brasil. Foram examinadas 268 amostras de soro sanguíneo de cães no qual reagiram principalmente aos sorovares L. Autumnalis (34,2%) e L. Tarassovi (23,7%), sendo este, também detectado em humanos A ocorrência destes sorovares pode estar relacionada com uma fonte de infecção comum as duas espécies, ou a hipótese de que o cão possa ser a fonte de infecção para o ser humano. Trabalhos realizados por Brod (1996), concluem que cães confinados em pátio tem menores probabilidades de contrair a doença do que cães que vivem soltos nas ruas, bem como aqueles que podem entrar em contato com pessoas e valetas, reforçando a tese na qual aponta que boas práticas de higiene e sanidade reduzem o risco de contrair a doença. Conforme Gomes (2013) nos caninos, as formas clássicas de leptospirose são devido aos sorovares L. canicola e L. icterohaemorrhagiae. Os cães representam uma fonte comum de infecção para o homem. Em um estudo sobre uma população de cães assintomáticos 6,9% das amostras cultivadas de urina foi positiva e todos os isolados foram geneticamente caracterizados como sorovar L. canicola. Porém, comparando aos dados obtidos na pesquisa, além da L. canicola foi encontrado também L. brastislava que é menos comum em cães, porém é mais comum em suínos e equinos. Segundo Hagiwar et al. (2004) foi realizado alguns inquéritos sorológicos realizados em várias regiões do Brasil e os principais sorovares de Leptospira spp. detectados em cães Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 11
12 demonstraram que a L. canicola e a L. icterohaemorrhagiae estavam presentes em praticamente todas as regiões, porém a L. brastislava não foi encontrado em nenhuma região. O tratamento ótimo para leptospirose canina é desconhecido. A administração de antibióticos iniciada de 4 a 7 dias depois do início dos sinais clínicos é menos efetiva em promover recuperação clínica do que a iniciada precocemente. A terapia antibiótica é direcionada inicialmente para resolver a fase leptospirêmica e, subsequentemente, a fase leptospirúrica. Penicilinas e a doxiciclina são tradicionalmente os fármacos de escolha para o tratamento da leptospirose em humanos e cães (LIMA, 2013). A imunidade à leptospirose é principalmente humoral e relativamente sorovarespecífica, assim a vacina protege contra a doença causada pelo sorovar homólogo ou sorovares antigenicamente semelhantes. As vacinas contra leptospirose canina geralmente contêm os sorovares L. canicola e L. icterohaemorrhagiae, podendo também ser encontrado no mercado nacional a vacina contendo os sorovares L. pomona e L. grippotyphosa. Além da vacinação, devemos tomar medidas sanitárias contínuas para evitar o contato com a urina contaminada, fazer o controle de roedores, monitorar e remover cães doentes, sintomáticos, suspeitos e portadores para serem tratados, buscando dessa forma a eliminação da fonte de infecção (ETTINGER & FELDMAN, 1992). Conforme a instrução normativa do MAPA nº 50 de 24 de Setembro de 2013 a leptospirose é uma das doenças que requerem notificação mensal de qualquer caso que for confirmado. 3 CONCLUSÃO Com o relacionamento mais próximo dos proprietários com seus animais de estimação a possibilidade de transmissão de zoonoses aos seres humanos, especialmente a crianças, idosos e pessoas imunossuprimidas aumenta. Daí a grande importância do médico veterinário no diagnóstico destas doenças e posterior tratamento, bem como na sua prevenção. Poucos trabalhos foram feitos com relação a registros de surtos e ocorrência de Giardia spp., outro fator importante a ser considerado é o número de amostras coletadas dos animais e humanos suspeitos de giardíase, pois os cistos são excretados de forma intermitente o que pode gerar resultado falso negativo. Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 12
13 A leptospirose tem distribuição mundial e afeta muitas espécies de animais domésticos e silvestres. Doença multissistêmica, largamente disseminada e com manifestações clínicas variando desde infecção inaparente até doença fulminante. Os cães podem ser portadores da sorovar L. canicola e não manifestar nenhum sinal clinico, porem dissemina a bactéria através da urina, assim contamina o ambiente, outros animais e consequentemente o homem. Em relação aos 240 atendimentos a incidência de 14 casos confirmados de zoonoses é considerado baixo para a região. Boas práticas de higiene, sanidade e vacinação dos animais reduzem o risco de contrair ambas as doenças; trata-se de uma ação de saúde pública. REFERÊNCIAS ADAM, R.D. Biology of Giardia lamblia. Clinical Microbiology Reviews. v.14, n.3, p.447 e 475, Disponível em: Acesso em 5 de outubro ARAÚJO N. S Avaliação da influência de diferentes inóculos do isolado humano de Giardia duodenalis sobre a cinética da infecção e no desenvolvimento de alterações patológicas no intestino de gerbils experimentalmente infectados. Dissertação de mestrado, Universidade Federal de Uberlândia-MG. 77p. Disponível em: Acesso em 17 de agosto AVILA, M. O.; FURTADO, L. R. I. ; TEIXEIRA, M. M.; ROSADO, R.. L. I.; MARTINS, L. F. S. ; BROD, C. S. Aglutininas anti-leptospíricas em cães na área de influência do Centro de Controle de Zoonoses, Pelotas, RS, Brasil, Ciência Rural, Santa Maria, v.28, n.1, p , BECK, C. Infecção por giardia lamblia em cães determinada através do método de faust e cols e da técnica de coloração da auramina, no município de canoas, rs, brasil Disponível em < o: 19 setembro BRASIL MAPA. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento. Instrução Normativa Mapa nº 50, de 24 de setembro de 2013, disponível em: < Acesso em 5 de setembro Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 13
14 BROD, C.S. Fatores de Risco à Leptospirose canina no município de Pelotas, RS. In: congresso brasileiro de medicina veterinária, 24, 1996, Rio Grande do Sul. Anais... Rio Grande do Sul, Delcione Silveira, p. 137 BROD, C.S. Leptospirose: etiologia, epidemiologia, diagnóstico e controle Disponível em < Acesso: 19 setembro CASTRO, J. R. D., SALABERRY, S. R. S., SOUZA, M. A. D., & LIMA-RIBEIRO, A. M. C. (2011). Sorovares de Leptospira spp. Predominantes em exames sorológicos de caninos e humanos no município de Uberlândia, Estado de Minas Gerais. Rev Soc Bras Med Trop, 44(2), CERBINO, J. Leptospirose. ANO. Disponível em < Acesso: 19 setembro COSTA, H.M.A.; COSTA, J.O.; FREITAS, M.G Parasitos de Felis domestica em Belo Horizonte, Minas Gerais. Arquivos da Escola de Medicina Veterinária da UFMG. Disponivel em; Acesso em 8 de setembro CRIVELLENTI, L.Z; CRIVELLENTI, S. B. Casos de rotina em medicina veterinária de pequenos animais Editora MedVet 1ª edição. Pg 183. de ensaios clínicos aleatórios com metanálises. São Paulo, SP. Tese Doutorado ETTINGER, S. L; FELDMAN, E.C. Tratado de Medicina Interna Veterinária. 3.ed.. São Paulo: Manole, v.1. FAIRE R.C Detecção molecular de Giardia sp. em amostras fecais e água: extração de DNA genômico, PCR e RFLP. Dissertação de Doutorado, Universidade Federal do Paraná, Curitiba. Disponivel em Acesso em 6 de agosto FRANCO R.M Occurrence of Cryptosporidium oocysts and Giardia cysts in raw water from the Atibaia River, Campinas, Brazil, Rev Inst Med Trop S Paulo. 43 (2): Disponível em: Acesso em 5 de setembro FREIRE, R. L., & DE FREITAS, J. C. Fatores de risco associados à leptospirose em cães do município de Londrina-PR. Semina: Ciências Agrárias, Londrina, 24(1), (2003).. FURTADO, L.R.I.; AVILA, M.O.; FEHLBERG, M.F.B.. Prevalência e avaliação de fatores de risco à leptospirose canina, no município de Pelotas RS. Arq. Inst. Biol. v. 64, p , GENOVEZ, M. E. Leptospirose em cães. Pet. Vet. v.1, n. 1, p. 6-9, março/abril, 1996 Projeto de Aperfeiçoamento Teórico e Prático Getúlio Vargas RS Brasil 14
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