Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação Nº 08
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1 Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação Nº 08 Organização: Editor-chefe: Sergio Fernando Zavarize Co-editora: Solange Muglia Wechsler
2 SUMÁRIO Editorial 146 Maria de Fátima Morais Promoção da criatividade em distintos contextos: entraves e desafios 148 Eunice M. L. Soriano de Alencar Proposta de intervenção de estímulo à criatividade no contexto escolar e familiar 149 Denise de Souza Fleith; Fernanda do Carmo Gonçalves dos Santos Estratégias criativo-produtivas para crianças e jovens superdotados em salas de recurso 151 Angela Virgolim Quatro Estratégias de Intervenção para o Desenvolvimento do Pensamento Criativo em Programas de Desenvolvimento da Criatividade para Lideranças 152 Vera Maria Tindó Freire Ribeiro Criatividade na Prática do Ateliê de Artes Plásticas 154 Regina Lara Silveira Mello Criatividade e Saúde Mental: Desenvolvendo as Forças Positivas de Caráter 156 Solange Muglia Wechsler; Karina da Silva Oliveira; Janete Tonete Soárez Sugestões Práticas e Estratégias para o Desenvolvimento e Treinamento de Características Associadas à Criatividade 158 Tatiana de Cássia Nakano Primi O Enriquecimento Criativo para Sobredotados: programas odisseia e mais 159 Lúcia C. Miranda Agenda de Eventos 162 Chamada para a próxima edição 163
3 146 Editorial Maria de Fátima Morais Instituto de Educação Universidade do Minho Face a este boletim dedicado à divulgação do livro Criatividade: Aplicações Práticas em Contextos Internacionais, recentemente enquanto uma das organizadoras da obra. Muito frequentemente escuta-se que a criatividade não se ensina: pratica-se. Não podíamos estar mais de acordo no que de essencial a frase traduz; porém, essa prática deve ser sempre orientada por intencionalidade. Conhecer fundamentos e detalhes de estratégias interventivas ou partilhar experiências e suas reflexões em diferentes contextos, operacionalizam tal intencionalidade. Por seu lado, acredita-se (e estudos de meta-análise dão credibilidade a tal crença) que um potencial criativo mais pobre, se trabalhado, pode tornar-se mais expressivo do que um mais rico mas negligenciado. Boletim Ibero-americano de Criatividade e Inovação, Campinas, nº 08, 144-xxx, agosto-novembro, 2015
4 147 As duas ideias anteriores impulsionaram a organização de um livro que poderia ser ferramenta para partilhar e para orientar práticas de desenvolvimento da criatividade. Oriundas de dois países, as organizadoras (eu e as Professoras Lucia Miranda e Solange Wechsler) queriam ainda que esta possibilidade abarcasse diversidade de contextos geográficos e de atuação profissional. Construiu-se assim um livro com quatro seções. Inicia-se este percurso abordando a promoção da criatividade enquanto desafio transversal e ainda não plasmado em algum público ou intervenção específicos. Autores do Brasil e do Reino Unido apresentam flashes de historial da intervenção em competências criativas, com suas potencialidades e obstáculos, um cenário de pluralidade de estratégias desafiador de fronteiras (por exemplo, com ilustração de abordagens do Japão), assim como a relação da criatividade com a saúde mental enquanto veículo conceitual e pragmático para a expressão criativa. Segue-se a focalização no contexto educacional. Países como o Brasil, Portugal, México, Espanha e Estados Unidos fazem emergir, nos textos organizados, um panorama colorido e sistematizado de estratégias, programas e alvos de intervenção. A infância, a juventude e a idade adulta cabem nestes textos, tal como especificidades de conteúdo como a sobredotação, a promoção de um pensamento científico-criativo ou a formação de professores e de pais. Também o contexto organizacional surge operacionalizado no livro em diferentes espaços como as empresas e a universidade. Textos, de Portugal e do Brasil, ilustram narrativa e reflexivamente estratégias e programas de treino para a criatividade e para a liderança, salientando-se uma abordagem de CPS (Creative Problem Solving). Por último, o livro interpela nos com a promoção da criatividade no terreno artístico. Textos de autores brasileiros fundamentam e exemplificam ferramentas para investir na escrita criativa e nas artes plásticas. Fazemos eco das palavras de Manuela Romo no excelente prefácio deste livro: para que exista ciência aplicada, é necessária a existência do que aplicar em ciência. Esperamos então, com esta obra, que profissionais da educação, das organizações e das expressões artísticas possam colocar no seu dia-a-dia maior objetividade, motivação e conhecimento no esforço de transformar quem os rodeia em cidadãos mais flexíveis, críticos e criativos. Esperamos contribuir para a existência de cidadãos preparados para o futuro inequivocamente exigente de inovação. Boa leitura!
5 148 Eunice M. L. Soriano de Alencar Universidade de Brasília Resumo Os benefícios da criatividade para o indivíduo e sociedade têm sido crescentemente reconhecidos, sendo mesmo a criatividade considerada uma habilidade de sobrevivência na sociedade contemporânea, onde as mudanças ocorrem em ritmo acelerado, em um cenário marcado por complexidade, imprevisibilidade e globalização de sistemas econômicos e sociais. Tais fatores explicam o interesse e investimentos no desenvolvimento da capacidade de criar em numerosos países. O capítulo discute uma constelação de elementos que exercem influência no florescimento da criatividade em ambiente distintos e em sociedades diversas. São apontados desafios para se eliminar potenciais inibidores da expressão criativa tanto no ambiente escolar quanto no das organizações.
6 149 Denise de Souza Fleith Universidade de Brasília Fernanda do Carmo Gonçalves dos Santos Universidade de Brasília Resumo Nos últimos 40 anos, diversos programas de treinamento em criatividade foram elaborados, muitos deles voltados para o contexto educacional. As intervenções propostas visavam desenvolver habilidades criativas de docentes e discentes, discutir conceitos relacionados à criatividade, conscientizar a equipe escolar sobre barreiras ao desenvolvimento e à expressão do fenômeno e apresentar técnicas favoráveis à produção criativa. Resultados de pesquisas revelam um impacto positivo dos programas de treinamento, apoiando a premissa de que é possível ensinar a pessoa a pensar criativamente e desmistificando a ideia de criatividade como uma habilidade inata. Além disso, a maneira como o indivíduo percebe suas capacidades e envolvimento na realização de tarefas pode restringir ou favorecer o desenvolvimento do comportamento criativo. Neste sentido, fatores socioemocionais, como autoconceito e motivação, são relevantes ao desenvolvimento da criatividade e devem ser considerados na preparação de um programa de criatividade. O planejamento de uma intervenção em criatividade feito de forma cuidadosa potencializa o seu sucesso. Embora o contexto educacional seja elemento chave no desenvolvimento da habilidade criativa, é importante salientar que a promoção dessa
7 150 habilidade está associada às interações estabelecidas pelos indivíduos tanto na escola quanto na família e sociedade. O desenvolvimento da criatividade é uma tarefa a ser compartilhada pela escola e família. Neste sentido, torna-se fundamental informar e preparar pais e professores quanto a práticas e estratégias promotoras da habilidade criativa de seus filhos e alunos. Este capítulo foi preparado com o objetivo de apresentar uma proposta de intervenção junto a professores e pais, formulada pelas autoras, com vistas a estimular a criatividade em alunos do ensino fundamental. Quatro seções compõem o capítulo: (a) apresentação do modelo teórico de criatividade que embasa a proposta de intervenção, (b) síntese de estudos sobre os efeitos de treinamento de criatividade, (c) descrição detalhada da proposta de intervenção junto a professores e (d) apresentação da proposta de intervenção com os pais sessão a sessão. A intervenção contempla as dimensões cognitivas, emocionais e sociais do desenvolvimento humano e inova ao propor novas formas de trabalhar com os professores e ao envolver os pais na promoção da criatividade de jovens alunos. Espera-se que ela auxilie professores e pais na tarefa de estimular as habilidades criativas, autoconceito e motivação para aprender de seus alunos e filhos, aplicando no contexto escolar e familiar o conhecimento construído ao longo do programa.
8 151 Angela Virgolim Universidade de Brasília Resumo Neste capítulo faço uma revisão histórica das primeiras tentativas de se estudar a superdotação, considerando inicialmente evolução do domínio que permitiu a entrada da criatividade nos estudos sobre a inteligência e a superdotação; assim, destaco os trabalhos iniciais de Terman, Guilford e Torrance, até chegar nas teorias mais modernas sobre a criatividade no contexto da superdotação. Autores como Halpern, Amabile, Csikszentmihalyi, Gardner e Sternberg estão entre os que discutem os conceitos de inteligência e criatividade, trazendo os aspectos da motivação, do contexto, das habilidades, da sabedoria e da personalidade para o entendimento deste construto. E, por fim, apresenta e explora o Modelo de Enriquecimento Escolar de Joseph Renzulli (Renzulli & Reis, 1997) como um importante programa para o desenvolvimento da superdotação criativa no contexto escolar. O texto mostra também como as escolas podem desenvolver a criatividade produtiva, baseada em princípios éticos e morais, e o papel primordial de um professor criativo e efetivo na formação de líderes criativos, responsáveis e determinados, tão necessários no mundo atual.
9 152 Vera Maria Tindó Freire Ribeiro Kairós Consultoria À medida que eu domino a ferramenta, eu preencho o mundo com sentido, à medida que a ferramenta me domina ela me molda na sua estrutura e me impõe uma ideia de mim mesmo. Ivan Illich (1971) Resumo A autora se baseia em sua experiência de 30 anos trabalhando com a metodologia CPS (Creative Problem Solving), apresenta e comenta algumas das estratégias de intervenção criadas por ela para o desenvolvimento do pensamento criativo, as quais vem utilizando nos programas de desenvolvimento de lideranças em empresas, resume sua experiência de 1984 a 2006 com o modelo CPS de Osborn-Parnes a transição para o modelo de Puccio, Murdock e Mance (2007) Creative Problem Solving: TheThinking Skills Model e descreve quatro estratégias de intervenção criadas por ela : a primeira, Onde está meu Elefante com o objetivo de desbloqueio do pensamento divergente; a segunda, A montagem da Pirâmide, para demonstrar a importância do Pensamento Visionário para o líder; a terceira, O Anel de Möbius, para trabalhar o conceito de formação e quebra de paradigmas e para desconstruir o mito da resposta certa e a quarta O baralho de
10 153 Questões, para ajudar os grupos a desenvolverem as habilidades de formular questões para identificação e resolução de problemas ambiente empresarial industrial. O capitulo explicita em qual ferramenta ou técnica de criatividade estas estratégias foram baseadas, em que parte(s) da metodologia estão ancoradas, quais os conceitos-chave que trabalham, quais as estratégias utilizadas para sua aplicação. A autora chega à conclusão de que a afirmação de Puccio, Murdock e Mance, de que o modelo The Thinking Skills Model influencia a forma como as pessoas pensam sobre si mesmas e o mundo à sua volta em relação à mudança e melhora o desempenho individual e de grupos para a resolução de problemas que parecem não ter solução imediata parece se comprovar, através dos exemplos apresentados de experiências realizadas com cada uma dessas estratégias de intervenção aplicadas por ela tendo como referência o modelo The Thinking Skills Model.
11 154 Regina Lara Silveira Mello Universidade Presbiteriana Mackenzie FAU Resumo Ateliê é um espaço fascinante que acolhe pessoas criativas, estimula a expansão de ideias criativas e promove a realização de produção criativa e inovadora, a qual nós chamamos de arte. Apresento experiências vividas em diferentes ateliês de artes plásticas desde a infância, focando especialmente nos últimos 25 anos, quando constituí espaço próprio e comecei a receber alunos para compartilhar processos de criação. Sendo artista, desenvolvi minha expressão na linguagem da arte. Sendo aluna e professora de arte, aprendi, ensinei e, sobretudo observei pessoas e suas criações surgindo, nascendo no espaço do ateliê. Constituir um ateliê é fundamental para alimentar o processo criativo do artista, facilita a imersão no fluir, promove a sensação de fincar a própria pedra fundamental no campo da arte. Quando montei meu próprio espaço e pude desenvolver meu trabalho no tempo desejado, ocorreu um salto na minha expressão artística, um avanço no desenvolvimento de uma linguagem própria. O artista-professor que trabalha num ateliê oferece o ambiente
12 155 criativo, um espaço que estimula o fluir, um lugar onde é possível abstrair momentaneamente o mundo real e caminhar seguindo os passos da própria intuição. O aluno frequenta regularmente o ateliê, observa sua própria obra com o olhar relaxado sentindo a importância do local e do momento, uma combinação de espaço tempo que propicia o fluir criativo. O aluno cria, observado pelo mestre, sente-se seguro para acolher acasos e seguir sua intuição, pois sabe que o professor lhe indicará caminhos possíveis. A cultura do diálogo, das ações éticas, de cultivar o respeito à arte prevalecem sobre os alunos, que observam o dia-a-dia do artista e aprendem com a persistência do mestre nos processos de criação longamente elaborados para se chegar ao resultado desejado no campo da arte.
13 156 Solange Muglia Wechsler PUC Campinas Karina da Silva Oliveira PUC Campinas Janete Tonete Suárez PUC Campinas Resumo Historicamente a criatividade esteve associada à loucura considerando-se que o indivíduo criativo era diferente demais do comportamento normal da sociedade. Os loucos então deveriam ser trancafiados. A associação da criatividade com problemas psicológicos perdurou durante várias décadas, e ainda existe nos dias de hoje. Entretanto, embora sejam citados como exemplos alguns indivíduos que foram expoentes criativos e que sofreram de problemas mentais, tais como, Leonardo da Vinci, Dostoievsky, Ernest Hemingway, Van Gogh, ou Frida Kahlo, muitos outros podem ser nomeados que fizeram grandes
14 157 contribuições criativas e que não sofreram de distúrbios psicológicos, como por exemplo, Thomas Edison, Gandhi, Freud, Einstein, Chiquinha Gonzaga, etc. Desta maneira, contestase a ideia que para ser criativo é necessário tornar-se louco. Portanto, o objetivo do capítulo 3 do livro Criatividade: Aplicações Práticas para Contextos Internacionais é debater a interface entre criatividade e saúde mental. Com base nos pressupostos da Psicologia Positiva, a criatividade é considerada uma força positiva de caráter, pois favorece a resiliência, a auto realização, o sentimento de flow (auto envolvimento com a tarefa). Outra característica relacionada com a criatividade é a motivação intrínseca, ou seja, fazer uma tarefa simplesmente por que se gosta da mesma, sem esperar qualquer recompensa. Este tipo de motivação favorece a realização profissional e estimula o aparecimento da excelência. Devido à importância da criatividade para o bem estar do indivíduo e sua saúde mental, são recomendadas estratégias para o seu desenvolvimento. Vários exemplos de exercícios a ser utilizados em contextos diversos ( saúde, educação, organização) são apresentados neste capítulo, visando estimular o pensamento e o comportamento criativo nas mais diferentes faixas etárias. Recomenda-se assim a sua leitura a todos interessados no desenvolvimento do seu potencial criativo e das pessoas ao seu redor.
15 158 Tatiana de Cássia Nakano Primi PUC Campinas Resumo Considerando-se que a literatura científica tem indicado a possibilidade de desenvolvimento da criatividade por meio de programas de treinamento, compostos por métodos, técnicas e estratégias, o capítulo intitulado Sugestões Práticas e Estratégias para o Desenvolvimento e Treinamento de Características Associadas à Criatividade foi elaborado com o objetivo de oferecer sugestões de estratégias e atividades que podem ser utilizadas visando-se o desenvolvimento de diferentes características cognitivas e emocionais associadas à criatividade. Cada habilidade foi trabalhada separadamente, por meio do fornecimento de sua definição, bem como o oferecimento de técnicas que favorecem sua expressão e sugestões de atividades a serem desenvolvidas pelo indivíduo, individualmente ou em grupo. Almeja-se que as atividades propostas permitam uma maior motivação e mesmo apropriação face ao que nelas são abordadas, como também maior possibilidade de consolidação, generalização, transferência e aplicação do processo criativo a diversas situações. Espera-se assim que a aplicação prática das sugestões aqui apresentadas possa favorecer o potencial presente em cada um dos indivíduos, de modo a aumentar suas possibilidades de expressão e, consequentemente, sua realização pessoal e profissional.
16 159 Lúcia C. Miranda Centro de Investigação e Formação FNE lrcmiranda@hotmail.com Os programas de enriquecimento emergem como uma das formas de apoio mais frequentes à aprendizagem e ao desenvolvimento dos alunos sobredotados. De forma isolada, ou complementada por outras medidas, os programas de enriquecimento favorecem a inclusão dos alunos sobredotados nas salas de aula regulares. Dentro desta preocupação com a inclusão escolar dos alunos sobredotados, enquanto alunos com necessidades educativas especiais, apresentamos dois programas de enriquecimento o Programa Odisseia (Miranda, 2008) e o Programa MAIS (Antunes, 2008), aplicados, em duas escolas da zona Norte de Portugal, junto de alunos do 5º e 6º anos de escolaridade. Na linha de outros programas de enriquecimento para alunos sobredotados ou talentosos, estes programas procuraram servir a promoção do talento de tais alunos e, ao mesmo tempo, servir de complemento ao diagnóstico da sua alta capacidade ou sobredotação. No caso concreto, estes dois programas destinam-se a alunos do 2º ciclo do Ensino Básico (préadolescentes entre os 11 e 12 anos). O Programa de enriquecimento Odisseia, no essencial, segue a concepção de sobredotação de Renzulli (2005), o Modelo de Identificação das Portas Giratórias (Renzulli, Reis, & Smith, 1981) e o Modelo da Tríade de Enriquecimento do mesmo autor e colaboradores (Renzulli & Reis, 2000). Organiza-se em três fases sequenciais: na primeira trabalha-se com todos os alunos da escola; na segunda apenas com os 25% dos alunos que apresentam pontuações mais elevadas nas dimensões da criatividade, inteligência, motivação ou foram indicadas pelos professores; e na terceira fase com cerca de 3 a 5% dos alunos que, tendo beneficiado da segunda fase, apresentem um QI superior a 120 ou um percentil igual ou superior a 90 na criatividade e na motivação. O programa de
17 160 enriquecimento MAIS (Motivação, Aptidão, Inovação e Socialização) também parte da concepção de sobredotação de Renzulli, mas as sessões de enriquecimento situam-se ao nível do Enriquecimento tipo II e são dirigidas a um grupo de alunos que resultou da seleção dos 15% de alunos com mais habilidades na conjugação de diversos critérios: criatividade, inteligência e resultados académicos. Podemos referir como resultados do impacto do programa Odisseia, relativamente à dimensão cognitiva da criatividade, que o efeito mais notório do programa Odisseia se verificou ao nível do conteúdo figurativo (Fluência figurativa, Elaboração figurativa e Originalidade figurativa) e menos no conteúdo verbal, este mais relacionado com as aprendizagens escolares. Alguns dos resultados obtidos junto dos professores envolvidos na aplicação do programa e junto dos dirigentes das Escolas que viabilizaram a experiência, sugerem que, após momentos iniciais de alguma passividade dos professores, se envolveram de forma mais ativa e criativa na implementação do programa e na reflexão em torno dos objetivos e das metodologias seguidas em cada sessão. Os registos obtidos sugerem não só mudanças a nível dos professores, a nível individual e de grupo, como algumas mudanças nas suas práticas pedagógicas, dinâmica de grupo ou clima organizacional da própria escola. Quando analisamos a eficácia do programa MAIS, verificamos que os dados de índole mais quantitativa indiciam uma melhoria significativa nas competências criativas verbais de elaboração avaliadas pelo TTCT. Os dados de índole qualitativa revelam que, de uma forma geral, a avaliação dos alunos acerca do programa é bastante positiva, associam-se, também, à aprendizagem, à diversão e à novidade bem como ao tipo de atividades, contato com os colegas e os monitores. Os encarregados de educação e os diretores de turma consideraram a participação dos alunos no programa MAIS como uma experiência positiva, permitindo o desenvolvimento de aspetos emocionais, sociais e cognitivos, revelada pelo entusiasmo dos alunos em participar nas sessões, destacando que no ano letivo seguinte deveria ser-lhe dada continuidade. Criar, inventar e compreender são processos fundamentais para que o sujeito seja capaz de estabelecer interação e transformar os seus contextos de vida, encontrando novas formas de criar algo de novo a partir do velho. Apesar dos avanços verificados em matéria de educação em Portugal, no quotidiano escolar prevalece ainda uma cultura que estabelece limites muito abaixo das possibilidades, praticamente ilimitadas, do potencial para o ser humano criar. As práticas educativas, como os materiais que são usados no quotidiano escolar, refletem um baixo incentivo ao desenvolvimento das habilidades
18 161 criativas dos alunos ou, por outro, lado exige-se que o aluno reproduza o conhecimento, apesar de se requerer que os professores sejam criativos, inovadores, e que estejam atentos à diversidade (Alencar & Fleith, 2008). Referências Alencar, E. M. L.S., & Fleith, D. M. S. (2008). Barreiras à promoção da criatividade no ensino fundamental. Psicologia Teoria e Pesquisa, 24, 1, Antunes, A. (2008). O apoio psico-educativo a alunos com altas habilidades: Um programa de enriquecimento numa escola inclusiva. Tese de doutoramento. Braga: Universidade do Minho. Miranda, L. (2008). Da identificação às respostas educativas para alunos sobredotados: Construção, aplicação e avaliação de um programa de enriquecimento escolar. Tese de doutoramento. Braga: Universidade do Minho. Renzulli, J. S. (2005). The three ring conception of giftedness: A developmental model for creative productivity. In R. J. Sternberg, & J. Davidson (Eds.), Conceptions of giftedness (2º Ed., pp ). Cambridge: Cambridge University Press. Renzulli, J. S., & Reis, S. M. (2000). The schoolwide enrichment model. In K. A. Heller, F. J. Mönks, R. J. Sternberg, & R. F. Subotnik (Eds.), International handbook of giftedness and talent (2ª Ed., pp ). Oxford: Elsevier. Renzulli, J. S., Reis, S. M., & Smith, L. H. (1981). The revolving door identification model. Mansfield Center, CT: Creative Learning Press.
19 162 Agenda de Eventos O Ministério da Educação (MEC) lançou durante a Conferência Nacional de Alternativas para uma Nova Educação (Conane) uma chamada pública para que instituições escolares e não escolares apresentem suas propostas criativas e inovadoras de educação. A relação com a comunidade é um dos temas que será pesquisado. A iniciativa busca criar as bases para uma política pública que fomente a inovação e a criatividade, estimulando os colégios e organizações a colocarem em prática concepções de educação que rompam com o padrão tradicional e se desafiem a criar modelos que formem as pessoas em uma perspectiva do desenvolvimento integral. As inscrições podem ser feitas por meio do portal Inovação e Criatividade até o dia 23 de outubro. A previsão é que o resultado seja divulgado no dia 11 de dezembro. Acesse:
20 163 Chamada para a pro xima ediça o Convidamos a todos os interessados em publicar neste Boletim a enviar suas contribuições até dia 10/11 / Boletim nº 09 Lançamento previsto para dia 01 de dezembro de Este boletim aceita contribuições nos idiomas português, espanhol e inglês. Participem! Esta é uma excelente oportunidade para divulgar seus trabalhos para a comunidade ibero-americana. para o envio: sergio.fernando.zavarize@gmail.com Cordialmente, Sergio Fernando Zavarize Editor-chefe Solange Muglia Wechsler Co-editora Organização:
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