Casais Voluntariamente sem Filhos: um estudo exploratório sobre seu comportamento de consumo

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1 INSTITUTO COPPEAD DE ADMINISTRAÇÃO Casais Voluntariamente sem Filhos: um estudo exploratório sobre seu comportamento de consumo Alessandra de Castro Azevedo Rio de Janeiro 2010

2 Alessandra de Castro Azevedo CASAIS VOLUNTARIAMENTE SEM FILHOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE SEU COMPORTAMENTO DE CONSUMO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Letícia Moreira Casotti, D. Sc. Rio de Janeiro 2010

3 A994 Azevedo, Alessandra de Castro. Casais voluntariamente sem filhos: um estudo exploratório sobre seu comportamento de consumo. / Alessandra de Castro Azevedo f. Dissertação (Mestrado em Administração) - Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto COPPEAD de Administração, Rio de Janeiro, Orientadora: Letícia Moreira Casotti 1. Comportamento do consumidor. 2. Consumo. 3. Administração Teses. I. Casotti, Letícia Moreira. (Orient.). II. Universidade Federal do Rio de Janeiro. Instituto COPPEAD de Administração. III. Título. CDD 658.8

4 Alessandra de Castro Azevedo CASAIS VOLUNTARIAMENTE SEM FILHOS: UM ESTUDO EXPLORATÓRIO SOBRE SEU COMPORTAMENTO DE CONSUMO Dissertação de Mestrado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Administração, Instituto COPPEAD de Administração, Universidade Federal do Rio de Janeiro, como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em Administração. Orientadora: Letícia Moreira Casotti, D. Sc. Aprovada em Professora Letícia Moreira Casotti, D. Sc. COPPEAD/UFRJ Professora Cláudia Affonso Silva Araujo, D. Sc. COPPEAD/UFRJ Professora Gisela Black Taschner, D. Sc. FGV/SP

5 DEDICATÓRIA À Inês de Castro Azevedo e Marco Antônio Azevedo, meus queridos pais.

6 AGRADECIMENTOS A Deus, por tudo que Ele me deu até hoje. A minha família por todo o carinho, compreensão e estímulo para sempre buscar meus sonhos. Ao meu namorado, Luiz Felipe, pelo apoio incondicional em todos os momentos e por me fazer feliz. Aos meus queridos amigos por toda a compreensão, apoio e por todos os momentos de diversão proporcionados e, também, de seriedade quando necessários. À professora Letícia, pela preciosa orientação ao longo deste trabalho. Às professoras Cláudia Araujo e Gisela Taschner, pela participação na banca. À Tânia Tavares, pelas imprescindíveis transcrições, sempre de muita qualidade. A todas as entrevistadas pelo valioso tempo disponibilizado e pelas úteis e, algumas vezes, íntimas informações. Ao COPPEAD, como instituição; aos professores, por todo o ensino transmitido e pela dedicação aos alunos; aos funcionários, por todo o carinho, atenção e presteza no serviço. Ao apoio da Cátedra da L Oréal e à CAPES por todo o auxílio ao curso de mestrado e a este trabalho. A todos que, de alguma forma, contribuíram para esta jornada.

7 RESUMO AZEVEDO, Alessandra de Castro. Casais Voluntariamente sem Filhos: um estudo exploratório sobre seu comportamento de consumo. Orientadora: Letícia Moreira Casotti. Rio de Janeiro: COPPEAD/UFRJ; Dissertação (Mestrado em Administração). O conceito de família está mudando. É possível observar que a estrutura tradicional de família, composta por pais casados e filhos, não é mais a realidade de uma significativa parcela da população mundial e, também, da população brasileira. Nesse contexto, o presente estudo exploratório buscou investigar o comportamento de consumo de casais que optaram por não ter filhos. Para tanto, quatro categorias de consumo foram exploradas mais profundamente: alimentação (incluindo restaurantes e compras de supermercado); viagens; carros e animais de estimação. Como para compreender o comportamento do consumidor é essencial estudar sua cultura e seus valores, o presente estudo exploratório também analisou o contexto social em que estes casais estão inseridos, quais as motivações, conflitos e principais resultados de sua decisão por não procriar. Na pesquisa foi utilizada uma abordagem qualitativa e, para a obtenção das informações, foram realizadas 15 entrevistas em profundidade onde foram escolhidas as mulheres como representantes do casal. De acordo com as entrevistadas, o comportamento de consumo desses casais parece ser pautado na liberdade, imprevisibilidade, no individualismo e na orientação ao lazer. Assim, as categorias de consumo mais destacadas nos relatos foram restaurantes e viagens. O carro não foi descrito como prioridade no consumo, mas, em muitos casos, foi visto como fonte de preocupações. Já o animal de estimação pareceu ser uma alternativa para direcionar parte do afeto desses casais que declararam não ter vontade de ter filhos e, portanto, estão dispostos a investir bastante neles. Por fim, foram apontadas algumas oportunidades de negócios para esses casais que optam por não ter filhos. Palavras-Chave: Casal sem filho; Comportamento do Consumidor, Restaurante, Supermercado, Viagem, Animal de Estimação, Carros

8 ABSTRACT AZEVEDO, Alessandra de Castro. Casais Voluntariamente sem Filhos: um estudo exploratório sobre seu comportamento de consumo. Orientadora: Letícia Moreira Casotti. Rio de Janeiro: COPPEAD/UFRJ; Dissertação (Mestrado em Administração). The concept of family is changing. It is noted that the traditional family structure, consisting of married parents and children, is no longer the reality of a significant proportion of the world population and also the Brazilian population. In this context, the present exploratory study sought to investigate the consumer behavior of couples who chose to remain childless. Therefore, four categories of consumption have been explored more deeply: food (including restaurants and grocery shopping), trips, cars and pets. Considering that, in order to understand consumer behavior, it is essential to study the consumer s culture and values, this exploratory research also examined the social context in which these couples are inserted, analyzing the motives, conflicts and major results of the decision not to procreate. The research had a qualitative approach and to obtain information, 15 in-depth interviews were made with the women being chosen as representatives of the couple. According to the respondents, the consumption behavior of these couples seems to be guided by the freedom, unpredictability, individualism and orientation to leisure. Thus, the most prominent categories of consumption reported were restaurants and vacation. The car was not described as a priority in consumption, but in many cases, it was seen as a source of concern. Pets appeared to be an alternative to the affection of those couples who chose not to have children and therefore these couples are willing to invest heavily in their pets. Finally, it was pointed out some business opportunities for those couples who choose to remain childless. Keywords: Childless Couples; Consumer Behavior; Restaurant; Supermarket; Vacation; Pets; Cars

9 LISTA DE FIGURAS Figura 1: Modelo de Ciclo De Vida da Família porposto por Wells & Gubbar (1966) Figura 2: Modelo de Ciclo de Vida de Família proposto por Murphy & Staples (1979) Figura 3: Modelo de Ciclo de Vida de Família proposto por Gilly & Enis (1982) Figura 4: Estrutura das Motivações para não ter filhos

10 LISTA DE TABELAS Tabela 1: Proporção das mulheres que não tinham filhos, separadas de acordo com a faixa etária. (%) Tabela 2: Casais sem filhos residentes em domicílios particulares, total e respectiva distribuição percentual, por grupo de idade da pessoa de referência da família, segundo as Grandes Regiões Tabela 3: Média do rendimento familiar per capita, em salários mínimos, dos casais sem filhos residentes em domicílios particulares, por grupos de idade da pessoa de referência da família, segundo as Grandes Regiões Tabela 4: Comparação da distribuição da população americana, conforme 3 modelos de ciclo de vida propostos Tabela 5: Compilação das principais motivações para a decisão de não ter filhos Tabela 6: Comparação dos gastos de casais com e sem filho (em U$) Tabela 7: Resumo das categorias de consumo segundo os autores Tabela 8: Breve Perfil das Entrevistadas e de seus Maridos Tabela 9: Modelo de Carros das Entrevistadas

11 SUMÁRIO 1 INTRODUÇÃO CRESCIMENTO DO SEGMENTO DE CASAIS SEM FILHOS NO MUNDO CASAIS SEM FILHOS NAS DIFERENTES MÍDIAS DEMOGRAFIA E ESTUDOS ACADÊMICOS ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO REVISÃO DE LITERATURA CICLO DE VIDA DA FAMÍLIA A DECISÃO DE NÃO TER FILHOS: MOTIVAÇÕES E IMPLICAÇÕES PARA O CONSUMO Contexto e Motivações Resultados decorrentes da decisão de não ter filhos Implicações para o consumo METODOLOGIA DELINEAMENTO DA PESQUISA PERGUNTAS DA PESQUISA SELEÇÃO DAS ENTREVISTADAS COLETA DE DADOS ELABORAÇÃO DO ROTEIRO DESCRIÇÃO E ANÁLISE DAS ENTREVISTAS DESAFIOS DO MÉTODO DESCRIÇÃO DAS ENTREVISTAS ENTREVISTADA 1 - VALÉRIA ENTREVISTADA 2 -ANTÔNIA ENTREVISTADA 3 - FÁTIMA ENTREVISTADA 4 - ALICE ENTREVISTADA 5 - TÂNIA ENTREVISTADA 6 - KARLA ENTREVISTADA 7 - DÉBORA ENTREVISTADA 8 - RENATA ENTREVISTADA 9 MARIANA ENTREVISTADA 10 - ADELINE ENTREVISTADA 11 - FABIANA ENTREVISTADA 12 - HELENA ENTREVISTADA 13 - ELEONOR ENTREVISTADA 14 - ELZA ENTREVISTADA 15 - ÍRIS

12 5 ANÁLISE DAS ENTREVISTAS BREVE PERFIL RELAÇÃO COM O TRABALHO E RELAÇÃO COM A CASA MOTIVAÇÃO DA DECISÃO DE NÃO TER FILHOS COMO ELAS ENXERGAM A PARTICIPAÇÃO DOS MARIDOS NA DECISÃO RESULTADOS DA DECISÃO DE NÃO TER FILHOS ASPECTOS GERAIS DO CONSUMO DOS CASAIS SEM FILHOS A EXPERIÊNCIA DA ALIMENTAÇÃO VIAGENS A DOIS ANIMAIS DE ESTIMAÇÃO: FILHOS SUBSTITUTOS? CARRO(S) OPORTUNIDADES DE NEGÓCIOS PARA CASAIS SEM FILHOS CONSIDERAÇÕES FINAIS REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS APÊNDICE I

13 13 1 Introdução O conceito de família está mudando. É possível observar que a estrutura tradicional de família, composta por pais casados e filhos, não é mais a realidade de uma significativa parcela da população mundial e, também, da população brasileira. Pessoas vivem sozinhas, casais vivem sob regime de união estável, ao invés de casados legalmente, existem pais solteiros, casais homossexuais, dentre tantas outras formas de composição domiciliar que, cada vez mais, ganham espaço na sociedade. Um dos segmentos que parece promissor para os profissionais de marketing é o dos casais sem filhos, também denominados de DINC (Duplo Ingresso e Nenhuma Criança) ou, em inglês, DINK (Double Income No Kids). Além de possuírem, em geral, duas fontes de renda, esses casais não incorrem nas vultuosas despesas com filhos. Como resultado, a renda da família tende a crescer consideravelmente, assim como o potencial para o consumo. (BARROS, ALVES & CAVENAGHI, 2008). O presente estudo exploratório tem como principal objetivo investigar o comportamento de consumo de casais que voluntariamente optaram por não ter filhos, buscando identificar oportunidades de negócios para esse segmento. Para tanto, quatro categorias de consumo foram exploradas mais profundamente: alimentos, viagens, animais de estimação e carros. E, com o intuito de melhor compreender o contexto social em que esses casais estão inseridos, também foram investigadas as principais motivações e implicações da escolha por não ter filhos. A pesquisa utilizou uma abordagem qualitativa e, para a obtenção das informações, foram realizadas 15 entrevistas em profundidade, onde foram escolhidas as mulheres como representantes do casal. 1.1 Crescimento do segmento de casais sem filhos no mundo Dados estatísticos, de diversas regiões do mundo, indicam como já é elevada a proporção de pessoas que optam por não ter filhos. Fenômeno esse considerado, por alguns, como uma tendência (CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007; IBGE, 2007; US Census Bureau, 2008; Australian Bureau of Statistics, 2009; ELY, 2009).

14 14 Na Austrália, conforme dados do Australian Bureau of Statistics (2009), representados no Gráfico 1, em 2006, 37% das mulheres entre 30 e 34 anos de idade não tinham filhos, em comparação com 29% em 1996 e 20% em Nesse país, os casais sem filhos já representam o maior segmento familiar. Gráfico 1: Proporção de mulheres sem filhos, por faixa etária, na Austrália 86% 82% 75% 20% 37% 29% 16% 13% 10% Fonte: Adaptado de Censos de 1986, 1996 e 2006 do Australian Bureau of Statistics Carmichael & Whittaker (2007) destacam, que, na Austrália, mesmo as mulheres que optam por serem mães, têm tido menos filhos. Assim, a queda na taxa de natalidade foi tão expressiva, que estudos estão sendo feitos para compreender o porquê de as mulheres terem menos ou nenhum filho (WESTON & QU, 2001; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). Nos Estados Unidos, segundo dados do US Census Bureau (2008), a proporção de mulheres sem filhos também vêm aumentando. A Tabela 1, a seguir, mostra que nas últimas três décadas, considerando-se todas as faixas etárias, houve um aumento de dez pontos percentuais no total de mulheres sem filhos. Na faixa etária mais avançada da população, de 40 a 44 anos, onde a chance de a mulher permanecer sem filhos pelo resto da vida é mais elevada, também foi identificado um acréscimo de 10,2% para 20,4%.

15 15 Tabela 1: Proporção das mulheres que não tinham filhos, separadas de acordo com a faixa etária. (%) Idade da Mulher Ano 15 a 44 anos 15 a 19 anos 20 a 24 anos 25 a 29 anos 30 a 34 anos 35 a 39 anos 40 a 44 anos ,1 NA 69,0 30,8 15,6 10,5 10, ,7 NA 70,0 36,8 19,8 12,1 10, ,7 NA 69,7 37,2 20,6 12,3 9, ,2 NA 72,2 38,8 22,5 14,4 11, ,7 NA 71,4 39,5 22,9 14,6 10, ,6 NA 71,4 39,9 23,5 15,4 11, ,1 NA 71,4 41,5 26,2 16,7 11, ,3 NA 71,8 40,7 23,9 16,6 13, ,6 NA 71,7 39,3 23,6 16,7 14, ,0 NA 74,2 42,2 25,1 17,7 14, ,6 91,9 64,6 42,1 25,7 17,7 16, ,2 92,7 65,9 41,3 26,1 18,8 15, ,0 91,6 65,3 43,6 26,3 19,6 17, ,8 90,7 64,3 43,8 26,7 19,7 17, ,2 90,1 64,0 43,5 27,4 19,8 19, ,8 90,5 63,6 44,2 28,1 20,1 19, ,5 91,2 67,0 45,2 27,6 20,2 17, ,6 93,3 68,9 44,2 27,6 19,6 19, ,1 93,3 68,6 45,6 26,2 18,9 20,4 Fonte: Adaptado de US Census Bureau, dados divulgados em 2007 No Japão, 56% das mulheres com 30 anos de idade não têm filhos, em comparação com 24% em De acordo com dados do Population Statistics of Japan (2008), a proporção de domicílios compostos por casais sem filhos aumentou de 9,8% em 1970 para 15,5% em 1990 e 19,6% em O aumento da proporção de casais que optam por não ter filhos contribui com as baixas taxas de fecundidade 1. Segundo a Population Reference Bureau (2007), alguns países europeus, como Espanha, Alemanha, Itália, Grécia e Inglaterra, apresentam taxa inferior a 1,4, o que 1 Taxa de fecundidade é uma estimativa do número médio de filhos que uma mulher teria até o final do seu período reprodutivo, ou seja, de 15 a 49 anos.

16 16 está abaixo da taxa mínima, necessária para a reposição populacional, de 2,1 2 (NEIVA & LIMA, 2008). No Brasil não é diferente. Em 2007, segundo publicação do IBGE (2008), baseada na Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), 16% dos arranjos familiares eram compostos por casais sem filhos, enquanto em 1997, a proporção era de 12,9%. Por outro lado, a proporção de casais com filhos decresceu de 56,6% para 48,9% no mesmo período, conforme gráfico abaixo. Gráfico 2: Distribuição percentual dos arranjos familiares com laços de parentesco residentes em domicílios particulares, segundo o tipo - Brasil /2007 (%) Casal sem Filhos casal com filhos Mulher sem cônjuges com filhos Outros Tipos Fonte: Adaptado do IBGE (2008), Pesquisa Nacional de Amostragem de Domicílios, 1997/2007 Obs: Os dados de 1997 excluem a população rural de Rondônia, Acre, Amazonas, Roraima, Pará e Amapá Cabe ressaltar que essa proporção de casais sem filhos identificados pelo PNAD inclui o considerado ninho vazio 3. Ao refinar esse indicador para incluir os casais, em que ambos trabalhem e que as mulheres nunca tiveram filhos nascidos vivos, o percentual é de 3,4%, conforme IBGE (2008). É importante destacar que não é possível saber quantos destas voluntariamente não tiveram filhos nem quantas efetivamente têm a intenção de permanecer 2 A Taxa de Fecundidade Total (TFT) de 2,1 filhos por mulher é considerada taxa de reposição, pois um filho reporia a mulher, um filho reporia o pai da criança e o valor 0,1 seria para compensar a mortalidade das crianças que não chegam à idade adulta. Fonte: IBGE. 3 Etapa do ciclo de vida em que os filhos já saíram de casa.

17 17 sem filhos. Entretanto, indiscutível é que essa composição familiar tem se tornado relevante (BARROS et al., 2008; BASTEN, 2009). Em termos absolutos, no Brasil, em 2007, casais pertenciam a essa nova estrutura familiar caracterizada por casais sem filhos. A Tabela 2, a seguir, demonstra a distribuição dessas pessoas pelas cinco regiões do país, de acordo com a idade da pessoa de referência da família. Tabela 2: Casais sem filhos residentes em domicílios particulares, total e respectiva distribuição percentual, por grupo de idade da pessoa de referência da família, segundo as Grandes Regiões Grandes Regiões Total (1.000 pessoas) Casais residentes em domicílios particulares Distribuição percentual, por grupo de idade da pessoa de referência da família (%) Até 24 anos 25 a 34 anos 35 a 44 anos 45 anos e mais Brasil ,0 44,7 20,1 21,2 Norte 73 23,2 42,9 20,9 13,0 Nordeste ,0 40,7 18,4 22,9 Sudeste ,0 44,3 21,4 24,3 Sul ,1 48,8 18,1 15,9 Centro-Oeste ,6 48,2 20,9 13,3 Fonte: Adaptado de IBGE (2008), Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios 2007 Nota: Compreende os casais formados por pessoa de referência e cônjuge com rendimentos, e mulher sem filhos nascidos vivos, sem presença de outros parentes e agregados residentes no domicílio. Dentre as faixas de idade apresentadas, é possível perceber maior concentração de casais sem filhos naquelas entre 25 a 34 anos de idade. As demais faixas etárias apresentam frequências semelhantes, com exceção da Região Sudeste, onde até 24 anos de idade a proporção é um pouco menor. A Tabela 2 também traz a distribuição dos casais pelas cinco regiões do país. Conforme os dados apresentados, o Sudeste (49,6%) apresenta a maior concentração de casais sem filhos, sendo seguido pelas regiões Nordeste (19,8%) e Sul (19,3%). Conforme Barros et al. (2008), apesar desse número, a proporção de casais sem filhos no Nordeste é baixa. Assim acontece porque o Nordeste é a segunda região com a maior concentração de domicílios do país. Dessa forma, proporcionalmente, há poucos casais sem filhos na região. O Norte (3,8%) e o Centro-

18 18 Oeste (7,5%) do país também apresentam baixas frequências de casais sem filhos. De acordo com Barros et al. (2008), a forte concentração dos casais DINC na região Sudeste ocorre devido às melhores oportunidades de acesso à educação, emprego, método anticoncepcionais e lazer. Por não ter filhos, essa composição familiar apresenta maior renda per capita. Conforme relatório sobre Síntese dos Indicadores Sociais do IBGE, enquanto o valor médio do rendimento familiar per capita, em 2007, ficou em torno de R$624,00, a renda média por pessoa nas famílias compostas por casais sem filhos era de 3,42 salários mínimos, ou R$1.300,00, o que pode ser observado na Tabela 3, a seguir. Inclusive, segundo PNAD (2007), esse rendimento os coloca dentro da faixa dos 10% mais ricos na população brasileira. Conforme Barros et al., essa renda é, em média, 70% maior do que a apresentada pela demais composições familiares. Tabela 3: Média do rendimento familiar per capita, em salários mínimos, dos casais sem filhos residentes em domicílios particulares, por grupos de idade da pessoa de referência da família, segundo as Grandes Regiões Média do rendimento familiar per capita, em salários mínimos dos casais sem filhos residentes em domicílios particulares Grandes Regiões Grupo de idade da pessoa de referência da família Total Até a a anos e anos anos anos mais Brasil 3,42 1,78 3,29 4,11 4,11 Norte 2,99 1,71 2,75 4,20 4,12 Nordeste 2,26 1,09 2,22 2,75 2,81 Sudeste 3,79 2,07 3,52 4,31 4,53 Sul 3,40 1,98 3,37 4,63 3,64 Centro-Oeste 4,27 2,06 4,33 4,61 6,46 Notas: Fonte: Adaptado de IBGE (2008), Pesquisa Nacional de Amostragem por Domicílios Compreende os casais formados por pessoa de referência e cônjuge com rendimentos, e mulher sem filhos nascidos vivos, sem presença de outros parentes e agregados residentes no domicílio 2. Salário mínimo de setembro de 2007: 380 reais. A Tabela 3 também fornece dados do rendimento familiar pelas grandes regiões do Brasil. Conforme demonstrado, as regiões Sudeste, Sul e o Centro-Oeste apresentam os casais sem filhos com maiores rendimentos per capita. Os dados sugerem que uma maior renda familiar dos casais sem filhos pode ter como consequência um maior poder de compra, representando, assim, uma oportunidade para

19 19 diversos setores da economia (BARROS et al., 2008), o que justifica a proposta deste estudo que explora o comportamento de consumo desse segmento. Com as estatísticas populacionais mostrando o crescimento do número de casais sem filhos, a curiosidade em torno do tema vem ganhando destaque nas pesquisas (LANG, 1991; DEFAGO, 2005) e também na mídia (MANTOVANI, 2007; ALMEIDA, 2008; LIMA, 2008; NEIVA & LIMA, 2008; STEFANO, SANTANA & ONAGA, 2008). 1.2 Casais sem Filhos nas Diferentes Mídias Os dados do IBGE que mostram o crescimento deste segmento demográfico de casais sem filhos recebeu grande destaque na mídia impressa brasileira (MANTOVANI, 2007; ALMEIDA, 2008; LIMA, 2008; NEIVA & LIMA, 2008; TOSTA & WERNECK, 2008; STEFANO, SANTANA & ONAGA, 2008). As reportagens destacaram diversos aspectos, dentre os quais, ressalta-se: a mudança no padrão tradicional de casamentos com filhos; a dificuldade de as pessoas aceitarem a decisão de seus parentes e amigos sobre não terem filhos; o crescimento deste segmento em outras localidades do mundo; as oportunidades de negócios para alguns setores da economia; motivações para a decisão de não ter filhos; além de implicações para o país relacionadas à queda da taxa de fertilidade. A mídia internacional também tem dedicado espaço ao tema, sendo semelhantes os aspectos abordados: o aumento da proporção dessa composição familiar; pressão sofrida por aqueles que optam não serem pais; implicações para economia dos países devido ao envelhecimento da população e novas oportunidades de negócios. (BBC, 2000; JACOBY, 2008; THE NEW ZEALAND HERALD, 2008; BUONADONNA, VENEMA & LANE, 2010) Outras mídias também merecem destaque. Inúmeros são os sites e as organizações especializadas, em países como os Estados Unidos, Canadá e Inglaterra. Nestes sites é possível encontrar informações para os sem filhos, tais como dicas de atividades a serem realizadas, livros a serem lidos, além de inúmeros contatos de pessoas que tomaram a mesma

20 20 decisão. Esse é o caso dos sites e das organizações NoKidding.com e Childless By Choice (CBC). Ademais, diversos tem sido os lançamentos de livros sobre a escolha de não ter filhos. Uma pesquisa no site Amazon.com, permitiu identificar mais de 30 títulos sobre o tema. Muitos parecem defender e apoiar a decisão, trazendo opiniões pessoais ou entrevistas com pessoas que descrevem motivos e vantagens de sua decisão. Alguns exemplos de livros são: Women Without Children: The Reasons, the Rewards, the Regrets (LANG, 1991); The Childless Revolution (CAIN, 2001); e Childfree and Loving It! (DEFAGO, 2005). No Brasil, apesar de a proporção dos casais sem filhos estar aumentando, não foram encontrados lançamentos de livros. Entretanto, existem alguns sites, como o casalsemfilhos.com, e comunidades no Orkut especializados no tema, com diversos integrantes. Alguns exemplos de comunidades e quantidade de membros, conforme visita em agosto de 2010, são: Não queremos filhos ( membros); Eu não quero ter filhos (9.538 membros) e Casados, SEM filhos e FELIZES (6.556 membros). Algumas implicações do aumento da proporção de casais sem filhos também estão sendo discutidas nas diferentes mídias. Por exemplo, destaca-se o envelhecimento da população, que trará como consequência os maiores gastos previdenciários. Outra implicação refere-se ao menor impacto ambiental (NEIVA & LIMA, 2008). Apesar de o padrão de consumo das pessoas ser o principal critério para medida de impacto ambiental, a desaceleração do ritmo de crescimento populacional contribui para diminuir tal impacto. Finalmente, também merecem destaque as oportunidades de negócio para atender as famílias menores. Assim, percebe-se que o tema de casais sem filhos vem sendo tratado informalmente, mas será que os estudos acadêmicos estão acompanhando essas mudanças demográficas? 1.3 Demografia e Estudos Acadêmicos No meio acadêmico internacional, o tema vem sendo debatido. Entretanto, a quantidade de publicações varia de acordo com o tópico tratado. Assim, foram encontrados muitos estudos internacionais preocupados em conhecer as motivações e resultados da decisão (LANG, 1991;

21 21 WESTON & QU, 2001; GILLESPIE, 2003; GRAY, 2003; DEFAGO, 2005; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007), mas poucas informações sobre como essa escolha afeta o consumo desses casais (AMBRY, 1993; PAUL, 2001; HWAN LEE & SCHANINGER, 2003; ELY, 2009). Já no Brasil a situação é diferente. Poucos foram os estudos encontrados mesmo sobre motivações da decisão (MANSUR, 2003; RIOS, 2007; RIOS & GOMES, 2009). Sobre consumo, ainda menos (ELY, 2009). Ressalta-se que conforme Neiva & Lima (2008), a intensa queda na taxa de fertilidade brasileira foi uma surpresa. As expectativas do IBGE, em 1970, eram de que, em 2008, a taxa fosse de 2,2 e que a taxa que efetivamente ocorreu, de 1,8, só fosse alcançada em 2043, ou seja, 35 anos mais tarde. Essa repentina queda na taxa de fertilidade talvez seja uma justificativa para o porquê existem poucos estudos nacionais. Afinal, autores brasileiros podem não ter tido tempo de desenvolver muitos estudos acadêmicos no país. Assim, esse estudo exploratório procura conhecer com mais detalhes o comportamento de consumo de um grupo de casais voluntariamente sem filhos, buscando identificar oportunidades de negócios para esse segmento. As possíveis motivações e resultados da decisão também serão investigados como uma forma de compreender o contexto destes casais. 1.4 Organização do Estudo Os parágrafos precedentes buscaram elucidar a relevância e a necessidade de se estudar os casais sem filhos. O restante do presente estudo está dividido em cinco capítulos. O capítulo 2, em seguida, traz uma revisão de literatura que aborda a evolução do conceito de família, com base nos estudos sobre o ciclo de vida da família, para em seguida focar especificamente no caso das famílias compostas por casais sem filhos. A revisão abordará temas relacionados à motivação, aos resultados e às implicações para o consumo da decisão de não ter filhos. O terceiro capítulo tratará da metodologia abordada para o presente estudo descrevendo as perguntas de pesquisa, o delineamento da pesquisa, qual o método de análise utilizado e como ocorreu a seleção das entrevistadas.

22 22 A descrição das entrevistas realizadas encontra-se no capítulo 4, que é seguido pelo capítulo que traz as análises e interpretação das entrevistas, comparando os achados das entrevistas com a literatura encontrada. Por fim, o último capítulo discute os principais achados desse estudo exploratório, tece algumas conclusões e traz sugestões de estudos futuros.

23 23 2 Revisão de Literatura Tradicionalmente, o conceito de família envolvia duas pessoas heterossexuais, casadas legalmente, e seus filhos. Essa é a família nuclear, uma estrutura cada vez mais em declínio na sociedade moderna (SOLOMON, 2002; CARTER & McGOLDRICK, 2005). Várias são as novas formas de estrutura familiar, que incluem casais que não são casados legalmente, casais homossexuais, solteiros, pais divorciados, casais que optam por não ter filhos, dentre tantas outras possíveis combinações (SOLOMON, 2002; DEFAGO, 2005; CARTER & McGOLDRICK, 2005). Entretanto, de um modo geral, a família continua sendo um elemento central na vida do ser humano e, independente de sua composição, todas essas novas estruturas familiares exigem legitimidade e maior aceitação por parte da sociedade (SOLOMON, 2002; RIOS, 2007). Para os profissionais de marketing, o estudo da família é importante, em especial, no tocante ao comportamento de consumo, já que a família representa o principal grupo de referência 4 do indivíduo. Ademais, reconhecendo-se que os padrões de gastos familiares se alteram com o tempo, deflagra-se uma necessidade de se estudar o ciclo de vida da família (SOLOMON, 2002). Assim, como uma forma de identificar que as novas estruturas familiares estão sendo incorporadas nos estudos acadêmicos, a primeira parte desta revisão de literatura se dedica à análise da evolução na teoria do ciclo de vida da família. Em seguida, será estudada mais profundamente uma dessas novas composições: os casais que optaram por não ter filhos. Este último tópico será subdivido em motivações e contexto da decisão de não ter filhos, resultados decorrentes dessa decisão e implicações para o consumo. Considerando-se a pequena quantidade de artigos e publicações acerca da opção por não ter filhos, no Brasil, a revisão de literatura do presente trabalho engloba em sua maioria artigos e livros internacionais. Cabe ressaltar, ainda, que alguns dos tópicos tratados começaram a ser estudados mais recentemente o que levou a uma combinação de diferentes tipos de fontes acadêmicas. 4 Grupos de referência: são aqueles que exercem alguma influência direta ou indireta sobre as atitudes ou o comportamento de uma pessoa. Kotler & Keller (2006)

24 Ciclo de Vida da Família Por que a análise do ciclo de vida da família é importante para um estudo do marketing? Segundo Solomon (2002), mudanças na estrutura da família são acompanhadas por novos padrões de consumo e, portanto, devem ser cuidadosamente estudadas pelos profissionais de marketing. E essas mudanças na estrutura da família são captadas pelo modelo do ciclo de vida familiar. Apesar de existirem críticas, como camuflar os efeitos do tamanho da família e da composição de gêneros (MURPHY & STAPLES, 1979) e não conseguir isolar os efeitos da receita da família das demais variáveis do ciclo de vida (WAGNER & HANNA, 1983), tais modelos são muito utilizados em estudos de análise do comportamento de consumo (HONG et al., 2005; WILKES, 1995; CUNNINGHAM, 1990; DOUTHITT & FEDYK, 1988; McAULEY & NUTTY, 1982). Para Gilly & Enis (1982), essa é uma ferramenta útil para segmentação de mercado, mas para tanto, deve refletir, o mais fielmente possível, as diferentes formas de estrutura familiar. Segundo Wells & Gubar (1966), os estágios do ciclo de vida são mais apropriados ao estudo do comportamento de consumo do que a variável isolada da idade do consumidor. Para Thornhill & Martin (2007), nos últimos 40 anos, nos Estados Unidos, a idade da pessoa bastava para definir em que momento da vida ela se encontrava. As pessoas tinham vidas mais lineares. Estudavam nos 20 primeiros anos, casavam e tinham filhos em seguida, ao mesmo tempo em que arranjavam um emprego em que ficariam pelo resto de suas vidas. Essa realidade não se aplica mais, visto que muitos apresentam vidas cíclicas: se divorciam e casam novamente, trocam de empregos e mesmo de profissões e têm filhos mais tarde. Assim, não apenas a idade, mas outras variáveis, como a composição domiciliar, precisam ser averiguadas para se determinar em que estágio do ciclo de vida a pessoa se encontra. Wilkes (1995) destaca, entretanto, que o estudo de ciclo de vida não se restringe apenas às composições familiares, mas às inúmeras formas de composição do domicílio. De fato, em

25 25 diversos domicílios moram amigos ou pessoas solteiras. Assim, segundo o autor, a nomenclatura não deveria ser Ciclo de Vida da Família, mas Ciclo de Vida do Domicílio 5. Segundo Wilkes (1995), o modelo de ciclo de vida se baseia na premissa de que determinados eventos na vida de uma família alteram seu comportamento, de modo a passar para o próximo estágio. De um modo geral, nos modelos, cada etapa é demarcada por uma alteração em pelo menos uma das seguintes variáveis: idade, estado civil, presença ou não de filhos no domicílio e, caso se aplique, a idade dos filhos (WILKES, 1995; SOLOMON, 2002). A passagem por cada uma destas etapas ocasiona mudanças no comportamento de consumo das famílias (SOLOMON, 2002). Assim, vários modelos foram propostos, a fim de se estudar os possíveis estágios por quais as famílias passam (WELLS & GUBAR, 1966; MURPHY & STAPLES, 1979; GILLY & ENIS, 1982). Wells & Gubar (1966) desenvolveram o que ficou conhecido como o modelo tradicional do ciclo de vida da família, que contém nove estágios, conforme identificado na Figura 1. O primeiro seria o das pessoas solteiras que moram sozinhas. O segundo seria o dos recémcasados ainda sem filhos. Os três estágios seguintes são intitulados de ninho cheio I, II e III, representando, respectivamente, os casais cujo filho mais novo tem menos de seis anos; seis anos ou mais; e casais mais velhos com crianças dependentes. O sexto e o sétimo estágios são chamados de ninho vazio I e II, englobando os casais mais velhos cujos filhos saíram de casa. A diferença é que, no sexto, o chefe de família ainda está trabalhando, enquanto no sétimo, já se encontra aposentado. O oitavo é do sobrevivente, que ainda está no mercado de trabalho e, por fim, o nono é do sobrevivente que está aposentado. Nos estágios: solteiros, recém casados, ninho cheio I e ninho cheio II, o chefe de família tem menos de 45 anos de idade. Nos demais estágios, 45 ou mais (WELLS & GUBAR, 1966). 5 Entretanto, devido à maior notoriedade, na presente dissertação será adotado o termo Ciclo de Vida da Família. A palavra família também abordará todas as formas de composição do domicílio.

26 26 Figura 1: Modelo de Ciclo De Vida da Família porposto por Wells & Gubbar (1966) Solteiros que não moram com os pais Recémcasados, jovens e sem filhos Ninho Cheio I Casados, com filhos mais novo com menos de 6 anos Ninho Cheio II Casados com filhos mais novo com 6 oumais anos Ninho Cheio III Casados, mais velhos e com filhos dependentes Ninho Vazio I Casados, mais velhos, sem filhos emcasa, chefe de família ainda trabalhando Ninho Vazio II Casados, mais velhos, sem filhos emcasa, chefe de família aposentado Sobrevivente Ainda trabalhando Sobrevivente Aposentado Fonte: Adaptado de Wells & Gubbar (1966), Life Cycle Concept in Marketing Research Com o avançar da idade, as pessoas iriam progredindo sequencialmente pelas categorias identificadas (WELLS & GUBAR, 1966). Entretanto, segundo Mittal, Holbrook, Beatty, Raghubir & Woodside (2008), cada vez mais, são comuns os casos de pessoas que pulam estágios, permanecem eternamente em um deles ou passam para uma etapa anterior, isto é, apresentam vidas cíclicas (THORNHILL & MARTIN, 2007). Com isso, há necessidade de se estudar o que os autores chamam de Moderno Ciclo de vida da Família, em oposição ao modelo tradicional de ciclo de vida da família. Da mesma opinião compartilham Carter & McGoldrick (2005), para quem os tradicionais estágios de casamento, nascimento e criação dos filhos muitas vezes não são adequados ou suficientes para englobar todas as formas de família existentes. Devido às menores taxas de natalidade, ao aumento da expectativa de vida, aos maiores índices de divórcio, à decisão de retardar a gravidez e ao aumento do número de casais homossexuais, o padrão do ciclo de vida da família tem se alterado drasticamente. Dychtwald & Flower (1990), para justificar as profundas alterações no ciclo de vida da família, atribuem grande peso ao aumento da expectativa de vida. Considerando que as pessoas tendem a viver mais que seus ascendentes, não haveria mais necessidade de rapidez ao realizar determinadas atividades como aprender, trabalhar, casar e ter filhos. Cada etapa poderia ser retardada e avaliada mais cuidadosamente. As pessoas passaram a ter mais tempo para refletir sobre suas carreiras, começaram a adiar casamentos e a maternidade. Já Carter & McGoldrick (2005), dentre todos os fatores, dão especial atenção ao papel da mulher na sociedade. As mulheres não desejam mais se dedicar exclusivamente às tarefas do lar, estando em busca de identidade pessoal, muitas vezes conquistada com seu trabalho. Cada vez mais as mulheres têm maior nível de educação, estão mais inseridas no mercado de

27 27 trabalho e têm mais perspectivas, o que traz conflitos com seu papel central na família e o tradicional conceito de ciclo de vida da família, já que encontram outras formas de viver vidas completas e se sentirem realizadas (GILLY & ENIS, 1982; CARTER & McGOLDRICK, 2005). Com estas evoluções da sociedade, os estágios do ciclo de vida que envolvem o casamento e a maternidade foram afetados. O casamento, além de ser visto como um processo necessário e inevitável da vida, também era considerado o primeiro passo para a maternidade. Entretanto, segundo Carter & McGoldrick (2005), esse papel está mudando. Conlin & Hempel (2003) descrevem como os americanos adiam cada vez mais o casamento, optam apenas por morar juntos, casam menos depois de se divorciarem ou optam por permanecer solteiros. Outra profunda mudança se refere à existência de casamentos homossexuais. Essas alternativas fazem com que o casamento esteja em uma posição menos central na vida doméstica (NOCK, 2005). A postura em torno da maternidade também está mudando. Antigamente, o estágio do ciclo de vida, após o casamento, em que os casais ainda não tinham filhos era muito curto e, portanto, não recebia muita atenção do mundo de negócios (BLOOM & BENNETT, 1986). Entretanto, essa não é mais a realidade. Para um enorme número de casais, esse estágio se prolonga por muitos anos, ou, algumas vezes, é eterno (BLOOM & BENNETT, 1986). Dadas as transformações na estrutura da família na sociedade moderna, o modelo tradicional de ciclo de vida precisava ser adaptado (MURPHY & STAPLES, 1979; GILLY & ENIS, 1982). Com o objetivo de abarcar as mais recentes e importantes composições domiciliares, Murphy & Staples (1979) propuseram um novo modelo.

28 28 Figura 2: Modelo de Ciclo de Vida de Família proposto por Murphy & Staples (1979) Fonte: Adaptado de Murphy & Staples (1979), A Modernized Family Life Cycle Conforme a Figura 2, os estágios tradicionais continuam representados. Porém, são acrescentados os casais sem filhos e os divorciados. O modelo, entretanto, falha em reconhecer algumas outras importantes composições domiciliares, como casais que moram juntos, mas não são casados, os solteiros sem filhos e os pais solteiros (MURPHY & STAPLES, 1979). Gilly & Enis (1982) também propuseram um modelo de ciclo de vida por acreditarem que o modelo tradicional encontrava-se incompleto. Segundo os autores, essa desconsideração das novas estruturas de família leva a uma utilização não ideal do ciclo de vida da família como uma ferramenta de análise do comportamento de consumo. Conforme Figura 3, o modelo proposto engloba pessoas solteiras sem filhos e casais que moram juntos mas não são casados, superando, inclusive, algumas das limitações daquele desenvolvido por Murphy & Staples (1979). O processo de classificação adotado envolve três variáveis: idade, quantidade de adultos no domicílio e a quantidade de crianças. As linhas

29 29 horizontais indicam passagem de tempo e, as verticais, mudança no tipo de estrutura domiciliar (GILLY & ENIS, 1982). A nomenclatura adotada de Solteiro I, II e III varia apenas de acordo com a idade da pessoa. Já no caso de ninho cheio, o número romano I indica que o filho mais novo tem menos de seis anos de idade, enquanto o II, seis anos ou mais. O mesmo ocorre com as categorias Um dos pais I e II. Ninho cheio tardio denota os casais já na segunda faixa etária proposta, com o filho mais novo com menos de seis anos de idade. Na categoria ninho cheio III, todos os filhos têm seis anos ou mais. Figura 3: Modelo de Ciclo de Vida de Família proposto por Gilly & Enis (1982) Fonte: Adaptado de Gilly & Enis (1982), Recycling the Family Life Cycle: A Proposal for Redefinition A Tabela 4, a seguir, traz uma comparação dos três modelos citados. Como pode ser observado, os modelos mais recentes apresentam mais estágios, de modo a abarcar e distinguir uma maior parcela da população. Em ambos os modelos, a categoria outros apresenta uma menor porcentagem, indicando uma maior capacidade de distinção e de classificação das diferenças.

30 30 Tabela 4: Comparação da distribuição da população americana, conforme 3 modelos de ciclo de vida propostos Fonte: Adaptado de Recycling the Family Life Cycle: A Proposal For Redefinition, Gilly & Enis (1982). Dados calculados, apartir do US Bureau do censo de 1973 O modelo tradicional de Wells & Gubar (1966) não era capaz de distinguir adequadamente 23,3% da população norte-americana de Segundo Murphy & Staples (1979), ele não era capaz de identificar algumas mudanças que se faziam presentes na sociedade, como o aumento do número de divórcios e de famílias sem filhos. Essas novas categorias foram inseridas no novo modelo de Murphy & Staples (1979) que, por outro lado, deixou de fora as famílias compostas pelas pessoas que permanecem solteiras por toda a vida, pessoas que vivem juntas, mas não são casadas ou mulheres que têm filhos, mas são solteiras. (Murphy & Staples, 1979) O modelo proposto por Gilly & Enis (1982) engloba algumas destas categorias. Segundo os autores, como essas pessoas são consumidoras, não devem ser excluídas dos estudos. Com essas inclusões, a categoria outros é reduzida, representando apenas 2,8% da população norte-americana, tendo sido utilizados dados do censo americano de Os autores

31 31 assumem que exceções sempre existirão, mas há uma notável melhora em comparação com os demais modelos. Apesar das inúmeras diferenças, uma importante semelhança dos novos modelos propostos por Murphy & Staples (1979) e Gilly & Enis (1982) está no fato de ambos incluírem a família dos casais que optam por não ter filhos. Desde 1973, essa modalidade já aparentava representar uma significativa mudança da estrutura familiar norte-america. De acordo com os dados apresentados, cerca de 10,3% da população encontrava-se nessa categoria (Tabela 4). Entretanto, conforme Hwan Lee & Schaninger (2003), uma importante limitação deve ser considerada. Segundo os autores, apesar de os modelos mais recentes de ciclo de vida considerarem a presença de casais sem filhos, muitas vezes o fazem apenas com base na composição familiar do momento. Dessa forma, casais que optam por não ter filhos são agrupados com os recém casados e com os casais cujos filhos já saíram de casa. O presente trabalho estudará o estágio do ciclo de vida de casais sem filhos, focando exclusivamente no segmento de casais que optaram voluntariamente por não tê-los. A seguir, serão abordados estudos sobre motivação da decisão, sobre seus resultados e, finalmente, sobre as implicações para o consumo. 2.2 A Decisão de não ter filhos: motivações e implicações para o consumo Conforme Lang (1991), até as décadas de 50 e 60, o papel das mulheres era o de serem mães. Não se pensava muito a respeito, mas simplesmente era assumido que elas iriam casar e que quisessem e devessem ter filhos (VEEVERS, 1973). Com o tempo, entretanto, elas passaram a ter opções e, já na década de 80, muitas começaram a trabalhar, mas ainda era forte a pressão social para que estas mulheres assumissem a condição de super-mulher, capaz de conciliar a carreira profissional com a maternidade. Muitas assim o fizeram, sem imaginar as transformações que seriam proporcionadas em suas vidas (DEFAGO, 2005). Outras, entretanto, rejeitaram esse papel, adiando ao máximo, quando não eternamente, a decisão por ter filhos (LANG, 1991).

32 32 Com o intuito de melhor compreender as implicações para o consumo da decisão por não ter filhos, o primeiro passo é entender o contexto da decisão. Assim, a revisão de literatura trará estudos sobre as motivações e resultados dessa opção. Cabe ressaltar que esses estudos investigam, indistintamente, pessoas de todas as idades, orientações sexuais e estados civis. Uma vez concluída a análise dos estudos sobre as motivações e resultados, a revisão de literatura versará sobre as implicações para o consumo. Afinal, por não terem filhos, a renda discricionária destes casais é superior (STEPHENSON, 1997; PAUL, 2001; HWAN LEE & SCHANINGER, 2003), sendo relevante o estudo para onde esses recursos são direcionados. Nessa etapa da revisão de literatura, apenas estudos concernentes a casais serão mencionados Contexto e Motivações Muitos são os motivos que podem levar as pessoas a não terem filhos (LANG, 1991). Entretanto, apenas recentemente a opção entre ter ou não ter filhos se tornou uma realidade acessível a todos, graças à difusão dos métodos anticoncepcionais (MURPHY & STAPLES, 1979; SOMERS, 1993; NOCK, 2005). Segundo Bloom & Bennett (1986) e Somers (1993), tradicionalmente, filhos eram uma consequência necessária do casamento. Entretanto, com a revolução dos contraceptivos e, em alguns lugares, com a legalização do aborto, houve uma dissociação entre sexo e maternidade e, atualmente, as mulheres têm tamanho controle sobre sua fertilidade que a vida sem filhos é uma verdadeira opção (LANG, 1991). Entretanto, a decisão por não ter filhos nem sempre foi bem aceita. Apenas a partir da década de 70 que estudos sobre casais que voluntariamente não queriam ter filhos começaram a ser elaborados. Nos anos anteriores, o fato de não ter filhos era associado a alguma impossibilidade ou doença do casal; ou seja, era algo involuntário e indesejado (VEEVERS,1973; GRAY, 2003). Mesmo no século XXI, em que as pessoas têm mais liberdade para se dedicarem ao que consideram mais adequado, a decisão por não ter filhos ainda é delicada, porque o que ainda é considerado normal e aceito é a maternidade (DEFAGO, 2005). Para Gray (2003), apenas recentemente as pessoas perceberam que, efetivamente, poderiam fazer algo diferente do que é socialmente aceito. Assim, a questão passa a não ser mais

33 33 quando ter um filho, mas se ter um filho. Nesse processo de decisão, Lang (1991) destaca a importância da mulher e afirma que elas, de uma maneira geral, têm cada vez mais opções de alcançar uma vida realizada, seja se dedicando aos estudos, à carreira profissional ou ao papel de mãe. Para Lang (1991), todas essas opções fazem com que as mulheres sejam cada vez mais atormentadas pela decisão de ter ou não ter filhos. Inclusive, segundo a autora, a responsabilidade da decisão sobre não ter filhos recai, normalmente, sobre a mulher, que também é a principal responsável na criação do filho (LANG, 1991; JABLONSKI, 1998; DEFAGO, 2005). Já os homens parecem estar menos envolvidos na tomada de decisão sendo, portanto, mais suscetíveis a influências de suas parceiras para mudarem de opinião (LANG, 1991; GRAY, 2003). Mas quais fatores influem na decisão? Bloom & Bennett (1986) destacam a religião como tendo um papel relevante na decisão sobre ter ou não filhos. Segundo avaliação estatística dos autores, o grupo das mulheres que afirmava ser menos religioso apresentava maior concentração de mulheres sem filhos e, por outro lado, o grupo que indicava ser muito religioso apresentava maior concentração de filhos. Assim ocorre porque algumas religiões, como a cristã e a judaica, pregam fortemente a procriação (LANG, 1991; BASTEN, 2009). Paul (2001) acrescenta que o nível de instrução das mulheres também representa um fator fundamental e afirma que quanto maior a educação da mulher, maiores as chances de se optar por não ter filhos. Diversos estudos indicam como a taxa de mulheres sem filhos é maior no grupo daquelas com maior nível de instrução. (KERCKHOFF, 1976; BLOOM & BENNETT, 1986; LANG, 1991; AMBRY, 1992; HEATON & JACOBSON, 1999; GRAY, 2003). Contribuem com esse quadro as possibilidades, advinda da educação, de conquistar mais oportunidades de carreira e novos objetivos de vida, o que reduz a percepção dos benefícios advindos com a maternidade. (LANG, 1991; HEATON & JACOBSON, 1999). O maior grau de instrução em média contribui, também, com maiores salários e melhores cargos (BLOOM & BENNETT, 1986; LANG, 1991).

34 34 Conforme Carmichael & Whittaker (2007), não apenas o maior grau de instrução das mulheres contribui com a decisão de não ter filhos, mas o dos homens também. Os autores descrevem um caso descoberto em sua pesquisa, que ilustra essa situação: O entrevistado James cresceu esperando imitar seus pais: comprar uma casa e ter um casal de filhos. Mas a educação universitária mostrou que existem muito mais coisas que ele poderia fazer. [ ] E uma criança interromperia isso. (CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007, p.7) No Brasil, o estudo de Rios (2007) traz dados do IBGE que também indicam que a proporção de filhos diminui com o aumento do nível de escolaridade. Em 2005, as mulheres com até três anos de educação escolar apresentavam uma média de 4,0 filhos, ao passo que para aquelas com mais de 8 anos de escolaridade a média foi de 1,5. Conforme Barros et al. (2008), no Brasil, os casais sem filhos têm, percentualmente, mais anos de escolaridade que todas as demais composições familiares. Segundo os autores, como não têm filhos, esses casais podem investir mais em sua própria educação e alcançar melhores cargos profissionais. Com um maior grau de instrução, as pessoas sem filhos, em maior proporção do que as com filhos, apresentam maior estabilidade financeira e profissional (BLOOM & BENNETT, 1986; BASTEN, 2009). Inclusive, o fato de as mulheres estarem mais inseridas no mercado de trabalho afeta diretamente sua decisão por não ter filhos (MURPHY & STAPLES,1979; BLOOM & BENNETT, 1986; HAKIM, 2003) posto que há um conflito, enfrentado pelas mulheres, por uma vida orientada para o trabalho ou para a família. Com isso, para Hakim (2003), a opção voluntária por não ter filhos se baseia fortemente no interesse em priorizar a carreira, o desenvolvimento pessoal e o bem estar material, não havendo um espaço para um filho. Conforme Defago (2005), a estrutura de trabalho e auxílio à maternidade ainda não está desenvolvida o suficiente para garantir um bom equilíbrio entre vida profissional e a maternidade. A combinação, muitas vezes, resulta em uma maternidade caracterizada pela culpa: tanto de não poder se dedicar melhor à carreira, como de não acompanhar de perto o desenvolvimento do filho (DEFAGO, 2005). O entendimento de que as mulheres são as principais responsáveis pela criação dos filhos (JABLONSKI, 1998) contribui para aumentar ainda mais essa sensação de culpa.

35 35 Entretanto, Weston & Qu (2001) destacam que apesar de, na teoria, haver um conflito, especialmente para as mulheres, entre criar a família e dedicar-se à carreira profissional (BLOOM & BENNETT, 1986; HAKIM, 2003), na prática, tal conflito não foi considerado, em sua pesquisa, como um importante motivo para não ter filhos. Segundo as autoras, os entrevistados demonstraram maior preocupação com outras questões, como a falta de vontade de ter filhos e a manutenção de seu estilo de vida, deixando para um segundo plano a preocupação com a carreira profissional. Essa descoberta ressalta a importância de se compreender o que efetivamente influencia as pessoas em sua decisão (WESTON & QU, 2001). Assim, Weston & Qu (2001) resumem todas as macro-circunstâncias já vistas que afetam a decisão de ter filhos: o maior nível de instrução e de participação das mulheres no mercado de trabalho, o maior acesso a métodos anticoncepcionais, a possível dificuldade de conciliar a carreira com a vida familiar, o aumento da idade média do primeiro casamento e a redução de tradições religiosas. Entretanto, Weston & Qu (2001) consideram ser necessário, também, compreender a situação micro, que influencia diretamente na escolha do casal. Afinal, a maior autonomia das mulheres e o acesso a métodos de controle de natalidade são pré-requisitos da escolha, mas não são razões o suficiente para não ter filhos (LANG, 1991; GILLESPIE, 2003; DEFAGO, 2005). Assim, foram realizados estudos exploratórios para compreender o que leva a essa decisão. A preocupação com a idade aparece como uma motivação para não ter filhos, quando algumas pessoas se consideram muito velhos para a empreitada. Na pesquisa Weston & Qu (2001), um maior número de mulheres se mostrou preocupada com a idade, o que as autoras justificam pela importância desse fator em uma gestação saudável. Entretanto, um considerável número de homens também destacou a idade como um elemento importante. Segundo as autoras, muitos respondentes admitiram, entretanto, que focaram em suas carreiras ou em outras atividades, até que a idade se tornou um elemento importante na decisão de não ter filhos. Outra motivação encontrada foi não gostar ou não ter paciência com crianças. Nesse caso, não houve diferenças relevantes quanto à faixa etária dos entrevistados, mas, sim quanto ao gênero. Uma maior proporção de mulheres demonstrou não gostar de crianças (WESTON & QU, 2001). Quando indagados sobre os motivos, homens e mulheres destacaram o

36 36 comportamento mal-educado e, muitas vezes, descontrolado das crianças que, em suas opiniões, só traz aborrecimentos e anula benefícios advindos da paternidade. Outros, apesar de afirmarem que não desgostam de crianças, consideram que não seriam bons pais por não ter habilidades ou sequer a paciência necessária com elas. (LANG, 1991; WESTON & QU, 2001). Carmichael & Whittaker (2007) destacaram, ainda, que alguns profissionais que trabalham com crianças, como professores e pediatras, relataram optar por não ter filhos para não ter que lidar com tanto trabalho em sua casa também, já que toda a paciência que têm com crianças é gasta no trabalho. Carmichael & Whittaker (2007) mencionam, ainda, que para muitos destes casais, os animais de estimação são verdadeiros substitutos aos filhos. O mundo não ser um local bom para crianças também apareceu, nos estudos, como uma motivação para não ter filhos. Mesmo demonstrando interesse em ter filhos, algumas pessoas argumentaram que não acham apropriado educar os filhos no mundo em que vivem: cheio de crises, poluição e guerras (LANG, 1991; DEFAGO, 2005). Muitos o consideram, além de violento, excessivamente voltado ao trabalho e com valores morais desvirtuados. De um modo geral, consideram que as crianças não merecem essa realidade (WESTON & QU, 2001). Outros parecem não querer colocar mais gente em um mundo já tão super povoado e afirmam se preocupar com questões como fome no mundo e esgotamento de recursos naturais (LANG, 1991; DEFAGO, 2005). Carmichael & Whittaker (2007) também encontraram como motivação para não ter filhos a colocação do mundo como um local impróprio para crianças. Entretanto, muitas vezes as autoras interpretavam que entrevistados utilizavam essa justificativa como forma de mascarar outras, como, por exemplo, não querer comprometer seu estilo de vida. Segundo Lang (1991) e Heaton & Jacobson (1999), outro importante fator para a opção de não ter filhos é a insegurança no relacionamento conjugal. Carmichael & Whittaker (2007) afirmaram que o medo de que o relacionamento acabe é decisivo na escolha por não ter filhos. As autoras destacaram o exemplo de uma entrevistada, casada, que relatou que se ela tivesse filhos e o marido a abandonasse, ela se tornaria uma mãe solteira e, consequentemente, não atraente para outros parceiros.

37 37 Carmichael & Whittaker (2007) afirmaram ainda que há uma grande preocupação em manter o relacionamento com o parceiro saudável. Algumas pessoas acreditam que um filho destrói o relacionamento a dois e que a ausência deles colabora em manter a intimidade que consideram satisfatória no relacionamento (LANG, 1991; GILLESPIE, 2003; GRAY, 2003 CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). Afinal, há maior possibilidade de ter uma vida espontânea, imprevisível, íntima e sem regras, além da possibilidade de desenvolver diferentes hobbies em conjunto (LANG, 1991). Segundo Somers (1993), de fato, os casais sem filhos sentem mais satisfação no relacionamento conjugal do que os pais. O desejo de mais intimidade e espontaneidade remete à outra motivação identificada: estar engajado em um estilo de vida que não comporta crianças (GRAY, 2003). Na pesquisa de Weston & Qu (2001), essa foi a motivação mais frequentemente mencionada. Assim, muitos optaram por não terem filhos para não arcarem com a responsabilidade ou com as restrições financeiras e pela perda de liberdade que seria ocasionada pela experiência. Novamente, as mulheres foram as que mais destacaram e rejeitaram as inúmeras responsabilidades de se ter filhos. Apesar de indicarem preocupações financeiras, Carmichael & Whittaker (2007) ressaltaram, entretanto, que nenhum dos casais entrevistados relatou optar por não ter filhos porque não teriam condições de sustentá-lo. Lang (1991) encontrou resultados semelhantes. A autora identificou, ainda, que, em alguns casos, essa preocupação financeira está atrelada a um desejo por experimentar um estilo de vida, caracterizado pela liberdade, em que não é necessário trabalhar muito para sustentar filhos. A motivação de restrição financeira só foi abordada por casais que pensavam em ter mais filhos, além dos que já tinham (CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). A preocupação com a manutenção da liberdade e o medo de como a maternidade poderia afetar o estilo de vida foram tópicos constantemente destacados nos estudos (LANG, 1991; GILLESPIE, 2003; DEFAGO, 2005; ELY, 2009). Para Gray (2003), a liberdade foi a principal razão para decisão de não ter filhos.

38 38 Mas liberdade de que? Gray (2003) e Carmichael & Whittaker (2007) indicaram que os casais não querem, além das restrições financeiras, as restrições de tempo ocasionadas pelos filhos. Eles também querem ser livres da responsabilidade de educar uma criança, da preocupação de o filho crescer em um mundo tão violento e, ainda, livres para poderem se dedicar aos seus objetivos pessoais e alcançarem melhores oportunidades de carreira. (LANG, 1991; GILLESPIE, 2003; DEFAGO, 2005). Ademais, não querem perder a espontaneidade de suas vidas e não querem ser limitados, em suas vontades e desejos pelos filhos. Para esses casais, os filhos remetiam a restrições, a inconveniências, a perdas, ou seja, a sacrifício. A percepção de que um filho alteraria por completo o estilo de vida desses casais parece ser reforçada com a experiência de amigos e com pesquisas na internet (GRAY, 2003). Lang (1991) e Weston & Qu (2001) destacaram, entretanto, que, mais do que um desejo por manter seu estilo de vida, as mulheres que decidiram não ter filhos indicaram que, na verdade, o principal motivo para sua decisão é, simplesmente, a ausência de vontade. Assim relataram que, em suas vidas, não ter filhos era a coisa mais natural e óbvia a se fazer. Defago (2005) chegou a conclusões semelhantes e ainda destacou que não foi possível identificar uma relação direta entre a composição da família de criação com a vontade de ter filhos. Pessoas com muitos irmãos, tios e primos, do mesmo modo que pessoas com quase nenhum parente vivo demonstraram, igualmente, falta de interesse em procriar. Gillespie (2003) descreveu como algumas respondentes rejeitavam o papel da maternidade, que tradicionalmente era considerado como sinônimo de feminilidade. Em contraste com essa visão tradicional da maternidade como ponto central na vida feminina, muitas relataram como sentiam que ser mãe não traria satisfação, mas seria um fardo, um peso em suas vidas, um sacrifício que resultaria, em última análise, na perda de suas identidades. Segundo a autora, esse resultado denota como está havendo uma dissociação de feminilidade e maternidade e como as mulheres podem se sentir realizadas em suas vidas, mesmo não sendo mães. Inclusive, muitas não se consideram sem filhos, mas livres de filhos, minimizando o tom negativo da expressão e indicando que não entendem a sua opção como uma perda (DEFAGO, 2005; BASTEN,2009; ELY, 2009).

39 39 Carmichael & Whittaker (2007), em conformidade com Gillespie (2003), também apontaram como motivo para a opção de não ter filhos, a rejeição das mulheres à maternidade como um ponto central de sua identidade. Algumas mulheres entrevistadas relataram como não tinham desejo em ser mães, o que, segundo as autoras, demonstra que a maternidade não representa mais um aspecto instintivo e natural do papel da mulher na sociedade, como era tradicionalmente visto. Lang (1991) também confirma esses achados. Segundo a autora, muitas de suas entrevistadas também relataram não ter instinto materno. A falta de desejo em serem mães foi tão evidente que não consideram sequer que tomaram uma decisão, mas que apenas estavam seguindo com sua realidade. Segundo Lang (1991), enquanto algumas mulheres estavam muito seguras de suas decisões, outras ainda questionavam se haveria algo de errado com elas e indagavam o porquê não tinham instinto materno. Essas dúvidas são comuns porque ter ou não filhos é umas das poucas decisões irrevogáveis na vida de uma pessoa (LANG, 1991). E mesmo não tendo como prever o resultado, segundo Lang (1991), essa importante decisão ainda é tomada sem o devido cuidado, mas apenas por acomodação ou pressão social. Gray (2003) e Defago (2005) compartilham desta opinião. Segundo as autoras, muitos são os casos de pessoas que têm filhos porque a sociedade assim espera e, nessas hipóteses, muitos não conseguem assumir plena responsabilidade por sua escolha. Diferente destas pessoas, Gray (2003) acredita que os casais sem filhos refletiram exaustivamente sobre suas possibilidades e racionalmente concluíram que as desvantagens em ter filhos são maiores que as vantagens. Já Lang (1991) e Gillespie (2003) identificaram dois grupos de mulheres que optam por não ter filhos: as que decidem desde cedo e as que permanecem em dúvida, adiando a decisão até saírem de seus períodos férteis. No primeiro grupo, foi identificado um desejo por alcançar e manter um estilo de vida pautado na liberdade. A maioria dos casos de mulheres sem filhos, entretanto, pertence ao segundo grupo: aquelas que adiaram indefinidamente a decisão (LANG, 1991). Essas mulheres passam boa parte dos seus vinte anos e início dos trinta se dedicando à carreira, aproveitando a vida, viajando e experimentando diferentes estilos de vida. Quando chegam ao meio dos trinta, algumas não

40 40 querem modificar um esquema de vida que está funcionando bem. Outras, entretanto, percebem que o relógio biológico está acabando e podem entrar em aflição porque a janela de oportunidade para terem filhos está fechando. Lang (1991) identificou que muitas cedem à pressão social e têm filhos no último momento possível. Independente do momento em que a decisão é tomada, não é improvável que pessoas determinadas em não ter filhos mudem de idéia ao longo de suas vidas (WESTON & QU, 2001). As autoras avaliaram duas pesquisas realizadas pelo Australian Institute of Family Studies, respectivamente em 1981 e 1996, sendo que os respondentes da pesquisa de 1981 foram acompanhados e novamente entrevistados dez anos depois. Segundo as autoras, em 1991, quase metade daqueles que não queriam ter filhos já tinha ou demonstrava interesse em tê-los. Weston & Qu (2001), entretanto, não comentaram sobre a proporção de respondentes que afirmava querer ter filhos e que também mudaram de idéia. Carmichael & Whittaker (2007) também citaram diversos casos de casais que reconsideraram, perceberam as vantagens de ter filhos e efetivamente os tiveram. Entretanto, as autoras destacaram que o contrário também é comum. Pessoas que prevêem que terão filhos no futuro deixam de fazê-lo, algumas vezes porque descobrem ser inférteis ou porque percebem, com o tempo, que não precisam realizar o que é socialmente aceito e, como não sentem vontade, decidem não ter filhos (GRAY, 2003; ELY, 2009). Heaton & Jacobson (1999) desenvolveram um estudo, aplicado a pessoas de todos os estados civis, sobre a persistência da decisão de não ter filhos e concluíram que há grande instabilidade. Segundo os autores não são raros os casos de casais que, mesmo convictos de suas decisões, seja para ter ou não filhos, mudam de idéia ao longo dos anos. Os autores destacam que algumas variáveis demográficas estão profundamente associadas à instabilidade na decisão. Esse seria o caso, por exemplo, da idade, especialmente das mulheres, visto apresentarem um período fértil bem delimitado. De um modo geral, as pessoas, ambos mulheres e homens, em uma idade mais avançada tendem a mudar de idéia sobre ter ou não ter filhos. Ou eles decidem que já está muito tarde para começarem uma família ou eles decidem que talvez seja bom ter um filho, antes que o tempo acabe (HEATON & JACOBSON, 1999, p.5).

41 41 Os autores confirmaram que as mulheres que se dedicam à educação acadêmica são mais propensas a adiar a maternidade (KERCKHOFF, 1976; BLOOM & BENNETT, 1986; LANG, 1991; AMBRY, 1992; HEATON & JACOBSON, 1999). Eles destacam também que pessoas com maior nível educacional tendem a não mudar de idéia quando decidem não ter filhos. Os autores afirmam ainda que uma das principais causas das pessoas que não querem ter filhos mudarem de idéia é o fato de começarem um relacionamento estável. Com relação ao estilo de vida, aqueles que se preocupam em não perder a liberdade e o tempo dedicado ao lazer, tendem a não mudar de opinião sobre a decisão de não ter filhos. Sobre a vida profissional da mulher, em conformidade com os achados de Weston & Qu (2001), o estudo não indicou uma relação forte entre a carreira profissional e a decisão de não ter filhos. Em geral, ou as pessoas têm filhos ou adiam a maternidade, mas continuam demonstrando a vontade de tê-los (HEATON & JACOBSON, 1999). Poucos estudos, referentes à opção de não ter filhos, foram localizados no Brasil. Rios (2007) focou na psicanálise e afirmou se tratar de uma decisão complexa. Ou seja, não é apenas uma razão, mas um conjunto delas que leva à opção de não ter filhos. De modo semelhante aos estudos internacionais, a autora identificou como motivações uma combinação dos seguintes fatores: a manutenção do estilo de vida, a possibilidade de focar mais na carreira profissional, o medo de alterar a relação conjugal, a personalidade, a consciência humanitária e o desinteresse por crianças. Ely (2009), por sua vez, identificou a falta de vontade de ter filhos, a ausência de instinto materno e a falta de interesse na criação de uma criança. Segundo a autora, seus entrevistados postergavam indefinidamente a decisão, indicando ter outras prioridades em suas vidas, além de buscarem um estilo de vida criativo, espontâneo e pautado na liberdade. Alguns, ainda, explicitaram seus desejos por serem tios, indicando o interesse em ter uma criança em suas vidas, mas sem a responsabilidade de pai ou mãe (ELY, 2009). Rios (2007) identificou que os casais entrevistados tendiam a tomar a decisão de não ter filhos em conjunto, não tendo a opinião de um prevalecido sobre a do outro. Já Lang (1991) e Gillespie (2003) identificaram que, em geral, a decisão por não ter filhos parte da mulher.

42 42 Mansur (2003) também avaliou o aspecto psicológico da decisão de não ter filhos. Tendo entrevistado oito mulheres brasileiras, economicamente ativas e não mães, concluiu que a opção, algumas vezes, é acompanhada por conflitos internos, como a sensação de perda de feminilidade, visto a maternidade ainda fazer parte do papel social feminino. A autora destaca, ainda, que a decisão não representa uma patologia, mas é normal em uma sociedade que apresenta tantas possibilidades de realização para as mulheres, além da maternidade. A Tabela 5, a seguir, traz uma compilação de todas as motivações encontradas na revisão de literatura, segundo os autores. Algumas ressalvas devem ser feitas. A categoria foco no trabalho englobou apenas os autores que acreditam ser essa uma razão por si só. Aqueles que a consideram como uma macro-circunstância não foram mencionados. Na categoria relacionamento a dois foram agrupadas as motivações de não querer perder a intimidade e a insegurança no relacionamento. Por fim, o item estilo de vida englobou as motivações relacionadas à liberdade, ausência de responsabilidade de criar um filho e não querer restrições financeiras. Tabela 5: Compilação das principais motivações para a decisão de não ter filhos Motivação Foco no Trabalho Autores Idade avançada Weston & Qu (2001) Não gostar de Crianças Murphy & Staples (1979); Bloom & Bennet (1986); Hakim (2003); Rios (2007) Lang (1991); Weston & Qu (2001); Rios (2007); Ely (2009) Não achar que seriam bons pais Lang (1991); Defago (2005) Estilo de Vida Mundo Impróprio para Crianças Lang (1991); Weston & Qu (2001); Gillespie (2003); Gray (2003); Defago (2005); Carmichael & Whittaker (2007); Rios (2007); Ely (2009) Weston & Qu (2001); Carmichael & Whittaker (2007) Motivações Ambientais Lang (1991); Defago (2005); Rios (2007) Falta de Vontade (Ausência do instinto materno) Relacionamento a Dois Lang (1991); Weston & Qu (2001); Gillespie (2003); Gray (2003); Defago (2005); Carmichael & Whittaker (2007); Ely (2009) Lang (1991); Somers (1993); Gillespie (2003); Gray (2003); Carmichael & Whittaker (2007); Rios (2007) Não lidar com trabalho em casa Carmichael & Whittaker (2007)

43 43 Conforme a Tabela 5, os motivos mais mencionados nas pesquisas foram: manutenção do estilo de vida e falta de vontade em ser mãe ou pai. Já as razões de preocupação com a idade e não gostar de crianças não ganharam destaque. Mas, independente das motivações, quais seriam os principais resultados positivos ou negativos da decisão de não ter filhos? Resultados decorrentes da decisão de não ter filhos Diversos foram os resultados positivos descritos nos estudos. Alguns, inclusive, apareceram como motivações para a decisão. São eles: não comprometer o estilo de vida do casal, não arcar com responsabilidades sobre uma criança, não ter restrições financeiras, manter saudável o relacionamento a dois e ter liberdade para poder se dedicar ao que gosta, seja educação, carreira ou lazer. (LANG, 1991; WESTON & QU, 2001; GILLESPIE, 2003; GRAY, 2003; DEFAGO, 2005; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). Mas também foram muitos os resultados negativos. Um dos mais mencionados nas pesquisas se refere ao preconceito sofrido pelos casais. Colegas de trabalho, amigos e, especialmente, familiares muitas vezes demonstram dificuldade em aceitar a decisão (LANG, 1991; THOMAS, 1995; GILLESPIE, 2003; GRAY, 2003; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007; BASTEN, 2009; RIOS & GOMES, 2009). Carmichael & Whittaker (2007) destacaram que isso acontecia mesmo entre as pessoas de idade próxima ao casal. Segundo as autoras, o preconceito pode ser tão evidente, que muitas pessoas indicaram temer expor suas verdadeiras opiniões sobre o assunto e solicitaram anonimato para conceder entrevistas. Para Defago (2005), essa opção de vida é tão controvertida que raramente as celebridades assumem publicamente sua decisão e, quando questionadas, falam pouco a respeito. Do mesmo modo, a mídia endossa a maternidade, não havendo espaço, em propagandas, para divulgar outros estilos de vida. Defago (2005) relatou também que, quando buscava livros sobre a decisão de ter ou não filhos, percebeu uma nítida distinção. Livros sobre maternidade tinham uma seção exclusiva, enquanto que aqueles sobre não ter filhos encontravam-se na seção de auto-ajuda. Além deste

44 44 preconceito, frequentemente foram demonstrados, nos estudos, a falta de convicção e o sentimento de pena, mesmo por aqueles casais que decidiram conscientemente não ter filhos (LANG, 1991; DEFAGO, 2005). A pressão para procriar provém mais intensamente da família ou dos sogros (LANG, 1991; GILLESPIE, 2003). Lang (1991) descreveu o caso de uma respondente que afirmou que seus pais consideravam sua irmã, que teve filhos, a filha ideal, enquanto ela era estranha. Normalmente diversas são as motivações para essa pressão familiar: vontade de ter netos, medo de não ver a família ter continuidade e não aceitar a rejeição de seu estilo de vida, já que eles tiveram filhos (LANG, 1991). Para Defago (2005), a pressão de amigos e colegas de trabalho também é forte e constante. Em contraste, Gray (2003) relatou que, conforme seus entrevistados, as pessoas mais próximas do casal tendem a compreender e aceitar a decisão e apenas as pessoas menos íntimas, os conhecidos, permanecem pressionando o casal. Independente da fonte da pressão, em alguns casos ela é tamanha que casais cedem e têm filhos, mesmo não sendo algo que desejam e a que vão se dedicar (DEFAGO, 2005). Em outros casos, algumas pessoas sentem a necessidade de mentir para evitarem as constantes perguntas e falam que são inférteis ou que casaram tarde de mais (LANG, 1991; DEFAGO, 2005). Por outro lado, destaca Defago (2005), ninguém questiona o porquê os casais com filhos decidiram procriar. De fato, casais sem filhos sentem que amigos e parentes têm uma impressão negativa a respeito deles por causa de sua opção (SOMERS, 1993). Para Rios & Gomes (2009) existe uma relação entre o modo como os casais lidam com essa pressão e o grau de certeza acerca da decisão sobre não ter filhos. Os casais em que, ao menos um dos membros, não está totalmente certo de sua decisão sentem mais pressão, ao passo que os mais decididos indicam se incomodar menos. Uma forma disfarçada de pressão, a estigmatização, foi estudada por Gray (2003), Mansur (2003) e Rios & Gomes (2009). De acordo com as autoras, a escolha por não ter filhos algumas vezes é considerada como desviante da conduta social esperada, sendo considerada por alguns como anormalidade, ou mesmo patologia, causando o sentimento de exclusão

45 45 social. Essa pressão social, muitas vezes, culmina em estereótipos criados para os casais sem filhos, que passam a ser classificados como egoístas, pessoas que não gostam de crianças, neuróticas, não naturais, não saudáveis, pessoas que vivem vidas vazias, egoístas e, no caso das mulheres, não femininas (LANG, 1991; THOMAS, 1995; GILLESPIE, 2003; DEFAGO, 2005; BASTEN, 2009; RIOS & GOMES, 2009). Entretanto, Gray (2003) conta como suas respondentes refletiram muito ao tomarem suas decisões e que, portanto, deveriam ser tão respeitadas quanto aqueles que optaram por ter filhos, mas são poucas as pessoas que demonstram tolerância e compreensão e entendem que essa é uma decisão que cabe apenas ao casal (CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). Ironicamente, pessoas que tiveram filhos acidentalmente ou para ceder às pressões sociais parecem receber mais respeito em suas decisões (GRAY, 2003). De todos esses estereótipos, o que parece predominar na opinião pública é que as pessoas que optam por não ter filhos são egoístas (CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007; RIOS & GOMES, 2009). Em alguns casos, os próprios entrevistados parecem concordar. Alguns consideram que são egoístas por querer manter sua liberdade, não querer perder espontaneidade e não querer nenhum tipo de restrição orçamentária. Em suma, quando um dos principais motivos era a manutenção do estilo de vida, as pessoas tendiam a se considerar egoístas por optarem não ter filhos (GILLESPIE, 2003). Por outro lado, outros não se consideram egoístas (CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). Na verdade, afirmam que aqueles que têm filhos e não os colocam em primeiro lugar em sua lista de prioridades são os verdadeiros egoístas. Lang (1991) e Gray (2003) compartilham desta opinião e afirmaram que, ironicamente, muitas vezes, a decisão de ter filhos é igualmente ou, até mesmo, mais egoísta do que a de não ter filhos. Segundo as autoras, apesar de as mulheres que optaram por ter filhos raramente serem questionadas sobre sua decisão, suas entrevistadas citaram diversos motivos para tal: estreitar a relação com o marido, trazer satisfação, respeito, status, amor e garantia de companhia da velhice. Muitas, ainda, admitiram não refletir muito sobre a decisão, mas como, desde pequenas assumiram que teriam, quando cresceram, efetivamente o fizeram. Gray (2003) apontou outra ironia existente nas considerações sobre egoísmo: o fato de a opinião pública indicar que esses casais são egoístas por não considerarem as necessidades de

46 46 uma criança que não existe. A autora questiona quem, então, seria afetado pela decisão. Gray (2003) lembrou ainda que esses casais pagam impostos que contribuem para educação de filhos dos outros. Então, como poderiam ser egoístas? Assim, a autora traçou uma importante distinção entre mau egoísmo e bom egoísmo. No primeiro caso, as pessoas tomam decisões que prejudicam alguém. Já no segundo, elas decidem de acordo com o que é melhor para elas, sem afetar ninguém no processo. Para Gray (2003) e suas entrevistadas, os casais sem filhos se encontram no segundo grupo de egoísmo. Outro resultado muito comum é vivenciado pelas mulheres quando atingem a faixa etária dos 35 a 40 anos, quando muitas se sentem aflitas por perceberem que seu relógio biológico está chegando ao limite. A idéia de perderem, para sempre, a oportunidade de um dia serem mães, tende a deixar muitas mulheres ansiosas (LANG, 1991). Algumas temem se arrepender de não ter tido filhos e se preocupam em perder a oportunidade de experimentar a maternidade. Em contraponto, outras acreditam que não há como sentir falta de algo que nunca tiveram (LANG, 1991). Apesar de, em alguns casos, as mulheres se sentirem aflitas com a possibilidade de se arrependerem de não ter filhos, Lang (1991) destaca que não há como saber se, na vida destas mulheres, a maternidade seria uma bênção ou um tormento. Do mesmo modo, uma mãe nunca poderá saber se sua vida teria sido mais ou menos feliz se ela tivesse decidido não ter filhos. Segundo Lang (1991), muitas de suas entrevistadas, que não estavam totalmente certas de suas decisões, tiravam conforto da idéia de que é melhor se arrepender de não ter tido filhos, do que de ter tido. Nesse último cenário, não apenas a vida dos pais teria sido negativamente afetada, mas a da criança também. E, apesar de a maioria dos pais amar seus filhos, não são raros aqueles que se arrependem de sua decisão, visto suas vidas terem mudado completamente, passando a girar em torno de sua cria (DEFAGO, 2005). Lang (1991) e Defago (2005) trouxeram outra consequência. As autoras relataram como muitas pessoas sem filhos se sentem discriminadas no ambiente de trabalho. Enquanto os pais, algumas vezes, podem desfrutar de horários flexíveis, podem ter suas faltas e atrasos relevados e podem ter o direito de escolher o período de férias de acordo com o calendário de seus filhos; aqueles que não têm filhos não recebem os mesmos benefícios e, ainda, devem

47 47 cobrir o turno na ausência dos seus colegas que foram resolver problemas relacionados aos filhos. Mesmo sem receber nenhuma remuneração ou reconhecimento pelo serviço extra prestado. Segundo Lang (1991) e Defago (2005), há bastante frustração daqueles que não têm filhos, por entenderem que a opinião geral é que o tempo daqueles que são pais é mais valioso que o seu. Costumam exigir que façam as viagens mais longas e para locais mais distantes; que não emendem feriados; além de que as empresas, muitas vezes, subsidiam creches para os filhos dos funcionários, mas não oferecem nenhum benefício para os que não têm filhos. Por outro lado, esses benefícios recebidos por aqueles que têm filhos, muitas vezes podem ser considerados em seu desfavor no momento da contratação ou de promoções, o que contribui com um ambiente de trabalho desigual e impróprio para o trabalho em equipe (DEFAGO, 2005). Mais uma consequência apontada por Gray (2003), Carmichael & Whittaker (2007), Rios (2007) e Basten (2009) é a falta de suporte e a possível solidão que os casais sentirão quando estiverem idosos. Por outro lado, nessas mesmas pesquisas, alguns entrevistados afirmaram não considerar que os filhos sejam uma garantia de companhia no futuro porque muitos filhos deixam os pais em asilos, se mudam para locais distantes ou mesmo falecem antes de seus pais. Alguns concluem que um bom plano de previdência seria mais garantido que um filho. Sobre esse conflito, Defago (2005) questiona também se ter filhos para evitar a solidão não é egoísmo. Segundo Koropeckyj-Cox (1998), tradicionalmente, acreditava-se que um idoso com muitos laços familiares estaria mais engajado socialmente, ao passo que os com poucos laços estariam mais vulneráveis e deprimidos. Entretanto, em seu estudo, a autora conclui que a ausência de filhos não apresenta relação significativa com solidão e depressão em pessoas de meia idade e idosos. Por outro lado, a viuvez está estreitamente relacionada com solidão e depressão, independente de o cônjuge sobrevivente ter filhos ou não. Lang (1991), em consonância com Koropeckyj-Cox (1998), descobriu, em suas entrevistas, que muitas mulheres que tiveram filhos consideram que o casamento deve receber uma

48 48 atenção maior do que a maternidade. Mesmo aquelas que amam seus filhos e jamais se arrependeram de tê-los, mencionam que os filhos crescem e saem de casa. Nesse momento, as que colocam seus filhos sempre em primeiro lugar e não desenvolvem um bom relacionamento com o marido, podem ficar deprimidas. Por outro lado, Lang (1991) destacou o exemplo de uma entrevistada, já na terceira idade (cem anos), que afirma que nem mesmo o marido faz falta. Divorciada, ela conta que não se sente sozinha porque, ao longo de sua vida, conseguiu fazer muitos amigos. Em sua opinião, se alguém enfrenta a solidão não é porque não teve filhos, mas porque falhou em fazer bons amigos. Para Lang (1991), de uma maneira geral, para garantir seu bem estar emocional, as pessoas precisam do carinho de amigos e ou familiares, o que não necessariamente inclui filhos. Em muitos casos, segundo a autora, há uma necessidade de ser importante na vida de alguém e, mesmo, de cuidar de alguém. E muitas mulheres preenchem essa necessidade através dos amigos, de alunos ou pacientes (quando for o caso), de parentes idosos, de filhos de amigos e de parentes, de trabalho voluntário, de animais de estimação ou de plantas. O fato de não ter filhos não implica que essas mulheres não sejam carinhosas; do mesmo modo que ter não significa que sejam (DEFAGO, 2005). Lang (1991) identificou, inclusive, que muitas mulheres sem filhos consideram e tratam seus animais de estimação como filhos. Segundo a autora, de todas as entrevistas realizadas, apenas duas mencionaram que, do mesmo modo que não queriam filhos para não arcar com a responsabilidade, também não queriam animais. Outros resultados negativos menos mencionados nas pesquisas foram: não passar pela experiência da maternidade, não ter toda a alegria que os filhos podem proporcionar, não ter netos, não ter para quem passar seus valores e crenças, não dar netos aos pais e se afastar de amigos que se dedicam exclusivamente aos seus filhos (LANG, 1991). Finalmente, mais um resultado negativo foi identificado: o aumento da proporção de casais que optam por não ter filhos, junto de outros fatores, como o aumento da expectativa de vida contribui com o envelhecimento da sociedade, uma preocupação real já em alguns países.

49 49 Com isso haverá um aumento na demanda por mais sistemas de previdência e planos de saúde (WESTON & QU, 2001). Além das inúmeras motivações e conflitos da decisão, outro ponto que merece destaque são as implicações para o consumo. Por não terem os volumosos gastos com filhos, em geral, os casais sem filhos apresentam maior renda discricionária (MURPHY & STAPLES, 1979; BLOOM & BENNET, 1986; LANG, 1991; HWAN LEE & SCHANINGER, 2003) e mais tempo para gastar essa renda (LANG, 1991), já que não precisam dedicar parte de seus dias na criação dos filhos Implicações para o consumo Ao longo dos anos, pesquisas foram feitas com o intuito de analisar para quais categorias de produtos os casais sem filhos tendem a destinar sua renda discricionária (BLOOM & BENNETT, 1986; DOUTHITT & FEDYK, 1988; AMBRY, 1993; STEPHENSON, 1997; PAUL, 2001; HWAN LEE & SCHANINGER, 2003). Entretanto, poucas pesquisas realizadas no Brasil foram encontradas. Os estudos e seus principais resultados serão comentados nesta seção, segundo uma ordenação cronológica, pois são estudos muito díspares que serão melhor compreendidos se analisados separadamente. Alguns são estudos qualitativos, outros quantitativos; alguns trazem comparações com outras composições familiares e outros apenas listam as categorias de consumo preferidas e, ainda, alguns utilizam dados primários e outros secundários. Conforme Murphy & Staples (1979), mesmo que o casal não seja rico, a abstenção de ter filhos, permite um maior acúmulo de riquezas de modo a tornar possível a aquisição de produtos e serviços mais caros, como viagens e mobília de maior qualidade. Da mesma percepção compartilham Bloom & Bennett (1986). O fato de as mulheres trabalharem e destes casais apresentarem maior nível de instrução também contribuem para a maior renda familiar. Bloom & Bennett (1986) destacaram que, conforme dados do Bureau of Labor Statistics' Consumer Expenditure Survey, os casais sem filhos gastam, em alimentação, o mesmo que aqueles com filhos, mas o gasto per capita é maior. Apesar de um menor número de pessoas para alimentar, essas famílias apresentam maiores despesas com refeições em restaurantes.

50 50 Os autores indicaram, ainda, que os casais sem filhos estão mais propensos a alugar a casa onde moram, ao invés de serem os proprietários. Eles gastam mais com roupas, transporte, mobília, equipamentos para casa, entretenimento e bebidas alcoólicas e conseguem poupar mais dinheiro. Por outro lado, gastam menos com combustíveis, serviços públicos e conserto de eletrodomésticos (BLOOM & BENNETT, 1986). Os autores destacaram que, em média, os casais sem filhos gastam o mesmo que os com filhos, mas em produtos ou serviços diferentes e de maior qualidade, para os quais não teriam dinheiro se tivessem filhos. Segundo Bloom & Bennett (1986), normalmente, ambos, mulher e homem, trabalham, o que resulta em menos tempo para atividades de casa. Com isso, esses casais tendem a depender de profissionais externos, como empregadas, assim como de equipamentos e serviços que facilitem a realização das atividades domésticas, como máquina de lavar louça, serviços de lavanderia e serviços de entrega de comida. Com o mesmo intuito de economizar tempo, Bloom & Bennett (1986) descreveram como esses casais buscam outros canais para aquisição de produtos, como o caso de catálogos. Já no século XXI, a internet também desempenha esse papel. Ademais, normalmente, nos casais sem filhos, ambos são igualmente envolvidos na tomada de decisão, o que significa que os profissionais de marketing não devem focar exclusivamente em um dos gêneros ao comunicar um determinado tipo de produto ou serviço para esse segmento (BLOOM & BENNETT, 1986). Douthitt & Fedyk (1988) desenvolveram um estudo sobre a influência das crianças no comportamento de consumo da família, tendo sido feitas diversas comparações com o comportamento de consumo de casais sem filhos. Segundo os autores, os gastos dos casais sem filhos com comida são constantes ao longo da vida, sendo que, em média um terço do orçamento reservado para comida é gasto com alimentação fora de casa. Por outro lado, essa proporção para os casais com dois filhos cai para menos de um quinto. Somente depois de ambos os filhos saírem de casa é que essa proporção se iguala à dos casais sem filhos. Enquanto os gastos com refeições em casa são

51 51 positivamente relacionadas com o tamanho da família, os gastos com refeições fora de casa apresentam uma relação negativa com o tamanho da família (DOUTHITT & FEDYK, 1988). Com relação ao vestuário, os estudos indicaram que os gastos com roupas de criança constituem uma necessidade para as famílias com filhos, enquanto que quando voltados para roupas de adultos, esses gastos podem representar um luxo para as famílias com, em média, duas crianças (DOUTHITT & FEDYK, 1988). Em termos de gastos com bens duráveis, nos quais os autores incluíram os carros, foi possível identificar que os casais sem filhos apresentam dispêndios constantes. Já nas famílias com filhos, existem dois momentos de nítidos picos: quando a criança nasce e quando atinge idade para dirigir. Segundo Douthitt & Fedyk, (1988), para essa família, os gastos com duráveis muitas vezes também representam um luxo. A última categoria analisada no artigo foi denominada de outros bens e serviços e inclui eletrodomésticos, compras pessoais de adultos, recreação, presentes e saúde. Segundo os autores, os casais sem filhos gastam mais nessa categoria do que os demais tipos de família, indicando que estas devem redirecionar o que seria gasto com esses serviços para atender às necessidades dos filhos. Mais uma vez, os autores identificaram que, para os casais com filhos, essa categoria representa um luxo. Segundo Ambry (1993), as categorias com as quais os casais sem filhos mais gastam são: restaurantes, bebidas alcoólicas e entretenimento. Com relação a transportes, esses casais gastam mais com carros novos. Além de confirmar achados anteriores, a autora trouxe algumas importantes contribuições. Conforme Ambry (1993), esses casais gastam menos com cigarros, educação e com saúde, já que não necessitam cuidar de crianças. Por outro lado, apesar de não terem filhos, gastam mais com animais de estimação e brinquedos especialmente porque esses casais tendem a ser super generosos com seus sobrinhos. Parte disso pode ser uma forma de compensação (PAUL, 2001). Também como uma forma de compensação, muitos consideram seus animais de estimação como membros da família (HIRSCHMAN, 1994). Mas o papel que ocupa dentro da família varia. Para os casais sem filhos, os animais representam filhos crianças e, como tais, recebem

52 52 tratamentos privilegiados. Segundo a autora, não é raro que ganhem presentes de aniversário e Natal e que durmam na cama de seus donos. Stephenson (1997) descreveu os hábitos de consumo de restaurantes dos casais sem filhos. Muitos casais optam por jantar fora de forma impulsiva e com isso, alguns dos atributos procurados são: conveniência, proximidade do local, existência de estacionamento e tempo curto de espera na fila. Além destes, os casais sem filhos buscam qualidade da comida e do atendimento. Em alguns casos, indicaram preferir locais que limitem a presença de crianças até uma determinada hora. O autor ainda identificou que o preço é uma importante variável considerada. Como vão a restaurantes com frequência, tentam não abusar do orçamento e dão preferência por locais que oferecem descontos. Também com o intuito de analisar o consumo dos casais sem filhos, Paul (2001) citou um estudo desenvolvido pela empresa de marketing demográfico, Third Wave Research Group, que compara o poder de consumo per capita de famílias sem filhos com o de famílias com dois filhos. Como pode ser visto na Tabela 6, a seguir, em absolutamente todas as categorias, os casais sem filhos apresentam maiores gastos per capita (PAUL, 2001).

53 53 Categoria de produto Tabela 6: Comparação dos gastos de casais com e sem filho (em U$) Casais com crianças Casais com crianças: gastos por pessoa Casais sem crianças Casais sem crianças: gastos por pessoa Gasto adicional Bebidas Alcoólicas Equipamento Esportivo ,4% Masculinos Femininos Educação ,8% Entretenimento ,4% Animais de estimação Comida ,0% Restaurante ,1% Saúde ,9% Casa ,2% Outros ,7% Cuidado Pessoal ,8% Material para leitura ,0% Tabaco Transporte ,9% Contribuição em Numerário Seguro pessoal e pensão ,0% TOTAL Fonte: Adaptadado de Childless by Choice, Pamela Paul (2001). Tabela desenvolvida pelo Third Wave Research Group Na coluna gasto adicional é possível identificar o quanto os casais sem filhos gastam, a mais, consigo mesmos. Em entretenimento, esse segmento gasta, em média 60,4% a mais. Em comida, restaurante e cuidado pessoal, os dispêndios superam o dos casais com filhos em 79%, 101,1% e 79,8%, respectivamente. O estudo de Hwan Lee & Schaninger (2003) também trouxe importantes conclusões. Segundo os autores, os casais sem filhos apresentam um estilo de vida característico, pautado na busca por praticidade, numa divisão igualitária de tarefas domésticas e em um processo de tomada 6 Tradução da autora. Original: cash contributions. Segundo a autora Ambry (1993), a definição de cash contributions inclui pensão para esposa e para os filhos.

54 54 de decisão em conjunto. Isso muitas vezes acontece devido à presença de valores sexuais e familiares mais modernos, acentuados nessa composição familiar. Hwan Lee & Schaninger (2003) identificaram diferenças no comportamento de consumo de recém casados sem filhos (menos de 5 anos de casamento e esposa com menos de 32 anos de idade) e dos demais casais que não tiveram filhos (mais de 5 anos de casado ou a esposa com mais de 32 anos de idade). Quando comparados aos recém casados, os casais sem filhos gastam mais com a primeira casa, barco, terceiro carro, computador, segunda televisão e mobília. Assim ocorre, porque os que optaram em não ter filhos têm, possivelmente, cargos mais elevados, que os recém casados, apresentando maiores condições para acumular riquezas e, consequentemente, gastar de forma compatível com seu estilo de vida. Já os recém casados consomem mais junk food e pedem mais comida em casa, demonstrando resquícios do estágio de vida solteiro. Os autores concluem que, de uma forma geral, aqueles que optam por não ter filhos representam um importante mercado para carros, caminhonetes, vans, motos, barcos, computadores pessoais e mobília, além de comidas saudáveis e vinhos premium importados ou nacionais. Mas, por outro lado, não devem ser considerados como mercado-alvo de produtos como junk food, bebidas e sobremesas açucaradas, derivados de leite e lanches com elevada concentração de gordura. No Brasil, poucos estudos específicos sobre comportamento de consumo de casais sem filhos foram encontrados. Rios (2007), em sua análise psicanalítica sobre estes casais, destacou algumas categorias de consumo ao descrever suas pesquisas. Na descrição, os casais afirmaram aproveitar o tempo e a renda disponíveis para fazer viagens, ambas nacionais e internacionais, e fazer muitas refeições em restaurantes. Outro ponto destacado por Rios (2007) se refere à divisão de tarefas no lar. Segundo a autora, em todas as entrevistas foi mencionada uma divisão igualitária de tarefas, tendo um casal declarado que o homem, por vezes, assumia papéis tradicionalmente femininos, como o de cozinheiro. Ressalta-se, entretanto, que essa não é a realidade de todas as famílias brasileiras. Segundo dados do IBGE, em 2007, apenas 51,4% dos homens participavam das atividades

55 55 domésticas, enquanto no caso feminino, a participação era de 92%. Barros et al. (2008) entendem que essa divisão mais igualitária das atividades ocorre porque nestes casais ambos os cônjuges trabalham e, consequentemente, têm autonomia, reduzindo eventuais desigualdades de poder. Conforme Barros et al. (2008), o casal que opta por não ter filhos não está atrás da satisfação das gerações futuras, mas ao contrário, busca uma satisfação pessoal e no tempo presente e essa satisfação inclui a realização de seus desejos de consumo e de lazer. De acordo com os autores, de uma maneira geral, os casais sem filhos apresentam, proporcionalmente às outras formas de composição familiar, maior consumo de bens de consumo tais como geladeira, computador e celular, além de possuírem os domicílios com maior número de cômodos e banheiros per capita. Isso ocorre porque o rendimento médio per capita desses casais é maior do que de todas as demais composições familiares, o que os coloca no topo da pirâmide de renda do Brasil. (BARROS et al., 2008). Finalmente, Ely (2009) destacou o consumo de lazer destes casais. A autora relatou como, em suas entrevistas foram comuns as menções às atividades físicas, viagens, restaurantes, bares, cinema, teatro, shoppings, videogames e encontro com familiares e amigos. Dessa lista, viagens e restaurantes parecem os preferidos (ELY, 2009). A autora descreveu como seus entrevistados buscam planejar viagens internacionais anualmente e como atrelam essa possibilidade à liberdade ocasionada pelo seu estilo de vida. Os restaurantes, além de serem uma alternativa para os poucos alimentos mantidos em casa, também aparecem como fonte de lazer e entretenimento. Outros itens de consumo listados são relacionados a cuidados pessoais, como os serviços de personal trainer, nutricionista, dermatologista e tratamentos de beleza. Ao longo dos anos, os estudos que foram sendo realizados, acerca do consumo dos casais sem filhos, identificaram algumas categorias de produtos visadas por estes segmentos. As que apareceram mais frequentemente nos resultados das pesquisas estão identificadas na Tabela 7 abaixo. Na categoria entretenimento estão inseridas todas as atividades de lazer mencionadas, exceto restaurante, encontrado à parte.

56 56 Categorias Restaurante Entretenimento Bebida Alcoólica Carros Animais de Estimação Tabela 7: Resumo das categorias de consumo segundo os autores Autores Bloom & Bennett (1986); Douthitt & Fedyk (1988); Ambry (1993); Stephenson (1997); Paul (2001); Hwan Lee & Schaninger (2003); Rios (2007); Ely (2009) Bloom & Bennett (1986); Douthitt & Fedyk (1988); Ambry (1993); Paul (2001); Rios (2007) Ely (2009) Bloom & Bennett (1986); Ambry (1993); Paul (2001); Hwan Lee & Schaninger (2003) Bloom & Bennett (1986); Douthitt & Fedyk (1988);Ambry (1993); Paul (2001); Hwan Lee & Schaninger (2003) Ambry (1993); Hirschman (1994); Paul (2001) Mobília Bloom & Bennett (1986); Hwan Lee & Schaninger (2003) Cuidadoss Pessoais Bens de Consumo Douthitt & Fedyk (1988); Paul (2001); Ely (2009) Bloom & Bennett (1986); Douthitt & Fedyk (1988); Ambry (1993); Barros et al. (2008) Finalmente, outro importante fator discutido nos estudos se refere à necessidade de as empresas atentarem ao segmento. Richie (1991) explica que a família americana, cada vez mais, estará fragmentada, com diversas formas de composição diferentes da estrutura nuclear. Se o mundo de negócios não acompanhar a evolução e entender que representam verdadeiras tendências, abarcarão um segmento de consumidores cada vez menor. Somente aqueles com percepções realistas das mudanças demográficas e das alterações dos papéis da mulher e do homem serão capazes de atrair e reter clientes. Apesar do maior poder de consumo dos casais sem filhos, segundo Paul (2001), muitas empresas ainda não os identificaram como um segmento e acabam perdendo dinheiro e oportunidades, por enquadrá-los no mesmo grupo dos solteiros ou pais cujos filhos já saíram de casa. Segundo o autor: os profissionais de marketing não dão a devida importância aos casais sem filhos, quando desenvolvem campanhas para os casais como um todo. A renda discricionária desse segmento e seu padrão de consumo, assim como seu tamanho e crescimento, mostram como os casais sem filhos deveriam ser reconhecidos como uma oportunidade única de marketing.

57 57 Concluindo, segundo Bloom & Bennett (1986), o segmento composto por casais sem filhos apresenta diversas oportunidades, desde que os profissionais de marketing compreendam bem suas peculiaridades. O objetivo do presente trabalho é justamente contribuir com essa compreensão, ao buscar investigar o comportamento de consumo de casais que voluntariamente optaram por não ter filhos. O capítulo a seguir tratará da metodologia utilizada para tanto.

58 58 3 Metodologia A pesquisa exploratória busca descobrir idéias e percepções, a fim de alcançar uma compreensão maior sobre o contexto do problema (MALHOTRA, 2006). Para tanto, faz-se uso dos métodos qualitativos. Tais métodos podem ser usados para explorar áreas substanciais sobre as quais pouco se sabe. (STRAUSS & CORBIN, 2008, p. 24). Segundo Ostergard & Jantzen (2002), na pesquisa do consumidor, o humano é enxergado como um ser emocional em busca de novas experiências através do consumo. O consumo é visto como uma forma de alcançar significado na vida. Assim, o método de pesquisa sugerido é a entrevista em profundidade porque entende-se que o indivíduo será capaz de falar sobre suas experiências e emoções. Como o mundo do consumidor pode ser percebido a partir de uma construção social e [...] o comportamento do consumidor está diretamente ligado a seus valores, cultura e símbolos (SAUERBRONN & CERCHIARO, 2004, p.6), os métodos qualitativos aparentam ser os mais adequados para o estudo do consumo. Afinal, a pesquisa qualitativa busca entender as razões e motivações subjacentes (MALHOTRA, 2006). Segundo Strauss & Corbin (2008), muitas são as razões para o uso da pesquisa qualitativa, sendo que a mais importante é o teor do problema de pesquisa. O método qualitativo é ideal para compreender significados de experiências humanas, visto ser singular em sua capacidade de obter detalhes sobre [...] sentimentos, pensamentos e emoções (STRAUSS & CORBIN, 2008, p. 24). Assim, quando o objetivo da análise é complexo e de natureza social; e quando é importante a compreensão do contexto cultural em que o problema se encaixa, torna-se apropriada a pesquisa qualitativa (LIEBSCHER, 1998). Portanto, essa parece ser a abordagem mais apropriada para o presente estudo, que tem caráter exploratório. De acordo com Stebbins (2008), a abordagem exploratória é indicada quando há pequeno ou nenhum conhecimento científico sobre o tema estudado. Finalmente, o método selecionado para obter as informações foi a entrevista em profundidade (SAUERBRONN & CERCHIARO, 2004; MALHOTRA, 2006). Uma vez explicada a abordagem de pesquisa selecionada para a presente dissertação, no restante do capítulo serão abordados o delineamento do estudo, as perguntas da pesquisa e a descrição sobre a seleção das entrevistadas e sobre a coleta de dados. Finalmente, haverá

59 59 explicações sobre como o roteiro foi elaborado, como as entrevistas serão analisadas e quais são os principais desafios do método de pesquisa. 3.1 Delineamento da Pesquisa O presente estudo exploratório busca investigar o comportamento de consumo de casais que optaram por não ter filhos, buscando identificar oportunidades de negócios. Cabe ressaltar que o objetivo não é comparar o comportamento de consumo desses casais com o de outras composições familiares, mas contribuir com achados qualitativos que visem alcançar uma maior compreensão do consumo desses casais. Para tanto, além de perguntas abertas, quatro categorias de consumo foram exploradas mais profundamente, de modo que as entrevistadas descrevessem mais detalhadamente seu comportamento ou aspiração de consumo. São elas: alimentação (incluindo idas a restaurantes e compras de supermercado); viagens; carros e animais de estimação. Os três primeiros itens de consumo foram selecionados visto que, de acordo com a revisão de literatura, são as categorias para as quais os casais sem filhos destinam mais atenção e recursos (Tabela 7, p. 56). A seleção da categoria de animais de estimação se deve à percepção de que esses casais, muitas vezes, os consideram filhos substitutos (HIRSCHMAN, 1994). No Brasil, a proporção de casais sem filhos que possuem animais de estimação é grande. Conforme WSPA (2009), que realizou uma pesquisa encomendada pela Comissão de Animais de Companhia (Comac), a penetração de cães e gatos nos lares de casais sem filhos é de 43%. 3.2 Perguntas da Pesquisa Conforme Strauss & Corbin (2008), pergunta de pesquisa é a questão específica a ser abordada por uma pesquisa que [...] sugere os métodos a serem usados para coleta e análise dos dados. (p. 47). A pergunta da presente pesquisa exploratória é:

60 60 Como é o comportamento de consumo dos casais voluntariamente sem filhos? Para apoiar essa pergunta principal o estudo se propôs a analisar o contexto no qual esses casais estão inseridos. Assim, foram levantadas quais as motivações e resultados da decisão por não ter filhos. Ademais, também buscou-se responder às seguintes perguntas, elaboradas com o apoio da revisão de literatura: Como é o consumo de casais voluntariamente sem filhos para categorias específicas tais como: alimentação, viagens, animais de estimação e carros? Existem oportunidades de negócios para os casais que optam por não ter filhos? 3.3 Seleção das entrevistadas Alguns critérios de seleção foram adotados na escolha dos casais. Primeiramente, não foi exigido que esses casais estivessem unidos pelo laço do matrimônio, bastando que estivesse configurada a União Estável, ou seja, que ambos morassem juntos, com intuito de serem reconhecidos como família e que, entre eles, não houvesse nenhum vínculo de parentesco. Ademais, os casais deveriam ser heterossexuais. Apesar de uma grande proporção dos casais homossexuais optarem por não adotar (KNOEBEL, 1992), o presente estudo se limitou aos casais heterossexuais que decidiram não ter filhos. Também, apenas foram selecionados casais em que ambos, o homem e a mulher, trabalhassem e contribuíssem com o sustento do domicílio. Outro critério foi que os casais tivessem optado, voluntariamente, por não ter filhos. Conforme autores Carmichael & Whittaker (2007) e Lang (1991), existe uma distinção entre casais voluntaria e involuntariamente sem filhos. O último grupo abarca aqueles em que um ou ambos têm alguma impossibilidade de procriar (LANG, 1991). Já os casais voluntariamente sem filhos são aqueles que teriam condições biológicas para procriar, mas optam por não fazê-lo.

61 61 A opção por investigar casais voluntariamente sem filhos ocorreu devido ao entendimento que os involuntariamente sem filhos estariam investindo tempo e recursos para combater a dificuldade de ter filhos. Assim, apresentariam um comportamento de consumo peculiar e bastante distinto dos demais casais sem filhos. Como muitos casais não optam explicitamente por não ter filhos, mas adiam eternamente tal decisão (LANG, 1991), o requisito inicial de entrevistar aqueles que demonstravam certeza que jamais teriam filhos se mostrou frágil. Decidiu-se então selecionar casais que a princípio não queriam filhos e que não enxergavam mudanças nessa decisão em um horizonte futuro de tempo. Apenas foram entrevistadas as esposas, que são consideradas as que têm maior influência na decisão por não ter filhos (LANG, 1991). Ely (2009), em sua pesquisa exploratória com casais sem filhos, também apontou que o público feminino apresenta maior disposição para expor suas idéias sobre o tema da opção por não ter filhos. Além disso, as mulheres são consideradas as principais responsáveis pelas compras da família nos quesitos de alimentação (BELL e VALENTINE, 1997; CASOTTI, 2002; SOLOMON, 2002). Reportagens de Lima (2007), de Stefano et al. (2008) e de Santi (2008) também indicam que as mulheres são as responsáveis pelas decisões de compras das famílias de diversas categorias de produtos: viagens, supermercados, apartamentos e, até mesmo, carros. Ademais, a entrevista com apenas uma pessoa pode garantir maior fidelidade dos dados. A presença de uma terceira pessoa poderia ter distraído ou mesmo inibido a informante (BERENT, 1966). Conforme será melhor abordado no item de coleta de dados, a garantia de anonimato se mostrou de grande importância para a presente pesquisa. Com relação às variáveis demográficas, não houve restrições quanto à classe social nem quanto à faixa etária, assim como ocorrido nas pesquisas de Lang (1991) e Defago (2005). O objetivo foi analisar casos extremos por se entender que todos poderiam contribuir com informações valiosas para este estudo exploratório de casais sem filhos. Por fim, as entrevistas ocorreram nas cidades do Rio de Janeiro e de Niterói, não havendo qualquer restrição de bairro.

62 62 O acesso às entrevistadas ocorreu por conveniência, através de indicações da rede de contatos da pesquisadora e de comunidades virtuais na rede social Orkut. Deve ser ressaltada a dificuldade de se encontrar entrevistadas dispostas a participar. Muitas recusaram o convite por não se sentirem confortáveis conversando sobre o assunto ou por não terem a disponibilidade de ceder uma hora de seu tempo. Outra dificuldade enfrentada, para conseguir entrevistas, foi a relutância de colegas em perguntar aos seus conhecidos sem filhos se eles estariam dispostos a participar e se realmente se enquadravam no perfil de um casal que voluntariamente decidiu não ter filhos. Essa dificuldade já havia sido relatada por Lang (1991) em sua pesquisa. Segundo a autora, muitos consideram o tema delicado e estranho. Por outro lado, os que optaram por não ter filhos, algumas vezes, evitam comentar o assunto com seus conhecidos para minimizar a pressão social sofrida. Mesmo a rede social Orkut não foi uma boa fonte de contatos. Após ter divulgado a presente pesquisa nos fóruns das comunidades Eu não quero ter filhos e Não queremos filhos!, alcançando, no total, mais de 25 mil pessoas em todo o país, apenas treze demonstraram interesse em colaborar, das quais, apenas uma preenchia todos os requisitos. Cabe ressaltar que todas as treze voluntárias eram mulheres, confirmando, mais uma vez, a maior disposição do público feminino em falar sobre o tema. No total, foram realizadas dezessete entrevistas, das quais foram aproveitadas para análise quinze. Das duas restantes, uma não atendia aos critérios de seleção das entrevistadas e outra não pode ser concluída por falta de tempo da entrevistada. Segundo Gaskell (2004), o total de quinze é considerado um número adequado para pesquisa qualitativa. Essa quantidade já foi capaz de trazer um bom material para análise. As entrevistas duraram entre 56 e 89 minutos, o que está em conformidade com ensinamento de Malhotra (2006), segundo quem, uma entrevista pode durar 30 minutos ou mais de 1 hora. A diferença nas durações ocorreu devido à eloquência das entrevistadas. Em alguns casos, algumas categorias de consumo não se aplicavam, o que também contribuiu com o encurtamento de algumas entrevistas. Um breve perfil dos entrevistados encontra-se na Tabela 8, a seguir.

63 63 Para garantir o anonimato das entrevistas, os nomes utilizados são fictícios. Ademais, tempo de casada indica o tempo em que o casal mora junto, independente se são casados legalmente ou não. Todas as unidades de tempo estão em anos. Entrevistada Idade Idade do Marido Tabela 8: Breve Perfil das Entrevistadas e de seus Maridos Tempo de Convivência Escolaridade dela Valéria Pós graduação Escolaridade dele Terceiro Grau Completo Religião Católica não praticante Antônia Pós graduação Doutorado Não tem Fátima Pós graduação Segundo Grau Completo Alice ,5 Pós graduação Pós graduação Tânia Karla Débora ,5 Pós graduação* Terceiro Grau Completo* Terceiro Grau Completo** Renata Pós graduação Mariana Pós graduação Adeline Fabiana Pós graduação* Pós graduação Incompleta Católica não praticante Católica não praticante Moradia Laranjeiras Barra da Tijuca Humaitá Copacabana Pós graduação Não tem Lagoa Terceiro Grau Completo Terceiro Grau Completo Terceiro Grau Completo Terceiro Grau Completo Terceiro Grau Completo Terceiro Grau Completo Helena Doutorado Doutorado Eleonor Doutorado* Elza Terceiro Grau Completo Terceiro Grau Completo Terceiro Grau Completo Agnóstica Não tem Católica não praticante Não tem Espírita não praticante Católica não praticante Católica não praticante Católica praticante Não tem Botafogo Irajá Barra da Tijuca Humaitá Ilha do Governador Leblon Flamengo Jardim Botânico Niterói Íris Doutorado* Doutorado Não tem Copacabana * Fez duas faculdades ** Cursando a segunda faculdade e, em seguida, pretende fazer pós 3.4 Coleta de Dados

64 64 Conforme Malhotra (2006, p. 163), a entrevista é uma forma não estruturada e direta de obter informações. Além disso, como o emissor do relato é facilmente identificado, é possível aprofundar os diversos tópicos discutidos (MALHOTRA, 2006). A seleção deste método qualitativo de coleta de dados ocorreu por sua capacidade de proporcionar uma compreensão inicial do contexto do problema e por se tratar de um tema que pode ser considerado delicado, em que a privacidade é de extrema importância, tanto no processo, como para o resultado final. Assim, optou-se por entrevistas individuais, sendo garantida, além de completa confidencialidade da entrevista, um ambiente livre de pressões sociais. Todas as entrevistadas demonstraram se sentir confortáveis em expressar seus verdadeiros sentimentos e opiniões. Entretanto, tal método de pesquisa depende do entrevistador, que deve guiar a entrevista permitindo liberdade de resposta ao entrevistado, mas garantindo que os pontos do roteiro semi-estruturado sejam cobertos (GODOY, 1995; MALHOTRA, 2006). A inexperiência e timidez tiveram impacto nas primeiras entrevistas, mas foram mitigadas com a desenvoltura adquirida ao longo do período de entrevistas. Por outro lado, o fato da entrevistadora não ter uma opinião formada sobre o assunto de maternidade contribuiu para o estabelecimento de um clima amigável de conversa. Contribuiu, também, com a imparcialidade na análise dos resultados. Todas as entrevistas foram realizadas nos meses de abril a julho de O local foi escolhido conforme conveniência da entrevistada, sendo normalmente sua casa, seu trabalho ou uma lanchonete. Em um caso a entrevista foi realizada em um salão de beleza. Todas permitiram a gravação das entrevistas, que foram transcritas por uma profissional e conferidas pela pesquisadora. 3.5 Elaboração do Roteiro Um roteiro semi-estruturado (Apêndice I) foi elaborado para guiar as entrevistas. A construção do roteiro teve como base a revisão de literatura, o que está melhor explicado a partir do Quadro 1, a seguir.

65 Com porta ment o de Cons umo Motivação e Contexto Dados Demográficos 65 O pré-teste foi realizado com duas entrevistadas a fim de averiguar a clareza do roteiro. Ambas as entrevistas foram consideradas para análise. Foi possível perceber que, ao perguntar sobre as consequências da decisão de não ter filhos, que a palavra consequências estava sendo mal interpretada. As respondentes focaram nas consequências negativas, ao passo, que as positivas pareciam estar sendo esquecidas. Para minimizar esse efeito, tal palavra foi substituída pela palavra resultados que mostrou-se mais adequada deixando as respondentes à vontade para falar tanto de aspectos positivos quanto de aspectos negativos da decisão. Ao longo das entrevistas, pequenas alterações foram necessárias para a melhor compreensão do roteiro. Também, algumas perguntas foram inseridas, com base na importância que alguns temas ganharam nos discursos. Assim, foram inseridas perguntas sobre a participação do marido na decisão de não ter filhos e sobre a utilização do serviço de empregadas domésticas (ver perguntas número 8 e 13f no Apêndice I). Quadro 1: Construção do roteiro a partir da literatura pesquisada Perguntas Religião? Praticante? Referencial Teórico Bloom & Bennett (1986); Lang (1991); Basten (2009) Tempo de Casada Idade Onde mora Nível de instrução Carreira Profissional: Poderia resumir sua história profissional? Kerckhoff (1976); Bloom & Bennett (1986); Lang (1991); Ambry (1992); Heaton & Jacobson (1999); Carmichael & Whittaker (2007) Murphy & Staples (1979); Bloom & Bennet (1986); Lang (1991); Weston & Qu (2001); Hakim (2003); Defago (2005) Como foi o processo da decisão de não ter filhos? Acha que ainda pode mudar de opinião? Por que? Quais foram os resultados dessa decisão na sua vida (ou do casal)? Lang (1991); Weston & Qu (2001); Gillespie(2003); Gray (2003); Defago (2005); Carmichael & Whittaker (2007) Heaton & Jacobson (1999); Weston & Qu (2001); Carmichael & Whittaker (2007) Lang (1991); Paul (2001); Gillespie(2003); Gray (2003); Defago (2005); Carmichael & Whittaker (2007) Como você descreve o consumo Bloom & Bennett (1986); Douthitt &

66 Categorias de Consumo 66 Perguntas típico de um casal sem filhos? Em que costumam gastar mais? E em que gastam menos? Por que? Referencial Teórico Fedyk (1988); Ambry (1993); Stephenson (1997); Paul (2001); Hwan Lee & Schaninger (2003) Alimentação Bloom & Bennett (1986); Douthitt & Fedyk (1988); Ambry (1993); Stephenson (1997); Paul (2001); Hwan Lee & Schaninger (2003); Rios (2007); Ely (2009) Viagens Carro Animal de Estimação Bloom & Bennett (1986); Douthitt & Fedyk (1988); Ambry (1993); Paul (2001); Rios (2007); Ely (2009) Bloom & Bennett (1986); Douthitt & Fedyk (1988);Ambry (1993); Paul (2001); Hwan Lee & Schaninger (2003) Ambry (1993); Hirschman (1994); Paul (2001) 3.6 Descrição e Análise das entrevistas Na pesquisa qualitativa, a etapa seguinte à coleta de dados é a organização, interpretação e análise dos dados. Tais procedimentos, normalmente, são denominados de codificação e consistem na elaboração de categorias, na redução dos dados e na verificação da existência de relacionamentos entre as categorias. O processo de análise e codificação deve ser fluído e dinâmico (STRAUSS & CORBIN, 2008) com objetivo de procurar sentidos e compreensão (GASKELL, 2004). Para a presente dissertação optou-se por utilizar a análise de discurso, que pressupõe que o discurso tem importância central na vida social (GILL, 2004). A análise de discurso apresenta quatro temas fundamentais. O primeiro é uma preocupação com o discurso em si. O discurso não é considerado um meio, mas um fim em si, visto os analistas estarem preocupados com seu conteúdo e com sua organização. O segundo tema é uma visão da linguagem como construtiva e construída, afinal o discurso implica em escolhas.

67 67 Ele pode ser composto de várias formas, com vários recursos linguísticos distintos. Do mesmo modo, os textos constroem a vida social. O tema seguinte é uma ênfase do discurso como forma de ação, já que o discurso é entendido como uma prática social. Ele sempre depende do contexto e o analista, além de analisar o discurso, deve avaliar o contexto interpretativo para compreender como o discurso é colocado: se como desculpa, justificativa, pedido, dentre outros. Por fim, o último tema é uma crença na capacidade retórica do discurso, ou seja, os analistas compreendem que todo discurso é elaborado de forma a ser persuasivo (GILL, 2004). A fim de realizar a análise de discurso, algumas das etapas propostas por Gill (2004) foram seguidas. A primeira é a imersão do pesquisador nas transcrições das entrevistas realizadas. O objetivo é relembrar e analisar detalhes sempre questionando a construção e a organização do discurso, levando em consideração os seus quatro temas fundamentais. Devem ser examinadas as formas que as atitudes e argumentos se desenvolvem no discurso, assim como as contradições e racionalizações presentes (GASKELL, 2004). Também devem ser analisadas comparativamente as diferentes respostas. O pesquisador precisa de uma forte base teórica, criatividade e bom senso (GOLDENBERG, 2005). Em seguida algumas categorias foram elaboradas de modo que as passagens dos relatos pudessem ser reagrupadas em conformidade com essas categorias. Cabe ressaltar que a categorização deve ser feita de maneira abrangente para abarcar instâncias limítrofes (GILL, 2004). Assim, as categorias foram elaboradas com base na revisão de literatura e, também, nos dados obtidos. São as categorias: (1) Breve Perfil; (2) Relação com o trabalho e com a casa; (3) Motivações para a decisão; (4) Participação do homem na decisão; (5) Resultados e conflitos; (6) Aspectos gerais do consumo; (7) Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação; e (8) Oportunidades de negócios para casais sem filhos. No capítulo quatro, a seguir, todas as entrevistas serão descritas conforme as categorias. Uma vez terminada a categorização, passou-se à análise, cujo objetivo é a busca por padrões, diferenças e contradições nos dados. Gill (2004) destaca, ainda, a necessidade de se examinar não apenas o discurso, mas aquilo que não é dito, o silêncio. O analista deve fazer todo o processo de análise considerando o contexto no qual o discurso foi proferido. A etapa de

68 68 análise, com a correlação das categorias, interpretação dos resultados e comparação com a teoria, será realizada no capítulo cinco. 3.7 Desafios do método Alguns desafios do método devem ser destacados. Há uma forte dependência da figura do entrevistador, sendo que os entrevistados podem ser influenciados em suas respostas (MALHOTRA, 2006). A personalidade e os valores do entrevistador podem interferir e contaminar as respostas dos indivíduos. Com isso, o pesquisador precisa ser dotado de respeito, flexibilidade, criatividade, capacidade de demonstrar compreensão e simpatia por seus entrevistados, além de disposição de ficar calado e ouvir, não exprimindo suas opiniões, por mais contrastantes que sejam (GOLDENBERG, 2005). É essencial que seja estabelecido um ambiente amistoso e de confiança. Ademais, os resultados dependem diretamente dos relatos dos contribuintes que podem ser incompletos, confusos ou mesmo inverídicos. Conforme Goldenberg (2005), as entrevistas dependem do que o entrevistado deseja revelar, ocultar e da imagem que projeta de si e dos demais. A autora lembra, ainda, que a memória é seletiva e as lembranças, não são verdadeiras ou falsas, mas contam o passado através do ponto de vista de quem o vivenciou. Ressalta-se, ainda, que a interpretação dos achados é difícil e, por sua natureza, subjetiva (MALHOTRA, 2006). O pesquisador deve ter capacidade e habilidade de articular teoria com dados empíricos (GOLDENBERG, 2005). Por fim, como todos os outros métodos qualitativos, os resultados alcançados não são generalizáveis (MALHOTRA, 2006). A sensação de dominar profundamente o seu objeto de estudo o faz [o pesquisador] esquecer que parte bem reduzida da totalidade está representada nos dados. (GOLDENBERG, 2005, p.59). Assim, os pesquisadores devem combater a vontade de generalizar as descobertas que se referem a casos particulares.

69 69 4 Descrição das Entrevistas A presente seção trará uma descrição resumida das entrevistas. Com base no roteiro e no decorrer das entrevistas, foram elaboradas algumas dimensões com o intuito de facilitar a descrição, auxiliar na comparação e na análise dos dados obtidos. Algumas categorias estão mais desenvolvidas em algumas respondentes do que em outras. Isso se deve exclusivamente à eloquência de cada uma. As categorias são: Breve Perfil Neste item, buscou-se compilar os dados demográficos apresentados, incluindo idade, nível de escolaridade, tempo que o casal mora junto, bairro da moradia e religião. Relação com o trabalho e com a casa Através desta categoria buscou-se entender como a entrevistada avalia sua carreira profissional, como é sua rotina semanal e se costuma viajar a trabalho. Do mesmo modo, foi indagado como elas enxergam sua relação com a casa. Motivações para a decisão Nesta categoria buscou-se compreender quais foram os motivos para a decisão de não ter filhos. Foi perguntado, também, se ela considera que poderia mudar de opinião e em quais circunstâncias isso ocorreria. Participação do homem na decisão Também tentou-se averiguar como a entrevistada enxerga a influência que o marido exerceu na decisão de não ter filhos. Resultados Através desta categoria, buscou-se entender o que a entrevistada considera como as principais consequências, tanto positivas quanto negativas da decisão. Aspectos gerais do consumo Nesta etapa, pediu-se que a entrevistada descrevesse como enxerga o comportamento de consumo de casais sem filhos.

70 70 Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Neste item procurou-se analisar o consumo da família sem filhos, a partir de categorias previamente escolhidas, conforme explicado na metodologia. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Finalmente, buscou-se averiguar quais produtos e serviços as entrevistadas consideram apropriados, ou não apropriados, aos casais sem filhos. 4.1 Entrevistada 1 - Valéria Breve Perfil Médica com pós-graduação. Ela tem 33 anos e o marido 35. São casados há sete anos e residem em Laranjeiras. Ambos são católicos, mas não praticantes. Relação com o trabalho e com a casa Descreve a relação com o trabalho como sendo muito tranquila e prazerosa. Trabalha todos dias pela manhã, mas apenas um dia pela tarde. Não costuma viajar a trabalho, mas frequenta alguns Congressos ao longo do ano. Atualmente sente uma conexão mais próxima com a casa visto ter despedido a empregada e assumido alguma de suas tarefas, como lavar louça e roupa. As demais atividades são executadas por uma diarista, duas vezes na semana. Montou essa nova estrutura porque sentiu que as coisas estavam fugindo ao seu controle e, como são apenas duas pessoas na casa, acha tranquilo cuidar dessas novas tarefas. Motivações para a decisão Nunca quis ter filhos. Conta que, com o passar do tempo, a relação a dois se mostrava muito prazerosa e não queria mudar essa realidade. Relata, também, como a experiência de amigos e de irmãs demonstrou o trabalho ocasionado pelos filhos, além das mudanças financeiras e no relacionamento. Assim, ela, que já não tinha vontade, foi tendo mais certeza da decisão. Outro ponto destacado se refere às incertezas a respeito do filho, o medo de se arrepender da decisão e o medo da responsabilidade envolvida. Diz:

71 71 a gente não sabe quem é que vem. É um pacotinho que vem com um quesito surpresa. Não sei que tipo de pessoa ele pode se transformar. E tudo na sua vida você pode se arrepender e fazer de novo. Marido não foi bom, você casa com outro. Profissão não foi boa, você faz outra faculdade. Mas filho você não devolve pra ninguém. É muita responsabilidade. Considera a cidade muito violenta e gosta de não ter a preocupação com a segurança e o bem estar do filho. Afirma que tem uma vida sem compromisso e que sabe que filhos não permitiriam isso. Não gosta da idéia de ter que trabalhar mais para sustentar o filho, nem de ter que lidar com uma babá. Considera muito confortável sua realidade de não ter filhos, mas ainda ter tempo para mudar de idéia. Agora eu estou numa posição muito confortável de não querer, mas posso ter. Pelo menos minha ginecologista me deu até os 38. É bem confortável. Agora dizem que nosso relógio biológico em algum momento dá aquela ultimato... Eu não tive. Afirma que poderia mudar de idéia porque acredita que no futuro nada é certo. Se eu me mudasse pra um lugar mais calmo, com baixo custo de vida, estivesse ganhando muito bem, mas também tivesse muito tempo livre, talvez eu me arriscasse a ter filhos. Participação do homem na decisão Afirma que quando eram mais novos, o marido quis ter. Mas, ele percebeu, pela experiência de amigos e parentes, o trabalho que era proporcionado e foi mudando de opinião, achando que seria melhor não ter. Afirma que ele também tinha a preocupação de não mudar o relacionamento a dois. Resultados e conflitos Considera que eles são muito próximos, que vivem um para o outro, o que não seria possível com filho. Mas diz temer que algo aconteça com um e o outro fique sozinho. Entretanto, logo em seguida, relata ter uma família grande e passa a afirmar que não tem medo de ficar só. E, por outro lado, ela também não imagina que o filho iria obrigatoriamente cuidar dela. Conclui afirmando ter dificuldade de se imaginar em tão longo prazo. Afirma não sofrer recriminação ou pressão dos familiares nem dos amigos, visto que todos já entenderam se tratar de uma decisão tomada. Mas, acha que a opinião pública é de que os

72 72 casais sem filhos são egoístas. Afirma, entretanto, que acha hipócrita alguém ter filho para não ser considerado egoísta. Considera que ter filho deve ser algo prazeroso para o casal e não um fardo imposto pela sociedade, que outras pessoas cuidam, como a sogra, madrinha e babá. Vê como muitas de suas pacientes se arrependeram de ter filhos. Prefere se arrepender de não ter a se arrepender de ter. Sobre os resultados positivos da decisão, menciona: não ter hora para chegar em casa, ter liberdade, poder dormir a noite toda, não ter preocupações com a saúde e segurança do filho, não ter que dividir o marido e não ter que lidar com uma babá. Sobre babás, fala só de problemas: representam uma despesa maior, passam a realidade delas para os filhos e podem causar ciúmes devido à presença de outra mulher na casa. Aspectos gerais do consumo Diz que casais sem filhos gastam mais consigo mesmos, indo mais a restaurantes, teatros e cinema. Podem viajar mais e não precisam escolher lugares que sejam propícios para crianças, como a Disney. Por outro lado, aqueles que optaram em ser pais, de uma forma geral, abrem mão deles mesmos, consumindo menos produtos ou serviços pessoais e restringindo sua vida social. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Sobre a alimentação, relata que almoça quase todos os dias em casa. Então, come o que a diarista prepara ou faz um sanduíche. Conta que, como a empregada vai apenas duas vezes na semana, não é possível armazenar comida para a semana toda. Então, costumam pedir frequentemente comida em casa, tudo besteira, como pizza..., ou vão a restaurantes. Quase todos os dias, à noite, e nos finais de semana, eles se alimentam dessa forma e, devido à frequência, restaurantes mais caros são selecionados uma vez por semana apenas, para equilibrar o orçamento. Os critérios essenciais na escolha do local são a qualidade e a ausência de fila. Conta que se recusa a esperar em fila para pagar alguma coisa. Afirma que a presença de crianças pode incomodar se chorarem e forem mal criadas. Quando isso acontece, ela muda de mesa porque o objetivo é ter um momento em que possa conversar tranquilamente com o marido. Normalmente quem decide o local em que vão é ela. Homem é um ser muito indeciso. Destaca que adoram comer e, por isso, vivem de dieta, dosando o

73 73 colesterol. A gente veio ao mundo a passeio. Como curtimos muito, temos sempre que segurar. As compras de supermercado são normalmente realizadas pela internet. O critério fundamental é disponibilidade de entrega e a rapidez do serviço, ou seja, a conveniência. Conta que eventualmente gosta de visitar o mercado para checar as novidades. Destaca que rotineiramente eles compram uísque, mas só o marido bebe. Ambos consomem apenas cervejas importadas. Se eu tivesse filho, ia ter que tomar SKOLL. Sobre viagens, relata que o casal, uma vez por ano, faz uma viagem internacional longa, para conhecer e explorar locais com alguma conotação histórica. Como tende a ser cansativo, em seguida à viagem, passam uma semana em algum resort no Brasil, para relaxar. Eventualmente, viajam para cidades próximas nos finais de semana. Relata que só viaja de classe executiva e fica em hotéis cinco estrelas. É um luxo que a gente pode se dar por não ter filhos. Normalmente, quem decide o roteiro é ela. Na categoria de carros, relata que o casal possui dois carros. Os critérios adotados são a potência do motor, não chamar atenção no Rio de Janeiro e não ser muito caro. O carro dela é o Focus sedan e o dele é o Focus hatch. Como o marido gosta muito de carros, quem decide os modelos costuma ser ele. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Relata que o número de casais sem filhos está aumentando. Afirma ler reportagens sobre isso, mas ainda considera que a opinião pública seja de que esses casais são egoístas. Acha que as pessoas tendem a ficar incomodadas com essa decisão e, assim, acredita que um marketing direcionado aos casais sem filhos poderia ser perigoso. Entretanto, afirma que gosta da idéia de existirem produtos e serviços direcionados a esses casais. Cita que leu sobre uma pousada que não aceita crianças e relata como se interessa em conhecê-la. Mas, repetidas vezes, faz a ressalva de que teme que isso seja interpretado como uma forma de discriminação.

74 Entrevistada 2 -Antônia Breve Perfil Jornalista, com pós-graduação, casada há 12 anos. Tem 41 anos de idade e o marido 46. Residem na Barra da Tijuca. Ambos são católicos, mas não praticantes. Relação com o trabalho e com a casa Trabalha de casa, em sua própria empresa. Segue uma rotina semanal que descreve como intensa. Não é raro trabalhar mais de dez horas por dia e, a cada dois meses, faz viagens a trabalho. No tempo livre faz aula de Pilates e caminha com o cachorro. Tem uma diarista duas vezes na semana e nos demais ela realiza algumas atividades domésticas como varrer e lavar louça. Destaca que divide bem a rotina de realizar as tarefas da casa e do trabalho. Aproveitar bem o tempo é uma preocupação. Motivações para a decisão Nunca teve um lado maternal ou interesse por crianças e pelo universo infantil. Descreve as atividades relacionadas às crianças como sendo chatas e enlouquecedoras. Relata ser filha atemporal, com irmãos 18 anos mais velhos, e acredita que, por ter sido criada no meio de adultos, teve um lado infantil pouco desenvolvido. Ademais, ela conta que não teria ajuda da mãe e da sogra que já eram idosas quando eles oficializaram que não iriam ter filhos. Essa falta de infra-estrutura contribuiu com a decisão. Também colaborou o fato de serem independentes, de gostarem de viajar, de passar finais de semana fora e não quererem ser restringidos pelos filhos. Destaca, contudo, que o que mais pesou na decisão foi a falta de vontade e de paciência em ser mãe. Entretanto, conta que com o cachorro ela é maternal. Inclusive, a pesquisadora presenciou um momento em que o cachorro chorava e ela o pegava no colo para dar comida na boca. Destaca que não ter filhos sempre foi uma decisão muito consciente e que, quando eles se mudaram para Barra, eles transformaram os quartos extras do novo apartamento em escritórios. Não há espaço para filhos. Também destaca que considera que nessa decisão, tende a prevalecer a vontade da mulher, porque ela é quem cuida.

75 75 Participação do homem na decisão O marido é professor universitário e costuma viajar frequentemente a trabalho, o que também contribuiu com a decisão. Relata que ele também nunca quis ter filhos e que não tem paciência para o universo infantil. Resultados e conflitos Não sabe se um dia vai se arrepender. Sabe que terá uma velhice solitária, mas considera um preço a se pagar pela decisão de não ter filhos. Relata, entretanto, que não enxerga no filho a pessoa que vai cuidar dos pais. E, como se considera muito independente, acha que não vai se frustrar. Conta que sofreu pouca pressão de familiares para ter filho, mas que desde cedo colocou os limites e esclareceu que era uma decisão. Como principais resultados positivos, destaca a liberdade de poder viajar e a questão do orçamento. Aspectos gerais do consumo Relata que casais sem filhos consomem mais lazer, vão mais a restaurantes, cinemas e teatros e consomem mais livros, DVDs e viagens. Conta que, no caso específico deles, com o passar dos anos, ficaram mais seletivos, escolhendo locais com conforto, mas não necessariamente luxo. Tendem a utilizar frequentemente o serviço de entrega em casa, como para compras de supermercado e farmácias. As contas são pagas pela internet. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Durante o dia, costuma comer a comida que a diarista prepara e congela. À noite realiza um lanche rápido. Prefere essa rotina porque não gosta de cozinhar e não quer perder tempo tentando. Destaca que tem preocupação com alimentação saudável e que bebida alcoólica é eventual. Por conta da falta de tempo, a ida a restaurantes tem sido eventual. Quando vão, selecionam locais próximos, de boa qualidade, sem fila, sem música ao vivo e sem tumulto. Não gosta de pedir comida em casa porque não gosta da aparência e qualidade da comida. As compras são feitas pela internet ou pelo telefone e ela é a responsável. O principal critério é a qualidade. As frutas são compradas no Hortifruti e as carnes e frios no Zona Sul porque os

76 76 produtos são frescos, de melhor qualidade e aparência. Apenas material de limpeza e outros produtos, como biscoito e iogurte, são consumidos de acordo com preço, na Wal-Mart. Uma vez ao ano fazem uma viagem internacional. O destino tende a ser selecionado em conjunto, com base no tempo e no orçamento disponíveis. O hotel é escolhido com base em sua localização central, no conforto e na tarifa. Costuma viajar nacionalmente com bastante frequência e o critério para pousadas e resorts é o equilíbrio entre conforto e tarifa. Como ambos têm muito trabalho, o tempo é um elemento crucial nas viagens. Afirma não ter atração por carros e não tem vontade de ter um. Como trabalha em casa e faz compras pela internet, não tem necessidade de ter um carro. Quando precisa, faz uso de táxi. Já o marido adora carros e optou por comprar um BMW. Adora cachorros. Conta que seu sonho é morar em uma casa grande para ter vários cachorros. No apartamento em que mora, tem apenas um, por quem diz ser apaixonada. Descreve que os gastos com o animal são para vacinação, remédios, ração e brinquedos, mas que não há excessos. Entretanto, relata que já teve que substituir mais de 15 almofadas que o cachorro destruiu. Conta que o marido também adora o cachorro, mas não ajuda a cuidar. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Considera que há mais serviços específicos para os homossexuais do que para casais sem filhos. Mostrou entusiasmo em conhecer pousadas e hotéis que não aceitem crianças. Acha que as crianças podem incomodar nestes locais, especialmente quando são mal educadas. Destaca também que considera o mercado de cachorro pouco desenvolvido no Brasil visto serem poucos shoppings e pousadas que aceitam cachorros. 4.3 Entrevistada 3 - Fátima Breve Perfil Arquiteta, pós graduada pela Coppe. Tem 36 anos e seu marido 38. Moram no Humaitá, já estão casados há dez anos. Ambos são católicos, mas não praticantes.

77 77 Relação com o trabalho e com a casa Relata trabalhar muito. Tem uma rotina de oito horas diárias e ainda desenvolve alguns projetos em casa no final de semana. Descreve gostar muito do que faz e que a rotina foi opção sua, mas às vezes a considera muito pesada e exagerada. Diz gostar do tempo que passa em casa, apesar de ser pouco. Por conta da rotina, afirma cuidar pouco do lar. Motivações para a decisão Relata, repetidas vezes, que não se trata de uma decisão fechada, mas uma forte tendência. Nunca teve o sonho de ser mãe e sempre foi mais ligada a bichos. Considera que filho representa uma responsabilidade muito grande e que tem receio disso. Ela diz: Eu tenho medo dessa coisa. Você assumir uma coisa pelo resto da vida. Durante anos. Entendeu? Isso me assusta um pouco. Conta se tratar de uma responsabilidade grande por uma coisa que não é uma vontade tão grande assim. Considera ter filho uma coisa natural da vida e que todo mundo tem. Mas diz ter começado a questionar que pode não fazer o que todo mundo faz. Também não gosta da idéia de ter que deixar de fazer coisas que sente prazer para poder se dedicar ao filho. Não quer perder a liberdade de fazer as coisas como quer e na hora que quer. Conta que nem ao marido precisa dar satisfações. Diz: É muita liberdade. [...] Isso eu prezo muito. Sabe, por conta das experiência de amigas que são mães, como filho prende e não se anima a passar por isso de não ter muito a vida. Conta que tem um cachorro que supre o lado afetivo e que para ela e para o marido já está suficiente. Inclusive, relata como o cachorro já prendeu por terem mais dificuldade de viajar. Imagina a criança. Não poderiam resolver de uma hora para a outra viajar ou sair. Conta que seria necessário todo um esquema e que isso seria muito cansativo. Também relata como seria necessário um planejamento financeiro, visto que filhos representam grandes despesas. Considera que o trabalho tem muita relação com a decisão, visto não saber como encaixaria uma criança em sua rotina, que, a princípio, não está disposta a mudar. Isso é agravado por saber que a mãe é a principal responsável pelos filhos. Diz: Se eu tiver, eu vou querer cuidar.

78 78 Então vai prejudicar um pouco a questão do trabalho.. Mas, quando questionada como seria se ela não trabalhasse, ainda assim diz não saber se teria filhos. Considera que pode mudar de opinião. Conta que pode se cansar da rotina intensa de trabalho e que, às vezes, pondera o porquê trabalha tanto. Ela conta que, hoje, está muito satisfeita, mas que um dia, o trabalho pode não ser tão instigante. Participação do homem na decisão Relata que se o marido quisesse muito, ela ponderaria ter filhos. Mas esse não é o caso. Considera que, como ele acompanhou o sobrinho, pôde perceber de perto o que representa ter filhos e como se pode ficar privado de muita coisa. Conta que normalmente é a mulher que puxa o assunto sobre filhos. Como nem ela, nem ele puxam, os dois estão muito satisfeitos. Resultados e conflitos Sofre muita pressão do pai, que teme que a família, que já é pequena, acabe. Mas conta que não se deixa abater porque sabe que ela é quem seria responsável por cuidar. Também tem receio de não ter ninguém para cuidar dela quando for idosa. Relata, entretanto, que diversas amigas não cuidam dos pais e, portanto, não considera que filho seja uma garantia. Outro ponto abordado foi o receio de se arrepender. Ela conta que é uma decisão difícil e, especialmente para a mulher, definitiva. A mulher tem prazo. Ela não gosta da sensação de estar chegando no momento decisivo. Ou é agora ou nunca. E, o medo de se arrepender, talvez seja um motivador para ela mudar de opinião sobre ter filho. Por outro lado, os resultados positivos são: liberdade, poder se dedicar à profissão, poder tomar por impulso decisões de onde ir ou o que fazer e ter mais dinheiro. Aspectos gerais do consumo Relata que casais sem filhos costumam a gastar mais com lazer. Eles vão mais a bares, restaurantes e pousadas mais sofisticados. Também, tendem a ter mais tempo e dinheiro para cuidar de suas casas. Destaca que, no seu caso específico, o consumo cultural é intenso. Gastam muito com shows, teatros e cinemas.

79 79 Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Durante a semana, por conta do trabalho, almoça fora todos os dias. À noite, por falta de tempo, não cozinha. Costuma preparar algo rápido, como sanduíche, ou consumir congelados, que destaca serem de marcas de boa qualidade. Não é comum irem a restaurantes durante a semana, mas quando vão, este possui um papel mais prático e não de lazer. Já no final de semana, adora frequentar restaurantes porque, como é arquiteta, aprecia ver o ambiente, o som, a luz, enfim, explorar locais novos. Conta que é responsável por realizar as compras de supermercado e que as faz por telefone, por conta da praticidade. Sabe que paga mais caro, mas prefere não perder no supermercado o tempo que poderia dedicar ao seu trabalho. Mas, eventualmente vai a mercados para comprar algo que realmente queira escolher e checar as novidades. Descreve que as principais atividades de lazer da família são relacionadas à música, viagem e restaurante. Sobre as viagens, ela e o marido escolhem juntos os destinos. Por questões financeiras, não fazem uma viagem internacional há quatro anos. Entretanto, a cada três meses, em média, fazem uma viagem curta de final de semana. Não gosta de viajar em feriados por causa da confusão e os critérios para escolha de pousadas são qualidade, preço e localização. Conta que não precisa ser cinco estrelas, mas tem que ter conforto. Relata que gosta mais de carro do que o marido. A família tem um carro que é mais usado por ela, que trabalha mais longe. O marido tinha um carro que ficava muito parado e dava muitas despesas, como estacionamento e seguro. Com isso resolveram vender. Conta que se não precisasse tanto do carro para ir ao trabalho, venderia para utilizar o dinheiro em algo que apreciasse mais, como viagens. Conta que tem um cachorro, que é considerado o filho da casa. O consumo relacionado ao cão é de banho, pet shop, ração, vacinas e brinquedos. Considera que não há nenhum consumo extravagante. A única coisa diferente que ela destaca é que ele dorme na cama deles. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Neste item, ela relatou não perceber nenhum tipo de oferta específica. Menciona que já frequentou hotéis onde não viu nenhuma criança e achou interessante porque o ambiente fica

80 80 mais silencioso e romântico. Enxerga valor nesse tipo de serviço, mas afirma que não deixaria de ir a algum lugar porque tem crianças. Ela não se incomoda em conviver com crianças. Pelo contrário, ela diz gostar muito delas. Apenas não pretende ser mãe. Diz, inclusive, que não costuma ter qualquer tipo de problema porque os horários em que frequenta restaurantes e bares não coincidem com os horários das crianças. Destaca que considera o mercado de animal de estimação pouco desenvolvido. No Rio, por exemplo, são raros os locais que permitem a entrada de cachorros. Conta que gostaria que fosse diferente porque não gosta de deixar seu cão em casa sempre. 4.4 Entrevistada 4 - Alice Breve Perfil Administradora, com pós-graduação. Ela e o marido têm 30 anos, são casados há 1 ano e meio e moram em Copacabana. É católica, mas não pratica e ele não tem religião. Relação com o trabalho e com a casa Não considera a relação com o trabalho boa porque, apesar de gostar do que faz, trabalha muito. Conta que trabalha aproximadamente doze horas por dia e em alguns finais de semana e feriados. Além disso, costuma viajar toda semana a trabalho. Relata que essa intensa carga de trabalho está começando a afetar sua saúde. Por conta disso, pensa em abrir um negócio para ter um pouco mais de liberdade e maior controle do próprio tempo. Por outro lado, descreve a relação com a casa como sendo muito prazerosa. Não tem muito tempo para cuidar da casa e por isso tem ajuda de uma diarista duas vezes por semana. Motivações para a decisão Relata que como ela e o marido trabalham muito, eles não conseguem imaginar um filho encaixado nas suas rotinas. Conta que ser mãe não é seu sonho, não é uma coisa que ela queira muito, mas a decisão por não ter filhos ainda não é definitiva. Diz ter uma preocupação com a questão da idade, que sua ginecologista informou que após os 35 anos não é bom ter o primeiro filho e, então, ela tem cinco anos ainda para resolver definitivamente.

81 81 Fala, também, que como sua tia teve um filho, ela teve a oportunidade de ver de perto o trabalho que uma criança pode proporcionar, não apenas no dia a dia, mas em viagens também, que é um de seus lazeres preferidos. Conta como acha interessante locais em que se pode deixar o filho com um recreador para a mãe poder aproveitar o dia. Porque eu acho assim, que chega uma hora que deve ser tão cansativo filho, que você, tipo assim, você quer ter um descanso também do filho. Da rotina de cuidar do filho, né. Não sei. Acho que no meu caso, eu teria essa vontade de ter assim um descanso disso, né. E aí, enfim, não sei como... Compartilha ainda que tem um problema na coluna e que, apesar de o médico ter comunicado que uma gravidez não seria um problema, ela tem receio de como seria carregar a criança no colo. Mas destaca que a principal razão para não ter filhos é a dificuldade de conciliar o trabalho com a maternidade. Relata que um colega de trabalho está passando por essa situação e que pode ver como isso está afetando sua carreira profissional, visto que ele tem que sair mais cedo do que é culturalmente aceito pela empresa. Conta que outro complicador é não ter com quem deixar a criança, já que a tia mora em Teresópolis e os sogros são idosos. Participação do homem na decisão Conta que o marido sempre afirmou não querer ter filhos. Entende que ele sente medo de como vai se tornar a vida deles com o filho, medo da responsabilidade de criar uma pessoa. Mas acha que a decisão dele também não é definitiva. Resultados e conflitos Conta que sofre pressão de todos os lados: parentes, amigos e vizinhos- todos questionam quando terá filhos. Considera isso muito inconveniente. Ela costuma desconversar porque não se trata de um assunto bem resolvido. Relata: A pressão das pessoas é enorme. Porque assim, não sei, parece quase um crime você passar pela vida e não ter um filho. Acho normal passar pela vida e não ter filho. Tenho várias amigas que não tiveram, algumas casadas, outras não, e assim, elas são super felizes. Não tem nada de errado com elas. Menciona que outro aspecto negativo é imaginar a velhice sem ter alguém para te dar apoio. Percebe como o apoio que ela o marido dão aos sogros é importante e como teme não ter o mesmo quando estiver mais velha.

82 82 Por outro lado, ela cita os aspectos positivos de não ter compromisso, de ter liberdade para decidir sair ou mesmo viajar quando quiser e de não ter os enormes gastos com os filhos. Aspectos gerais do consumo Considera que casais sem filhos podem morar em locais melhores, terem uma casa arrumada e bem decorada. Descreve que eles saem mais para jantar em lugares bons e que viajam muito. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação A diarista prepara a comida para a semana e de sexta a domingo costumam ir a restaurantes. Assim, procuram lugares não muito caros, exceto em ocasiões especiais. Normalmente frequentam os mesmos lugares. Destaca que buscam locais sem filas, onde haja lugar para estacionar, bom atendimento, boa comida e proximidade. Frisa que se o atendimento for realmente bom, se animam a voltar. As compras de supermercado são feitas presencialmente pelos dois e o principal critério é o preço. Entretanto, relata que as frutas, legumes e verduras são compradas, semanalmente, no Hortifruti e os outros alimentos são comprados, periodicamente, no Zona Sul. Descreve este mercado como sendo uma experiência prazerosa, já que o atendimento é bom, o lugar é arrumado e bonito, há variedade e novidades. Diz gostar de ter opções, mesmo que não compre. Apesar de demonstrar preocupação com o preço, diz não se importar em pagar mais para ter essa experiência. Frequenta também o Mundial, mensalmente, para adquirir material de limpeza. Neste caso, descreve o local como sendo destinado ao público de baixa renda, excessivamente cheio, sem variedade e o atendimento não é bom. Mas ela encara,[...] porque vale a pena o preço. Conta que um dos lazeres preferidos da família é viajar. Escolhem o destino consensualmente e utilizam a internet para buscar hospedagens que apresentem boas tarifas e sejam bem avaliadas nos sites. Destaca a necessidade por conciliar tempo e dinheiro para organizar uma viagem. Anualmente fazem viagens internacionais e, a cada bimestre, fazem viagens curtas de final de semana.

83 83 Relata não ter muito interesse por carros, mas que se marido adora. No momento, eles estão poupando dinheiro para conseguir montar um negócio próprio. Então, têm um carro, modelo Gol 1000, que é dele. Ela vai de ônibus para o trabalho porque é perto e não compensaria pagar estacionamento. Conta que, pelo mesmo motivo, o marido também se locomove por transporte público e, então, o carro só é usado nos finais de semana. Conta que não tem animal de estimação, mas está muito interessada em ter um cachorro. Ainda não tem porque considera o apartamento pequeno. Quando tiver uma área de serviço maior, vou querer um [cachorro] mesmo trabalhando muito. Que eu gosto muito. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Considera que já existem alguns produtos e serviços que atendam algumas necessidades de casais sem filhos. Cita o caso de pousadas e hotéis, onde ela já se hospedou, que não aceitam crianças e proporcionam um clima romântico para o casal. Também gosta do cantinho para deixar a criança em restaurantes, que, além de ajudar os pais, contribuem com os que não tem filhos porque evita que a criança atrapalhe. 4.5 Entrevistada 5 - Tânia Breve Perfil Arquiteta, com pós-graduação, atualmente trabalha como professora universitária. Tem 48 anos e o marido 43. São casados há seis anos, moram na Lagoa e não têm religião. Relação com o trabalho e com a casa Define sua relação com o trabalho como sendo normal. Sente prazer no que faz, mas não se considera uma workaholic. Preza o equilíbrio. Entretanto, conta não é raro ficar dez horas por dia trabalhando. Considera a relação com a casa muito boa e prazerosa. É o momento em que consegue se reenergizar. Motivações para a decisão Relata que não foi uma coisa pensada. O casamento foi tardio, já tinha 42 anos. E, nessa época, tanto o marido como ela trabalhavam muito, uma média de 12 a 15 horas por dia.

84 84 Então, não seria possível encaixar o filho nessa realidade. Conta também que eles não têm parentes que pudessem ajudar na criação de uma criança, já que sua mãe está internada sob sua responsabilidade, e os pais do marido moram longe. Conclui que não ter filhos não foi uma decisão, mas uma consequência dos momentos pelos quais os dois atravessavam. Entretanto, ela destaca que filho nunca foi uma prioridade em sua vida e que nunca sentiu vontade em ser mãe. Eu acredito que quando o objetivo é forte, quaisquer dificuldades são vencidas, quando isso é uma coisa muito forte na pessoa... Sabe às vezes eu fico me perguntando se essas não são algumas desculpas pra não fazer a coisa. Afirma que pode mudar de opinião no futuro e adotar, mas não enxerga isso no seu horizonte. Apenas tenta manter uma mente aberta. Nunca diga nunca. Participação do homem na decisão Conta que, a princípio, o marido quis ter. Mas, como a rotina do casal era muito intensa, percebeu que não seria possível encaixar um filho, visto que o marido também costuma trabalhar muito e viajar constantemente a trabalho. Resultados e conflitos Relata que já refletiu muito sobre o assunto e que a decisão não a aflige. Mas, conta que deve afligir quando chegar o momento em que o relógio biológico parar. Diz que o dela ainda não parou porque ainda menstrua. Fala que os homens não têm esse limite temporal. Podem ser pais a qualquer idade, mas: pra mulher é um marco muito decisivo, então é aquela coisa que você se depara com uma impossibilidade, é assim, nossa, eu não vou mais poder, mas será que eu queria tanto? Destaca que não sofre ou sofreu qualquer tipo de pressão para ter filhos, porque no meio em que circula não costuma haver preconceitos. Os pontos positivos da decisão são as questões financeiras e, principalmente, a liberdade para ter maior controle do tempo: Eu não tenho nem um cachorro para me prender.

85 85 Aspectos gerais do consumo Descreve o consumo típico de casais sem filhos como sendo mais individualizado e, talvez, mais sofisticado. Esses casais podem ter alguns luxos, como ir a restaurantes todo final de semana. Mas, de um modo geral, gastam mais com bens de consumo que sejam coerentes com o gosto de cada um. No seu caso específico, conta que não são consumistas. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Relata que se preocupam com uma alimentação saudável e gostam de comprar produtos orgânicos. O marido é vegetariano e não bebe. Ela costuma beber, nos finais de semana, cervejas e vinhos importados, por acreditar terem o melhor custo-benefício. Tem uma diarista que vai uma vez por semana, mas não cozinha. Conta que, diariamente, almoça fora por conta do trabalho. Costuma ir a restaurante a Kilo. À noite, como chegam muito cansados, come qualquer coisinha que achar na frente. Nos finais de semana, saem para restaurantes mais bacanas. Qualidade da comida, do serviço e a apresentação do local são elementos muito importantes na escolha do local. Não gosta de barulho e confusão. Tem uma seleção de restaurantes que costuma ir e tende a variar pouco. Conta que se sentem órfãos quando um desses restaurantes fecha. As compras de supermercado são feitas pelos dois, todo sábado, no Prezunic perto de sua casa, que considera muito bonito e organizado. Conta que se preocupa com preço e qualidade e que não iria a um supermercado longe, mesmo que oferecesse mais variedade. Costuma comprar pouca quantidade de alimentos porque apenas jantam em casa. Afirma que o casal precisa de mais lazer. No momento da entrevista, destacou como principal atividade de lazer, ir ao cinema. Não consegue arrumar tempo para viajar e não faz uma viagem internacional há muito anos. Eventualmente, faz uma viagem curta para casa de algum amigo. Considera o carro um utilitário. Têm apenas um, modelo Parati 2004, que ela usa para o trabalho. O marido, que viaja muito, se locomove de metrô e taxi. Conta que ela escolheu um carro que fosse discreto, confortável, espaçoso, que tivesse manutenção barata e o melhor custo-benefício.

86 86 Já quis ter um cachorro, mas sabe que, devido a sua rotina, não conseguiria dar a atenção que ele precisaria. Teme que o animal fique deprimido. Mas ela afirma gostar muito e que eventualmente vão adquirir sim um cachorro. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Percebe que estão surgindo produtos voltados para solteiros, como congelados em porções individuais, mas não para casais sem filhos. Conta que serviços de pousadas que não permitem entrada de crianças não apresentam um diferencial, em sua opinião. Diz gostar de conviver com crianças e apenas se sentir incomodada com as mal-educadas. 4.6 Entrevistada 6 - Karla Breve Perfil Formada em Letras e Desenho Industrial. Ela e o marido têm 35 anos. Moram juntos há quatro anos, em Botafogo e não tem religião. Relação com o trabalho e com a casa Trabalha de 8:30 às 18:00 em uma editora. Nessa rotina, ela encaixa academia, todos os dias, pela manhã. Gosta muito do ambiente e dos colegas de trabalho, sente-se valorizada, mas não se sente realizada. Descreve uma insatisfação no trabalho e por conta disso, também tem um blog, que ainda é um hobbie, mas gostaria que se tornasse algo comercial. Já a relação com a casa é muito boa. Conta que adora decoração e que, como montou e decorou tudo, considera muito prazeroso ficar em casa. Descreve que ela e o marido dividem as atividades domésticas, mas que sabe que ele faz muito mais do que ela. Ele não é nada machista. Eles contam com a ajuda de uma diarista para fazer faxina. Motivações para a decisão Relata que nunca teve vontade de ter filhos. Considera uma falta de vocação. Diz: que nunca tive aquilo de olhar a criança e ficar, olha que fofinha, eu tenho isso com cachorro, sou doida pra ter um cachorro. Não considera que tomou uma decisão porque nunca teve vontade, então nunca precisou ponderar outros fatores, como disponibilidade de tempo e dinheiro. Relata que a experiência

87 87 de conhecidos que tiveram filhos faz com que ela perceba o estresse, os custos, os cuidados necessários e a preocupação para a vida inteira. Relata: são coisas que se eu tivesse vontade de ser mãe, eu acho que [...] ia me adaptando à medida que os problemas fossem aparecendo, mas como realmente eu não tenho vontade, então não penso nisso. Não considera que a carreira influenciou sua opinião, nem que possa mudar de idéia. Participação do homem na decisão Relata que seu marido não teve influência. Desde o início do relacionamento ela expressava sua falta de vontade em ser mãe. Ele dizia não pensar no assunto, mas, com o tempo, também foi demonstrando falta de interesse. Então, eles nunca precisaram conversar sobre o assunto para consolidar a decisão. Entretanto, periodicamente, eles conversam sobre ter um cachorro que é algo que ela quer, mas ele não. Resultados e conflitos Conta que nunca se sentiu incomodada com sua ausência de vontade de ser mãe, mas como tem 35 anos, que é a fase em que a fertilidade começa a diminuir, ela conversou com sua terapeuta a respeito. Entretanto, ela conta que, como isso realmente não a incomoda, o assunto da consulta seguinte com a terapeuta já era outro. Considera que ser mãe é uma vontade natural da mulher, mas ela não tem interesse em desvendar o porquê não sente essa vontade natural. Para ela, não ter filho é tão natural quanto para as pessoas que têm. Relata que não sentiu muita pressão, mas que algumas pessoas questionaram a decisão. O seu pai, inclusive, afirmou que ela iria se arrepender. Mas ela acredita que não possa se arrepender de algo que nunca teve vontade em fazer. Diz que atualmente, seus familiares e amigos já estão conformados. Considera que os pontos positivos são: ter mais tempo livre, poder curtir amigos, poder viajar e não ter que mudar toda a sua vida para cuidar do filho. Explicita que essas coisas não são razões para não ter. O motivo é a falta de vontade.

88 88 Aspectos gerais do consumo Traça uma comparação com o consumo de casais com filhos. Entende que eles têm mais despesas fixas e podem dispor de menos dinheiro para lazer. Já os sem filhos podem gastar com supérfluos, como chocolates e vinhos importados; podem ir mais frequentemente a restaurantes; viajar mais e gastar mais com bens de consumo, como televisão e aparelho de DVD. Em suma, eles consomem mais com eles mesmos porque não têm culpa. Conta que, de uma forma geral, os pais têm culpa de não direcionar o dinheiro que sobra para o filho. Por outro lado, os casais sem filhos poupam menos, justamente porque gastam com essas coisas que dão prazer. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Durante a semana, almoça no trabalho. Em casa, ela faz duas refeições: um café da manhã reforçado e um lanche, à noite, com muitas frutas, torradinhas e pastinhas. À noite gosta de preparar algo rápido e gostoso como uma forma de compensação pelo longo dia de trabalho. Conta que os dois gostam de vinho e costumam comprar cerveja importada para experimentar. Nos finais de semana costumam ir a restaurantes, ou sozinhos ou com suas famílias. Conta que considera um evento, em que aproveita cada momento, desde o aperitivo até a sobremesa. É além daquela coisa de ah eu preciso comer, [...] é um prazer. A decisão de onde ir é consensual. Eventualmente vão a restaurantes mais caros e gostam de experimentar lugares novos. A presença de crianças pode incomodar se elas não se comportarem, o que é comum. Na hora das compras, eles se separam e cada um tem uma incumbência. Ele faz pesquisa de preço e compra em mais de um supermercado para garantir economia, já ela se preocupa mais com a comodidade e qualidade dos produtos e sempre vai ao Hortifruti. Também leva em consideração o possível desperdício. Costuma comprar itens prontos, como saladas porque se comprar os itens separados, vão sobrar. Com isso, sabe que acaba gastando mais. Eles nunca fazem compras pela internet porque ela gosta de escolher e verificar a validade dos produtos. Conta que, todo mês, separa uma parte do salário para poupança viagem e gasta todo o resto. Se sobrar alguma coisa, ela não coloca na poupança, mas gasta em um restaurante

89 89 melhor ou comprando supérfluos, como itens importados e algumas coisas para casa, como bandejas e taças diferentes que são oferecidos no Hortifruti. Tem uma novidade, eu quero. As atividades de lazer preferidas da família são viajar, ir a restaurantes e assistir filmes. Ao menos uma vez por ano faz uma viagem internacional. Conta que não há problema em viajar sem o marido e que já foi em vários lugares com amigas ou com a família. Quando estão juntos, selecionam os lugares consensualmente e ficam em hotéis de duas a três estrelas. Ela quer ter um mínimo de conforto, mas não gosta de gastar muito em hotel porque não é algo que eles curtam. A gente curte a cidade. Prefere gastar com museus, restaurantes e cervejas típicas e artesanato local. Conta que abriram mão de viagens nacionais para economizar e fazer viagens internacionais. Demonstra muito interesse em conhecer locais diferentes e entende que quanto mais distante, mais exótico. Conta que não wwase interessa por carros. O marido tem um modelo que ela não sabe a marca, mas descreve como sendo um modelo popular. Costuma pegar dois ônibus para chegar ao trabalho e, para as demais atividades, vai de táxi ou à pé. Conta que ainda não tem cachorro, mas que está tentando convencer o marido a adotarem um. Os problemas são que ele ficaria sozinho, não teria com quem deixar quando fossem viajar, vai dar trabalho e o marido é alérgico. Ela conta: eu não quero ter um filho, mas eu quero ter cachorro, e eu quero porque eu tenho uma vontade imensa de ter um cachorro, eu sempre tive, adoro dar um carinho, cuidar, proteger e tal, e assim, é mais importante do que despesa eventual que a gente vá ter com comida e trabalho, preocupação... Oportunidades de negócios para casais sem filhos Conta que já percebeu a oferta de produtos para os homossexuais, especialmente turismo GLS. Mas não percebeu nada voltado para casais sem filhos. Diz que já ficou em hotel que não aceitava criança, mas que, de uma forma geral, não se sente incomodada com a presença de crianças. Relata, entretanto, que já teve experiências desagradáveis em restaurantes e avião. Destacou, também, que alguns alimentos são vendidos em grandes porções, o que não é adequado para famílias pequenas.

90 Entrevistada 7 - Débora Breve Perfil Formada em Desenho Industrial e cursando a segunda faculdade em História. Ela tem 28 anos e o marido têm 39 anos. Estão casados há dois anos e meio. Relata não ter crença nenhuma, mora em Niterói e cresceu em Irajá. Relação com o trabalho e com a casa Conta que é free lancer. Está totalmente desespenraçosa com a profissão e, com isso, resolveu fazer outra graduação. Atualmente, tem uma rotina intensa de trabalho e estudo. Descreve a relação com a casa como sendo muito prazerosa. Motivações para a decisão Conta que não tem vontade de ter filhos e que não quer ter horários, nem deixar de sair e viajar. Também contribuiu para sua decisão o fato de sua mãe ter uma doença renal que poderia ser transmitida ao seu filho e ela não considera isso justo. Refletiu sobre o assunto e decidiu que não vai ter filhos. Inclusive, seu maior sonho de consumo é fazer uma ligadura para poder deixar de tomar anticoncepcional, só que os médicos não aceitam fazer um procedimento tão definitivo em uma pessoa tão jovem. Considera que é uma pessoa maternal, que gosta de conversar e brincar com crianças, mas que não ia conseguir conciliar o tempo de criança, mãe, esposa e profissional. Ainda mais sabendo que a mulher é a principal responsável pela criação dos filhos. Conta que tem contato com realidades sociais diferentes. De um lado vê meninas tendo filhos precocemente e tendo que largar os estudos. Ela não quer esse tipo de freio de desenvolvimento profissional. Também vê meninas que consideram o filho um meio de vida, para ganhar pensão, e depois dão as crianças para as avós cuidarem. De outro vê pessoas ricas que têm filhos que apenas as babás cuidam, inclusive nos finais de semana e viagens da família. Ela rejeita todas essas realidades. Acha que se tivesse, seria para ela mesma cuidar, mas, não se entusiasma em dedicar grande parte de seu tempo nessa tarefa. Assim, conta que vai curtindo os sobrinhos que, quando dão muito trabalho, ela devolve para os pais.

91 91 Conta que poderia mudar de idéia se ganhasse na Mega-Sena acumulada. Nessa hipótese ela adotaria uma criança, mas mais como uma forma de ajudar alguém que precise do que por vontade de ser mãe. Participação do homem na decisão Conta que o marido também não quer filhos. Como ela já havia decidido, ele não exerceu muita influência sobre a decisão. Resultados e conflitos Conta que muitos a consideram egoísta, mas ela não concorda. Acredita que não ter filhos é tão egoísta quanto ter porque é uma decisão com base na vontade da pessoa. Conta que muitos não têm dinheiro, mesmo assim têm filhos e tem criança em cada esquina jogando bolinha pra cima. Comenta que as pessoas têm muita dificuldade em aceitar as diferenças. Logo quando casaram, afirma que havia muita pressão de familiares, mas que com o tempo eles pararam de perturbar. Entretanto, frequentemente menciona que, por não ter filhos, muitos a consideram um monstro que odeia crianças. Tem pessoas que acham que isso é um crime, que eu nasci com útero pra isso. Ela detesta esse tipo de preconceito e aparenta ficar muito chateada, apesar de afirmar que não se importa com o que as pessoas pensam. Como pontos positivos, ela destaca o bom relacionamento com o marido e a liberdade de poder fazer as coisas de que gosta, como viajar. Aspectos gerais do consumo Conta que não conhece nenhum outro casal sem filhos e, portanto, é difícil traçar o comportamento de consumo desse segmento. Afirma, entretanto, que, no caso dela, eles vão bastante a restaurantes e têm a possibilidade de viajar frequentemente. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Conta que gosta de cozinhar e, além da alimentação tradicional gosta de preparar coisas mais sofisticadas. Como está trabalhando de casa, prepara o próprio almoço e jantar. Não consome congelados, nem produtos industrializados. Quando trabalhava fora, não cozinhava, mas comprava uma quentinha pronta em um restaurante próximo à sua casa.

92 92 Adora ir a restaurantes e, quando não está com vontade de cozinhar, eles saem. Normalmente é ela quem decide aonde ir e os critérios são a qualidade da comida, o preço e a ausência de fila. A presença de criança não costuma ser um problema, mas que elas podem incomodar se forem mal criadas. As compras são feitas pelos dois, presencialmente. Conta que os supermercados não estão preparados para fazer entregas em casa e mesmo quando oferecem o serviço, nunca é bem feito. Em todo o caso, como ela cozinha, gosta de selecionar os alimentos e verificar se as frutas, verduras e peixes estão frescos. Para não gastarem muito, fazem uma lista dos itens que precisam, mas sempre compram alguma novidade para experimentar. Conta que, apesar de se preocupar com o preço, não há como economizar com alguns produtos. Assim, sabão em pó é OMO, arroz é Tio João e carne é carne moída ou filé mignon. Outras opções não são boas e, em sua opinião, a diferença de preço não é considerável. Os lazeres preferidos do casal são cinema, restaurante e viagens. Costumam fazer viagens nacionais e gostam de conhecer lugares novos. Já foram para Salvador, Minas, diversas cidades do Rio e Fernando de Noronha. Escolhem a pousada de acordo com a ocasião. Quando querem comemorar, estão dispostos a pagar mais. A pousada pode ser simples, mas tem que ter privacidade e ser limpinha. Ela busca todas as informações na internet. Quando tiverem dinheiro, gostariam de fazer viagens internacionais para Disney e Europa. Eles dividem um carro, um Palio 98 com GNV, que pretendem trocar, mas ainda não conseguiram se organizar para isso. O carro é mais usado pelo marido. Já pensaram em ter animal de estimação, mas diz ser o mesmo problema do filho: não ia conseguir dar atenção e cuidar devidamente. É uma coisa que ela gostaria, mas não sabe como encaixar na sua vida. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Conta que sabe que existem pousadas que não aceitam crianças e acha interessante, mas não costuma se sentir incomodada nas viagens. O que mais a incomoda é criança mal-educada em

93 93 restaurantes. Gostaria que existisse uma área exclusiva para quem não tem filhos. Também reclama dos alimentos em grandes porções. Sobra muito. 4.8 Entrevistada 8 - Renata Breve Perfil Dermatologista, com três pós-graduações, tem 30 anos e o marido têm 38 anos. Estão casados há nove anos, moram na Barra e são católicos, mas não praticantes. Relação com o trabalho e com a casa Descreve sua rotina de trabalho como sendo muito tranquila. Trabalha menos de oito horas por dia. Gostaria de trabalhar mais, mas ainda não achou algo que lhe agradasse. Conta que adora o que faz. Relata que adora a casa, mas não realiza muitas tarefas domésticas. Deixo muito a desejar do que eu devia. O marido ajuda muito nas atividades e eles têm uma diarista, uma vez na semana para arrumar a casa. Conta que um dia por semana está mais do que suficiente porque ela não se sente à vontade com outra pessoa dentro da casa dela. Motivações para a decisão Conta que antes de casar, queria ter filhos. Mas, a sua cunhada, que era, também, sua vizinha, teve um bebê e eles acompanharam de perto todo o trabalho proporcionado pela criança. Viram como os pais tinham que abrir mão de muita coisa para cuidar dos filhos e como o filho representa uma preocupação e responsabilidade para a vida inteira. Conta que ficaria muito preocupada se seu filho ia ser feliz, se iria conseguir um bom emprego, se iria conseguir uma boa companheira e assim por diante. Como ela é médica, muitas vezes vê crianças doentes, o que aumenta a ansiedade e preocupação dela. Conta que adora passar tempo com as sobrinhas, mas no final do dia, gosta de ter um tempo para si mesmo e sente vontade de devolver as crianças para os pais. Tudo isso contribuiu com o fato de ela não ter filhos, mas a principal razão é a falta de vontade. Não considera que a carreira tenha qualquer influência porque ela trabalharia menos para cuidar do filho, mas que a questão financeira talvez fosse um problema. Como trabalhar menos e ainda conseguir sustentar um filho?

94 94 Participação do homem na decisão O marido também não quer. Ele também espera que um dia ainda queira, porque, caso contrário, acha que a velhice vai ser solitária. Ela conta que se ele quisesse, ela teria. Faria qualquer coisa por ele. Resultados e conflitos Conta que se sente meio egoísta e que gostaria muito ter vontade de ser mãe. Acha que deve ser muito ruim ser idosa e não ter ninguém. Mas não acha justo ter um filho apenas para cuidar dela. Conta que tem uma relação muito próxima com a família, que preza muito isso e que não sabe como vai ser seu futuro, se não tiver filhos. Descreve que vive uma situação muito conflitante de não ter vontade, de não conseguir se imaginar com um filho, mas se sentir mal por isso e querer que a vontade chegue. Não considera essa falta de vontade normal. Diz: No meu meio não é normal. [...] Todos os meus amigos querem ter filho e, daqui a pouco, vão começar a tentar. Conta que sofre muita pressão da família, a ponto de querer sair da reunião de família porque estão perturbando muito, mesmo eles falando, repetidas vezes, que não querem ter filhos. Sobre aspectos positivos, destaca primordialmente a questão financeira. Com o dinheiro que seria destinado ao filho, eles viajam e saem mais. Menciona, também, a liberdade para fazer o que quiser, no horário que quiser. Aspectos gerais do consumo Descreve que casais sem filhos costumam sair muito para restaurantes, viajam bastante e compram muitos bens de consumo. Eles têm mais condições de satisfazer as suas vontades. No caso deles, compram muitos livros. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Todos os dias, almoça e janta em casa. A diarista faz a comida e deixa congelada para o resto da semana. Quando acaba, ela prepara alguma coisa rápida ou pede comida em casa. Descreve a alimentação do casal como sendo muito ruim porque comem muita porcaria, como

95 95 sanduíche, pizza, McDonalds. Conta que estão tentando mudar e, inclusive, entraram para academia. Costumam ir, em média, duas vezes por semana a restaurante. Não se importa de ir durante a semana e ficar até tarde. A decisão costuma ser por impulso, de acordo com a vontade deles ou convite dos amigos. Os principais critérios de decisão são fila e preço e a presença de crianças não incomoda. As compras de supermercado são feitas, às vezes, pelos dois, mas normalmente pelo marido porque ela costuma chegar tarde do trabalho. Costumam fazer pesquisa de preço e se algum produto estiver caro, às vezes, eles vão a um segundo e, mesmo, terceiro supermercado. Somente quando estão com preguiça, acabam comprando lá mesmo. Entretanto, não abrem mão de alguns produtos. Por exemplo, sempre compram a salada pronta do Hortifruti porque ela não gosta de lavar salada. É mais caro, mas vale a pena. Os lazeres preferidos da família são comer fora, viajar, ir ao cinema e ler. Conta que o principal critério na escolha das viagens é o preço e se é alta ou baixa temporada. Não se importa muito com a hospedagem e prefere que o marido escolha. Normalmente, entretanto, ficam na casa de amigos ou de parentes. Não costumam fazer viagens internacionais por conta de dinheiro. Como os dois não têm carteira assinada, se viajarem, deixam de receber. Cada um tem seu carro que usam para ir ao trabalho. Recentemente trocou o seu carro para um Palio. Estão juntando dinheiro para trocar o do marido, que é um Brava. O responsável pela escolha é o marido e ele adora carros esportivos. O marido tem um cachorro que fica na casa dos pais em Itaipava. Eles arcam com todas as despesas que incluem ração, remédios e veterinário todo o mês, porque já está idoso. Diz que não gostaria de ter um cachorro em casa porque não quer ter todo o trabalho necessário para cuidar do animal de estimação. Não quero ter filho, não quero ter animais. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Conta que não sente falta de produtos específicos para casais sem filhos. Não se incomoda quando tem muitas crianças em lugar e que, inclusive, não gosta da idéia de alguns locais

96 96 limitarem a entrada de crianças. Por que não vai aceitar criança? Não me importo se tem criança no lugar. Eu acho até legal. A única coisa que a incomoda são as grandes porções de alimentos, inadequadas para famílias pequenas. 4.9 Entrevistada 9 Mariana Breve Perfil Formada em publicidade e propaganda, com pós-graduação, tem 26 anos e o marido têm 30. Moram juntos há três anos, no Humaitá. Não tem religião e o marido é católico, mas não praticante. Relação com o trabalho e com a casa Trabalha de 9:00 às 19:00 em uma empresa na Barra. Conta que não é raro sair depois do expediente e, sempre, enfrenta trânsito para voltar para casa. Relata gostar do que faz, mas está em uma fase em que reflete sobre a qualidade de vida. O fato de enfrentar muito trânsito, de os projetos nem sempre serem instigantes e da carga horária intensa estão começando a incomodar. Mas diz ainda estar apaixonada pelo que faz. Gosta muita da sua casa. É o seu ambiente de conforto, onde quer estar no final do dia para relaxar. Mas não tem muito tempo para cuidar. Tem uma diarista duas vezes por semana. Diz que não precisava de dois dias, mas contratou ainda assim para ajudar com o cachorro. Motivações para a decisão Afirma não ter vontade em ser mãe, mas acha que um dia pode ter. Não sei se é possível você tomar essa decisão pra vida toda.. Conta que não tem como encaixar uma criança em seu ritmo de vida e, no momento, quer focar na carreira profissional. Sabe de todas as dificuldades de ter filho. Cita a responsabilidade, a perda de liberdade, o impacto financeiro, mas acha que com a vontade de ter, todas essas questões seriam mitigadas. Compara essa situação com a compra do cachorro. Ela não imaginava todo o trabalho que o cachorro daria, mas a vontade de ter era tão grande, que a responsabilidade veio junto no pacote. Diz que o cachorro já mudou muito a sua vida. Quando ela vai viajar ela precisa de um esquema de deixar o cachorro com alguém. E sabe que com filho seria

97 97 ainda pior. Mas acredita que a vontade de ter filho seria superior aos problemas. A questão é que não tem a menor vontade de ter. Participação do homem na decisão O marido não quer ter filhos nunca. Acha que o marido tem medo das mudanças que um filho acarretaria na vida do casal, além do impacto financeiro que dificultaria as viagens e a liberdade de poder sair à hora que quiser, para onde quiser. Eles passariam a ter uma vida previsível. Ele considera que o filho acabaria com todos os prazeres de uma vida a dois. Ele está decidido em não ter, mas ela conta que a decisão final é dela. Mas ele se sente seguro porque sabe que, por enquanto, ela não tem a menor intenção de ter. Resultados e conflitos Aceita a idéia de não ter filhos, mas não sabe se seria feliz. Imagina que seu futuro seria solitário e diz que gostaria de ter a sensação de continuidade. Diz: Eu preciso passar o que eu fiz pra alguém. Mas conta que se a vontade não chegar, não vai ter filhos por esses motivos porque seria egoísta. Iria compensar com sobrinhos e afilhados, para ter sempre [...] alguma companhia. Sente muita pressão dos pais e dos sogros que querem netos. Conta que depois que você casa, aquele papel social de criar uma família fica em evidência. Te põe na testa: agora você precisa ter filhos.. Considera que, como as mulheres hoje apresentam outros papéis que não o de mãe, as pessoas estão aceitando mais a decisão de não ter filhos. Mas esse não é o caso da sua família, que considera natural da mulher ter o instinto materno e tem confiança que um dia ela vai ter vontade. Por outro lado, diz que, também vê, no ambiente coorporativo, o preconceito contra pessoas querem ter filhos. E aí? Vai resolver ser dona de casa, né? Beleza... Os aspectos positivos destacados são menores restrições financeiras; poder se dar alguns luxos, como viajar e ter uma vida mais imprevisível, onde pode decidir as coisas por impulso.

98 98 Aspectos gerais do consumo Casais sem filhos podem comprar melhores marcas, comprar mais por impulso e podem experimentar mais novidades. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Almoça todos os dias no trabalho. A diarista não prepara comida poque sobraria muito e ela não gosta de comer a mesma coisa a semana toda. Procura ter uma alimentação variada e saudável. Mas, busca equilibrar essa preocupação com a "questão do tempo. Como normalmente chega muito cansada em casa, não quer ter trabalho de cozinhar ou lavar louça, então, nem mesmo usar o serviço de entrega em casa parece atraente, porque ela teria que sujar louças. Assim, vão a um restaurante jantar. Costumam comer fora com muita frequência. Quando jantam em casa, procuram fazer algo rápido, como sanduíches ou congelados. Gostam de bebida alcoólica e consomem uma garrafa de vinho, importado, por semana. Normalmente ela decide em qual restaurante vão jantar. Conta que como o marido não participa em nada das atividades domésticas, ela tem carta branca para decidir se quer preparar a comida e depois lavar louça ou se prefere comer fora. Assim, durante a semana, decide com base no cansaço. Seleciona um lugar sem fila, sem barulho nem confusão, com comida de qualidade e variedade. Os preferidos são restaurantes Buffet ou a Kilo. Conta: [Durante a semana] eu queria reproduzir o ambiente que eu tenho em casa, né. Se eu tivesse jantando em casa, qual seria o ambiente? O ideal pra mim seria que fosse assim, um serviço a domicílio de jantar. Leva tudo embora. Já no final de semana o critério principal não é a praticidade, mas a qualidade. Fazem as compras de mercado juntos, presencialmente. Conta que pela internet é muito caro. Ela é a responsável pelas decisões de compra no supermercado e costuma tentar pesquisar preço. Mas conta que tem determinados itens de que não abre mão, como o vinho e comidas práticas como congelados. Diz se preocupar muito com a qualidade da alimentação e não se importa em pagar mais por isso, mas se achar uma determinada marca muito cara, vai a outro supermercado. Raramente ignora o preço em prol da praticidade. Relata que adora viajar. Costuma ir muito para a Região dos Lagos, onde tem casa. Mas, conta que cada vez que viaja para lá, incorre em custos com bebida alcoólica e restaurantes.

99 99 Quando fazem viagens internacionais, procuram escolher, consensualmente, lugares novos. Sempre busca reservar parte de seu orçamento para boas experiências gastronômicas nesses destinos. Conta que o marido viaja uma média de seis vezes ao ano para o exterior, a trabalho e para visitar amigos, e ela só o acompanha duas vezes, porque seu horário não é flexível. Costuma preferir destinos internacionais. A família tem um carro, que é mais usado pelo marido. Ela vai e volta do trabalho de van, que um grupo de colegas de trabalho contratou. Conta que não ia querer voltar dirigindo no trânsito de jeito nenhum. [Seria] mais um estresse. O processo decisório de compra do carro é do marido. Ela dá o aval financeiro. Tem um cachorro que diz amar muito. Conta que dá banho pessoalmente e que o leva para passear antes e depois do expediente (acorda mais cedo para isso e mesmo chegando em casa tarde ainda leva para passear). Compra o melhor xampu, a melhor ração e, de vez em quando procura um centro de adestramento, mas ainda não se sente segura com a confiabilidade do serviço. É meio que um processo. Parece até escolha de creche, sabe, de criança. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Considera que no exterior, a oferta de produtos e serviços apropriados aos casais sem filhos é maior. Conta que lá existe maior variedade de alimentos em pequenas porções e de serviços para animais de estimação. Que o cachorro substitui o filho, né, então a gente está disposto a investir bastante nisso. Conta que serviços que tornem as atividades domésticas mais práticas também são muito bem vindos. E que, nesse ponto, o sistema de diarista do Brasil, ajuda muito Entrevistada 10 - Adeline Breve Perfil Formada em psicologia, com pós-graduação, tem 39 anos e o marido têm 31. Moram junto há cinco anos, na Ilha do Governador. Ela é espírita e o marido é católico, mas não são praticantes.

100 100 Relação com o trabalho e com a casa Trabalha há 17 anos como secretária, mas relata não gostar do que faz. Terminou a faculdade há três anos e, desde então, atua como psicóloga há noite. Mas ainda não consegue se sustentar apenas com a psicologia. Assim, sua rotina de trabalho é intensa, visto que de 8 as 22 está fora de casa. Relata que se sente apaixonada pela casa. Eles se mudaram há menos de um ano e ainda estão terminando de montar o apartamento, o deixando do jeito que gostam. Por conta da rotina, não consegue se dedicar muito às atividades domésticas e contratou uma diarista de 15 em 15 dias para fazer faxina. Motivações para a decisão Desde pequena não queria ter filhos porque sente muito medo da enorme responsabilidade que representa um filho. Diz não ter paciência com crianças, não querer se dedicar a um filho o resto de sua vida e não considerar que seria uma boa mãe. Descreve o papel de mãe como sendo alguém sempre presente, paciente, disposta emocional e financeiramente para o filho. Não sei se tenho uma imagem perfeita da maternidade, só sei que isso não é para mim. Considera que não é toda mulher que tem instinto materno. Afinal, ela não tem. Pensa que talvez a falta de vontade esteja relacionada com seu jeito controlador, de querer tomar conta de tudo, mas o fato é que tem medo e não quer ter filhos. Também destaca uma preocupação financeira. Sabe os custos que um filho representa e acha que não teria condições de arcar com tudo. Mas, por outro lado, vê como existem várias famílias que, até passam por dificuldades, mas conseguem criar bem seus filhos. Conclui: Eu acho que eu arranjo desculpa pra justificar o meu não querer ser mãe.. Simplesmente não sente vontade em ser mãe. E conta estar bem certa disso. Acha que é possível mudar de opinião, mas pouco provável. Afinal, nunca aconteceu. Participação do homem na decisão O marido, não conversa muito a respeito, mas ele queria filhos. Inclusive, ela acha que se ficasse grávida, seria a maior felicidade da vida dele. Conta que, como ele sempre soube da decisão dela, ele respeita e não cobra, mas, no fundo, ser pai é o sonho dele.

101 101 Resultados e conflitos O principal resultado negativo destacado é não poder realizar o que acha que é um grande sonho da vida do marido. Pensa que um dia ele pode se arrepender e eles acabarem se separando. Também relata que não sabe se sua falta de vontade significa egoísmo. Mas, independente, está segura que não quer ter. As pessoas cobram muito e perguntam como será sua velhice. Mas ela acredita que filho não é garantia de companhia e não considera que a maternidade seja uma relação meramente de troca: a mãe cuida da criança que, quando cresce, cuida da mãe. Conta que sua família finalmente se acostumou com a idéia, mas sua sogra cobra insistentemente. Até os colegas cobram e ela reclama de ter que ficar se repetindo. As pessoas não entendem. É como você estivesse indo contra todas as leis da natureza. Você é mulher. Você tem útero. Você tem que engravidar. É uma obrigação que a gente tem de dar continuidade. Sobre aspectos positivos, menciona a liberdade e independência para poder fazer as coisas quando quer, não ter a responsabilidade pela vida de alguém e não precisar obedecer uma rotina na sua casa. Aspectos gerais do consumo Considera que os casais sem filhos consomem e saem muito. Adoram coisas para a casa e serviços que facilitem a vida. Também, como não têm compromisso de horário, podem viajar e sair para jantar frequentemente. Traz uma comparação com casais com filhos, para quem os filhos vêm sempre primeiro, os recursos são muito destinados às crianças, o consumo pessoal dos pais fica de lado e há muitas restrições: as crianças não podem frequentar todos os lugares e seus horários devem ser respeitados. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Almoça todos os dias no trabalho e, à noite, costuma lanchar. Conta que não gosta de cozinhar e o marido não sabe cozinhar. O seu consumo dentro de casa é pão, manteiga, frios, leite e frutas. São apenas itens para o lanche. Quando quer fazer uma refeição à noite, compra congelado ou algo semi-pronto e de fácil preparo. Tudo muito prático. Outra opção para não ter que cozinhar é comer na rua, que é o mais rotineiro.

102 102 Conta que costumam ir sempre aos mesmos restaurantes: Lamole, Spoleto e alguns selfservice. Em todos, o preço é bom e a comida sai rápida. Nesses casos, o objetivo é praticidade. Porque tem que comer e eu não quero fazer a comida. Esporadicamente, escolhem um restaurante melhor para aproveitarem a experiência. Conta: Aí ele toma o vinho dele. A gente escolhe um prato mais sofisticado. Uma coisa que a gente goste mais. Costumam escolher restaurantes perto de casa, com comida gostosa, que estejam acostumados e que não tenham fila. Tenho horror de esperar em fila para comer. Adoro o Outback, mas não vou nunca. Mas ela conta que como costumam sair tarde para almoçar, por volta das 15 horas, não costumam pegar fila. Preço é outro fator. Como a gente come fora sempre, não pode ficar pagando uma exorbitância que a gente vai à falência né. A presença de crianças não influencia a escolha do local. As compras de supermercado são feitas pelos dois, duas vezes ao mês: uma maior e outra para comprar as coisas que estejam faltando. Os critérios de compra são qualidade e preço. Não compra itens que considera muito caros, mas se for muito barato e ela desconfiar da qualidade, também não compra. Depende também do produto. Vão sempre ao mercado mais próximo de casa e compram frutas na feira porque são mais frescas. A diarista, contratada de 15 em 15 dias, não cozinha. Apenas faz faxina e lava a roupa. Conta que adora viajar, mas como o marido não tem carteira assinada, ele não recebe salário enquanto está fora. Assim, apenas fazem viagens curtas, de carro, nos finais de semana. Relata que outra dificuldade é o gato porque precisam procurar alguém com quem deixar. Como costumam viajar em período de baixa temporada, não reservam a pousada com antecedência, mas escolhem na hora. Apenas fazem reserva quando se trata de feriado. Conta que se importa muito com o preço, com a claridade e limpeza do quarto e com o café da manha. Também não gostam de locais tumultuados e não buscam luxo nenhum porque só dormem e tomam banho no quarto e passam o resto do dia na rua. O casal tem um carro, um Ford K, que normalmente fica com ela porque o marido vai de ônibus para o trabalho. Eles procuraram um carro econômico, barato, com seguro barato e que não chamasse atenção. Conta que eles conseguem dividir bem o carro e que não dá briga. O

103 103 único problema do carro é ter pouco espaço para as malas que levam nas viagens. Eles decidem qual carro comprar em conjunto e ela conta que gosta mais de carro do que ele. Pensa em mudar de carro um dia, mas essa não é uma prioridade. Conta que adora animal de estimação. Ela diz: O amor que eu não tenho pela criança, eu tenho pelo bicho. Atualmente tem um gato e acredita que já é o suficiente para perder um pouco da liberdade. Alguém tem que ir lá colocar comida, limpar a caixa de areia... você fica um pouco limitado. Conta que o gasto com o gato é baixo. Só leva esporadicamente no veterinário e compra a ração mais barata ou que esteja na promoção. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Acredita que está havendo um reconhecimento que, atualmente, não ter filho é uma opção e não um problema de infertilidade do casal. Diz perceber um maior número de pacotes de viagem apenas para casais, além de hotéis para quem não tem filhos. Em sua opinião, uma pousada aceitar ou não crianças é indiferente porque como ela fica poucos dias, não haveria tempo suficiente para a criança incomodar Entrevistada 11 - Fabiana Breve Perfil Formada em Publicidade e cursando MBA. Moram juntos há 2 anos, no Leblon. Ambos têm 28 anos e são católicos não praticantes. Relação com o trabalho e com a casa Descreve uma rotina de trabalho intensa, em que rotineiramente leva trabalho para casa, além de trabalhar muitos finais de semana. Viaja toda semana para São Paulo, onde passa ao menos uma noite, mas está acostumada e entusiasmada com as perspectivas de crescimento na empresa. Diz adorar o que faz. Sobre a relação com a casa, ela diz falhar um pouco, já que chega cansada de tanto trabalhar e não consegue encaixar atividades domésticas na sua rotina. Inclusive, relata que um dos fatores de ter se mudado com o namorado foi porque se eu não morasse junto, não veria nunca ele. Conta que ele participa das tarefas de casa. Ele cozinha e lava a louça.

104 104 Motivações para a decisão Conta que nunca teve nenhuma paixão, nenhum ideal de ter filhos. Sempre quis encontrar um parceiro, mas filho não estava em seus planos. Também pensa em onde encaixar uma criança? Como deixar uma criança de 5 meses com uma babá que você nem sabe quem é? Também destaca a enorme responsabilidade e os gastos de cuidar de um filho. Relata a experiência de amigos, cujos filhos chamam a babá de mãe e conta que não queria que isso acontecesse com ela. Acho que você tem que ter uma estrutura familiar muito grande e eu tento racionalizar essas coisas. Sou uma pessoa que não gosta de se arrepender e filho é uma coisa pra vida toda. Conclui afirmando que foi um conjunto de fatores que contribuíram para a decisão e que acha muito difícil mudar de idéia. Sou uma sem-filhos convicta. Também considera que ela teria a maior responsabilidade pelo filho. No final das contas, com raras exceções, a bomba estoura por lado da mulher. Participação do homem na decisão Conta que o marido não influenciou na decisão e que, na verdade, ele diz querer ter filhos. Mas aí, eu falo pra ele que ele não vai poder ficar na praia até 6 horas, que não vai poder sair e voltar na hora que quiser. A vida perde a imprevisibilidade. Ela acredita que ele só diz querer, mas não considera a fundo as responsabilidades envolvidas. Eu vejo nas atitudes dele, na maneira dele ser que, no nosso relacionamento, não cabe um filho. Resultados e conflitos Como resultados ela relata maior autonomia, liberdade, possibilidade de se dedicar mais à carreira e de economizar dinheiro. Não quero abrir mão do pouco tempo que eu tenho ocioso por um filho. Algumas pessoas a consideram egoísta, mas acho mais honesto você não ter, do que ter para prestar uma conta à sociedade. Eu não vejo como egoísmo, mas se for, ok. Ela diz não sofrer pressão de amigos e familiares, mas não gosta dos estereótipos em que as pessoas a colocam. Conta que a família demonstra preconceito e a define como a mulher do trabalho.

105 105 As pessoas enxergam uma imagem de se você não tem filhos, você não tem amor e não gosta de crianças. E não é isso. Eu gosto de crianças e tenho muito amor, mas canalizo para outras coisas. Aspectos gerais do consumo Considera que financeiramente, os casais sem filhos vivem infinitamente melhor: eles têm mais liberdade, menos despesas e com isso podem viajar mais, trocar de carro, jantar fora e investir na casa. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Conta que almoça todos os dias fora, por conta do trabalho, mas janta em casa, algo leve. Estão preocupados com a saúde porque o marido está acima do peso e, inclusive, pararam de beber. Então, durante a semana cozinham e pedem para a diarista, que vai uma vez por semana, deixar algumas comidas prontas. No final de semana só comem em restaurantes e costumam frequentar sempre os mesmos. O critério é qualidade e não o preço. Conta que crianças no local e filas não costumam ser problemas. As compras são feitas a cada dois meses pelos dois, mas semanalmente, ela vai ao mercado comprar produtos frescos. Descreve que o critério principal é a qualidade. Não vamos ao Mundial ou Prezunic, mas ao Extra ou Zona Sul. Mas conta que fica atenta aos preços e aproveita promoções, apesar de não abrir mão de determinadas marcas. Conta que gastam muito com lazer. Costumam ir frequentemente em restaurantes, shows, teatros, cinemas e viagens. Sobre esse último item, diz que vão de carro a lugares próximos como Búzios, no final de semana. E também viajam, de avião, para outros destinos no Brasil. Ainda não fizeram uma viagem internacional. Conta que avalia o orçamento ao programar as viagens porque a gente mantém os mesmos hábitos que temos aqui. Vamos em bons restaurantes e ficamos um bons hotéis. Procuram conforto, mas sem um preço exorbitante. Só têm um carro porque só têm uma vaga na garagem e não querem pagar mais de um IPVA e seguro. Também, eles vão e voltam juntos do trabalho. O carro é um Fiesta 1.6, comprado em conjunto com os critérios de ser bacana e confortável.

106 106 Não têm animal de estimação, mas ele queria ter um cachorro. Ela diz que é o mesmo princípio do filho: não tem onde ficar, muita despesa e no final das contas, quem vai cuidar sou eu. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Alguns serviços legais para casais sem filhos são o pacote casal na academia, o plano casal em companhias de celular e hotéis que não aceitam crianças. O cinema de luxo em São Paulo também é um modelo que não comporta crianças. Também no setor de construção civil, quando anunciam um loft funcional, que é onde eu moro, estão dizendo: não tem crianças. Acredita que todos esses serviços tenham um grande diferencial e que ainda há espaço para mais, como por exemplo no avião. Devia ter uma separação porque é algo insuportável criança chorando no avião Entrevistada 12 - Helena Breve Perfil Ambos têm doutorado. Moram juntos há 8 anos, no Flamengo. Ambos têm 42 anos e são católicos não praticantes. Relação com o trabalho e com a casa Relata que trabalha muito e que tem muitas responsabilidades, mas que adora o que faz. Com relação à casa, conta que não realiza nenhuma atividade doméstica. Contratou uma diarista duas vezes na semana para isso. Mas gosta de gerenciar a casa, fazendo compras de supermercado e comprando móveis. Eu gosto de cuidar da casa nessa dimensão. Não no diaa-dia da rotina. Motivações para a decisão Relata que não houve uma decisão formal, mas que simplesmente não foi acontecendo. Conta que desde que se casou com seu segundo marido, um empurrava para o outro a decisão. Afirma que eles gostam da relação a dois e que não sentem falta de mais nada. Conta que é super maternal com seus sobrinhos e alunos e que está satisfeita assim, mas diz que se não

107 107 tivesse sobrinhos, talvez fosse diferente. Conclui que o empurrar com a barriga de ambos tem a ver com uma falta de desejo, porque quando a pessoa quer, quer. Relata que sabe das responsabilidades e compromissos que um filho traz. É uma revolução que traz à vida da pessoa e quanto mais ela espera para decidir, maior a coragem para fazer essa revolução. A dificuldade de conciliação entre uma carreira bem sucedida e uma maternidade também influenciou. O preço é muito alto para conciliar uma maternidade bem sucedida. Porque quando eu penso em maternidade, eu penso na bem sucedida, não na terceirização da maternidade., que é depender de creches, babás e folguistas 7. Conclui afirmando que foi um conjunto de coisas e que simplesmente não foi acontecendo. Acho que para mulher é muito difícil tomar uma decisão e dizer: Não quero de jeito nenhum. Mas conta que sabe que a responsabilidade cairia mais sobre ela do que sobre o marido. Não dá pra ter a ilusão de que seria diferente. Minhas amigas sempre falam que os maridos ajudam com os filhos. Só essa escolha de verbo indica um envolvimento menor. Ou seja, se ele ajuda, é porque é coadjuvante. Participação do homem na decisão Considera que seu marido a influenciou porque ele tinha menos vontade ainda, segunda ela, pelos mesmos motivos: muita responsabilidade, dificuldade de conciliação e falta de desejo. Acha que se ele tivesse insistido em ter, talvez hoje a situação fosse diferente. Resultados e conflitos Conta que o principal resultado positivo é a liberdade de ir e vir. Já o pior resultado é: você não ter uma experiência afetiva que, sem dúvida, é muito gratificante. Eu não ignoro que há uma perda associada a não ter, mas tenho meus sobrinhos e acho que isso compensa um pouco a perda emocional associada a não ter filhos. Relata que nunca sofreu pressão de familiares. Não sei se eu não dou espaço para isso, mas não sofro pressão. Conta que às vezes reflete sobre se seu futuro será solitário, mas diz que isso não é motivo para ter filho. Não vou ter filho como um seguro contra arrependimento futuro. Até porque, o futuro é tão incerto. Conta que pode mudar de idéia, mas que se isso acontecesse, ela adotaria. 7 Folguistas, segundo a entrevistada, são as babás que cuidam da criança no final de semana, na folga da babá principal.

108 108 Aspectos gerais do consumo Conta que, por terem mais renda, os casais sem filhos gastam mais com lazer, especialmente, com viagens. Por outro lado gastam menos com empregadas. Eu posso ter uma diarista só duas vezes na semana. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação As compras de supermercado apenas são realizadas no Zona Sul, apesar de existirem três mercados diferentes perto de sua casa. É o supermercado mais caro, mas o mais bonito, limpo, agradável, de melhor atendimento e com os itens mais sofisticados. Conta que, como não compra em quantidade porque sua família é menor, ela pode se dar ao luxo de comprar itens mais sofisticados, como geléias importadas e sorvete Häagen-Dazs. Não faz compras de mês, mas vai frequentemente ao mercado e não tem monitoramente de quanto gasta. Se tiver alguma oferta, ela aproveita, mas não costuma fazer pesquisa de preço. As compras são feitas sempre presencialmente, por eles ou pela diarista. Costuma almoçar em casa nos dias da diarista e na rua, nos demais. Não janta, mas faz um lanche quando chega em casa. Sempre coisas leves. Nos finais de semana, costumam frequentar restaurantes. A seleção ocorre pela qualidade da comida, pelo ambiente e pelo atendimento. Utilizam o sistema de guardador e não aceitam esperar em fila. Também não gostam de ambiente com muitas crianças, com muito barulho e odeiam lugar com música ao vivo. O restaurante tem que ser um lugar calmo em que se possa conversar. Com relação a lazer, costuma frequentar cinemas e restaurantes. São sócios do Iate Clube. Destaca que gosta da imprevisibilidade. A gente não tem muita programação. Decide tudo na hora. A maior parte de seu orçamento vai para viagens. Costumam fazer duas viagens internacionais por ano. Conta que o marido assume o papel de agente de viagens e compra e aluga tudo pela internet. Selecionam o destino em conjunto e costumam ficar em hotéis, ao menos, de quatro estrelas. Além de conforto, fazem questão de serviços adicionais como sala de ginástica e rede wi-fi.

109 109 O casal tem um carro, Focus Sedan, que é dele. Ela não gosta de dirigir e costuma se locomover de táxi ou de carona com o marido. Não usam muito o carro, em dois anos o carro tem apenas dez mil kilômetros, mas o marido quer trocar por um modelo melhor. Ela não liga muito para essa categoria de produto. Oportunidades de negócios para casais sem filhos Ela se mostrou muito interessada ao saber que existem hotéis que não aceitam crianças. Vejo valor nisso porque se você é um casal sem filhos, já está procurando algo que seja mais tranquilo. Acredita que não há necessidade de restaurantes que não aceitem crianças porque cada restaurante tem seu perfil. Alguns não são restaurantes para família, não precisa proibir entrada de crianças. Basta bom senso Entrevistada 13 - Eleonor Breve Perfil O marido tem superior completo e ela está cursando doutorado. Moram juntos há 29 anos, no Jardim Botânico. Ela tem 55 anos e ele 67. São católicos praticantes, especialmente por uma questão de doença do marido. Relação com o trabalho e com a casa Trabalha muito, mas se diz apaixonada pelo que faz e não se considera uma workaholic. Conta que sempre se dedicou muito à carreira e que gosta de viajar, estudar, palestrar em Congressos e que tudo isso é incompatível com a maternidade. A relação com a casa também é de pura paixão. Gosta da casa arrumadinha e adora gerenciar tudo o que deve ser feito, desde o trabalho das diaristas, as compras e as pequenas obras. Eu moro numa cobertura com plantas, bichos e tenho muito tempo para curtir isso. Motivações para a decisão Conta nunca se viu como mãe. Filho é opção e eu não pensava em ter o meu. Não era uma realização pessoal, não fazia parte de mim. Ela também começou a refletir que um filho não teria espaço em uma vida tão dedicada ao trabalho. Eu acho bárbaro as mulheres que conciliam, mas eu não ia ter cabeça. Foi uma decisão, uma opção de vida. Eu sempre fui

110 110 muito apaixonada pela minha carreira. Mas ela conta que, mesmo sem a carreira, ela ainda assim não se via tendo filhos. A vontade simplesmente não se manifestou. Conta que às vezes pensa em adotar uma criança abandonada. Mas o propósito é ser mais um trabalho voluntário do que propriamente maternidade. Inclusive, ela está na dúvida se direciona essa iniciativa a crianças ou idosos. Participação do homem na decisão Conta que a decisão foi inteiramente dela. O marido não fazia questão de ter filhos, mas teria se ela quisesse. Resultados e conflitos Relata que a primeira pressão que sofreu foi dela mesma. Quando eu me ouvi falando que não queria ter filhos eu parei e pensei será que eu sou uma pessoa normal? E depois eu fiz uma reflexão e concluí: Não. Ok. Sou sim. Também sofreu muita pressão da mãe, que não acreditava que a decisão era séria e o próprio marido por vezes a pressionava. Mas, ela diz: eu gostava da pressão porque era uma forma de testar minha convicção. Além deles, ela nunca abriu muito espaço para críticas. Conta que por vezes perguntam se ela arrependeu. E ela responde: Lógico que não. Eu adoro tudo o que eu faço. E, tendo sido professora por muitos anos, considera que tem uma filharada enorme. O lado materno ficou aqui. Ela também compartilha algumas preocupações com o futuro, no sentido de quem vai ajudá-la no caso de uma emergência. Mas conta que mesmo as amigas com filhos também se preocupam com isso porque não querem depender e dar trabalho aos filhos. Os resultados positivos foram maior liberdade para se dedicar à carreira e poder ter feito as coisas com mais serenidade que outras mulheres que conciliam maternidade e trabalho. Pode até ser meio egoísta, mas eu consegui mais conforto.

111 111 Aspectos gerais do consumo Conta que casais sem filhos têm maior dificuldade de encontrar produtos, especialmente alimentos, nos tamanhos ideais. As quantidades não são adaptadas. Também conclui que o consumo de lazer desses casais é maior e, no caso dela, também o de tratamentos médicos. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Costuma almoçar e jantar em casa, durante a semana porque não gosta de frequentar sempre restaurantes. Apenas em ocasiões de lazer. Mas gostaria de encontrar meios mais práticos de se alimentar. Por exemplo, gostaria de comprar saladas ou sopas frescas no caminho de casa ou, ao menos, semi-prontos. Conta que tudo o que já viu nesse sentido não tinha uma aparência agradável. E não quer que a empregada deixe uma comida pronta porque prefere algo fresco, feito na hora. Eu acho que o mais complicado para o casal sem filhos é o dia-adia porque o excepcional (restaurantes, lojas de petiscos e coisas do gênero) já está coberto. As compras de supermercado são feitas por ela, no Pão de Açúcar 24 horas perto de sua casa. Não me permito perder mais de meia hora e só vou lá porque sei onde fica tudo. Só realiza compras presencialmente porque não confia na qualidade dos itens comprados na internet e utiliza serviço de entregador. Faz compras com base no preço e na qualidade. Adora viajar e rotineiramente passa finais de semana em cidades próximas. Uma vez por ano faz uma viagem internacional, preferencialmente, na Europa. Ela decide todo o roteiro e o marido apenas a segue. Critérios de decisão de hotéis são conforto e preço. Cada um tem seu próprio carro. Relata não ligar para carros, mas eles devem ser automáticos e novos. Não compro carro se não for zero km. Tem um Honda Fit. Conta que uma vez a empresa em que trabalhava a deu um Audi e que tentaram a assaltar diversas vezes. Ela desistiu do carro. Já o marido é apaixonado por carro e tem um Jaguar. Tem um cachorro que é tratado como se fosse filho. Conta que eles têm inúmeros tratamentos especiais com o cachorro porque ele é alérgico à proteína e tem alergias de pele. Então ração e produtos para pêlo são todos especiais. É tudo muito caro. Também consome serviços de hotel, pet e spa para cachorro.

112 112 Oportunidades de negócios para casais sem filhos Descreve algumas de suas necessidades ainda não atendidas. Como ela não tem filhos e sabe que, estatisticamente, viverá mais que seu marido, acredita que, em algum ponto de sua vida, ficará sozinha. E para se preparar para esse momento, ela gostaria de ter um serviço de secretária que a ajudasse em suas necessidades, desde acompanhá-la a alguma cirurgia, até coisas mais emergenciais como autorizar determinado tratamento. Também menciona o interesse em morar em um flat funcional que tenha todos os serviços necessários de limpeza e assistência técnica de modo que ela não precise realizar todas as atividades de gerenciamento da casa que hoje em dia faz. Outra preocupação é com a segurança interna do apartamento. Eu queria uma casa com piso antiderrapante, alças no box, sem degraus, luzes de advertência, corrimão e tudo mais que minimizasse os índices de acidentes. Outro serviço mencionado foi o de motorista. Em breve eu não vou querer dirigir e odeio depender de táxi. Eu quero preservar meu conforto. Finaliza afirmando ser muito difícil encontrar esses tipos de serviços porque as pessoas não estão preparadas ou não são de confiança. Conta ainda que já fez muito uso de hotéis que não aceitam crianças e que gosta do conceito, especialmente quando está em busca de um lugar calmo e sereno Entrevistada 14 - Elza Breve Perfil Ambos têm superior completo. Moram juntos há 12 anos, em Niterói. Ela tem 36 anos e ele 43. Eles não têm religião. Relação com o trabalho e com a casa Há muitos anos ela é funcionária pública. Conta que o ambiente de trabalho é péssimo, está cansada do que faz e pensa em fazer outro concurso público. Já a relação com a casa é ótima. Tem uma diarista que cuida da roupa e o resto das atividades domésticas ela realiza, com alguma ajuda do marido.

113 113 Motivações para a decisão Conta que no primeiro ano de casamento ela quis muito ter filhos, mas resolveu esperar para curtir o casamento. Com o tempo a vontade foi passando. Foi ficando desencantada. Eu vejo nossos amigos com filhos e fico tão desesperada. É muito trabalho, despesa, aporrinhação. Eu vejo as crianças também muito mimadas. Não tenho paciência. [...] A minha paciência é só para filho de amigo. Quando chega ao limite, eu devolvo pra mãe. Conta também que não tem mãe ou sogra para recorrer. Algo que normalmente as outras pessoas têm. Outra preocupação seria com o aspecto financeiro. Não teria dinheiro para pagar babá nem creche. E as mensalidades de colégio são muito caras. Não sei como seria. Mas, logo em seguida, ela afirma: Mas sei que me preocupo demais. Se meus amigos que ganham menos conseguem, eu também conseguiria. Por outro lado, a carreira profissional não influenciou na decisão. Foi uma opção pessoal mesmo. Conta que pode mudar de opinião, mas se isso acontecer, ela adotaria. Participação do homem na decisão Conta que o marido nunca quis por achar que uma criança tiraria liberdade, mas teria se ela quisesse. Ele largou totalmente a decisão pra mim. Resultados e conflitos Conta que os principais resultados positivos são não ter obrigações de cuidar de ninguém; ter liberdade para fazer o que quiser, na hora em que quiser; ter a dádiva do descanso e ter dinheiro para gastar com atividades de lazer. Relata que sofria muita pressão e assédio de amigos que cobravam a vinda do filho. As pessoas falavam que como casei, eu tinha que ter filhos. E uma coisa nada tem a ver com a outra. Mas como já está há 12 anos casada, conta que passou dessa fase. Como está sempre rodeada de sobrinhos e filhos de amigos, não sente falta de ter os seus próprios, mas demonstra preocupação com o futuro. De repente quando eu ficar velha vou sentir falta desse vínculo de filho para me visitar, mas não acho justo botar um filho no mundo por causa disso. [...] Eu não quero ser um peso para ninguém.

114 114 Depois de refletir, ela conclui que acho que, em termos de eu ficar mais velha e ter alguém pra me visitar, quando você tem amor com as outras pessoas, não falta amor de volta nunca. Aspectos gerais do consumo Casais sem filhos consomem mais com lazer, gastam muito com eles mesmos e têm uma vida mais confortável. Por outro lado, consomem menos fast food. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Costuma almoçar perto do trabalho e, à noite, faz um rápido lanche ou pede serviço de entrega. O consumo de restaurante é frequente. Selecionam sempre locais que já conhecem e costumam frequentar. A gente gosta de lugares em que o garçom já conhece a gente pelo nome. O atendimento é melhor. Outros critérios de seleção são preço e qualidade e também não aceitam esperar em fila. Ela é responsável pelas compras de supermercado. Conta que produtos de limpeza são selecionados pelo preço e a alimentação pela qualidade. Frutas e verduras são só compradas no Hortifruti e os demais itens no mercado mais perto. Só faz compras presencialmente porque quando testou comprar pelo telefone, não gostou do resultado. Demorava muito para entregar e eu perdia um dia em casa esperando. Adora viajar e sua prioridade é sempre por destinos internacionais. Mas vou para onde o orçamento permitir. Conta que tem muitos amigos que moram fora e costuma selecionar esses lugares para visitar. Assim eu já economizo no hotel e comida. Mas quando se hospeda em um hotel, procura lugares simples e baratos. Não quero gastar com luxo. A família tem um carro, Fiesta, que é meramente um utilitário. Não nutrem nenhum interesse por carros e não gostam de gastar com isso. Desde que tenha quatro portas e ar condicionado está bom. Ela usa para ir ao trabalho e o marido vai a pé. Conta que tem três cachorras, que são tratadas como filhas. Gasto muito com ração, tratamentos de saúde, xampu e pediatra... pediatra não.. veterinário!

115 115 Oportunidades de negócios para casais sem filhos Já frequentou hotéis que não aceitam crianças e disse que adorou. Foi muito bom para descansar. Era paz e sossego. Conta que gostaria que existissem restaurantes que também não aceitassem crianças Entrevistada 15 - Íris Breve Perfil Ambos têm doutorado. Moram juntos há 17 anos, em Copacabana. Ela tem 48 anos e ele 47. Eles não têm religião. Relação com o trabalho e com a casa Sempre procurou fazer algo que gostasse e que desse ânimo de acordar pela manhã. Hoje em dia ela é professora de mestrado e graduação e diz ser a primeira vez em sua vida em que trabalha apenas 40 horas semanais. Conta que adora estar em casa, mas não de cuidar. Para as atividades domésticas, tem uma diarista uma vez na semana. Conta: Quando eu estava em Londres (fazendo o mestrado), meu vizinho ficava espantado que eu tinha uma faxineira. E eu falei pra ele que, no Brasil, isso é o mínimo que alguém de classe média tem. Motivações para a decisão Conta que inicialmente queria ter três filhos, mas quando foi professora de crianças de 3 a 4 anos, mudou de idéia. Cheguei à conclusão que a melhor hora do dia era quando elas iam embora e a sala ficava quieta, tranquila. E se eu tivesse filhos, a zona ia continuar na minha casa. Conclui que gosta de silêncio e que, para ela, basta seu cachorro. Também, ter um filho implicaria em ter uma babá e ela não gosta de pessoas estranhas em sua casa. A diarista vem uma vez na semana só. Não me perturba. Relata que sua carreira profissional não influenciou a decisão. O desejo de ser mãe simplesmente não passou por mim. Inclusive, conta que algumas amigas de trabalho reclamavam que não tiveram filho por causa da empresa onde trabalhavam e ela falava: Você não teve filhos porque não queria abrir mão do que fazia na sua carreira pelo seu filho. Então, não dá seu trabalho como desculpa porque a opção foi sua.

116 116 Participação do homem na decisão Conta que o marido algumas vezes quis ter filho. Então, eles tentaram engravidar porque ela não queria tirar o sonho do marido. Mas, ela sempre falava com ele: Você quer ser pai e eu não tenho nada contra, mas lembre-se: eu serei o pai e você será a mãe. O seu horário é muito mais flexível e você vai ter que ficar com a criança a maior parte do tempo. E ele respondia: Não. Eu quero ser o pai e você vai ser a mãe. Eles tiveram dificuldade de engravidar e, pouco tempo depois, ele desistiu afirmando que gostava da vida como ela era e não queria que uma criança alterasse isso. Resultados e conflitos Eu adoro minha vida, adoro o silêncio e a tranquilidade da minha casa. E esse é o melhor resultado possível. Conta também que em nenhum momento se arrependeu da decisão. Na verdade, eu sempre achei que me arrependeria se eu tivesse filhos. Especialmente porque não posso devolver a criança. Conta que o marido acha que um filho ajuda na velhice. Mas ela discorda. Filho não necessariamente cuida da gente. E eu mesma não ia querer que ele fizesse isso. Diz ter sofrido um pouco de pressão de sua mãe e sua sogra, que queriam um neto. No mais, diz nunca ter reparado se sofreu pressão de outras pessoas. Finalmente, diz que a decisão pode ser egoísta, mas ter filhos no mundo de hoje também é. Aspectos gerais do consumo Os casais sem filhos têm mais renda para gastar com restaurante, cinema, carro, roupa, jóias enfim, consigo mesmo. Se eu tivesse uma criança, não poderia gastar o que gasto comigo mesma. Consumo das categorias: alimentos, viagens, carros e animais de estimação Costuma fazer refeições leves no almoço em casa ou em restaurantes, de acordo com o que seus horários de trabalho permitir. No jantar, faz com o marido uma refeição mais longa e demorada para conversarem sobre o dia. Eles consomem vinho e cerveja: cerveja é Skol e vinho, ela conta preferir os importados. Vinho nacional tem uma relação custo-benefício ruim. Ele é caro para o que é.

117 117 Frequentam restaurantes, em média, cinco vezes por semana, entre almoço e jantar. Conta que têm um leque de lugares que costuma frequentar normalmente e também têm os restaurantes de festa para celebrar alguma ocasião especial. Esses são bons e caros e frequentamos em média, cinco vezes ao ano. Ela lista: Gero, Mr Lan e Cipriano, dentre outros. Os critérios de seleção para qualquer dos restaurantes é ter um ambiente tranquilo sem muitas crianças e não ter fila. Relata uma situação em que tinha uma reserva e, ainda assim, teve que esperar quase uma hora para sentar. Nunca mais volto lá. As compras de supermercado são feitas apenas por ela, presencialmente. Conta não acreditar que, se pedir pela internet, os itens serão tão bons como se fosse ela escolhendo. Para frutas e verduras ela frequenta a feira e para demais itens o Zona Sul, em frente à sua casa. É caro, mas eu posso me dar ao luxo de pagar mais. Ela frequenta esse mercado por praticidade, mas o principal critério é qualidade. Conta que alguns alimentos ela compra no Pão de Açúcar, outros no Hortifruti e outros ainda em lojas especializadas. Depende da qualidade e da disponibilidade dos itens. Mesmo produtos de limpeza são comprados de acordo com a qualidade. Troquei todos por biodegradáveis. São todos mais caros, mas além de melhor por meio ambiente, é melhor pro cachorro. Costumam fazer uma a duas viagens internacionais por ano. Todos os detalhes da viagem são resolvidos pela internet. Não exigem muito conforto, apenas banheiro no quarto e televisão. Eventualmente realizam uma viagem, no final de semana, para uma cidade próxima. Eles conseguem administrar com apenas um carro, um Picasso. Conta que nunca gostou de dirigir e o processo de seleção do carro fica a encargo do marido. A sua única exigência é que tenha banco de couro por ser mais fácil de limpar o pêlo do cachorro. Têm um Basset Round que, ela conta ser tratado como cachorro e não como filho. Eu mimo ele, mas não chega a ser filho. Entretanto, o cachorro dorme na cama com eles. O consumo envolve remédio, ração especial, brinquedos, veterinário, vacinas, adestrador e hotel para cachorro. Conta que quando viajam, costumam ir a pet shops para comprar brinquedos e acessórios para o cachorro.

118 118 Oportunidades de negócios para casais sem filhos Conta que já se hospedou em um hotel que não aceitava menores de 16 anos e adorou a paz e tranquilidade do ambiente. Considera isso um forte fator de atração. Também descreve a experiência fracassada de uma empresa de pão de forma que lançou um pacote menor, mas com o mesmo preço. Não faz sentido. Por mais que eu soubesse que o corte do preço não ia ser proporcional à redução da embalagem, você tem que ter alguma recompensa no preço. Conta que uma loja de vinhos estava fazendo uma promoção de meia garrafa, ideal para um casal que queira beber um pouquinho durante a semana.

119 119 5 Análise das Entrevistas No presente capítulo será feita a análise das 15 entrevistas qualitativas, de forma a reunir os relatos buscando aspectos convergentes e divergentes nas várias categorias de análise construídas com o auxílio da literatura e do roteiro de entrevista. O capítulo será dividido nas seguintes seções: breve perfil, relação com o trabalho e com a casa, motivações para a decisão de não ter filhos, como elas enxergam a participação dos maridos na decisão, resultados da decisão, aspectos gerais do consumo, alimentação, viagens, carros, animais de estimação e oportunidades de negócios para os casais sem filhos. A categoria Oportunidades de negócios para casais sem filhos engloba não apenas as percepções das entrevistadas, conforme as descrições do Capítulo 4, mas também considera outras oportunidades identificadas ao longo da análise. Do mesmo modo, a categoria aspectos gerais do consumo reúne, além das informações das entrevistadas, descritas no tópico aspectos gerais do Capítulo 4, engloba outras observações e informações dadas ao longo da entrevista. 5.1 Breve Perfil Algumas características das mulheres entrevistadas que declararam que o casal decidiu voluntariamente por não ter filhos estão resumidas na Tabela 8 (p. 63 do Capítulo de Metodologia). Foram entrevistadas mulheres de 26 a 55 anos de idade, com os mais diversos tempos de convivência com seus maridos. Apesar dessa pesquisa não ter levantado informações que possibilitassem uma diferenciação de perfil sócio-econômico, parece possível inferir, a partir das narrativas e de observações feitas nos locais das entrevistas, que Débora, Adeline e Elza aparentavam pertencer a uma classe sócio-econômica mais baixa. As demais aparentavam pertencer a classes sócio-econômicas mais altas. De uma forma geral, as entrevistadas relataram baixa tradição religiosa, o que está de acordo com os achados de Bloom & Bennet (1986), Lang (1991), Weston & Qu (2001), Rios (2007) e Basten (2009). Ou não praticavam a religião na qual diziam acreditar, normalmente por herança familiar, ou afirmavam não se encaixar em nenhuma religião da qual tivessem

120 120 conhecimento. Eleonor, a única entrevistada que relatou praticar sua religião, comentou: Ultimamente venho praticando mais, por conta da doença do meu marido. Do mesmo modo, em conformidade com os achados de Kerckhoff (1976), Bloom & Bennett (1986), Lang (1991), Ambry (1992), Heaton & Jacobson (1999), Barros et al. (2008) e Gray (2009) todas as entrevistadas apresentavam um elevado nível de escolaridade. O grau mais baixo de escolaridade era terceiro grau completo, o que, para padrões brasileiros é elevado. Conforme a Síntese de Indicadores Sociais 2008, divulgado pelo IBGE, a média de anos de estudo de pessoas de 25 a 59 anos de idade, na região metropolitana do Rio de Janeiro é 9,2 anos, ou seja, pouco mais que o Ensino Fundamental. Segundo Carmichael & Whittaker (2007), o grau de escolaridade dos homens também contribui com a decisão por não ter filhos. Na presente seleção de entrevistadas, entretanto, as mulheres apresentaram igual ou maior nível de escolaridade que seus parceiros e suas opiniões pareciam ter maior peso no tocante à decisão de ter filhos, como será descrito no tópico de Participação do Homem na Decisão por Não Ter filhos. 5.2 Relação com o Trabalho e Relação com a Casa Adoro o que eu faço, mas às vezes a rotina de trabalho é muito intensa. (Fátima) Em casa é o momento em que eu consigo me reenergizar. (Tânia) Segundo Murphy & Staples (1979), Hakim (2003) e Defago (2005), a inserção das mulheres no mercado de trabalho influencia diretamente sua decisão por ter ou não filhos. Assim, buscou-se entender como as entrevistadas se relacionavam com seu trabalho. Em poucos casos, a relação com o trabalho foi descrita como sendo muito tranquila. Valéria contou que veio ao mundo a passeio e que possui vários momentos de folga na semana. Renata também descreveu sua rotina como muito light. Nos demais relatos, a rotina semanal de trabalho foi descrita como intensa. Antônia, Alice e Mariana são alguns exemplos de entrevistadas que relataram trabalhar mais de dez horas

121 121 diárias, em média. Fabiana contou que leva trabalho para casa e trabalha alguns finais de semana. Tânia disse que não se considera workaholic, mas logo em seguida compartilhou que não é raro trabalhar doze horas por dia. Também, ela contou não conseguir viajar por falta de tempo. Mas, trabalhar muito não significa gostar do que faz. Algumas relataram não sentir prazer em seu trabalho, como mostram os testemunhos abaixo: Os projetos muitas vezes repetitivos e a carga horária intensa já estão me incomodando. (Mariana) Trabalho como secretária apenas para ganhar dinheiro, um salário fixo. (Adeline) O ambiente de trabalho é péssimo e estou cansada do que faço. (Elza) Entretanto, parece haver uma preocupação com a realização no trabalho. As entrevistadas que demonstraram algum tipo de insatisfação relataram estar fazendo algo para contornar o problema. Mariana estava procurando outro emprego, Adeline, que trancou a faculdade para trabalhar como secretária, se formou há três anos como psicóloga e já tem seu consultório, onde trabalha a noite, e Erika, funcionária pública, contou que pretende fazer outro concurso. De um modo geral, foi possível notar uma grande preocupação em encontrar algo com o que se goste de trabalhar e que dê ânimo de acordar pela manhã. Aquelas que afirmaram estar totalmente desesperançosas com sua profissão ou frustradas buscam novos empregos, mesmo que isso implique em cursar uma segunda faculdade. Enquanto o trabalho, muitas vezes foi descrito como cansativo, a casa é vista como o lugar para descansar de um dia intenso de trabalho. Para Tânia é o momento em que consegue se reenergizar. Todas relataram adorar o tempo em que ficam em casa. Como resumiu Karla: é muito prazeroso ficar em casa. Contudo, a carga de trabalho das entrevistadas levou a uma preocupação, frequentemente mencionada: a falta de tempo. Antônia contou como no meio de sua rotina tem grande preocupação em aproveitar bem seu tempo. Já Alice quer abrir seu próprio negócio para ter maior controle sobre seu tempo. A gestão do tempo parece muito delicada e as entrevistadas relataram que precisam de ajuda para realizar todas as atividades que deveriam fazer, como

122 122 cuidar da casa; atividade essa que todas relataram que deixam a desejar e precisam da ajuda de diaristas. Entretanto, mesmo as entrevistadas que afirmaram ter uma rotina de trabalho mais tranquila contam com a ajuda das diaristas. Assim, parece haver uma dificuldade em dizer que, na verdade, não gostam de realizar alguma das atividades domésticas. Apenas três entrevistadas assumiram isso de forma clara: Eu gerencio a casa, faço as compras de supermercado, de móveis e arranjo os serviços quando alguma coisa quebra. Eu gosto de cuidar da casa nessa dimensão. Não no dia-a-dia da rotina. (Helena) Entretanto, se inicialmente o tempo ou a falta dele podiam ser sinais importantes para explicar a decisão por não ter filhos e a dificuldade de conciliar o trabalho com a maternidade (MURPHY & STAPLES, 1979; HAKIM, 2003; DEFAGO, 2005), quando questionadas sobre as motivações, muitas sinalizaram o tempo como apenas mais um aspecto dentre muitos outros. 5.3 Motivação da Decisão de Não ter filhos Filho é uma coisa natural da vida e que todo mundo tem. Mas comecei a questionar que posso não fazer o que todo mundo faz. (Fátima) Ao longo das entrevistas, foi possível identificar os dois perfis de mulheres, descritos por Lang (1991) e Gillespie (2003), sobre o momento em que decidem não ter filhos: as que decidiram desde cedo e as que adiavam eternamente. Antônia e Karla são algumas das entrevistadas que pertencem ao primeiro grupo, conforme indicam seus relatos: nunca tive interesse por crianças ; nunca tive vontade de ter filhos, então nunca nem precisei decidir ou ponderar os prós e contras. Como Lang (1991) já havia descrito, não ter filhos parece ser uma coisa natural e óbvia para esse grupo de mulheres. As entrevistadas pertencentes ao segundo grupo contaram que não houve uma decisão formal, mas que simplesmente não foi acontecendo. Elas relataram uma preocupação com a idade, conforme também havia sido identificado por Weston & Qu (2001), e demonstravam uma sensação de conforto por saber que ainda tinham tempo para chegar a uma decisão definitiva, conforme indicam os relatos a seguir: Eu decidi não ter, mas minha ginecologista me deu até

123 123 os 38. É bem confortável. ; Não se trata de uma decisão fechada, mas de uma forte tendência ; Eu estou com 30 anos, então ainda tenho 5 anos pela frente para resolver definitivamente. Aparentava ser mais comum as entrevistadas pertencerem a esse grupo do que ao anterior. Talvez isso ocorra porque, como disse Mariana, é muito difícil tomar uma decisão dessa, que é pra vida toda. Tânia resumiu: pra mulher é um marco muito decisivo, então é aquela coisa que você se depara com uma impossibilidade, é assim, nossa, eu não vou mais poder, mas será que eu queria tanto? Algumas entrevistadas pareciam querer arranjar meios para adiar a decisão. Assim, apesar de demonstrarem preocupação com o relógio biológico (LANG, 1991), afirmaram que se mudarem de idéia, adotam. Conforme Elza, a adoção é uma coisa que estende seu horizonte. Entretanto, Helena trouxe uma importante consideração: quanto mais tempo as mulheres adiam a tomada dessa decisão, mais difícil será optarem por ter filhos e alterarem por completo seus estilos de vida. É uma revolução que traz à vida da pessoa e quanto mais ela espera para decidir, maior a coragem para fazer essa revolução. Outra entrevistada também mencionou a revolução necessária: Acho que isso também me desanima, sabe. De destruir um negócio (seu estilo de vida) que está funcionando bem assim e fazer uma revolução por uma coisa que eu nem quero tanto assim, mas porque está chegando um prazo e eu tenho que mudar a minha vida, sabe. Isso eu não me conformo. (Fátima) Algumas entrevistadas, porém, pareciam não pertencer a nenhum dos dois grupos identificados por Lang (1991) e Gillespie (2003), visto que inicialmente estavam decididas a ter filhos, mas ao longo do casamento mudaram de idéia. Heaton & Jacobson (1999) haviam descrito esse grupo de pessoas que optam por não ter filhos com o passar do tempo. Elza faz parte desse grupo. No início do relacionamento ela quis muito ter filhos, mas acabou se desencantando com a experiência de amigos. Outras, na mesma linha dos achados de Gray (2003) e Ely (2009), com o tempo perceberam que podem não fazer o que todo o mundo faz e também se tornaram sem filhos.

124 124 Independente do momento em que é tomada, diversos parecem ser os motivos para a decisão de não ter filhos. Um deles foi a dificuldade de conciliar maternidade e carreira profissional, também encontrada na Revisão de Literatura, (MURPHY & STAPLES, 1979; HAKIM, 2003; DEFAGO, 2005). Assim, um ponto frequentemente levantado foi sobre a necessidade de contar com ajuda alheia, especialmente da mãe e da sogra, para cuidar dos filhos, já que elas não teriam tempo graças às suas intensas rotinas. Antônia contou que, por sua mãe já ser idosa, não teria essa infra-estrutura em casa. Outras entrevistadas também descreveram a falta de esquema em casa como um complicador para ter filhos e afirmaram ser necessária uma estrutura familiar muito grande. Para contornar esse problema, algumas entrevistadas contaram que iam ter que contratar uma empregada e uma babá para ajudar com as necessidades de uma família mais numerosa. Mas elas mesmas afirmaram não gostar dessa solução por não querer pessoas estranhas em suas casas. Já Débora discordou. Ela acredita que se tivesse filhos, seria para ela mesma cuidar e não ia gostar de depender de outros. Ela contou: Eu me dou com vários níveis de pessoas. Vejo dois extremos. Tem umas mulheres que têm filhos como um meio de vida, para ganhar pensão e aí joga a responsabilidade de cuidar nas costas da avó. Aí vai, arranja outro filho e a avó fica de novo com mais uma criança para cuidar. Do outro lado, eu vejo a mãe levando a babá pro shopping no domingo. Por que? Para que? Você não vai cuidar do seu filho nem no final de semana? Se fosse comigo, eu ia querer cuidar, dedicar meu tempo livre a ele, sem depender de ninguém. E como eu acho que não ia conseguir, é mais um motivo pra não ter. Fabiana também não quer babás. Ela contou que não gostaria de passar pela experiência de amigos, cujos filhos chamam a babá de mãe. Para Helena, terceirizar a maternidade significa que não foi bem sucedida. Ela acredita que o preço é muito alto para conciliar uma maternidade bem sucedida. A disponibilidade de encontrar babás e empregadas no Brasil, que poderia ser vista como um facilitador para a maternidade, foi apontada nos discursos como um complicador. Assim, parece haver um problema para conciliar maternidade e carreira profissional. Conforme Helena:

125 125 Está havendo um processo de encolhimento da classe média. A dificuldade de conciliação do trabalho e da maternidade tem feito com que muitas mulheres adiem, não queiram ter filhos ou tenham apenas um. A quantidade de filhos únicos hoje é gigantesca. Alice afirmou estar vivendo essa dificuldade de conciliação. Ela contou que teria filhos se não precisasse trabalhar tanto e estava considerando trocar de emprego por esse motivo. Entretanto, ela também afirmou que se não conseguisse, não ficaria chateada visto que ser mãe não é seu sonho. Essa aparente contradição em seu discurso leva à interpretação, de que, como Weston & Qu (2001) afirmaram, a intensidade do ritmo de trabalho era uma justificativa que encobria outros motivos para não ser mãe. Conforme Heaton & Jacobson (1991), a vida profissional pode levar ao adiamento da maternidade, mas as pessoas continuam demonstrando vontade de ter filhos. Para os autores não há forte relação entre vida profissional e decisão de não ter filhos. Fátima, por sua vez, relatou que não saberia como encaixar um filho na sua intensa rotina de trabalho, a qual ela não está disposta a sacrificar. Mas, quando indagada sobre como seria se ela não trabalhasse tanto, ela contou que, ainda assim, não sabe se teria filhos. Débora também não saberia como conciliar os papéis de mãe, esposa e profissional, mas afirmou que sua decisão é baseada principalmente na falta de paciência com crianças. E Mariana acredita não ter como encaixar um filho em seu ritmo de vida e afirmou que pretende focar em sua carreira profissional. O uso constante da palavra encaixar para se referir a um eventual filho, parece demonstrar que a prioridade é a carreira profissional e o filho, colocado em um segundo plano, precisaria ser encaixado em algum outro lugar. Como afirmou Eleonor, um filho não teria espaço em uma vida tão dedicada ao trabalho. Ela disse: Foi uma opção de vida. E eu sempre fui muito apaixonada pela minha carreira. Íris revelou que muitas mulheres usam a empresa onde trabalham como desculpa para não ter filhos. Ela diz as suas amigas que se queixam da dificuldade de conciliar maternidade e trabalho: você não teve filhos porque não queria abrir mão do que fazia na sua carreira pelo seu filho. Então, não dá seu trabalho como desculpa porque a opção foi sua. Mais uma vez, esses relatos estão em conformidade com a afirmação de Heaton & Jacobson (1991).

126 126 Além da dificuldade de conciliar carreira profissional com maternidade, diversas foram as motivações mencionadas para a decisão de não ter filhos. A falta de habilidade para cuidar de crianças, identificada nos estudos de Lang (1991) e Defago (2005), apareceu nos relatos de Adeline e Eleonor, que consideraram que não seriam boas mães. Valéria mencionou o motivo da cidade violenta para criar um filho, razão também encontrada nos estudos de Weston & Qu (2001) e Carmichael & Whittaker (2007). Curiosamente, apesar das entrevistadas residirem no Rio de Janeiro ou Niterói, cidades notoriamente violentas, essa razão não foi frequente nos discursos. O motivo de não gostar de crianças, identificado por Lang (1991), Weston & Qu (2001), Rios (2007) e Ely (2009), só foi mencionado, de forma clara, por Antônia, para quem crianças são chatas e enlouquecedoras. As demais entrevistadas afirmaram gostar, mas não ter muita paciência ou não querer assumir isso até o fim. Foram comuns os discursos apresentados abaixo, por Elza e Renata: Eu vejo nossos amigos com filhos e fico tão desesperada. É muito trabalho, despesa, aporrinhação. Eu vejo as crianças também muito mimadas. Não tenho paciência. [...] A minha paciência é só para filho de amigo. Quando chega ao limite, eu devolvo para a mãe. (Elza) Eu gosto de brincar com criança. Geralmente, quando estou com minhas sobrinhas e minhas priminhas, eu fico o tempo todo com elas. Eu não participo da conversa dos adultos, porque também elas exigem que eu fique dando atenção. Mas eu fico cansada e que chega uma hora que você quer devolver pros pais. Quero descansar. Quero ler. Quero deitar. Quero estudar. Quero fazer as minhas coisas, entendeu? (Renata) A expressão devolver a criança pros pais foi muito comum nos relatos, indicando que as entrevistadas não têm a paciência necessária para cuidar diariamente de uma criança. Elas também parecem não querer abrir mão de seu tempo livre para ficar constantemente em função do filho. Assim, conforme afirmou Helena, parece haver uma preferência a ser tia do que mãe, o que também foi encontrado por Ely (2009). Afinal, dessa forma, elas teriam um contato limitado com crianças. Os relatos também remetem a outra motivação identificada nos discursos: o desejo por paz, tranquilidade e silêncio em casa. Íris, que já foi professora de primário, afirmou que o melhor horário do dia era quando as crianças iam pra casa e a sala de aula ficava em silêncio.

127 127 Ela concluiu que se tivesse filhos, aquela bagunça toda iria para sua casa. Carmichael & Whittaker (2007) já haviam apontado que alguns profissionais que lidam com crianças não gostam de levar trabalho para casa. Mas o caso de Íris parece diferente já que ela demonstrava que sequer gostava da profissão e, assim que pôde, passou a dar aulas para graduação. Assim, parece se tratar de mais um caso de falta de paciência, que não foi mencionado de forma explícita (LANG, 1991; WESTON & QU, 2001; RIOS, 2007; ELY, 2009) Problemas de saúde também foram citados nas entrevistas, o que não havia sido identificado na literatura. Alice contou que já sentiu dores na coluna e tem medo de como seria carregar o filho, apesar de saber que seu médico já garantiu que não haveria qualquer problema. Já Débora contou que sua mãe tem uma doença geneticamente transmissível, que pode ter sido passada a ela, que por sua vez poderia passar para seu filho. Entretanto, ao longo de sua entrevista, ela deixou claro que esse não é o principal motivo, mas mais um complicador, junto de outros como: perda da liberdade, não conseguir conciliar trabalho e maternidade, falta de paciência e falta de vontade de ser mãe. Lang (1991) e Carmichael e Whittaker (2006) descreveram a insegurança no relacionamento como um dos motivos para a decisão de não ter filhos. Nos relatos, foi possível identificar um sentimento próximo à insegurança: o ciúme. Valéria contou como não ia querer dividir o marido com uma criança. Contou também que não ia querer uma babá nem uma empregada morando na sua casa porque, sendo elas mulheres e jovens, poderiam representar uma ameaça. De uma forma diferente do que foi apresentado por Valéria, algumas entrevistadas afirmaram que a relação a dois estava muito boa e satisfatória e demonstravam receio de que um filho pudesse atrapalhar o relacionamento. Para Somers (1993) essa é uma preocupação comum e, de fato, os casais sem filhos sentem mais satisfação no relacionamento conjugal do que os pais. Outras entrevistadas, conforme relato de Helena abaixo, relataram que não sentem falta de um filho para completar suas vidas. Estes achados estão em conformidade com a literatura (LANG, 1991; SOMERS, 1993; GILLESPIE, 2003; GRAY, 2003 CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). A gente gosta de ficar junto os dois. A gente não sente falta. Porque eu tenho uma amiga que teve filho, já tem uns dois anos, ela falou: Ah, mas

128 128 chega uma hora que falta alguma coisa no casamento... Sei lá, tem essa história. Pelo menos ela me relatou isso. E a gente não acha que falta nada. De modo semelhante à pesquisa de Carmichael & Whittaker (2007), motivações financeiras não foram listadas como razões para não ter filhos. Ao mencionarem questões financeiras, havia mais um tom de vantagem da decisão do que motivação. Apenas Elza demonstrou uma preocupação maior, lembrando que teria que pagar creche, babá e colégio. Mas, em seguida, ela mesma justifica que se preocupa demais e que conseguiria dar um jeito. Ela concluiu: Se meus amigos que ganham menos que eu conseguem, eu também conseguiria. Se as entrevistadas conseguiam driblar o medo das grandes despesas que um filho representa, outros receios se mostravam mais fortes, como o caso da eterna responsabilidade advinda com a maternidade: Eu tenho muito medo de me imaginar grávida, de me imaginar com uma criança sob a minha responsabilidade. Eu não sei se é meu jeito controlador, de achar que eu tenho que controlar tudo, tomar conta de tudo, mas sinto muito medo. Muito medo mesmo. (Adeline) (filho) é um pacotinho que vem com um quesito surpresa. Não sei que tipo de pessoa ele pode se transformar. E tudo na vida você pode se arrepender. Marido não foi bom, você casa de novo. Profissão não foi boa, você faz outra faculdade. Mas filho você não devolve pra ninguém. Isso é muita responsabilidade. (Valéria) O relato de Valéria remete a um outro receio: o de se arrepender da decisão de ter filhos. Afinal, ter ou não filhos é uma das poucas decisões irrevogáveis na vida de uma pessoa (LANG, 1991). Fabiana contou que costuma racionalizar porque é uma pessoa que não gosta de se arrepender e filho e uma coisa pra vida toda. O receio de perder a liberdade também foi frequentemente mencionado. Algumas relataram como apreciam sua independência e como não querem ser restringidas por filhos : Você não tem compromisso nenhum assim, você pode, sei lá, dar uma louca, no fim de semana, Ah, vamos pra tal lugar vamos. Enfim, fazer coisas que normalmente você não conseguiria fazer com o filho. (Alice) Se o cachorro já me prendeu um pouco em casa, imagina um filho. Não me animo a passar por isso: não ter muito a vida. (Fátima)

129 129 Assim como Alice e Fátima, outras entrevistadas também pareciam associar a idéia de filho com restrições, sacrifícios e medos, o que já havia sido encontrado nas pesquisas de Carmichael & Whittaker (2007) e Gray (2009). Ademais, muitas entrevistadas relataram como a experiência de outras pessoas contribuiu para aumentar medos com relação ao trabalho, à responsabilidade de cuidar de crianças e à perda de liberdade, o que também foi encontrado no estudo de Gray (2009). Para Karla, a experiência das amigas mostrou como filho prende e como ela não se anima a passar por isso. Já para Renata, a experiência do cunhado mostrou como os pais têm que abrir mão de muitas coisas. Na revisão de literatura essas motivações, de não querer a responsabilidade e desejar uma vida pautada na liberdade, foram enquadradas na categoria de estilo de vida (LANG, 1991; WESTON & QU, 2001; DEFAGO, 2005; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007; RIOS, 2007; ELY, 2009). Outra motivação, muito frequente nos relatos, que também se enquadra no estilo de vida é a aspiração por uma vida imprevisível. Um discurso muito comum era o desejo de não perder a possibilidade de fazer as coisas como quer e na hora que quer. Segundo Adeline, não poderíamos mais decidir viajar de uma hora para a outra. Fabiana avisa ao seu marido, que ainda cogita ter filhos: você não vai poder ficar na praia até 6 horas, não vai poder sair e voltar à hora que quiser. Esses relatos parecem indicar que as entrevistadas constroem o estilo de vida ideal através da negação ao estilo de vida daqueles que são pais e como esses casais parecem não querer abrir mão de uma vida cheia de possibilidades seja para se dedicar à carreira, a atividades de lazer ou para simplesmente não fazer nada. Em suma, liberdade de escolha parece a expressão chave para caracterizar o estilo de vida desses casais. Helena resumiu: Eu tenho um estilo de vida muito próximo do lado bom de ser solteira. Eu tenho uma liberdade, uma leveza, que se eu tivesse filho não seria assim. E eu gosto muito dessa liberdade. Entretanto, apesar da importância que o estilo de vida assume nos relatos, as próprias entrevistadas afirmaram que a decisão por não ter filhos é baseada em um conjunto de fatores (RIOS, 2007). De fato, nas quinze entrevistas realizadas, não menos que quatro motivos foram listados. E, em alguns casos, os motivos dados apareciam como desculpas,

130 130 como assumiu Adeline, ao falar: eu acho que eu arranjo desculpa pra justificar o meu não querer ser mãe. Carmichael & Whittaker (2007) já haviam mencionado como algumas de suas entrevistadas usavam justificativas para mascarar a ausência de vontade de mudar o estilo de vida. Tânia parece explicar: Eu acredito que quando o objetivo é forte, quaisquer dificuldades são vencidas, quando isso é uma coisa muito forte na pessoa... Sabe às vezes eu fico me perguntando se essas não são algumas desculpas pra não fazer a coisa. Nas entrevistas, essa lista de motivações parecia servir apenas para confirmar, ou alguns casos para mascarar, uma decisão que já havia sido tomada por um razão maior: a falta de vontade de ser mãe, que também aparece nos relatos como: falta de instinto materno, falta de interesse por crianças, falta de vocação. Esse foi o motivo mais mencionado nas entrevistas realizadas, conforme relatos abaixo. Esses achados também aparecem nos estudos de Lang (1991), Weston & Qu (2001), Gillespie (2003), Defago (2005) e Carmichael & Whittaker (2007). A vontade de ser mãe simplesmente não se manifestou em mim. (Karla) O meu empurrar com a barriga tem a ver com falta de desejo em ser mãe. (Helena) É uma responsabilidade muito grande por uma coisa que não é uma vontade tão grande assim (Fátima) Dizem que nosso relógio biológico em algum momento dá aquele ultimato... Eu não tive. (Valéria) Assim, apesar de citarem muitas motivações, as entrevistadas não pareciam estar avaliando racionalmente as vantagens e desvantagens de ter filhos, conforme acreditava Gray (2003). Os discursos sugerem, entretanto, que trata-se primordialmente de uma questão de falta de vontade. Tânia assumiu: Não ter filhos não é uma coisa pensada. Inclusive, ao longo das narrativas, as entrevistadas parecem confirmar que, se tivessem vontade, superariam todas as motivações que haviam sido listadas previamente por elas, conforme relatos a seguir: quando o objetivo é forte, quaisquer dificuldades são vencidas ; se eu tivesse vontade, ia me adaptando à medida que os problemas (falta e dinheiro, de tempo, estresse) fossem surgindo ; com a vontade de ter filho, todas as questões são mitigadas.

131 131 Esses relatos parecem indicar que, de fato, as entrevistadas rejeitavam a maternidade como um ponto central de sua identidade (GILLESPIE, 2003; MANSUR, 2003; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). Para Adeline, não é toda mulher que tem instinto materno, afinal, ela não tem. Já Eleonor disse: ter filho não era uma realização pessoal para mim. Não fazia parte de mim. E Débora, afirmou se considerar childfree em oposição a sem filhos. Segundo Defago (2005), Basten (2009) e Ely (2009), o termo childfree possui um tom menos negativo e indica que ela não considera sua opção como uma perda. Finalmente, foi questionado se as entrevistadas cogitam a possibilidade de mudar de idéia. Nenhuma se mostrou enfática. A resposta mais comum é bem resumida por Tânia: Nunca diga nunca. Elza, por sua vez, disse antes eu queria ter. Se já mudei de idéia uma vez, posso mudar de novo. Mudar de opinião é uma possibilidade, como já indicavam Heaton & Jacobson (1999) e Weston & Qu (2001). Entretanto, algumas demonstraram que a probabilidade desse evento é muito baixa, como fica claro no relato de Valéria e Débora: se eu me mudasse pra um lugar mais calmo, com baixo custo de vida, estivesse ganhando muito bem, mas também tivesse muito tempo livre, talvez eu me arriscasse a ter filhos. (Valéria) se eu ganhasse na Mega-Sena acumulada me sentiria compelida a ajudar alguém e, com isso, pensaria em adotar. (Débora) Esses relatos sugerem que, para cogitarem a hipótese de ter filhos, as entrevistadas precisam imaginar uma realidade totalmente diferente e distante à sua, realidade essa praticamente inalcançável. Nesse contexto de motivações para a decisão de não ter filhos, um tema abordado nas entrevistas foi como os maridos influenciaram a decisão. Esse tema será tratado no tópico a seguir.

132 Como elas Enxergam a Participação dos Maridos na Decisão Nessa decisão tende a prevalecer a vontade da mulher porque é ela quem cuida. (Antônia) Inicialmente, a participação do homem na decisão por não ter filhos não era investigada. Entretanto, ao longo dos primeiros discursos, foi possível notar a recorrência desse tema. Algumas entrevistadas pareciam fazer menção à participação de seus maridos como sendo mais uma motivação de sua decisão, outras para apontar algum conflito que tenha ocorrido e outras ainda para afirmar que a decisão foi sua e ninguém a influenciou. Devido à importância desse tema, uma seção a parte de análise foi a ele dedicado. Conforme relatos abaixo, o discurso mais comum era o de que a responsabilidade de criar filhos recai principalmente sobre as mulheres, o que também foi identificado nos estudos de Lang (1991) e Jablonski (1998): A mulher é a principal responsável pela criação dos filhos. (Débora) No final das contas, com raras exceções, a bomba (a criação dos filhos) estoura para o lado da mulher. (Fabiana) A responsabilidade recai sobre a mulher. Não dá pra ter a ilusão de que seria diferente. Minhas amigas contam que os maridos ajudam com os filhos. Só a escolha do verbo ajudar indica um envolvimento menor. Ou seja, se ele ajuda, é porque ele é coadjuvante. (Helena) Como as entrevistadas relataram que seriam as principais responsáveis pela criação, elas contaram que a decisão por ter ou não filhos recaiu sobre elas: ele largou totalmente a decisão pra mim. ; ele não fazia a menor questão de filhos, mas teria se eu quisesse. ; meu marido está decidido em não ter filhos, mas eu já falei pra ele: a decisão final é minha. Esses achados aparentam estar em conformidade com Lang (1991), Jablonski (1998) e Defago (2005), para quem a opinião da mulher tende a prevalecer. Nesses casos, a falta de participação do homem na criação dos filhos apareceu como mais um motivo para não ter porque elas iriam arcar com toda, ou quase toda, a responsabilidade pelos filhos.

133 133 Entretanto, nesses relatos, ambos o marido e a mulher não queriam filhos. Conforme as entrevistadas, seus maridos não queriam filhos pelos mesmos motivos: perda da liberdade, medo da responsabilidade, falta de paciência e excesso de trabalho, despesas e aporrinhações. Dessa forma, mesmo que as entrevistadas digam que a decisão coube a elas, elas também afirmaram que ambos estão satisfeitos. Mas o que aconteceu nos casos em que o marido quis ter filhos? Esse foi o caso de Karla e Adeline, que afirmaram que os maridos não tiveram qualquer influência em suas decisões. Karla contou que desde o início do relacionamento deixou claro sua falta de vontade em ser mãe e que, com o tempo, o marido também foi demonstrando falta de interesse. Adeline, por sua vez, afirmou que ser pai é o sonho de seu marido. Mas como ela não tem vontade e sempre deixou isso claro, não acha que está errada em não ter, apesar de demonstrar sentir remorso. Ela contou que seu marido se acostumou com a idéia de não ter filhos, mas ela teme que ele se arrependa e termine o relacionamento. Esses casos aparentam estar em desconformidade com Rios (2007), cujos estudos indicaram que a decisão por ter ou não filhos parece ocorrer em conjunto. Ao contrário, algumas entrevistadas demonstravam que a decisão cabia unicamente a elas e o marido não teria espaço para opinar. Entretanto, em outros casos pareceu haver maior flexibilidade. Três entrevistadas contaram que se os seus maridos tivessem insistido elas teriam filhos, ou, ao menos, considerariam ter. Segundo Fátima, normalmente é a mulher que puxa esse assunto sobre filhos. Como nem eu, nem ele puxamos, estamos muito satisfeitos assim. Íris, por sua vez, conta que, mesmo não querendo ser mãe, ela tentou ter filhos para satisfazer o sonho de seu marido. Mas ela explicou para ele: Você quer ser pai e eu não tenho nada contra, mas lembre-se: eu serei o pai e você será a mãe. O seu horário é muito mais flexível e você vai ter que ficar com a criança a maior parte do tempo. E ele me disse: Não, eu quero ser o pai. Você vai ser a mãe. Eles tiveram dificuldade para engravidar e ela contou que, pouco tempo depois, o marido desistiu de ter filhos. Essa postura de querer ter filhos sem aparentemente considerar as responsabilidades envolvidas também foi relatada por Fabiana. Ela contou que o marido diz querer ter filhos, mas ela não acredita: vejo nas atitudes dele, na maneira dele ser que, no

134 134 nosso relacionamento não cabe um filho. Essa descrição da postura masculina em torno da paternidade aparenta confirmar que os maridos não assumem tanta responsabilidade pelos filhos quanto às esposas e que seus desejos não parecem tão firmes quando elas demonstram desinteresse em ser mãe. Assim, como identificado por Gray (2003), rapidamente, muitos abrem mão do que inicialmente foi descrito como um sonho. Nas entrevistas não foi relatado o caso contrário: a esposa querer filhos e o marido não. Entretanto, todas listaram muitos resultados decorrentes da decisão por não ter filhos. 5.5 Resultados da Decisão de Não Ter Filhos É uma decisão muito difícil. Especialmente para a mulher, por ser definitiva. (Fátima) Inúmeros parecem ser os resultados positivos da decisão de não ter filhos. As entrevistadas citaram: maior liberdade, menor restrição orçamentária, dádiva do descanso, bom relacionamento com o marido, ter uma vida mais imprevisível e não ter responsabilidade sobre a vida de alguém. Esses achados parecem estar em conformidade com Lang (1991); Weston & Qu (2001); Gillespie (2003) Gray (2003), Carmichael & Whittaker (2007) e Rios (2007). Em alguns casos, esses resultados positivos parecem se confundir com as motivações, mas Karla explica: Ter mais tempo livre, poder curtir os amigos e poder viajar não são as razões para não ter. O motivo é a falta de vontade mesmo. Mas, como disse Antônia, há um preço a se pagar pela decisão e também parece haver diversos resultados negativos. Algumas vezes as entrevistadas demonstraram, inclusive, vivenciar algum tipo de conflito em decorrência da opção por não ter filhos. Conforme sinalizado por Lang (1991), Thomas (1995); Gillespie (2003) e Carmichael & Whittaker (2007), algumas entrevistadas relataram sofrer pressão. Para Gray (2003), as pessoas menos próximas ao casal eram os que mais pressionavam. Nas entrevistas, entretanto, foi identificado que a principal fonte de pressão aparenta ser os pais e sogros, o que está de

135 135 acordo com Lang (1991) e Gillespie (2003). Fátima conta que seu pai a pressiona porque teme que a família, que já é pequena, acabe. Em alguns casos, porém, amigos e colegas de trabalho também cobram, como fica claro nos relatos a seguir. As pessoas não entendem. É como você estivesse indo contra todas as leis da natureza. Você é mulher. Você tem útero. Você tem que engravidar. É uma obrigação que a gente tem de dar continuidade. (Adeline) Depois que você casa, aquele papel social de criar uma família fica em evidência. Te põe na testa: agora você precisa ter filhos. (Mariana) Entretanto, algumas entrevistadas, que se mostraram mais seguras de sua decisão de não ter filhos, aparentavam sofrer menos pressão que as demais. Elas contam não dar margem para críticas de outras pessoas além de seus familiares. Já as menos seguras relataram sentir pressão de todos os lados, como o caso de Alice que se sente pressionada até por seus vizinhos. Esse achado pode significar que existe uma relação entre o grau de certeza da decisão e o nível que estas mulheres se deixam incomodar com a pressão das pessoas, assim como havia sido identificado por Rios & Gomes (2009). Em alguns casos, a maior pressão parece ter origem na própria entrevistada, como indicado nos relatos a seguir: Quando eu me ouvi falando que não queria ter filhos eu parei e pensei será que eu sou uma pessoa normal? E depois eu fiz uma reflexão e concluí: Não. Ok. Sou sim. (Eleonor) Eu me sinto mal de falar pros outros que eu não tenho vontade de ter filhos. Parece que eu sou uma pessoa ruim, egoísta. Não é uma decisão fácil, entendeu? E no meu meio isso não é normal. Todos os meus amigos querem ter filhos e daqui a pouco vão começar a tentar. (Renata) Renata ainda parece estar vivenciando um conflito interno. Ao mesmo tempo em que não sente vontade em ser mãe, ela aparentava querer se encaixar no padrão social e se sentir normal. Por outro lado, esse padrão social foi criticado por outras entrevistadas. Elas afirmaram que as pessoas aparentam ter dificuldade em aceitar diferenças e que isso gera preconceito com as mulheres que optam por não ter filhos. Em consonância com os achado na revisão de literatura, parece existir um estigma ao redor dos casais sem filhos (SOMERS, 1993; THOMAS, 1995; GRAY, 2003; MANSUR, 1993; BASTEN, 2009; RIOS & GOMES, 2009)

136 136 e as entrevistadas reclamaram que são estereotipadas como mulheres sem amor, não naturais, que não gostam de crianças ou como mulher do trabalho. Algumas contam que não ter filho parece um crime. Afinal, nasceram com útero para isso. Mariana relata sofrer esse preconceito de sua família. Por outro lado, ela já presenciou situações de preconceito com colegas de trabalho que querem ter filhos, visto que algumas pessoas sugerem que ter filho tem relação de oposição a profissionalismo. Ela contou: Já cansei de escutar as pessoas perguntarem para as mulheres que pensam em engravidar: E aí? Vai resolver ser dona de casa? Beleza... (Mariana) Em nenhum momento as entrevistadas mencionaram que se sentem discriminadas no ambiente de trabalho por não gozarem dos mesmos benefícios dos com filhos, como horários flexíveis e auxílio creche, conforme encontrado por Lang (1991) e Defago (2005). Ao contrário, conforme fica claro no relato a seguir, os eventuais benefícios das mães foram classificados como desvantagens no ambiente de trabalho, o que também já havia sido sinalizado por Defago (2005): As empresas deveriam ter outro tipo de relação, não só com a mãe, mas com o pai também, [...] mãe tem flex time e o pai não. [...] isso já gera, necessariamente, uma desvantagem pra mulher, porque o empregador, na hora de contratar, vai preferir o homem, porque o homem não tem flex time. Mesma coisa como a questão da licença maternidade. (Helena) Outro preconceito mencionado nas entrevistas se refere à associação do sentimento de egoísmo à decisão de não ter filhos (GILLESPIE, 2003; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007). Mesmo algumas entrevistadas, como Renata e Adeline, disseram se sentir egoístas com a decisão, mas que seria hipócrita ter um filho por esse motivo. Ter filho deve ser algo prazeroso para o casal e não algo imposto pela sociedade e que outras pessoas vão acabar cuidando, como a sogra, a madrinha ou a babá (Valéria) Outras consideram que ser egoísta por não ter filhos é opinião pública, com a qual discordam ou disseram não se importar. Algumas chegaram a falar que a decisão por ter filhos pode ser igualmente egoísta, o que também aparece no estudo de Lang (1991) e Gray (2003).

137 137 Para mim, não ter filhos é tão egoísta quanto ter, porque é uma decisão baseada inteiramente na vontade dos pais. Muita gente não tem dinheiro e mesmo assim tem filhos e tem criança em cada esquina jogando bolinha pra cima. (Débora) Acho mais honesto você não ter [filhos], do que ter para prestar conta à sociedade. Eu não vejo como egoísmo, mas se for, ok. (Fabiana) Conforme os relatos, as entrevistadas parecem remeter à distinção entre bom e mau egoísmo feito por Gray (2003). De um modo geral, elas não concordam que estejam prejudicando alguém com sua opção (mau egoísmo), mas que estão decidindo com base no que parece ser melhor para elas (bom egoísmo). Afinal, conforme relatos, parece ser irônico ter um filho, apenas para não ser consideradas egoístas (GRAY, 2003). A possibilidade de arrependimento da decisão (LANG, 1991; GILLESPIE, 2003) de não ter filhos também foi um tópico recorrente nas entrevistas. Entretanto, para Karla, não é possível você se arrepender de algo que nunca teve vontade de fazer, o que também havia sido observado por Lang (1991). Para outras entrevistadas, no entanto, a possibilidade de arrependimento parece ser uma questão conflituosa. Foi possível observar nos relatos o medo de sentir arrependimento, tanto de não ter como de ter filhos, conforme mostram os testemunhos a seguir: Muitas mulheres (que tiveram filhos), que fazem exame comigo, falam: Se eu soubesse que minha vida ia ficar assim... eu me arrependo... Eu não quero falar isso. Acho horrível. Prefiro me arrepender de não ter tido do que de ter tido. Depois não tem como voltar a trás. (Valéria) Não vou ter filho como um seguro de arrependimento futuro. Até porque, o futuro é tão incerto. (Helena) Eleonor, a entrevistada de idade mais avançada (55 anos), conta que é muito comum a pergunta sobre se ela se arrependeu da decisão, ao que responde de forma muito natural: Lógico que não. Adoro tudo o que eu faço. Inclusive, Eleonor aparenta ser mais um exemplo de que não parece haver relação entre ausência de filhos e solidão e depressão na meia idade, conforme havia afirmado Koropeckyj-Cox (1998). Entretanto, o medo da solidão no futuro foi uma preocupação recorrente nos discursos, o que está em conformidade com Carmichael & Whittaker (2007) e Rios (2007).

138 138 Só sou eu e meu marido. Eu tenho muito medo que algo aconteça a um de nós porque o outro vai ficar sozinho. (Valéria) Logo em seguida, entretanto, Valéria procura esconder esse medo e afirma que sua família é grande e que certamente não ficará sozinha. Essa mudança em seu discurso sugere que apesar do medo, ela busca se confortar com outros aspectos de sua vida. Elza, após refletir sobre seu medo de ficar sozinha no futuro, conclui: Acho que, em termos de ficar mais velha e ter alguém para me visitar, quando você tem amor com as outras pessoas, não falta amor de volta nunca. (Elza) Apesar de sentirem medo da solidão, as entrevistadas afirmaram que não teriam filhos porque não iam querer se tornar um peso para eles. Eleonor contou que não teme a solidão, já que tem muitos amigos, mas disse se preocupar com quem irá cuidar dela quando estiver mais idosa. Ela afirmou, entretanto, que suas amigas com filhos também têm as mesmas preocupações com o futuro porque não querem depender nem dar trabalho aos filhos. Não apenas o medo de da solidão no futuro pareceu afligir as entrevistadas. Elas também demonstraram uma preocupação, no presente, com a perda de um foco de afeto. Para mim, o pior é você não ter uma experiência afetiva que, sem dúvida, é muito gratificante. Eu não ignoro que há uma perda associada a não ter, mas tenho meus sobrinhos e acho que isso compensa um pouco a perda associada a não ter filhos. (Helena) Assim como Helena, outras entrevistadas aparentavam também racionalizar e acreditar que conseguiam compensar ou canalizar seu carinho para outras pessoas em suas vidas, como sobrinhos, afilhados, alunos, ou mesmo, para animais de estimação, o que também foi observado por Lang (1991), Hirschman (1994) e Defago (2005). Na presente pesquisa, entretanto, elas descreveram apenas crianças e animais de estimação, a quem tratam como se fossem filhos substitutos, enquanto Lang (1991) identificou que parentes idosos e pacientes também serviam como foco de afeto que seria destinado aos filhos. Talvez a necessidade por filhos substitutos exista para satisfazer a sensação de continuidade mencionada por algumas entrevistadas, ou então, passar para alguém o que você fez na vida., como explicou Mariana. Mesmo Eleonor, que garante não ter se

139 139 arrependido de sua decisão e que se mostra apaixonada por sua vida, fala sobre essa necessidade de compensação. Eu fui professora por muitos anos. Então tenho uma filharada enorme. O lado materno ficou aqui. Com as análises de motivação e resultados concluídas, foi possível identificar algumas preocupações dos casais sem filhos, assim como algumas de suas aspirações. Esses achados permitiram começar a entender o contexto desses casais para o estudo do comportamento de consumo, foco das próximas seções. 5.6 Aspectos Gerais do Consumo dos Casais Sem Filhos Se eu tivesse uma criança, não poderia gastar o que gasto comigo mesma (Íris) Ao serem perguntadas sobre o comportamento de consumo dos casais sem filhos, algumas entrevistadas, espontaneamente, traçaram comparações com o consumo dos casais sem filhos, o qual foi considerado limitado e cheio de restrições. Afirmaram que eles selecionam para onde viajar e onde comer com base na conveniência da criança, que possui restrição de horários. Falaram também que, como os filhos vêm sempre primeiro, os pais acabam se deixando de lado. Como mostram os testemunhos a seguir, mais uma vez elas parecem associar filhos a restrições, a limites e à culpa, sentimentos esses que eles rejeitam em prol de seu estilo de vida: Pelo que vejo das minhas irmãs, os casais com filhos abrem mão deles mesmos, consomem menos coisas para eles mesmos e têm uma vida social muito limitada. (Valéria) [...] É o que eu escuto das minhas amigas, que os pais sentem muita culpa em gastar com eles mesmos ao invés de dar um presente melhor para o filho ou colocar numa escola melhor. (Karla) Não tenho o problema de me sentir culpada por comprar um corretivo de R$150,00, ao invés de comprar um tênis para o filho. (Fabiana) O consumo dos casais sem filhos, por outro lado, foi descrito como um consumo mais individualizado e sem restrições. As entrevistadas contaram que eles tendem a gastar mais consigo mesmo, o que está em conformidade com Paul (2001), segundo quem o gasto per capita desses casais é maior. A palavra mais apareceu repetidas vezes nos relatos, quando as entrevistadas descreviam o consumo desses casais:

140 140 Casais sem filhos vão mais a restaurantes, cinemas e teatros e podem viajar mais também. (Antônia) Podem frequentar lugares mais sofisticados e com mais conforto. (Fátima) Não ter filho influencia muito. Eu posso comprar marcas mais caras. Eu posso ir mais ao salão e só usar os produtos da MAC e Kerastase. (Fabiana) Casais sem filhos podem comprar melhores marcas, comprar mais por impulso e podem experimentar mais novidades. Se a gente tivesse, nesse momento, ganhando o que a gente ganha, com filho, a gente não teria vários luxos que a gente tem hoje em dia. De pegar e: Ah, vamos viajar? Vamos. Não existe o imprevisível. (Mariana) No discurso de Mariana é possível identificar outras características associadas ao comportamento de consumo destes casais sem filhos: a liberdade de decisões rápidas, a possibilidade da imprevisibilidade e o consumo por impulso. Os relatos sugerem que essa liberdade é possível apenas pela ausência de filhos e esses achados parecem estar em conformidade com Stephenson (1997). Algumas entrevistadas também mencionaram como gostam e como podem experimentar as novidades, sejam novos produtos ou serviços. Mariana explicou através de um item barato como o sabão em pó, sua liberdade orçamentária: Quem tem filho, tem menos liberdade do risco, de chegar e comprar uma marca de sabão em pó, por exemplo, que acabou de lançar, porque, poxa, se não funcionar na roupa dela, vai ter que pagar por outro. E eu tenho essa possibilidade, entendeu, de chegar e escolher uma marca nova. Ou chegar e comprar, por impulso, alguma coisa que se eu tivesse filho não poderia. Eu teria um orçamento muito restrito. Ao serem questionadas se havia alguma categoria que os casais sem filhos consumissem menos a resposta, de uma forma geral, foi relacionada à quantidade, justamente porque a família é menor. Assim, compram menor quantidade de alimentos, acreditam que gastam menos luz e contratam a diarista menos vezes na semana, o que, no entanto, não parece ser uma indicação de que gastam menos ou poupam mais. Como conta Karla: se eu não gastei tudo o que eu tenho e que eu separei para gastar, eu não boto na poupança, normalmente eu gasto tudo. Esse relato parece lembrar o estudo de Barros et al. (2008) que indicou que esses casais buscam a satisfação imediata.

141 141 Os achados do estudo de Lang (1991) mostram que por não terem filhos, além de mais renda, esses casais também têm mais tempo para gastá-la. Já na presente pesquisa, as entrevistadas falaram muito em falta de tempo ; rotina cheia e correrias do dia-a-dia. Foi possível identificar, no entanto, que essa falta de tempo é lembrada nos testemunhos apenas quando elas descreviam atividades que não gostam, como cozinhar ou outras obrigações domésticas. O tempo não parece mais ser um problema quando falavam de suas prioridades, como passear com o cachorro ou jantar fora, o que parece indicar que as entrevistadas dedicam seu tempo livre exclusivamente a atividades de lazer e prazerosas. A presença constante da palavra tempo nos discursos também parece estar relacionada a uma busca por produtos e serviços práticos, que solucionem fácil e rapidamente seus problemas, permitindo dedicação a atividades mais prazerosas. A busca por praticidade, outra palavra constante nos discursos, conforme relatos a seguir, também foi um achado da pesquisa de Bloom & Bennett (1986) e Hwan Lee & Schaninger (2003). Geralmente eu faço tudo pela internet. Pago minhas contas, resolvo coisas de viagens, peço comida. Ou então pelo telefone. Faço as compras da farmácia e do Hortifruti pelo telefone e peço para entregarem na minha casa. (Antônia) Normalmente eu só faço um lanche à noite. Mas se quero fazer uma refeição, eu pego na geladeira um congelado ou alguma coisa semi-pronta e de fácil preparo. Tudo muito prático. (Adeline) Toda essa descrição de busca por espontaneidade, imprevisibilidade, individualismo, ausência de restrições financeiras e desejo por liberdade parece remeter, mais uma vez, ao estilo de vida que esses casais buscam e parecem não querer abrir mão (LANG, 1991; DEFAGO, 2005; CARMICHAEL & WHITTAKER, 2007; RIOS, 2007; ELY, 2009). Mas quais seriam os itens de consumo mais almejados por esses casais? Conforme as entrevistadas, os casais direcionam primordialmente sua renda para atividades de lazer, as quais incluem principalmente viagens e restaurantes. Esses achados estão em conformidade com os estudos de Bloom & Bennett (1986), Ambry (1993), Paul (2001), Rios (2007) e Ely (2009). Como explicou Eleonor: Quando você não tem filhos o perfil de consumo é, um perfil realmente, de restaurantes e viagens. São pessoas que investem mais em lazer. (Eleonor)

142 142 Além das categorias de bens e serviços estudadas pela pesquisa, outras, que também foram identificadas na revisão de literatura (Tabela 7, p.56), foram mencionadas espontaneamente. São eles: cinema, teatro, livros, DVDs, itens para a casa, roupas, jóias e serviços que facilitem a vida. Algumas diferenças entre esses itens mencionados e os encontrados na revisão de literatura podem ter ocorrido pelo fato de, na presente pesquisa, apenas mulheres terem sido entrevistadas, o que levaria a um viés para mencionarem produtos mais femininos como sendo muito consumidos pelo casal. Dessas categorias espontaneamente mencionadas ao longo das entrevistas, duas merecem destaque pela frequência com que apareceram nos discursos. Um deles foi o serviço de academia, de aulas de Ioga e de Pilates. Algumas consideravam uma obrigação para controlar o peso e outras demonstravam prazer com suas aulas. Os relatos indicam que essas atividades são vistas pelas entrevistadas como um meio de manter a saúde do corpo e da mente e que elas arranjam tempo para encaixar tais atividades em suas rotinas. Adeline contou que chega em casa todos dias às 22:00, mas não abre mão da academia. Talvez o fato de terem sido entrevistadas apenas mulheres residentes do Rio de Janeiro e Niterói tenha contribuído para esse resultado, em virtude de se tratarem de cidades litorâneas em que há grande correlação entre verão, praia, biquíni, resultando em um culto ao corpo (GOLDENBERG, 2004). Entretanto, o mesmo interesse e dedicação a atividades físicas também foi encontrado na pesquisa de Ely (2009), realizada em Porto Alegre. Outra categoria que merece destaque é a de cuidados pessoais, especialmente serviços de beleza e produtos cosméticos, que parecem ter grande importância na vida de algumas entrevistadas, o que também foi encontrado por Ely (2009). Valéria, por exemplo, apesar de afirmar não ser grande consumidora de cosméticos, concedeu a entrevista em um salão de beleza, onde um cabeleireiro coloria seus cabelos e duas manicures davam tratamentos às unhas dos pés e das mãos. Fabiana contou como só usa MAC e Kerastase, marcas caras. Renata, dermatologista, contou que testa muitos produtos cosméticos e trouxe uma interessante percepção: Pelo o que eu vejo das pacientes que eu atendo, às vezes, a mãe não tem muito tempo pra se cuidar. Entendeu? Ela acaba se deixando de lado. Ela tem dificuldade de seguir um pouco o tratamento. As que não são mães são bem mais fiéis aos tratamentos.

143 143 De acordo com esses depoimentos, as mulheres sem filhos, além de ter mais recursos financeiros para gastar, aparentam ter mais paciência para se cuidar e mais dedicação a si mesma. Parece se tratar de uma questão de prioridade. No caso, por não terem filhos, a prioridade continua sendo elas mesmas. Uma vez tendo sido analisados alguns aspectos gerais do comportamento de consumo dos casais que optaram por não ter filhos, as próximas seções trarão análises sobre as quatro categorias de consumo avaliadas com mais profundidade pela pesquisa: alimentação, viagens, carros e animais de estimação. 5.7 A Experiência da Alimentação Mas to pagando também pela variedade, pela qualidade do atendimento. O lugar ser bonito. Enfim, pra mim isso é importante [...] Eu pago pela experiência. (Alice) De acordo com as entrevistas, a alimentação aparece com dois papéis distintos. Ora é uma obrigação, ora é uma forma de lazer. Durante a semana, devido à correria da rotina de trabalho, as refeições foram descritas como um encargo. Conforme Karla: O almoço é mais uma necessidade. Pelo menos o almoço durante a semana. Normalmente, os almoços são realizados no momento de trabalho, no refeitório ou em um restaurante simples. Mas, à noite, a refeição foi retratada como um problema a ser resolvido. Antônia e Fátima contaram que, além de não terem tempo, não gostam de cozinhar. As diaristas muitas vezes também não cozinham. Então, para se alimentarem à noite, as entrevistadas contaram que solucionam a questão, utilizando serviço de entrega de comida, fazendo lanches simples ou indo a restaurantes. A escolha por uma destas opções ocorre por impulso. Os serviços de entrega, com exceção da pizza, não foram muito bem avaliados. Antônia contou como não gosta da qualidade da comida entregue e nem de sua aparência molenga. Renata descreveu como porcaria o que costuma pedir: pizza e McDonalds. Mariana, por sua vez, afirmou que chega em casa tão cansada que não quer ter trabalho de cozinhar nem de

144 144 lavar a louça. Então o serviço de entrega não serve no seu caso porque ela teria que sujar louças. Algumas entrevistadas contaram que, à noite, para não terem que cozinhar, não jantam, mas apenas fazem rápidos lanches. Conforme Tânia: a gente chega tão cansado que come qualquer coisinha que achar na frente [...] A gente faz um lanche e pronto. Quando querem algo um pouco mais elaborado, fazem uso de congelados de fácil preparo. O objetivo é que seja tudo muito prático e rápido. Adeline detalhou: O meu consumo em casa é de pão, manteiga, frios, leite e frutas. Só coisa pro lanche. Os restaurantes, por sua vez, são bastante frequentados. Durante a semana eles possuem um papel mais prático e os critérios principais parecem ser o nível de cansaço, a proximidade, a falta de barulho e confusão e a rapidez. Assim, restaurantes Buffet e A Kilo são listados como boas opções. Ely (2009) também havia identificado o restaurante como uma alternativa aos poucos alimentos mantidos em casa. Essas experiências descritas das refeições nessas famílias sem filhos sugerem um baixo envolvimento desses casais com a culinária doméstica visto relatarem pouca variedade de alimentos disponíveis em suas casas, além de uma busca incessante por praticidade e comodidade. Ainda que tenham sido apontadas três soluções: restaurantes, serviços de entrega ou lanches rápidos, algumas entrevistadas consideraram essas alternativas insatisfatórias. Contaram que sentem falta de poder comprar comidas prontas ou semi-prontas no caminho de casa. Elas gostariam de unir a qualidade de algo fresco com o conforto de suas casas, conforme relatos abaixo. Eu acho que o mais complicado para os casais sem filhos é o dia-a-dia porque o excepcional (restaurantes, lojas de petiscos e coisas do gênero) já foi coberto. Você está de saco cheio, chega do trabalho cansada, quer fazer uma janta light e fresca, como você faz? Não tem lugar nenhum que ofereça uma comidinha gostosa pra levar pra casa. Nada com uma cara boa, pelo menos. (Eleonor) Durante a semana, eu queria reproduzir o ambiente que tenho em casa. Se eu estivesse jantando em casa, qual seria o ambiente? O ideal pra mim seria que fosse assim, um serviço a domicílio de jantar. Traz a comida e depois

145 145 leva tudo embora. Não quero me preocupar com fazer comida, lavar louça e tudo mais. (Mariana) O relato de Mariana sobre comer em casa ou comer fora nos remete a duas categorias culturais: a casa e a rua (DaMatta, 1986). Ao analisar a sociedade brasileira, DaMatta (1986) observa o conflito existente quando a pessoa sai da casa, um lugar caracterizado pela calma e tranquilidade, e vai para a rua, um local marcado pelo movimento e trabalho. Mariana em sua sugestão sobre a experiência da refeição cotidiana parece buscar convergência entre esses ambientes, pois gostaria de unir a tranquilidade de seu casa à praticidade da refeição na rua. Já nos finais de semana, a alimentação aparece mais associada a uma atividade de lazer. Conforme Karla, é além daquela coisa da necessidade, é um prazer. E a atividade mais comum é ir a restaurantes. Da mesma forma que os achados dos estudos de Bloom & Bennett (1986), Douthitt & Fedyk (1988), Stephenson (1997), Rios (2007) e Ely (2009), as entrevistadas contaram gastar muito com restaurantes. Alice e Fabiana, por exemplo, contaram que de sexta a domingo só fazem refeições fora. O relato de Eleonor ilustrou esses gastos: Então, por exemplo, a gente é daquele tipo assim que sempre foi muito consumista de restaurante. Meu marido e eu, se resolvêssemos pegar, ao longo da vida, todo o dinheiro que a gente gastou em restaurante... nossa... ou então porque a gente gosta de sair pra tomar um vinho, pra tomar um champanhe de noite, bater um papo com os amigos... Nessa ocasião, os critérios de seleção de restaurantes são semelhantes aos listados por Stephenson (1997): qualidade da comida, bom atendimento, apresentação do local, presença de estacionamento e pouco tempo de espera em fila. Sobre esse último quesito, as entrevistadas contaram que acham um absurdo ter que esperar para pagar por algo. Algumas, para evitar esse problema, buscam fazer reserva com antecedência. Íris contou uma ocasião em que mesmo com reserva, teve que esperar uma hora para sentar. Como resultado, ela afirmou: Nunca mais volto lá. Já Adeline afirmou que, por não ter filhos, pode sair para almoçar mais tarde e já não encontra mais tanta fila. Também por não ter filhos e em conformidade com Stephenson (1997), as entrevistadas contaram que podem decidir ir ao restaurante de forma impulsiva. Mariana diz: quando eu chego em casa muito cansada do

146 146 trabalho eu chamo meu marido pra comer fora e a gente vai, sugerindo uma liberdade que provavelmente não existiria se tivessem filhos. Outra característica muito mencionada foi que o ambiente seja tranquilo, sem tumulto nem confusão. Com isso, lugares com música ao vivo ou mesmo com muitas crianças são rejeitados. Conforme Valéria, o objetivo é que se possa conversar tranquilamente com o marido. Mais um critério de decisão destacado nos relatos foi o preço. Da mesma forma que os achados do estudo de Stephenson (1997), as entrevistadas contaram que, como frequentam rotineiramente restaurantes, se preocupam com preço para equilibrar o orçamento e não falir. Algumas, entretanto, relataram que, em ocasiões especiais, gostam de ir a lugares mais sofisticados e mencionam caros restaurantes do Rio de Janeiro, como Gero, Mr. Lan e Cipriano. Débora, Adeline e Elza, mesmo pertencendo a uma classe sócio-econômica mais baixa, também falaram muito de suas idas a restaurantes e de suas preocupações com fila e tumulto. A diferença identificada no discurso ocorre no tipo dos restaurantes frequentados: são mais populares. Nos relatos, foi possível notar dois tipos diferentes de condutas na escolha do restaurante. Algumas contaram que gostam de frequentar lugares que já conhecem e estão acostumados e que inovam apenas em ocasiões especiais. Por outro lado, algumas entrevistadas falaram que gostam de variar e buscam experimentar novidades frequentemente. Entretanto, as entrevistadas mencionaram ter uma seleção de restaurantes rotineiros em que confiam cegamente : a gente tem uma relação de restaurantes que costumamos frequentar. Quando um deles fecha, é horrível, a gente se sente meio órfão ; para gente, os melhores lugares são aqueles que o garçom já conhece a gente pelo nome. O atendimento fica bem melhor. Diferente de outras categorias analisadas, nos serviços de restaurantes foi possível identificar casos em que foi relatada uma relação quase afetiva entre os casais e os restaurantes escolhidos e preferidos, conforme parece indicar o uso do termo órfãos e da citação conhece a gente pelo nome.

147 147 Consumo do Supermercado Ainda no quesito de alimentação dos casais sem filhos, as entrevistadas foram questionadas quanto às compras de supermercado. Foi possível identificar duas experiências de compras preferidas pelas entrevistadas: compras virtuais e presenciais. De uma maneira geral elas contaram não gostar e não querer perder tempo indo ao mercado rotineiramente. Assim, algumas contaram utilizar serviços de entrega e comprar pela internet ou por telefone. Os critérios de seleção do supermercado para elas são: qualidade e rapidez de entrega. Elas buscam conveniência e aceitam pagar mais por isso. Antônia disse prezar a praticidade e também faz compras da farmácia pelo telefone. Ela contou: Tudo que posso, compro assim. Fátima concorda, conforme relato abaixo. Minha hora é muito cara. Eu vou perder sei lá quanto tempo deixando de fazer um projeto para estar num supermercado? Não faz sentido pra mim. Outras, entretanto, apesar de contarem que também não gostam de fazer compras presencialmente, não utilizam serviço de entrega, por não confiarem que receberão produtos na mesma qualidade como se estivessem escolhendo: Os mercados ainda não estão preparados para fazer entregas em casa. O serviço não é bem feito. (Débora) Além de eu não confiar na qualidade, comprar pela internet ainda é muito caro. (Renata) Teve uma época que eu fazia compras por telefone. Mas demorava muito pra entregar, eles nunca respeitavam o horário e eu perdia um dia inteiro em casa esperando. Era mais rápido se eu fosse no mercado e comprasse logo. (Elza) Para esse segundo grupo, das entrevistadas que fazem compras presencialmente, os principais critérios de compra dos produtos no mercado são qualidade e preço. Para tentar chegar a um equilíbrio, as entrevistadas contaram fazer pesquisa de preço e realizar suas compras em mais de um supermercado. Frutas, legumes e verduras são comprados de acordo com a qualidade, normalmente no Hortifruti. Carnes e frios são comprados no Zona Sul ou Extra e apenas produtos de limpeza são consumidos de acordo com o preço, em um supermercado mais barato, como Wal-Mart ou Mundial, conforme relatos abaixo.

148 148 Produto de limpeza eu compro pelo preço porque, como eu tenho três cães, eu gasto muito. Agora, alimentação eu vou pela qualidade. Sempre procuro comprar coisas bem frescas. (Elza) Uma vez por mês eu vou ao Mundial pra comprar material de limpeza, porque lá é bem mais barato. Aí eu encaro, entendeu, porque vale a pena o preço. E eu encaro porque é sinistro. É tipo meio povão mesmo. Pega e aí vai, dá canelada. É meio louco assim, mas eu encaro. (Alice) Outros critérios de escolha do supermercado, como a proximidade do mercado ; a apresentação dos produtos ; a variedade e a qualidade de atendimento também apareceram em muitos relatos. A gente achou um (mercado) aqui perto que está bem bacana, o Prezunic, que eles fizeram um tão bonitinho, tão organizadinho, e é aqui em botafogo pertinho, e todo sábado a gente vai lá. (Tânia) Tem três supermercados perto da minha casa, mas eu sempre vou no Zona Sul. Mesmo quando é minha empregada que vai fazer as compras eu falo para ela ir no Zona Sul. É o mais bonito, limpo, agradável, de melhor atendimento e com os itens mais sofisticados. (Helena) Eu sei que o Zona Sul é mais caro, mas estou pagando também pela variedade, pela qualidade do atendimento. O lugar ser bonito. E tem uma demonstração de vinhos linda. Apesar de eu não comprar, mas eu acho lindo aquilo. Aí tem queijos e tal, é diferente. Coisinhas diferentes. Enfim, para mim isso é importante. [...] Eu pago pela experiência. (Alice) Eu adoro o Hortifruti porque tem uma parte que é só de coisa para casa, para servir, né, tipo um negocinho para colocar molho, aquelas colherinhas de degustação. Aí eu me encanto com essas coisas. Tem uma novidade, eu quero. (Karla) Os relatos acima também parecem indicar que o papel do supermercado, algumas vezes, vai além de simples fornecedor de itens de consumo. As entrevistadas também gostam de ir ao supermercado para passear, olhar e comprar novidades. Enfim, os supermercados aparecem como uma forma de lazer. Como relatou Alice, ir ao mercado pode ser uma experiência prazerosa. Mesmo as três entrevistadas que afirmaram prezar a conveniência e fazer compras pela internet também afirmaram que, eventualmente, gostam de ir aos mercados para averiguar as novidades. Nesse caso, o papel do mercado novamente aparenta ser mais de lazer do que ser um lugar comum para fazer compras.

149 149 Diferente das entrevistadas que declararam fazer pesquisa de preço, três respondentes foram enfáticas ao declarar que compram os produtos apenas com base na qualidade. Contaram que compram no supermercado que lhes é mais conveniente, com base nos critérios de disponibilidade do produto, qualidade, proximidade do mercado e outras questões como meio ambiente: Recentemente eu mudei todos os produtos de limpeza aqui de casa. Troquei todos por biodegradáveis. Além de ser melhor pro meio ambiente e tal, é melhor pro cachorro. (Íris) Entretanto, elas também falaram que se preocupam em aproveitar as promoções e compram para fazer estoque, o que pode sugerir uma preocupação com o preço desde que ele não afete a conveniência. Helena foi clara ao falar sobre diferenças na experiência de compra em supermercados quando o casal não tem filhos: Eu sei que o Zona Sul é também o mais caro, mas a gente tem um padrão de gasto diferente. Não compro leite, arroz e feijão pra todos os dias. Não tem aquela coisa de quem tem filho, que tem que comprar um monte de comida. Então, acho que você pode se dar a esse tipo de luxo de fazer suas compras de produtos mais sofisticados como geléias importadas e sorvete Haagen-Dazs. (Helena) O consumo de bebida alcoólica não foi muito destacado pelas entrevistadas e foi descrito apenas como eventual, embora tenha sido possível identificar, nos discursos, uma preferência por bebidas importadas. Esse resultado foi diferente dos achados do estudo de Ambry (1993) que destacou o maior consumo de bebida alcoólica pelos casais sem filhos. Por outro lado, um item frequente na lista de compras das entrevistadas são as comidas práticas, como congelados e comidas semi-prontas. Novamente, elas contaram não se importar em pagar mais caro, em nome da praticidade. Cabe destacar, ainda, que, nos relatos, foram frequentes as reclamações sobre a grande quantidade em que os produtos são oferecidos e sobre desperdício que isso causa. Karla contou que costuma comprar saladas prontas porque se comprar os itens individuais, certamente, vão sobrar. Ela afirmou saber que desse jeito ela paga mais, mas prefere não desperdiçar. Reclamou, porém, que são poucos os itens vendidos em pequena quantidade. Para Eleonor, também, as quantidades não são adaptadas a famílias menores.

150 150 Empregadas Domésticas ou Diaristas? Um serviço muito mencionado nas entrevistas foi o de diarista. Por trabalharem muito, as entrevistadas afirmaram não ter tempo para as atividades domésticas, o que também foi descrito por Bloom & Bennett (1986), Assim, as entrevistadas contam com a ajuda de diaristas. Conforme Íris: Quando eu estava em Londres (fazendo o mestrado), meu vizinho ficava espantado que eu tinha uma faxineira. E eu falei pra ele que, no Brasil, isso é o mínimo que alguém de classe média tem. Entretanto, elas contaram que, como não tem filhos, não há necessidade de uma empregada doméstica em horário integral porque não há tanta roupa para lavar nem tanta bagunça para arrumar e não precisa fazer comida todo dia porque a gente come muito fora. Como nós somos uma família pequena, a diarista não precisa vir mais de uma vez na semana. As relações com as empregadas domésticas e como elas se inserem, inclusive, no consumo das famílias, começam a despertar o interesse de pesquisadores no Brasil. Para Fraga (2009), como as famílias brasileiras estão menores, não haveria necessidade de contratar o serviço todos os dias do mês. Segundo o autor, está havendo um aumento no número de diaristas, que já representam 25% das prestadoras de serviços domésticos. Parece que a classe média não consegue reproduzir mais a mesma relação com o trabalhador doméstico que as gerações anteriores conseguiam. (FRAGA, 2009). Os achados da presente pesquisa parecem estar em conformidade com o estudo do autor. Conforme os relatos abaixo, foi possível identificar ainda outro motivo para que as entrevistadas não queiram que a diarista frequente a casa rotineiramente: não querer uma pessoa estranha em casa. Algumas contaram que, por conta disso não querem a diarista mais de uma vez na semana, mesmo que isso implique que elas mesmas tenham que realizar algumas tarefas domésticas. Esse resultado sugere que as relações com as empregadas domésticas, no caso desse grupo, foi reduzida a uma prestação de serviços periódicos, o que novamente aparenta estar de acordo com o achado de Fraga (2009). A gente tem uma empregada, que vem uma vez na semana, que faz comida, passa roupa, arruma a casa. [...] Mas eu também não gosto dela mais do que um dia. É mais do que suficiente [...] porque não me sinto à vontade. Eu não gosto de outra pessoa aqui dentro de casa. (Renata)

151 151 Com a empregada eu acho que as coisas começaram a fugir um pouco do meu controle. Até porque eu não tomava conta da casa e eu comecei a não gostar de como as coisas estavam sendo conduzidas. Fora que eu não gosto de uma pessoa estranha na minha casa, entendeu? Aí eu coloquei diarista 2 vezes por semana pra fazer comida, faxina, passar roupa. Ficar com a parte ruim. E a roupa eu lavo, a louça eu cuido. E tá indo bem. Só eu e o marido, é tranquilo, né. (Valéria) As funções da diarista são variadas, sendo as mais comuns as que as entrevistadas menos gostam de fazer, conforme relato de Valéria acima. As atividades mais mencionadas foram: faxina e passar roupa. As diaristas também ficam encarregadas das tarefas que não podem ser realizadas pelas entrevistadas por não estarem em casa em horário comercial: receber entregas e serviços de conserto. Algumas vezes também são responsáveis por cozinhar e deixar comida congelada para a semana e por fazer compras no mercado. Essa última atividade raramente ocorre. As entrevistadas afirmam que as compras normalmente são feitas junto de seus maridos. Assim, o serviço de diarista algumas vezes foi retratado como sendo a única solução para alguns problemas. Mas, ainda assim, aparenta não ser uma solução satisfatória. Pelo contrário, os relatos sugerem que as entrevistadas estão em uma fase de transição, em que buscam outras soluções. Entretanto, Renata questionou: Mas quem vai atender ao cara da NET ou o cara do conserto da máquina de lavar? 5.8 Viagens a Dois Procuramos conforto, mas sem um preço exorbitante (Fabiana) Uma das atividades de lazer preferidas das entrevistadas são as viagens. Os roteiros das viagens parecem ser selecionados em conjunto com o marido, o que também foi encontrado nos estudos de Bloom & Bennett (1986) e Hwan Lee & Schaninger (2003). Entretanto, o hotel, a companhia aérea e outros detalhes costumam ficar a encargo ora da esposa ora do marido, que assume o papel de agente de viagens. A praticidade, novamente, aparece como fator fundamental na organização da viagem e todas as etapas são realizadas através da internet, sem intermediários, conforme relatos: a gente discute, mas toda a compra e

152 152 planejamento, o Marcos faz pela internet. ; a gente compra tudo pela internet: passagem aérea, hotel, aluguel de carro. Tudo. ; a gente busca todas as informações do lugar na internet e marca tudo online mesmo. O destino da viagem, por sua vez, aparentou variar de acordo com o poder aquisitivo das entrevistadas. A preferência, em todos os casos, era por destinos internacionais. Ely (2009) também havia descrito como seus entrevistados buscavam planejar viagens internacionais anualmente. Na presente pesquisa, algumas entrevistadas afirmaram realizar de uma a duas viagens internacionais por ano. Karla contou que abriu mão das viagens nacionais para economizar para as internacionais. Segundo ela, quanto mais distante o país, mais exótico e interessante será. Já Mariana disse que faz mais viagens internacionais porque os destinos nacionais estão muito caros, mas, logo em seguida, ela admitiu que gasta mais nas viagens internacionais do que gastaria dentro do país. Assim, não pareceu comum o desejo por conhecer o Brasil. Apenas Fabiana e Débora demonstraram interesse por destinos nacionais, como Salvador e Fernando de Noronha. Mesmo as entrevistadas pertencentes a classes sócio-econômicas mais baixas relataram como preferem viagens com destinos internacionais. Duas ainda não têm condições financeiras de fazê-las, entretanto. Já Elza, a terceira, contou que tem vários amigos morando fora do país e que seleciona esses lugares para viajar. Dessa forma ela economiza hotel e comida. Mesmo algumas entrevistadas que parecem pertencer a classes sociais mais elevadas também encontram dificuldades para realizar viagens internacionais. Renata contou que, por ser profissional liberal, deixa de receber no período em que se ausenta. Tânia, por sua vez, contou que não consegue arranjar tempo para viajar. Entretanto, as entrevistadas que realizam viagens internacionais contaram que os principais critérios de escolha da hospedagem são o preço, a localização central, boa avaliação nos sites de turismo e o conforto. Mas o que é conforto? Através dos relatos fica claro que os conceitos de conforto e luxo são muito subjetivos. O que é descrito como conforto por uma entrevistada pode ser considerado luxo por outras. O curioso, entretanto, é que não foi possível identificar uma nítida relação entre classe social e o nível de conforto exigido. Entrevistadas, como a Íris, que aparentavam pertencer a classes

153 153 mais elevadas, afirmavam buscar um padrão de conforto mais simples, como exemplificado nos testemunhos abaixo: A gente gosta de ficar em hotel legal, quatro estrelas, que tenha sala de ginástica, que tenha wi-fi, essas coisas, e aí você realmente já começa a ter hotéis que são melhores, mais caros. Pelo menos três estrelas. Três a quatro estrelas. Mas não é nada muito luxuoso. É só conforto mesmo. (Helena) Para a gente localização é importante, claro, é sempre o mais importante. O preço do hotel também. Fora isso, eu só exijo banheiro no quarto. E o Eduardo quer televisão. Ele só consegue dormir com TV ligada. Não tem nada assim de muito luxo nem nada não. (Íris) A gente é super simples na hora de viajar. A gente fica em hotel entre duas e três estrelas, e também já ficou em albergue. Eu não tenho problema, desde que tenha quarto com banheiro dentro. Quero um mínimo de privacidade e conforto, mas eu não gosto de pagar caro pra ficar em hotel. (Karla) Esses relatos também permitem identificar uma diferença no padrão de consumo de viagens e de outros itens, como restaurantes. Nas viagens, as entrevistadas falam em exigências mínimas de conforto para hotéis, enquanto os critérios para restaurante parecem ser mais rigorosos, como visto no tópico anterior. Esses achados parecem indicar que os casais abrem mão de algumas exigências de conforto para poderem viajar, já que viagens internacionais exigem um elevado investimento. Inclusive, foi comum nos discursos a preocupação em reservar parte do salário para viagens, na forma de uma poupança férias. Uma vez no exterior, as entrevistadas demonstraram preferir gastar em experiências gastronômicas, em atividades de lazer típicas e em compras, a gastar em hotel. A gente economiza no hotel para gastar com restaurantes, cervejas típicas, artesanato. Aproveito pra fazer umas comprinhas também. A gente curte a cidade, não ligamos muito para o hotel. (Mariana) Já as viagens curtas de final de semana, que exigem menor investimento, foram comuns nos discursos, tendo sido possível identificar semelhanças no comportamento de consumo de todas as entrevistadas, independente de classe social. Elas contaram realizar viagens para cidades próximas, normalmente de carro, sendo que se hospedam na casa de amigos ou em pousadas. Nesse último caso, os critérios de seleção são o preço e ser arrumadinha.

154 154 Conforme relatos, as entrevistadas normalmente decidem viajar por impulso e optam por períodos de baixa temporada. Nesse caso, elas parecem preferir não reservar a pousada com antecedência, mas escolher na hora a que mais agrade. Novamente, o fator da imprevisibilidade parece ser importante, aparentando haver quase um desejo por aventura. A gente evita viajar em feriadão. É sempre muita confusão, tudo fica lotado. Aí já precisa fazer reserva na pousada e isso sem falar no trânsito, que sempre fica uma loucura, né. (Fátima) O padrão e a duração da viagem, a escolha dos destinos e o momento em que ela ocorrerá foram relatadas como questões em que aparenta haver diferenças no padrão de consumo de casais com e sem filhos: A gente viaja muito. Viaja de classe executiva e fica só em hotel cinco estrelas. Assim, é um luxo que a gente pode se dar por não ter filhos. E o padrão da viagem... quando você tem filho, você vai em lugares que o filho possa frequentar.. você vai pra Disney.. você não vai pra Europa.. A gente foi à Grécia, à Turquia... são viagens que você não faz com criança. (Valéria) Como a gente não tem filhos, a gente pode viajar em períodos de baixa temporada porque não tem que esperar a criança entrar de férias. O que é bem melhor porque é menos confusão, menos tumulto. Dá pra fazer as coisas com mais calma. (Antônia) No entanto, apesar de não terem filhos, alguns desses casais contaram que perdem um pouco da liberdade de poderem viajar pela presença de animais de estimação, conforme os relatos a seguir: O gato prende muito. Sempre que quero viajar tenho que procurar alguém pra ficar com ele e eu não gosto de dar trabalho para ninguém. (Adeline) Se eu posso, eu levo o cachorro pra viajar. Se não, tenho que achar um hotel para cachorro. Mas já deixei de viajar porque não tinha onde deixar. (Íris) Questões sobre onde e com quem deixar o animal e se ele será bem tratado aparentam afligir algumas entrevistadas, que contam, inclusive, que ao fazerem viagens curtas, optam por pousadas que aceitem seus bichos. Outras entrevistadas contaram que, justamente por prezar a liberdade e uma vida sem preocupações, não tem filhos e, portanto, também não

155 155 querem animais de estimação. Conforme será mais detalhado no tópico a seguir, os paralelos entre animais de estimação e filhos foram constantes nas entrevistas. 5.9 Animais de Estimação: Filhos Substitutos? Nosso cachorrinho é o filho da casa, com certeza. (Fátima) Lang (1991), Hirschman (1994) e Carmichael & Whittaker (2007) já afirmavam que para muitos casais sem filhos os animais de estimação são verdadeiros substitutos dos filhos. Dentre as entrevistadas, sete possuem animais de estimação e três afirmaram que ainda não têm, mas que gostam muito e vão ter em breve. Os seus relatos foram interessantes na medida em que contradisseram várias motivações listadas para a decisão de não ter filhos como, por exemplo, não querer ter a responsabilidade, não querer se prender e nem abrir mão de seu tempo. Inclusive, algumas entrevistadas, mesmo afirmando não ter instinto materno, chamaram os cachorros de filhos. Antônia, que disse explicitamente não gostar de crianças e que não teria paciência em ser mãe, contou ser super maternal com seu cachorro e, inclusive, lhe deu comida na boca durante a entrevista. Fátima afirmou que o animal supre o lado afetivo e Mariana fez a comparação direta com o trabalho de um filho: A gente está escolhendo agora um centro pra adestrar ele. Mas é meio que um processo. Parece até escolha de creche, sabe, de criança. (Mariana) Íris, a principio, pareceu discordar dessa postura de tratar cachorro como filho e afirmou: Cachorro é cachorro. Entretanto, ela se contradisse quando admitiu mimar muito seu cachorro, deixando inclusive que ele durma na cama com o casal. Contou também que eles compram presentes para o cachorro quando viajam e que até já preparou um bolo de aniversário para ele. Aparentemente, Íris quis deixar claro que discorda de exageros, como o relatado a seguir. Esse tipo de exagero não foi identificado nos relatos. A gente estava num parque e tinha uma festinha de aniversário pra duas cachorrinhas. O cachorrinho chegou lá sem andar no chão. Veio num carrinho, como se fosse um carrinho de bebê, mas é um carrinho específico

156 156 para cachorro. Existe isso. E era uma festa pra duas cachorrinhas. Botaram lá as fotos das cachorrinhas. A temática da festa era Princesas. O bolo em formato de castelo. Foi muito ridículo. (Íris) Outras entrevistadas aparentaram manter a coerência em seus discursos ao dizer que não queriam cachorros pelos mesmos motivos de não querer filhos, conforme o relato de Fabiana: É o mesmo princípio do filho: não tem onde ficar, muita despesa e no final das contas quem vai cuidar sou eu. Antônia confirmou a teoria de Fabiana ao dizer que quem cuida é ela. O marido não participa. Já Karla, que também não tem um cachorro, diz ter muita vontade de um dia ter. Ela lista diversos problemas de ter um animal de estimação, como não ter quem cuidar ao longo do dia, perder a liberdade, não ter com quem deixar quando fossem viajar e seu marido ser alérgico. Mas, ainda assim, ela não desistiu da idéia e continua tentando convencer o marido. O seu relato sugere, mais uma vez, que o animal de estimação pode ser um substituto afetivo dos filhos, como mostraram os estudos de Lang (1991), Hirschman (1994) e Carmichael & Whittaker (2007): Eu não quero ter um filho, mas eu quero ter cachorro, e eu quero porque eu tenho uma vontade imensa de ter um cachorro, eu sempre tive, adoro dar um carinho, cuidar, proteger e tal, e assim, é mais importante do que despesa eventual que a gente vá ter com, comida e trabalho, preocupação. O relato de Karla parece confirmar que, apesar de todas as dificuldades associados à maternidade, o motivo principal para não querer ter filho é a falta de desejo. Karla enxerga todos os problemas relacionados a ter um cachorro e, mesmo assim, mostra-se disposta a superar todos os eventuais problemas sem dar importância, inclusive, ao problema alérgico de seu marido. O mesmo desejo não se manifestou com relação à maternidade. As restrições financeiras também não apareceram mais como um problema. Conforme os relatos abaixo, os gastos relacionados ao animal de estimação aparentaram ser elevados, o que parece estar de acordo com os estudos de Ambry (1993) e Paul (2001): Eu só compro o melhor xampu e a melhor ração que encontrar ou que o veterinário recomendar. [...] sempre que viajo, trago vários brinquedinhos pra ele. (Mariana)

157 157 Meu cachorro precisa de inúmeros tratamentos especiais porque ele é alérgico. Então, ração e produtos para os pêlos são especiais. Todos muito caros. [...] Fora isso, eu gasto com pet shop, hotel e spa para cachorro. (Eleonor) Antônia afirmou não exagerar e não gastar muito com seu cachorro. Ela listou seus gastos: vacinação, remédios, ração e brinquedos. Entretanto, ao longo da entrevista, ela relatou que o cachorro já mordeu e destruiu mais de quinze almofadas de sua casa. O seu discurso parece indicar que, em alguns casos, a paixão pode ser tamanha que há uma racionalização e nem todos os gastos são realmente atribuídos ao cachorro. Além das despesas diretas, o animal de estimação influencia outras categorias de consumo. Íris, por exemplo, trocou todos os produtos de limpeza para não afetar a saúde de seu cachorro. Agora, os produtos são de maior qualidade e mais caros. Mariana contratou a diarista mais vezes por semana para cuidar do cachorro. Outras entrevistadas lembraram que o carro precisa ser maior e ter bancos de couro para ser mais fácil limpar os pêlos do cachorro. E, conforme mencionado, os animais de estimação algumas vezes influenciam as viagens, já que os donos buscam ir a lugares que aceitem cachorros. Tempo também não foi mais um fator impeditivo. Algumas entrevistadas contaram dedicar muito tempo pesquisando e ganhando confiança antes de contratar alguns serviços para seus cachorros. Algumas compararam a escolha de um centro de adestramento à escolha de uma creche para o filho. Outras contaram como pesquisam e visitam diversos hotéis para cachorro, antes de viajar, para deixar seus animais. Esses relatos demonstraram como há um forte envolvimento das entrevistadas no consumo de produtos e, especialmente, serviços para seus animais. De fato, esses casais parecem não considerar o quanto ter um animal de estimação pode afetar seu estilo de vida pautado na liberdade e imprevisibilidade. A vontade fala mais alto.

158 Carro(s) A gente tem um carro só e da pra dividir direitinho. Não dá briga não. (Adeline) A categoria carros foi uma das mais mencionadas na revisão de literatura como sendo um dos principais destinos dos recursos dos casais sem filhos (BLOOM & BENNETT, 1986; DOUTHTT & FEDYK, 1988; AMBRY, 1993; PAUL, 2001; HWAN LEE & SCHANINGER, 2003). Entretanto, conforme esse grupo de entrevistadas, o carro não pareceu se um produto de destaque ou de importância nas vidas desses casais sem filhos. De uma forma geral, elas demonstraram não sentir muita atração por carros, que é considerado apenas um utilitário. Assim, deixam a encargo de seus maridos a escolha do modelo a ser adquirido, sendo a participação feminina apenas para dar o aval financeiro. Segundo as entrevistadas, mesmo os maridos não nutrem nenhuma paixão por carros e também os enxergam apenas como um utilitário, ou seja, um mero meio facilitador de transporte. Algum tipo de viés pode ter ocorrido devido ao perfil do grupo entrevistado. Primeiro, foram entrevistadas apenas mulheres e as entrevistas com os maridos talvez trouxessem informações diferentes. Segundo, o fato de ser um grupo residente de uma cidade grande e de certa forma violenta, como o Rio de Janeiro, contribui para o surgimento de justificativas como quero um carro que não chame atenção no Rio de Janeiro. Também apareceram preocupações financeiras, talvez femininas, de não gastar com o carro que deve não ser caro, não ter um seguro caro e manutenção barata como mostram os relatos abaixo: O carro do meu marido ficava muito parado e dava muita despesa com estacionamento, seguro. Não estava valendo a pena e ele acabou vendendo. (Fátima) A gente só tem um carro porque só temos uma vaga na garagem, só precisa pagar um IPVA, um seguro. É bem melhor assim. (Flávia) Entretanto, apesar do viés, a listagem dos carros das famílias, mostrada na Tabela 9, traz indícios de que essa categoria de consumo não é uma prioridade na vida desses casais. Dos dezoito modelos listados, quinze são médios ou populares. Mesmo Valéria, que afirmou

159 159 apenas viajar de classe executiva e frequentar hotéis cinco estrelas, relatou ter um modelo médio, indicando um diferente critério de preferência ou luxo para essa categoria de produto. Também conforme a Tabela 9, doze das quinze entrevistadas contaram que o casal tem apenas um carro que dividem. Normalmente um deles usa o carro para o trabalho e o outro faz uso de transporte público, táxi ou van. Tabela 9: Modelo de Carros das Entrevistadas Valéria Antônia Fátima Alice Tânia Karla Débora Renata Focus Hatch Focus Sedan BMW Fiesta Gol Parati Modelo popular* Palio Palio e Brava Mariana Adeline Fabiana Helena Eleonor Elza Íris Palio Ford Ka Fiesta Focus Honda Fit Fiesta Picasso Sedan e Jaguar *Não sabia dizer o modelo do carro. Sabia apenas que era popular. Algumas entrevistadas buscaram deixar claro que não acham que um segundo carro valeria à pena e que não se incomodam de arranjar meios alternativos de se locomover. Ao contrário, em alguns relatos, ter carro parece ser um problema, como fica claro nos testemunhos abaixo. O trânsito da Barra (da Tijuca) de noite é horrível! Eu não ia querer voltar dirigindo nesse trânsito de jeito nenhum. Seria mais um estresse pra mim. (Mariana) Com certeza se eu não precisasse tanto do carro pra vir trabalhar (no Fundão), eu venderia o carro pra gastar o dinheiro com alguma coisa que eu gostasse mais, como viagens. (Fátima) Eu não gosto de dirigir no Rio. Acho o trânsito muito doido aqui... todo mundo corta todo mundo. Fora que tenho muito medo de assalto e por isso nem chego perto do carro do Marcos. Para mim nem compensa ter carro também. Eu ia gastar muito mais comprando e mantendo um carro do que eu gasto com táxi. (Antônia) Esses discursos sugerem que as entrevistadas vivenciam um conflito quanto ao transporte, já que não gostam de dirigir ou não querem gastar com um carro, mas precisam se locomover. Assim, buscam alternativas ao uso do carro. Por outro lado, mesmo com a preocupação financeira, elas contaram que o carro do casal precisa ser bacana e deve ter um mínimo de conforto, o que descreveram como ter ar condicionado e quatro portas. Em alguns casos, há ainda a exigência de o carro ter bancos de couro.

160 160 Entretanto, duas entrevistadas, Antônia e Eleonor, parecem indicar que, em alguns casos, automóveis de luxo podem sim ser o destino de recursos de casais sem filhos. Elas contaram que seus maridos despendem consideráveis quantias com carros e que gostam de trocar de modelo com frequência. O marido de Antônia tem paixão por carros e dirige uma BMW. O marido de Eleonor também adora carros e comprou um Jaguar. Ela, por sua vez, prefere algo mais simples, conforme relato: Teve uma época que a empresa me deu um Audi. Tentaram me assaltar umas trezentas vezes. Eu desisti de usar o carro e voltei a usar o meu que era um Peugeot velho. Então, eu gosto de carro que não chame a atenção. Por isso meu critério é carro levinho, automático, que entre em qualquer vaga, que não me encha o saco, e que ele dure muitos anos. O meu Honda Fit é 2005, mas antes eu estava muito satisfeita com o meu Peugeot 97. Uma vez concluídas as análise de todas as categorias de consumo propostas pela pesquisa, resta identificar novas oportunidades de negócios para os casais que optam não ter filhos Oportunidades de Negócios para casais sem filhos "O grande barato é você oferecer o que as pessoas sequer imaginavam que queriam, mas quando você oferece elas falam: 'Nossa, como é que eu nunca tive isso?'" (Tânia) A percepção, em geral, das entrevistadas é que o número de casais sem filhos está aumentando e que isso pode significar novas oportunidades de negócios direcionadas a esses casais, como já havia mencionado Richie (1991) e Paul (2001). Entretanto, algumas disseram entender que haja pouca atenção a esse público porque ainda há muito preconceito com os que optam por não ter filhos. Por outro lado, as mais críticas lembraram que é mais fácil encontrar algo específico para homossexuais, como restaurantes e turismo GLS, do que para casais sem filhos. Antônia explicou: Eu acho que as empresas vão começar a perceber que precisam dar atenção aos casais sem filhos assim como perceberam, e isso é uma coisa recente, a entrada do negro no mercado consumidor. Você vê: há cinco anos quase não tinha comércio de produtos para a pessoa negra. Foi uma falha total de quem tem um comércio de produto para isso, porque é uma parte da população que tem que ter produto. É burrice de quem não faz. Acho que eles vão ganhar com isso... (Antônia)

161 161 Algumas oportunidades de produtos e serviços destinados a essas famílias sem filhos surgiram não apenas a partir de uma pergunta direta no final do roteiro da entrevista, mas também ao longo dos diferentes relatos, de forma espontânea. Em quase todas as categorias analisadas neste estudo, houve momentos em que as entrevistadas demonstraram algum tipo de insatisfação com a oferta ou com a falta de oferta para famílias sem filhos, o que permitiu algumas inferências sobre oportunidades de negócios para esse perfil de família. Esses achados serão descritos nesta seção, que também trará algumas ações que estão sendo adotadas para atender algumas destas necessidades. No tocante à alimentação, por exemplo, as entrevistadas reclamaram da falta de oferta de produtos em quantidades menores, apenas para casais ou mesmo para solteiros, conforme os breves relatos: sempre sobra muita coisa que acaba estragando ; eu já desisti de comprar pão de forma ; tenho que congelar a manteiga e, na embalagem, está escrito que isso não é bom. Íris lembrou de duas tentativas de empresas de reduzir a quantidade oferecida, uma bem e outra mal sucedida: Agora você vê algumas experiências, por exemplo, de empresas lançando embalagens menores, que são logicamente para pessoas sozinhas ou então casais sem filhos, mas, que acabam sendo coisas que não dão muito certo. A Wickbold, por exemplo. Ela tinha lançado um pão voltado especialmente para um público que queria comprar quantidade menor. Mas eles fizeram o mesmo preço do pão normal. Você tinha que ter alguma recompensa no preço. Digamos: Eu pagaria dois reais por uma embalagem de pão normal, e pagaria dois reais pra embalagem com a metade das fatias de pão. Não faz sentido. Algumas (empresas) têm começado a trabalhar melhor nessas coisas. Então, no outro dia eu recebi, por exemplo, eu assino a lista de algumas lojas de vinhos, e uma das lojas estava fazendo a promoção de meias garrafas. Meia garrafa é uma quantidade ideal pra um casal que queira beber um pouquinho durante uma noite, sem filhos, né. Sem outras pessoas. Só o casal. As observações de Íris, no entanto, sugerem que algumas das oportunidades de mercado para os casais que voluntariamente decidiram não ter filhos podem ser aproveitadas por outros segmentos da população. O consumo em menores porções, por exemplo, também serve aos casais que ainda não tiveram filhos, período que têm se prolongado cada vez mais (BLOOM & BENNETT, 1986; CARTER & McGOLDRICK, 2005), casais que estão na fase do ninho

162 162 vazio (WELLS & GUBAR, 1966; MURPHY & STAPLES, 1979; GILLY & ENIS, 1982) ou mesmo os chamados lares de solteiros. Em recente reportagem, Stefano et al.(2008) descreveu como algumas grandes redes de supermercado estão apresentando um novo modelo: as lojas Express. Além de menores, essas lojas são melhor localizadas e oferecem itens nas menores porções disponíveis pelos fabricantes, indicando que algumas providências já estão sendo tomadas para atender as necessidades destas novas composições familiares. As lojas Express são destinadas especialmente a solteiros e casais sem filhos, que, segundo reportagem, não gostam de frequentar grandes supermercados. Na presente pesquisa também foi identificado o interesse das entrevistadas pela praticidade e conveniência, desejando, inclusive, um serviço de entrega a domicílio de melhor qualidade. Entretanto, cabe lembrar que também foi identificado uma busca do supermercado como uma fonte de lazer. As presenças de novidades, de bom atendimento e de uma bela disposição dos produtos aparentam ser vantagens competitivas para essas entrevistadas. Conforme mencionado no tópico experiência da alimentação, as entrevistadas também demonstraram insatisfação com as formas de se alimentarem à noite, durante a semana. Nesse momento, aparenta haver uma busca por uma refeição rápida, fresca e, principalmente, que não resulte em trabalho na preparação ou no pós-consumo: lavar e guardar-louças. Eleonor explicou: Eu vou te dar um exemplo do tempo em que morei nos Estados Unidos. Lá você vem pra casa, você passa em um lugar, você já tem uns kits prontos das coisas. Saladas bacaninhas, sopas frescas. Eu sou daquele tipo meio, que adora verduras e legumes. Então, eu não gosto de comer enlatados,... Eu não como essas coisas. Nos Estados Unidos você ainda compra verdura, você compra pratos frescos nos kitsinhos, vem pra casa, se quiser pode comer neles mesmos, e em quantidades que quando acaba, você joga fora a embalagem e assim não desperdiça comida. [...] Eu não encontro no Rio de Janeiro, quer dizer, se eu quiser fazer esse tipo de alimentação, eu tenho que comprar as coisas, lavar e preparar. É assim. Não é fácil eu passar do lado da minha casa e encontrar uma coisa boa, fresca, legal, bacana, pra você comer uma comida fresca, que eu não precise ir pra restaurantes. Então, toda vez que eu queria comer uma comida legal, muitas vezes eu já optava por ir a um restaurante. Então, essa parte da alimentação é complicada, é super difícil.

163 163 No tocante a restaurantes, as opiniões foram controversas. Algumas entrevistadas disseram não haver necessidade de restaurantes que não aceitem crianças, conforme relatos: Cada restaurante tem seu perfil. Alguns não são restaurantes para famílias. Não precisa proibir entrada de crianças. Basta bom senso. (Tânia) Meus horários são muito diferentes dos pais com filhos. Eu vou almoçar às 4 da tarde do sábado. Já não tem mais nenhuma criança no restaurante. (Adeline) Já tem muito restaurante que tem um cantinho para deixar a criança. Isso é bom porque ajuda quem tem e ajuda a atrapalhar menos as pessoas que não tem. (Alice) Outras entrevistadas, entretanto, não se mostraram satisfeitas. Contaram que se a criança for mal-educada, pode incomodar muito em um restaurante. Débora chegou a dizer que gostaria de uma área exclusiva para quem não tem filhos. Os relatos parecem indicar que mesmo as entrevistadas que disseram não se incomodar, na verdade procuram evitar os locais ou horários das crianças. Enquanto as demais, por não conseguirem tal feito, parecem permanecer incomodadas com a presença de crianças maleducadas. Na categoria de viagens, um ponto mencionado foi a existência de hotéis que não aceitam crianças, uma categoria de serviço que elas lembraram que seria válida também para casais que, mesmo tendo filhos, quisessem um tempo a sós. Algumas entrevistadas, que ainda não conheciam, afirmaram ter interesse em conhecer um local com essa restrição e as demais relataram suas experiências: quando tem muitas crianças no hotel, às vezes incomoda, principalmente se forem mal-educadas, o que é muito comum hoje em dia ; Já fiquei em um hotel que não aceitava ninguém abaixo dos 16 anos. Adorei a paz e tranquilidade ; Achei ótimo. O clima era sempre calminho e romântico. Helena resumiu: Por exemplo, a gente adora o Hotel Rosa dos Ventos, em Teresópolis, que não aceita crianças. Nada contra crianças. Mas é horrível. Você está no café da manhã. Aquela música. De frente pra floresta. Os rouxinóis. Eles são daquele tipo assim, com pétalas de rosas perto do pé da cama. O café da manhã é todo arranjado com flores. Tem aquela música clássica tocando. Você olhando aquela floresta linda, aquele frio de Teresópolis. Tem uma criança berrando. Não combina, né.

164 164 Duas entrevistadas disseram não se incomodar com a presença de crianças em hotéis, mas uma delas lembrou que muitas vezes as crianças podem sim ser mal-educadas, especialmente quando os pais estão mais ausentes Já o mercado voltado para animais de estimação está crescendo, de acordo com as reportagens de Romanini (2010), de Marthe (2009) e de Romanini & Lima (2009). Novos produtos e serviços estão surgindo, como psicólogos de animais, adestradores especializados em animais neuróticos e planos de saúde para bichos de estimação. Nos Estados Unidos já existe, inclusive, uma linha aérea exclusiva para esse mercado: a Pet Airways. No Brasil, esse mercado movimenta nove bilhões de Reais por ano e, segundo a reportagem de VEJA (2009), os donos com mais dinheiro estão dispostos a gastá-lo para proporcionar mais conforto para seus animais. Existe espaço para mais oportunidades no mercado de animais de estimação? As entrevistadas acreditam que ainda há muito espaço para mais serviços voltados para cachorro e assumiram que o cachorro substitui o filho, né, então a gente está disposto a investir bastante nisso. Contaram: Lá fora você vê uma série de serviços de Pet que aqui não tem ; Aqui quase não tem shopping e pousadas que aceitem cachorros. É muito chato ter que deixar ele em casa sempre. Além de maior oferta de serviços, elas gostariam de maior qualidade nos serviços existentes: Daí eu não gosto de deixar ele (o cachorro), no que eu me refiro como hotel, porque, normalmente, são aqueles cubiculozinhos de cachorros. A gente chegou a ver, uma vez, para ele um desses, que você pagava até caro pra caramba. Ficava quase noventa reais a diária do cachorro, se não me engano. E a gente foi lá, numa hora no meio do dia, e os cachorros estavam todos presos nos cubículos. Aí, eu fico perguntando: Que horas o cachorro fica solto brincando? (Íris) Outras idéias de produtos e serviços foram anotadas a partir dos relatos colhidos. Fabiana, por exemplo, citou vários serviços que já existem, aos quais ela contou dar muito valor e gostaria que fossem melhor explorados: Alguns serviços legais pra casais sem filhos são o pacote casal na academia e plano casal em companhias de celular. O cinema de luxo em São Paulo também é um modelo que não comporta crianças. Também, no setor de construção civil, quando anunciam um loft funcional, que é onde eu moro, estão dizendo: Não tem crianças. (Fabiana)

165 165 Marina lembrou que serviços que tornem a atividade doméstica mais prática também são muito bem vindos. Ela afirmou que, no Brasil, o serviço de diarista ajuda muito, mas que não é o ideal. Mas talvez seja Eleonor, a entrevistada de mais idade, que parece estar pensando em muitas possibilidades de novos produtos. Ela está numa etapa de busca de serviços que a ajudem em um futuro não tão distante, quando sabe que ficará sozinha, já que não tem filhos e sabe que, estatisticamente, viverá mais que seu marido. Eu também não vou poder contar com as minhas amigas para me ajudar, porque todas vão ter a mesma idade que eu e terão as mesmas dificuldades. (Eleonor) Assim, para se preparar para esse momento, ela gostaria de ter um serviço de secretária que a ajudasse em suas necessidades, desde acompanhar a alguma cirurgia, até coisas mais emergenciais como autorizar determinado tratamento. Também mencionou o interesse em morar em um flat funcional que tenha todos os serviços necessários de limpeza e assistência técnica de modo que ela não precise realizar todas as atividades de gerenciamento da casa, que hoje em dia faz. Outra preocupação é com a segurança interna do apartamento: Eu queria uma casa com piso antiderrapante, alças no box, sem degraus, luzes de advertência, corrimão e tudo mais que minimizasse os índices de acidentes. E gostaria disso desde já. Somos dois velhos em casa, qualquer tipo de acidente pode ser muito grave. (Eleonor) Outro serviço mencionado por Eleonor foi o de motorista temporário, conforme explicou no relato abaixo. Afirmuo ser muito difícil encontrar esses tipos de serviços porque as pessoas não estão preparadas ou não são de confiança. Mas acredita e espera que em um futuro próximo eles sejam oferecidos porque, não apenas elas, mas suas amigas, mesmo com filhos, têm muito interesse porque não querem dar trabalho. Mais uma vez, esses serviços descritos parecem poder beneficiar outros consumidores além dos casais sem filhos. Eu não vou querer dirigir daqui a algum tempo, mas eu não quero aquele cara de plantão na minha casa. Aquele motorista convencional. Eu quero poder trabalhar com agendas. Eu, por exemplo, hoje, mesmo com meu

166 166 marido e tudo o mais: Vamos pra Búzios? Vamos. Vamos contratar alguém pra levar e depois buscar a gente. Não vamos dirigindo. Estou de saco cheio. Quero parar no meio do caminho, jantar, tomar um vinho. Eu não dirijo se eu beber, entendeu? Então, hoje, existe apenas um motorista pra contratar por mês. Um mensalista. Não quero isso. Quero que venha, use o meu próprio carro, entendeu, essas coisas assim. [...] Pra mim táxi não serve. É um saco você depender de táxi. Que, é aquela história, preservar meu conforto, minha liberdade, mas sem aquela visão antiga do serviço, né, aquela mansão com trinta e cinco empregados. Nada disso. Não é isso. Os relatos dessa seção sugerem que ainda há muitas oportunidades a serem aproveitadas no segmento de casais sem filhos. Em alguns casos, inclusive, as entrevistadas pareciam suplicar por alguns serviços. Como diz Eleonor: Alguém tem que trazer esse tipo de negócio, entendeu?

167 167 6 Considerações Finais O presente estudo exploratório teve como objetivo investigar o comportamento de consumo dos casais que voluntariamente decidiram não ter filhos, sem pretender traçar comparações com outras composições de família. O intuito foi contribuir com estudos que buscam desvendar possíveis oportunidades de negócios para esses casais. Espera-se que essa pesquisa possa apoiar estudos futuros mais abrangentes em termos de classes sócio-econômicas e regiões geográficas e, também, estudos que, porventura, tracem comparações dos casais que optaram por não ter filhos com outras estruturas de família, como casais com filhos ou casais homossexuais. Ostergard & Jantzen (2002) falam que, para compreender o comportamento do consumidor é essencial estudar sua cultura e seus valores. Assim, embora o presente estudo tenha optado por seguir um foco gerencial, diferente de outros estudos cujo foco era o comportamento antropológico ou psicológico, a pesquisa também analisou o contexto social em que estes casais estão inseridos, quais as motivações, conflitos e principais resultados de sua decisão por não procriar. Esse capítulo traz algumas discussões acerca dos principais achados deste estudo exploratório, assim como algumas sugestões de pesquisas futuras. Inicialmente, algumas limitações da pesquisa devem ser apontadas. Foram poucos os estudos encontrados sobre o comportamento de consumo de casais que optaram voluntariamente por não ter filhos, apesar de os estudos sobre ciclo de vida terem indicado que esse segmento já é considerado desde a década de 80. As pesquisas acadêmicas encontradas giram em torno das motivações e resultados da decisão. A pergunta de pesquisa por que não ter filhos?, muito comum, parece indicar que a sociedade ainda busca compreender e aceitar a nova composição familiar, o que remete à segunda limitação do trabalho: a dificuldade em encontrar respondentes dispostas em participar da pesquisa. Muitas candidatas pareceram querer se preservar e não compartilhar suas opiniões sobre um assunto que, ainda hoje, é considerado por alguns como um tabu, ou mesmo, um absurdo. Como uma forma de tentar minimizar esse receio e buscar a fidelidade das respostas, foi garantido o anonimato e selecionado apenas uma pessoa como representante do casal. Assim,

168 168 a pesquisa exploratória trouxe uma visão feminina acerca do comportamento de consumo do casal, visto que a mulher é apontada como a principal responsável tanto pela decisão de ter ou não filhos como pelas decisões de consumo das famílias. Entretanto, apesar das vantagens mencionadas, essa opção de apenas entrevistar as mulheres também representa uma limitação da pesquisa e parece justo que, em um estudo futuro, seja investigada a visão masculina acerca da paternidade, dos conflitos vivenciados pelos homens em seu ambiente social e como eles enxergam as influências dessa decisão no comportamento de consumo do casal. Assim como encontrado na literatura, o grupo de entrevistadas deste estudo exploratório teve um perfil com elevado grau de instrução e sem grande filiação religiosa. Nos relatos, também foi possível identificar que as entrevistadas são muito orientadas para suas carreiras. Trabalham muito, buscam profissões que as realizem e não aparentam se acomodar quando falam do futuro profissional. Algumas fizeram duas faculdades, outras trabalham em dois locais ou como free lancer, tudo para conseguirem a desejada estabilidade financeira desde que trabalhem com o que gostam. Entretanto, apesar de descreverem esse envolvimento com suas carreiras, de uma maneira geral, elas entendem que a rotina intensa de trabalho não é o grande motivador para a decisão de não ter filhos, mas apenas um dos aspectos que pode dificultar. Apesar de, inicialmente, algumas darem ênfase a esse problema como uma justificativa para sua decisão, elas mesmas concluem, ao longo da entrevista, que ser mãe não é um sonho e que estão arranjando desculpas. Apesar da disposição e energia gasta na busca por uma carreira satisfatória, as entrevistadas não demonstraram a mesma disposição pela dupla jornada diária da mulher moderna: carreira e maternidade. Elas parecem rejeitar o papel de super mulher, não conseguindo pensar em si próprias nesse papel que concilia deveres tão diferentes como o da criança, mãe, esposa e profissional. Como explicou Helena: Eu acho brilhantes as mulheres que têm (filhos). Que coordenam. Que fazem. Elas se desdobram. Eu acho bárbaro. Elas conseguem manter. Mas eu dizia assim: Eu não vou ter cabeça pra fazer isso. Quando questionadas, as entrevistadas mencionaram diversas motivações para não ter filhos que buscou-se representar através de uma pirâmide (Figura 4). A razão que aparece como base

169 169 sustentadora dessa pirâmide surge, implícita ou explicitamente, em todos os relatos: a falta de vontade de ser mãe. Sem essa larga base tem-se a impressão de que todos os demais motivos podem desabar, ou seja, a decisão de não ter filhos pode não se manter, como confirmou Karla: com vontade, todas as questões seriam mitigadas. As entrevistadas relataram, repetidas vezes, como não tem o tal instinto materno e a tal vocação para ser mãe. Estaria havendo uma dissociação entre feminilidade e maternidade, como foi colocado por Gillespie (2003)? Um estudo específico sobre como a identidade feminina é construída pelas mulheres que voluntariamente optam por não ter filhos parece ser interessante. Figura 4: Estrutura das Motivações para não ter filhos Estilo de Vida Não gostar de crianças Falta de paciência Problema de Saúde Maternidade vs. Carreira Inegurança no relacionamento Não saber cuidar Cidade Violenta Medo de arrependimento Falta de vontade de ser mãe No meio da pirâmide estão diversas razões mencionadas para não ter filhos. Entretanto, nem todas foram mencionadas por todas as entrevistadas, como a insegurança no relacionamento e não saber cuidar de crianças. Na verdade, em comum nesse meio da pirâmide foi apenas o fato de todas as entrevistadas estarem preocupadas em mencionar uma lista de motivos, como se já estivessem acostumadas a reunir justificativas sobre suas recusas em fazer algo aparentemente natural da mulher. Afinal, nasceram com útero para isso. Em alguns casos, inclusive, fica a dúvida se essa lista de justificativas não é um meio de fortalecer suas próprias convicções e de se auto-convencerem de que estão tomando a decisão correta.

170 170 Além de ter que lidar com suas próprias dúvidas, algumas entrevistadas declararam ter a sensação de que devem prestar contas à sociedade. Contaram como sofrem diferentes tipos de pressões para ter filhos e como são estigmatizadas de sem amor, mulher do trabalho e egoístas. Entretanto, parece que elas deveriam ser consideradas corajosas. Não apenas lidam com estigmas, preconceitos e pressões para fazer o que é socialmente aceito, mas também enfrentam os seus próprios medos: de arrependimento e de solidão no futuro. Essa carga composta de dúvidas, medos e pressões pode ser tamanha, que algumas consideram mudar de idéia. Sugere-se, inclusive, um estudo detalhado sobre o processo da mudança de idéia tanto para ter ou não ter filhos, buscando entender como, quando e porquê ocorre. Apesar de ser permeada por incertezas e medos, os relatos sugerem que essa decisão também traz algumas vantagens: não ter responsabilidade por ninguém, não ter que se preocupar em como encaixar o filho na rotina, liberdade e ter maiores possibilidades de consumo devido as menores restrições orçamentárias. Essas vantagens, por vezes, parecem ser confundidas com motivações para decisão de não ter filhos. Afinal, elas têm mais liberdade porque não tem filhos; ou não tem filhos para terem mais liberdade? Seja qual for a resposta, o fato é que todas essas características estão intimamente ligadas a um estilo de vida próprio desses casais. E esse estilo de vida ganhou destaque nos discursos. As entrevistadas, por vezes, pareciam mais do que entusiasmadas, pareciam orgulhosas de poderem ter controle sobre suas vidas, de poderem tomar decisões de acordo com suas próprias vontades, de poderem ceder aos seus impulsos, consumir mais e de não sentirem culpa por não direcionarem sua renda e tempo aos filhos. Essa descrição da liberdade, em alguns casos, aparece como uma negação do estilo de vida das pessoas que optam por ter filhos: Os meus amigos com filhos contam que sobra muito pouco tempo para eles. Assim, então, no fim de semana tem que levar o fulaninho ao teatro e vejo que isso, não necessariamente, não é sinônimo de prazer para eles. Não é aquela coisa: Ah, não vejo a hora de chegar o fim de semana pra poder ficar só com os meus filhos, não. Mas, é aquela coisa do tenho que. Trabalhei a semana toda, agora eu tenho que fazer programa com as crianças. Eu não tenho isso. Meu tempo livre é para mim. (Helena) Em outros casos, a liberdade é descrita quase como um desejo por aventura, como decidir repentinamente sobre uma viagem sem ter que fazer reserva antecipada do hotel.

171 171 E é justamente devido à importância dada, nos discursos, ao estilo de vida que ele aparece no topo da pirâmide das motivações (Figura 4), coroando-a. Nos testemunhos, evidencia-se um desejo por alcançar esse estilo de vida que, uma vez desfrutado, parece ser difícil de abrir mão. Assim, a diferença demográfica casais sem filhos se reflete nas diferenças em suas opiniões, interesses e também no que valorizam e no que gostam ou não de fazer. Esse estilo de vida, por sua vez, começa a delinear e influenciar o comportamento de consumo desses casais, que também parece ser pautado na liberdade, imprevisibilidade, no individualismo e na orientação ao lazer. Assim, as categorias de consumo mais destacadas nos relatos foram restaurantes e viagens. Até o supermercado que inicialmente é descrito como uma obrigação indesejada, em alguns momentos também apareceu como alternativa de lazer e busca de novidades. De um modo geral, as entrevistadas demonstraram ter um elevado nível de exigência para os serviços consumidos. Os restaurantes devem ter elevada qualidade, bom atendimento, estacionamento, ausência de fila ; os supermercados, por sua vez, devem apresentar variedade e qualidade dos alimentos, localização estratégica e boa apresentação dos itens. Cabe ressaltar, entretanto, que, apesar da maior renda discricionária, esses casais não deixam de se preocupar com seu orçamento. Assim, contam que vão a restaurantes luxuosos apenas em ocasiões especiais, buscam hotéis com mínimo de conforto para poderem economizar e aproveitar a cidade e frequentam até três supermercados para melhor conciliar os quesitos qualidade e preço. Quanto às viagens, nota-se a valorização dos destinos internacionais. Karla resume o que parece ser opinião geral: Quanto mais distantes os locais, mais exóticos serão, afirmação feita mesmo assumindo desconhecimento do território nacional. Foi constante a preferência pelo que é internacional, inclusive quando falam de vinhos. Assim, recomenda-se que essa possível valorização maior do que acontece ou do que é feito fora do país seja mais explorada em futuras pesquisas sobre o consumo de casais sem filhos.

172 172 Outras informações obtidas sobre o consumo das categorias de alimentação e viagens também permitiu observar que casais sem filhos podem ser um grupo capaz de ajudar algumas empresas prestadoras de serviços a melhor gerenciar sua demanda. Por não terem filhos, eles podem viajar em períodos independentes das férias escolares e podem frequentar restaurantes em horários impeditivos às famílias com filhos, que procuram respeitar os horários das crianças. Assim, promoções poderiam ser feitas para atrair esse segmento para períodos de baixa demanda. Além destas categorias, o presente trabalho também procurou explorar o consumo de carros e a posse de animais de estimação. Diferente do que foi encontrado em estudos anteriores, o carro não foi descrito como prioridade pelas mulheres entrevistadas. Na verdade, em muitos casos, o carro é visto como um problema e as entrevistadas relataram diversas preocupações como voltar dirigindo no trânsito, trânsito louco do Rio, só uma vaga na garagem e muitas despesas. Cabe observar, no entanto, que a entrevista com os maridos poderia mudar essas impressões sobre o consumo do carro e de outras categorias de produtos que se sabe são mais valorizadas no universo masculino. Assim, sugere-se, também, estudos futuros que entrevistem homens como representantes de casais sem filhos. Finalmente, o consumo para animais de estimação também foi pesquisado. Enquanto um filho é associado a restrições, o cachorro, apesar de também trazer alguns limites, é associado a algo prazeroso. Inclusive, o animal de estimação parece ser uma alternativa para direcionar parte do afeto desses casais que declaram não ter vontade de ter filhos. Assim, seis entrevistadas têm cachorros, uma tem um gato e três ainda não têm animal de estimação, mas declararam que terão em breve. Em todos estes casos, os relatos sugerem que o animal de estimação é colocado no lugar de um filho substituto (HIRSCHMAN, 1994). Parece haver determinação não só nos cuidados, mas também nos gastos e estão dispostas a investir bastante, seja em ração, vacinas, veterinários, pet shop, hotel para cachorro, e ainda demonstram interesse em outros serviços, indicando haver muitas oportunidades nesse setor. Além destes gastos diretos com os animais, também foi possível identificar como eles podem influenciar outros consumos das famílias. As entrevistadas contam como dão preferência para pousadas que aceitem cachorros ; se preocupam que o carro tenha banco de couro para

173 173 facilitar a limpeza dos pêlos e mesmo os produtos de limpeza da casa podem ser escolhidos de modo que não afetem a saúde do animal. Além das categorias selecionadas, outros itens de consumo foram frequentemente mencionados ao longo das entrevistas e merecem ser mais explorados em estudos futuros. Esse é o caso dos serviços de academias de ginástica e da categoria de cuidados pessoais, especialmente, serviços de beleza e produtos cosméticos. Nesses casos, sugere-se que os estudos realizem entrevistas com ambos os cônjuges, visto serem itens de consumo pessoal. Finalizando, foi possível identificar diversas oportunidades de negócios orientados para casais sem filhos, o que foi inicialmente um dos objetivos desse trabalho. Destaca-se, por exemplo, a melhoria na qualidade dos serviços já existentes, como o de hotéis para cachorro, e o oferecimento de novos produtos e serviços adaptados as suas necessidades, como menores embalagens de alimentos e alternativas para uma alimentação mais prática. Eleonor, a entrevistada de mais idade (55 anos), foi capaz de listar alguns serviços que diferem das demais sugestões. Ela falou de serviços de secretária, de motorista e de flat funcional com arquitetura apropriada, todos voltados para o seu futuro e para o envelhecimento do casal. As sugestões de Eleonor chamaram atenção para o fato de que muitos casais que tiveram filhos chegam a uma fase avançada da vida sem eles pois os filhos tendem a sair de casa na fase adulta e constituir suas próprias famílias. Assim, inicia-se para o casal o que é chamada de fase do ninho vazio. Desta forma, alguns produtos e serviços pensados para casais que decidiram não ter filhos podem ter o seu escopo ampliado para um grupo maior. Afinal, não ter os filhos em casa pode ser uma opção involuntária em fases mais avançadas da vida. Estudos futuros poderiam explorar melhor as semelhanças e diferenças entre os ninhos vazios voluntários e involuntários. Estudos sobre o comportamento de consumo do casal sem filhos ao longo de seu ciclo de vida também parecem interessantes para compreender quais fatores, além do avançar da idade, marcam a transição para diferentes estágios. Em suma, o presente trabalho buscou compreender, com foco mais gerencial, o comportamento de consumo de casais que optaram por não ter filhos, com especial atenção a quatro categorias de produtos e serviços. As quatro perguntas de pesquisa sugeridas na

174 174 metodologia foram respondidas no Capítulo 5. Mas, afinal, de forma mais geral, o que pode ser dito sobre o comportamento de consumo de casais que optam por não ter filhos? A análise das entrevistas neste estudo exploratório sugere características que merecem ser estudadas ainda com mais profundidade, tais como: busca por liberdade de decisões, desejo por opções e variedade, gosto por novidades, individualismo, imprevisibilidade e espontaneidade, orientação a lazer, satisfação no tempo presente, busca por praticidade e atenção ao custobenefício. Em suma, trata-se de um consumo consciente, mas, ao mesmo tempo, exigente. Para finalizar, os relatos de Antônia e Débora chamam atenção para a sensação de serem um perfil de família que não é visto pelas empresas e pela mídia em geral: O mundo precisa acordar para muitas coisas, para diversidade que está acontecendo, para grande quantidade de pessoas que estão no mundo... Tinha que ter uma consciência das pessoas que existem outras formas de família que podem te fazer feliz, além da família Doriana (pais casados, filhos e cachorro). (Débora) O padrão comercial é o da família perfeita que trazem a família reunida, o pai rindo, os filhos maravilhosos. [...] Não chega a me incomodar, mas eu já não me sinto no target de um monte de anúncios [...] As empresas demoram, aqui no Brasil, elas demoram muito para acordar pra novas oportunidades. (Antônia)

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181 181 APÊNDICE I Instituto COPPEAD de Administração UFRJ Mestrado em Administração de Empresas Turma 2008 ROTEIRO 1 Tempo de Casada 2 Religião? Praticante? (esposa e marido) 3 Idade (esposa e marido) 4 Onde mora? 5 Nível de instrução (esposa e marido) 6 Carreira Profissional: Poderia resumir sua história profissional? a. Descreva sua rotina semanal de trabalho b. Costuma viajar a trabalho? c. Como você define sua relação com o trabalho? d. Como você define sua relação com a casa? 7 Como foi o processo da decisão de não ter filhos? a. Teve mais algum aspecto que contribuiu para essa decisão? b. Como você acha que sua carreira profissional influenciou para a decisão? 8 Qual foi a influência do marido na decisão? 9 Acha que ainda pode mudar de opinião? Por que? 10 Quais foram os resultados dessa decisão na sua vida (ou do casal)? a. Quais os aspectos positivos dessa decisão? Por que? b. Quais os aspectos negativos? Por que? Comportamento de Consumo 11 Como você descreve o consumo típico de um casal sem filhos? 12 Em que gastam mais? Em que gastam menos? Por quê? 13 Agora vamos falar da alimentação do casal a. O que você destaca na alimentação de vocês? b. Como é o consumo de bebidas alcoólicas? c. As compras: Quem faz? O que é importante no momento da compra? (preço, qualidade, disponibilidade) d. Comer fora: Onde vão? Quem decide? O que é considerado na escolha? e. Ter crianças no local influência?

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