Pretendemos aqui esclarecer cada um dos principais marcos e instrumentos legais de SAN no Brasil, bem como apresentar suas inter relações.
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- Malu Bergler de Mendonça
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1 LEI, POLÍTICA, PLANO E SISTEMA DE SAN
2 Pretendemos aqui esclarecer cada um dos principais marcos e instrumentos legais de SAN no Brasil, bem como apresentar suas inter relações. 22
3 4. LEI, POLÍTICA, PLANO E SISTEMA DE SAN A Lei Orgânica de Segurança Alimentar e Nutricional (LOSAN) funciona como uma carta dos princípios que a nação deve seguir no campo da SAN. Ela disciplina a forma de organização da ação do Estado em relação à SAN. É a partir dela que o Sistema de SAN (SISAN) é oficialmente criado. Por ser uma lei, a LOSAN confere institucionalidade ao SISAN permite a estabilidade e a continuidade das ações e programas de SAN em todo país. A LOSAN recomenda e elaboração de uma Política e um Plano Nacional de SAN
4 O Sistema, a Política e o Plano são como peças de uma mesma engrenagem que juntos procuram dar sentido real aos princípios da Constituição Federal e da LOSAN, no que se refere à realização do direito humano à alimentação adequada. O sistema é o elemento abstrato da composição, uma vez que ele se materializa apenas na articulação entre os setores, na organização de suas instâncias, na relação interfederativa entre as esferas federal, estadual, distrital e municipal. Um sistema público pressupõe o agrupamento de órgãos e instâncias como partes integrantes de um todo, articulados entre si e coordenados de modo que funcionem em uma estrutura organizada, em busca de um objetivo comum
5 No caso do Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional (SISAN), a integração entre os órgãos, entidades e instâncias que compõem esse sistema deve buscar a convergência e a sinergia de ação para o objetivo maior do Sistema: garantir a Segurança Alimentar e Nutricional da população e a realização progressiva do Direito Humano à Alimentação Adequada por meio da formulação e implementação de políticas, planos, programas e ações, pelos órgãos governamentais (municipais, estaduais e federais) e organizações da sociedade civil
6 O SISAN se torna mais concreto quando se consideram as políticas públicas de SAN como elementos basilares de sua estrutura, que vem a ser o aspecto mais relevante, pois trata da ação pública chegando, de fato, até à sociedade, saindo dos gabinetes da burocracia estatal para mudar a vida das pessoas. Exemplos de políticas e programas de SAN, que estão inseridos no SISAN, buscando promover alimentação adequada e saudável às pessoas são: > Bolsa Família > Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) > Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) > Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) > Programa Cisternas > Restaurantes Comunitários > Programa Saneamento básico > Estratégia de Saúde da Família > Política de Educação Básica 26 25
7 * Os exemplos apresentados acima são de políticas e programas Nacionais, mas lembre se também de que em cada localidade há programas estaduais, municipais e iniciativas promovidas por organizações não governamentais que se somam às nacionais. A intersetorialidade e a participação social são centrais para a gestão do SISAN, pois entende se que, para garantir a Segurança Alimentar e Nutricional da população e a realização progressiva do Direito Humano à Alimentação Adequada, é necessário o esforço conjunto de vários setores públicos, bem como da sociedade civil. O SISAN abriga instâncias que visam garantir uma gestão intersetorial e participativa. Assim, a Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional e o Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea) são instâncias do SISAN que visam garantir a participação social, enquanto a Câmara Intersetorial de SAN visa garantir a intersetorialidade
8 A seguir estão descritas cada uma das instâncias componentes do SISAN e têm a função de planejar, articular, executar, monitorar e avaliar as ações do Sistema: Conferência de Segurança Alimentar e Nutricional As Conferências representam um processo político, que acontece a cada quatro anos e reúne sociedade civil e representantes governamentais, para redefinir as prioridades da Política e do Plano de SAN e avaliar o SISAN. A cada quatro anos acontecem conferências em todo o país, a nível municipal, estadual/distrital e nacional. Assim, os documentos que saem das conferências têm o olhar dos sujeitos de direitos que vivem em diferentes contextos do Estado brasileiro, contendo demandas específicas para cada território, para cada povo e para cada grupo, bem como, contendo demandas universais
9 Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional O Consea é uma instância de articulação entre governo e sociedade civil com o objetivo de garantir o controle social do Sistema e propor diretrizes para as ações na área da segurança alimentar e nutricional. Esta instância é responsável por: >> propor as ações, políticas e programas de SAN que devem ser executados pelo governo e/ou pela sociedade civil; >> mobilizar e apoiar entidades da sociedade civil na discussão e implementação de ações públicas
10 Câmara Intersetorial de Segurança Alimentar e Nutricional A Caisan representa o espaço de concertação intersetorial governamental do SISAN. Ela é responsável pela coordenação e o monitoramento intersetorial das políticas públicas de SAN. É a CAISAN que executa, a nível governamental, as ações, políticas e programas recomendados pelo CONSEA. Suas principais atribuições são: >> elaborar, executar e monitorar a Política e o Plano de Segurança Alimentar e Nutricional 30 29
11 Demais Componentes >> Os governos, órgãos e entidades de segurança alimentar e nutricional da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios. Estes, geralmente, estão inseridos nas Caisans. >> Instituições privadas, com ou sem fins lucrativos Para participar do SISAN essas instâncias devem manifestar interesse e respeitar os critérios, princípios e diretrizes do Sistema. Apesar de ainda não aderirem ao Sistema, por falta de regulamentação, algumas organizações da sociedade civil participam da organização da SAN desde sua origem. Já a participação de organizações com fins lucrativos demanda outros critérios de análise, pois sua atividade visa objetivos que podem ser conflitantes com os princípios da SAN
12 Agora que já entendemos melhor o propósito da LOSAN, a função e composição do SISAN, vamos falar especificamente sobre os instrumentos legais do Sistema: a Política e o Plano de SAN, que tornam realidade as ações organizadas do sistema: A Política é a expressão mais prática e operacional das diretrizes emanadas pela LOSAN. Apresenta os procedimentos para sua gestão, mecanismos de financiamento, monitoramento e avaliação da ação do Estado. O Plano representa o planejamento da execução da Política. Contém programas e ações a serem implementadas, as metas quantificadas, o tempo necessário para sua realização e o orçamento
13 LEI, POLÍTICA, PLANO E SISTEMA DE SAN Em resumo: LEI POLÍTICA PLANO A Lei cria o Sistema e define os princípios e diretrizes A Política define as ações que serão feitas, de acordo com os princípios e diretrizes; O Plano define como as ações previstas na Política serão executadas
14 O PLANO DE SEGURANÇA ALIMENTAR E NUTRICIONAL
15 Falaremos agora sobre a relevância de um Plano de SAN, sobre a experiência do primeiro Plano Nacional o que podemos aprender com ela, sobre o status atual dos planos estaduais e municipais, passando pelas premissas e o conteúdo básico de um plano, chegando à responsabilidade de cada instância do SISAN durante o processo de elaboração do Plano
16 5.1 COMPREENDENDO A RELEVÂNCIA DO PLANO DE SAN Por anos se lutou para que o Direito à Alimentação Adequada (DHAA) fosse considerado um direito de todos os cidadãos e cidadãs brasileiros. Somente em 2010 esse direito foi incluído entre os direitos sociais previstos no artigo 6º da Constituição Federal. Apesar dessa conquista, a inclusão do direito não é o suficiente para garantir a todos uma alimentação adequada e saudável. O DHAA significa tanto que as pessoas estão livres da fome e da desnutrição, mas também têm acesso a uma alimentação adequada e saudável
17 Em 2014 o Brasil deu um passo importante em direção ao alcance da Segurança Alimentar e Nutricional e da garantia do DHAA, saímos do Mapa Mundial da Fome um estudo sobre a situação da segurança alimentar no mundo realizado pela Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO). Isso significa que, depois de muitos anos de trabalho e luta, atualmente a quantidade de pessoas que passam fome no Brasil é menor que 5%, percentual considerado como muito baixo pela FAO. Os avanços no combate à fome e pobreza decorrem, na análise apresentada no Relatório da FAO, da priorização da agenda de Segurança Alimentar e Nutricional a partir de 2003, com destaque ao lançamento da Estratégia Fome Zero, à recriação do Conselho Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional, à institucionalização da política de SAN e à implementação, de forma articulada, de políticas de proteção social e de fomento à produção agrícola
18 É importante perceber que as políticas de combate à fome, promotoras da SAN e do DHAA, promovem também o desenvolvimento econômico e social sustentável. Sendo assim, entende se que os benefícios da implementação de políticas e programas de SAN em um estado/ município estão para além do combate à fome. A implementação políticas e planos de SAN promovem um modelo de sistema alimentar mais justo, saudável e sustentável. Isso significa que todas as etapas do sistema alimentar desde a destinação de terras e produção, até o consumo e descarte de alimentos funcionam a favor da economia local, do meio ambiente, da saúde e qualidade de vida das pessoas. E, uma vez que todo o sistema funciona de forma harmônica, o estado/município ganha, pois os recursos entram em circuitos comerciais mais curtos, gerando mais desenvolvimento econômico e social, além de dignidade, saúde e qualidade de vida para todas e todos
19 Isso pode ser percebido na prática quando programas como o Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf), o Programa de Aquisição de Alimentos (PAA) e o Programa Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) se articulam e funcionam de forma integrada, fomentando, assim, circuitos curtos de produção, abastecimento e consumo. Ao articular a produção familiar com o consumo local, na perspectiva de assegurar o direito humano à alimentação adequada, a compra institucional de alimentos interfere no sistema agroalimentar, formando circuitos curtos de produção, abastecimento e consumo, que asseguram não só a inclusão produtiva dos agricultores familiares, mas também alimentos mais saudáveis nas escolas
20 Percebe se que a integração desses programas gera inúmeros ganhos sociais e econômicos. Tal integração é possível a partir de um esforço de planejamento estratégico intersetorial, que, no caso do Sistema de Segurança Alimentar e Nutricional, é representado pelo Plano de SAN, principal instrumento de planejamento, gestão e execução da Política de SAN. O Plano de SAN auxilia a articulação e potencialização das diversas ações e programas de SAN, que geralmente estão dispersas ou isoladas no interior dos órgãos de governo. Com isso, gradualmente, quebram se os paradigmas que ainda concebem as políticas e programas de forma linear e setorial, mediante a abertura e a reunião dos diferentes setores em torno da construção de políticas e planos intersetoriais e integrados, já que a SAN abrange as diferentes dimensões e setores das ações governamentais
21 A elaboração de um Plano de SAN é uma grande oportunidade para buscar soluções intersetoriais, definir ações para combater importantes problemas sociais, que perpassam a insegurança alimentar, e seguir avançando em prol do desenvolvimento social e econômico do país
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