Política Energética Nuclear Brasileira: o posicionamento dos presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra
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- Herman Ramalho Caminha
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1 Política Energética Nuclear Brasileira: o posicionamento dos presidenciáveis Dilma Rousseff e José Serra por Scott Greer e Ryan Mullen, King & Spalding LLP 1 Recentemente, o Brasil tem ganhado espaço no cenário mundial pela sua rápida recuperação em meio à crise financeira mundial e pelo rápido crescimento econômico que se seguiu. Diante da proximidade da eleição presidencial que se inicia em outubro de 2010, investidores e profissionais do setor energético têm especial interesse no posicionamento dos principais candidatos em relação à politica energética, bem como nos efeitos das eventuais mudanças nessa área sobre as oportunidades de investimento. Enquanto o Brasil crescer, aumentará também a sua demanda energética. Em face à expectativa de alta da demanda energética, as autoridades brasileiras instituíram planos para diversificar a matriz energética do país, os quais preveem aumento na participação da energia nuclear. A referida fonte de energia sempre foi um tema controverso no Brasil e a decisão de terminar a construção da usina nuclear Angra III enfrentou um certo ceticismo e oposição. Os principais candidatos à eleição presidencial deste ano, Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB), já manifestaram as suas opiniões sobre o tema. Este artigo visa a apresentar o posicionamento adotado por esses dois candidatos sobre a energia nuclear. Dilma Rousseff Rousseff, economista, natural de Belo Horizonte, passou grande parte da sua carreira política em cargos relacionados a energia e infra-estrutura. Atuou como Secretária de Energia, Minas e Comunicações do Estado do Rio Grande do Sul, serviu como membro da equipe responsável pelo programa de Energia do Presidente Lula e mais tarde foi nomeada Ministra de Minas e Energia, cargo que ocupou a partir de 2003 até assumir o cargo de Chefe da Casa Civil em i Por conseguinte, Rousseff teve uma participação importante na formação da atual política energética do Brasil e provavelmente não tenderia a fazer mudanças significativas no rumo seguido pelo governo Lula. Rousseff e a Política de Energia Nuclear Originalmente, Rousseff posicionou-se contrariamente à energia nuclear. Quando ministra de Minas e Energia, opôs-se à conclusão da usina nuclear Angra III por acreditar que a energia nuclear era mais cara do que as outras formas de eletrogeração. ii Em entrevista ao programa Roda Viva declarou, [Apesar de a energia nuclear ser cara,] no entanto, você pode ter outras razões para construir uma planta termonuclear. Seriam razões de ordem técnico-estratégica ou tecnológico-estratégica ou, até em alguns casos, socioambientais. iii Mais tarde, mudou sua posição, manifestando a opinião de que a energia nuclear é mais barata que a energia solar e a eólica. No jornal O Estado de S. Paulo, defendeu a finalização de Angra III: A questão da geração nuclear é uma das possibilidades... Não acredito que tenhamos muitas 1 King & Spalding LLP é um escritório de advocacia internacional com vasta experiência no Brasil. Para maiores informações, favor verificar Scott Greer é sócio do escritório de Houston e Ryan Mullen é advogado do escritório de Atlanta.
2 alternativas porque, do ponto de vista técnico, as energias solar e eólica não são alternativas reais para um país em crescimento. iv Além disso, afirmou ser necessário o prosseguimento da construção de Angra III a fim de transmitir o conhecimento acumulado sobre energia nuclear para as futuras gerações, pois, em suas palavras, [a energia nuclear] poderá ter um papel importante como fonte energética, sobretudo quando o nosso potencial de geração hidrelétrica estiver se reduzindo. v Em uma entrevista a emissoras de rádio, Dilma ressaltou o fato de a energia nuclear não ser nociva ao meio-ambiente: Entre as alternativas, a menos poluente, dentro desse nosso compromisso de não afetar a mudança do clima, é a energia nuclear, porque não emite gás de efeito estufa. vi Ademais, afirmou que o Brasil vai precisar [de energia nuclear], porque ele vai crescer, vai se transformar em uma das maiores potências do mundo. vii Rousseff e o Investimento Privado em Energia Nuclear Nos termos da atual Constituição Federal, é proibido o investimento privado em energia nuclear. Consequentemente, o posicionamento dos dois candidatos acerca de investimento privado se torna essencial para a análise das eventuais oportunidades para investidores no setor nuclear brasileiro. Apesar de não ter se posicionado claramente sobre essa questão, Rousseff tem dado sinais favoráveis a investidores privados. Em abril de 2008, enquanto participava de um evento no Japão que celebrava o centenário da imigração japonesa no Brasil, Rousseff declarou que o Brasil estava à procura de investimento estrangeiro em energia nuclear e que discutiu este assunto com executivos da Hitachi e Mitsubishi. viii, ix Embora isto não signifique que ela acredita que investidores privados possam ter uma participação acionária em usinas nucleares brasileiras, há uma indicação de que está ativamente buscando desenvolver este setor por meio de parceria com empresas privadas. No entanto, é pouco provável que a propriedade direta de uma usina nuclear será possível caso as políticas da candidata sejam implementadas. Em maio de 2010, durante uma visita aos Estados Unidos, Rousseff afirmou que não se deve privatizar a Petrobras, a Eletrobrás nem outras empresas do setor elétrico. Acrescentou, ainda: somos favoráveis a conceder à iniciativa privada novas centrais hidrelétricas e estradas, quando for mais barato fazê-lo por meio de concessões do que com obras públicas. x Rousseff parece defender um sistema em que empresas privadas possam investir no setor nuclear brasileiro através da prestação de serviços e do fornecimento de materiais e de tecnologia diretamente para o governo brasileiro por meio de um processo licitatório ou na forma de subcontratação com os vencedores de tal processo. A operação de uma usina nuclear provavelmente seria conduzida pela Eletronuclear, uma subsidiária integral da Eletrobrás. José Serra
3 Serra, economista, natural de São Paulo e governador do Estado de São Paulo até abril de 2010, quando se afastou do cargo para disputar as eleições presidenciais, obteve o título de Mestre e Doutor em Economia pela Universidade do Chile e Universidade de Cornell, respectivamente. Participou da fundação do PSDB em 1988 juntamente com Franco Montoro e Mário Covas, os quais vieram a ser governadores do Estado de São Paulo, bem como Fernando Henrique Cardoso, Presidente da República que precedeu a Lula. Atuou como Secretário de Planejamento do Estado de São Paulo no Governo Franco Montoro e ocupou diversos cargos públicos, dentre os quais se destacam os de Deputado Federal, Ministro do Planejamento, Ministro da Saúde, e Prefeito da Cidade de São Paulo. Serra e Política Energética Nuclear Devido ao fato de Serra, ao contrário Rousseff, não ter exercido cargos no setor energético, poucas são suas declarações sobre energia nuclear e o candidato não se manifestou acerca da conclusão de Angra III. xi Sua única declaração pública no tocante à energia nuclear foi feita em uma entrevista ao programa Brasil Urgente em abril de Serra afirmou: O Brasil tem uma boa engenharia nuclear. Nunca vai fabricar bomba, isso está na Constituição, e também não tem por quê. Agora, energia nuclear é importante para a medicina, para energia elétrica. É uma coisa do futuro, então temos de trabalhar muito nisso. xii As declarações de Serra em favor da tecnologia nuclear são contrabalanceadas pelas de seu consultor em políticas energéticas, David Zylbersztajn. Zylbersztajn é um ex-diretor geral da Agência Nacional do Petróleo (ANP), ex-genro do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, e fundador da DZ Negócios com Energia, uma empresa especializada em assessorar investidores interessados nas indústrias brasileiras de petróleo, eletricidade e gás natural. Quando Secretário de Energia do Estado de São Paulo durante o primeiro mandato do governador Mario Covas ( ), liderou a reestruturação e privatização de várias empresas de energia em São Paulo. Zylbersztajn também foi um líder no processo de quebra do monopólio da Petrobras na exploração de petróleo no Brasil. Em uma entrevista à Miriam Leitão no programa Espaço Aberto em 2007, Zylberstajn manifestou sua oposição à conclusão de Angra III e à utilização de energia nuclear no Brasil, afirmando que ela deveria ser a última na fila quando se trata de priorizar o portfólio de energia no país. Embora tenha ressaltado que os elevados custos seriam o motivo de sua oposição, também mencionou a inexistência de um plano definitivo para lidar com o lixo nuclear como um fator negativo adicional. xiii Contudo, em seu blog pessoal no site do jornal O Globo indica que a sua oposição à energia nuclear se baseia muito mais em fatores não restritos aos puramente econômicos. Neste, ele afirma: Estamos vivendo um momento de encantamento com a possibilidade de conclusão de Angra 3. Quem me conhece, sabe que não nutro nenhuma simpatia pela energia nuclear. E gostaria de dizer que tenho convicção de que esta não é a melhor alternativa para o crescimento energético do Brasil, nem é nenhuma panacéia para o nosso Estado do Rio de Janeiro. Impressiona muito como interesses específicos viram a salvação da vez (Angra agora, as usinas do Rio Madeira até alguns dias atrás). xiv
4 Nesse mesmo blog, Zylberstajn manifesta a sua visão para o portfólio de energia no Brasil: Pensando no Estado do Rio: estes 5 bilhões de dólares [que se gastariam com uma usina nuclear] poderiam ser repartidos entre os excelentes grupos de pesquisa que temos no estado e a implementação de uma matriz energética mais focada em renováveis (solar, biomassa, eólica) e em programas de conservação de energia. O Rio de Janeiro tem mais a ver com a Califórnia do que com os desesperados asiáticos que acorrem à energia nuclear por total falta de alternativas. Que abundam em nosso estado. Governador Sergio Cabral, incorpore o lado bom do Schwarzenegger xv Diante dos comentários supramencionados nota-se que Zylbersztajn defende a utilização de fontes renováveis de energia e a diminuição ou eliminação da fonte de energia nuclear. Tendo em vista que Zylbersztajn é consultor de Serra em políticas energéticas, é possível que a administração Serra adote um plano de energia similar. Serra e o Investimento Privado em Energia Nuclear Apesar de Zylbersztajn se opor ao desenvolvimento da energia nuclear no Brasil, as perspectivas para o investimento privado no setor não seriam totalmente negativas sob uma administração Serra por diversas razões. Primeiramente, o PSDB é considerado o partido da privatização. O próprio Zylbersztajn, referindo-se ao PSDB, afirmou: A nosso ver, o Estado não deve se meter em obras. Deve traçar normas e viabilizar empreendimentos e deixar o resto com os particulares. xvi Além disso, Zylbersztajn supervisionou o processo de privatização ou a preparação para a privatização das principais companhias elétricas do Estado de São Paulo, i.e., Cesp, CPFL e Eletropaulo, bem como da companhia de distribuição de gás, Comgás, as quais constituem as maiores empresas de energia no Brasil em nível estadual. xvii Finalmente, Zylbersztajn e Serra são associados ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o qual é conhecido por ter dado início ao maior processo de privatização de empresas governamentais na história do Brasil. Entre essas empresas estão a Acesita, a Telebrás e a Companhia Vale do Rio Doce. Embora Serra e Zylbersztajn não tenham se manifestado publicamente no que tange ao investimento privado em energia nuclear, importa salientar que Alfredo Kaefer, um membro do partido de Serra, apresentou uma proposta de emenda constitucional ( PEC ) que visa a legalizar o investimento privado nesta área. Kaefer afirmou: Hoje, a energia nuclear mostra que é limpa e ela vai dar a solução para o desenvolvimento econômico do Brasil. Kaefer ainda ressaltou: [com a participação da iniciativa privada], certamente nós tenhamos a ampliação muito grande dessa energia. xviii A PEC de Kaefer, atualmente na Comissão de Constituição e Justiça da Câmara dos Deputados, propõe o fim do monopólio estatal sobre a energia nuclear, permitindo que as empresas com pelo menos 70% do capital de origem nacional possam construir e operar reatores nucleares para a produção de eletricidade. Investidores em energia nuclear estarão acompanhando de perto as próximas eleições no Brasil para ver qual rumo o novo governo poderá tomar. i ii O Estado de SP, 26/6/2007
5 iii Entre 78:00-82:00 Minutos iv O Estado de SP, 26/6/2007 v vi vii viii DILMA+BUSCA+INVESTIMENTOS+PARA+ENERGIA+NUCLEAR+BRASILEIRA+NO+JAPAO.html ix x xi 20FORWARD%20ON%20NEW%20NUCLEAR%20PLANTS%20DESPITE%20OPPOSITION.pdf xii xiii xiv xv Ibid xvi xvii xviii
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