A TENDA DOS 21 + 1: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL. Alciléia Sousa Freitas PUCPR Vera L. Israel - PUCPR Romilda T.



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Transcrição:

Área Temática: Arte e Educação Modalidade: Comunicação A TENDA DOS 21 + 1: RELATO DE UMA EXPERIÊNCIA EDUCACIONAL Resumo Alciléia Sousa Freitas PUCPR Vera L. Israel - PUCPR Romilda T. Ens - PUCPR O presente relato de experiência, envolvendo arte e educação com alunos da Educação Infantil tem por objetivo identificar o desenvolvimento dessas crianças a partir de algumas ações educativas envolvendo a arte-educação como meio de facilitar a aprendizagem. As atividades foram realizadas em um Centro de Educação Infantil (CEIDO), na cidade de Curitiba, durante um semestre, envolvendo planejamento didático, flexível e diversificado, observações das atitudes das crianças. A arteeducação foi o meio pedagógico usado para desenvolver os aspectos psicomotores e afetivos das 21 crianças que participavam das atividades. Os resultados apontam para o desenvolvimento de atitudes que podem ser consideradas indispensáveis à vida em sociedade, desde uma maior independência funcional até a conquista de auto-estima e iniciativas de liderança. Palavras-chave: Educação Infantil; Psicomotricidade; Arte Educação; Aprendizagem. Aluna do Curso de Pedagogia da PUCPR. Professora de Educação Infantil. e-mail: alcileiafreitas@yahoo.com.br Professora do Curso de Fisioterapia e do Programa de Pós-Graduação de Tecnologia em Saúde da PUCPR, Fisioterapeuta, Doutora em Educação Especial UFSCar/SP, e-mail: israel.v@pucpr.br Professora do Curso de Pedagogia da PUCPR. Doutoranda em Educação PUCSP, orientadora da área; e-mail:romilda@bruc.com.br

1835 Introdução O desenvolvimento do mecanismo de aprendizagem do ser humano é complexo e depende de algumas variáveis sociais, educacionais, ambientais, econômicas e culturais para que a criança possa atingir a maturidade. Quando trabalhamos com crianças na faixa etária dos 3, 5 a 4, 5 anos, na Educação Infantil, é fundamental considerar o ritmo próprio de cada uma, pois o aprendizado depende diretamente da memória e suas correlações ambientais entre outras, principalmente quando se trata da memória neuromotora nesta fase do desenvolvimento infantil. Ludy-Ekman (2000, p.46) aponta que a neuroplasticidade, isto é, qualquer modificação do sistema nervoso permite que a criança aprenda por meio de estímulos adequados. Essas modificações para o autor estariam diretamente vinculadas ao processo de produção do conhecimento, de aquisição do movimento, enfim das atitudes e respostas (reações e ações) da criança frente aos estímulos recebidos, de acordo com a criatividade de cada uma. O aprendizado psicomotor envolve diferentes aspectos a serem trabalhados pela professora de Educação Infantil. Entre eles podemos destacar que o funcionamento do intelecto depende da organização biológica na qual a interação social com a linguagem presta importante contribuição ao desenvolvimento de estruturas mentais, quando estuda-se Jean Piaget (apud RICHMOND, 1981). Toda a teoria piagetiana é desenvolvimental, para o autor, explica como a criança aprende, mas não discute com minúcias como esta criança pode ser ensinada no cotidiano escolar. Para Almada (1999, p.10) as atividades lúdicas são indispensáveis para a apreensão dos conhecimentos artísticos e estéticos. Pois possibilitam o desenvolvimento da percepção, da imaginação, da fantasia e dos sentimentos. A criança ao brincar nas aulas usando a arte, torna-se uma possibilidade e abre espaço para fazer novas experiências ou seja, ou seja esse processo vai ajudá-la a compreender, de forma mais dinâmica e criativa o mundo cultural que a cerca.

1836 A cada atividade artística desenvolvida em sala é possível que a criança a vivencie como lúdica e quando realiza estas atividades o seu mundo real mistura-se com o imaginário, e o imaginário com o mundo da linguagem. Tornando-se, deste modo, expressões de sentimentos e pensamentos, desenvolvendo a comunicação e interação desta criança com o mundo que a cerca. Posso dizer que o jogo infantil, como por exemplo peteca, bola, quebracabeça, entre outros, é elemento essencial ao desenvolvimento motor e psicoafetivo da criança. As atividades por meio de jogos, conforme explica o Autor, desafiam os limites de cada criança e isto a leva a aprender e a socializar-se, permitindo uma associação entre o que ela vivencia e o que é possível que ela apreenda. Aos poucos vai acontecendo a passagem do individual para o coletivo, e com o tempo, durante o processo formativo, vão surgindo as possibilidades de partilhas e crescimento nas dimensões afetivas, motoras e intelectuais de cada criança. Estas possibilidades de partilhas surgem de regras estabelecidas pelos jogos, que são construídas na cooperação e reciprocidade, tendo como finalidade maior a conscientização de atividades grupais. Isso permite a criança a desenvolver o respeito ao próximo, a solidariedade e outros conceitos e valores éticos, sociais e morais que permitem uma convivência pacífica facilitando a formação da cidadania. Duarte Júnior (2001, p.26) destaca que a partir daí, as significações que encontraremos para nossa vida se desenvolvem em conformidade com a maneira de ser de nosso grupo social. Notem ainda que, na realidade, nossa postura humana é aprendida. Aprendemos a ser humanos: a perceber e a vivenciar o mundo como homens, através da comunidade. Fora de um contexto social não há seres humanos. A comunicação e a expressão dos sentimentos do ser humano permitem que ele dê expressão ao sentir, diz Duarte Júnior (2001) e, desta forma a arte, como meio educativo, pode favorece à criança a expressar seus sentimentos, criatividade e idéias, levando estes aspectos ao seu crescimento e desenvolvimento

1837 desde a infância. Portanto, neste relato de experiência consideramos que a arte na educação pode facilitar o processo de aprendizagem da criança. Olhando a arte educação sob o ângulo de teoria e prática percebe-se a necessidade de trabalhar os estágios de evolução psicogenética, de acordo com estudos feitos por Piaget (apud RICHMOND,1981). Para ser trabalhado tudo deve ser levado em consideração, destacando a qualidade, a escolha dos conteúdos e as atividades educativas. Sendo permitida a interferência pedagógica ao realizar tais atividades que estimulem o desenvolvimento cognitivo, intelectual e psicomotor da criança. De Meur e Staes (1984) apontam que as experiências motoras simples levam a criança a receber informações que paulatinamente em um conjunto de indicações similares serão percebidas em outras circunstâncias o que trará o aprendizado como resultado. Por exemplo, forma arredondada, dentro ou pequeno. A maneira como as pessoas aprendem impõe um conjunto fascinante de aspectos, como por exemplo, o psicomotor e o cognitivo trabalhando juntos. As crianças aprendem ações habilidosas progressivamente e desenvolvem ações motoras em diferentes situações (SCHMIDT; WRISBERG, 2001). Neste estudo, o grupo de crianças envolve a faixa etária de 3,5 a 4,5 anos, e Macedo (1999, p. 3) afirma que nunca mais seremos tão inteligentes como fomos aos quatro anos, estabelecendo links por palavras, gestos, desenhos, jogos imaginativos, um potencial que se realiza de forma tão intensa e criadora, como raras vezes será possível novamente ao longo da vida de uma pessoa. Pensando em conteúdos pode-se evidenciar que a arte é a expressão e comunicação do indivíduo (ALMADA, 1999, p.11). Considerando a arte como expressão da criança ela manifestará tudo o que a envolve no momento atual ou que já foi instrumento de construção em sua vida. Para Richmond (1991), citando Piaget, o pensamento na criança é de fato bem mais original que a linguagem.

1838 Relacionando a arte como ponto fundamental na Educação é certo que a criança viaja em uma dinâmica que todo o seu corpo é trabalhado por meio da arte. Por exemplo, uso de tintas e pinturas, a dança, a música, o relaxamento corporal, a leitura na tenda, entre outras atividades levam a uma expressão corporal na criança. Isto permite o envolvimento intelectual, emocional e psicomotor durante as atividades educativas. Mas, o que é Educação? Pode-se conceituar a Educação como um desenvolvimento pessoal, de forma ilimitada à faixa etária, à escola, ao ensino, aos pensamentos, aos sentimentos. Na Educação Infantil a ênfase para Freire (1997, apud Behrens, 2000, p.87) é ser gente porque, inacabado, sei que sou um ser condicionado, ma, consciente do inacabamento, sei que posso ir além dele. Esta é a diferença profunda entre o ser condicionado e o ser determinado. Deste modo o aprendizado da criança deve facilitar o aprender a aprender e assim um pleno desenvolvimento de suas experiências dentro de uma totalidade humana e educacional. A Escola com a ação educativa do professor pode incentivar a criança para que sua curiosidade transporte sua imaginação, levando-a a explorar o seu meio social e ganhar a independência e auto-confiança (Montessori, 2005). Este conjunto de teorias educacionais subsidiam o professor da Educação Infantil e permite ao mesmo diversificar as atividades educativas favorecendo que às crianças tocar, sentir, pegar, carregar e brincar com cada objeto que elas possam ter em suas mãos. Através de explorações contínuas tanto do espaço como das coisas, elas aprendem a natureza de objetos, do espaço, e, em alguma extensão, delas mesmas (ECKERT, 1993, p.185) O objetivo deste estudo foi identificar o desenvolvimento das crianças analisadas após uso de ações educativas envolvendo a arte-educação como meio de facilitar a aprendizagem.

1839 Apresentando a proposta Participaram deste estudo 21 crianças de 3,5 a 4,5 anos de idade, 11 meninos e 09 meninas, além da professora, portanto 21 + 1. A amostra pertence a uma classe social de baixa renda e foi atendida em um centro de educação infantil (CEIDO), uma creche comunitária sem fins lucrativos dirigida por religiosos, no bairro de Santa Quitéria, na cidade de Curitiba. O plano político-pedagógico do Centro Infantil envolve o exercício do diálogo educacional de Paulo Freire e o Projeto Educacional Orionita (da congregação que dirige a Obra), praticando o amor a todos garantindo a conquista do conhecimento e a compreensão de cada um na sociedade. Lembrando que fazer o bem sempre e o mal nunca a ninguém, seguindo o modo cristão-paterno, é a filosofia orionita presente no CEIDO. Os materiais usados foram: tinta guache, papel crepom, colas, massa para modelar, elementos da natureza (folha, areia, legumes, frutas...), recortes de figuras de revistas e jornais, barbantes, giz d cera e lápis de cor, papel sulfite, tecidos, jogos de montar e miniaturas, bolas, materiais recicláveis (palitos de sorvete, rolos de papel, garrafas plásticas,...), caixas, entre outros. No procedimento realizado foi realizada uma avaliação inicial observacional baseada nos aspectos da realidade inicial que cada criança manifestava; levando ao conhecimento mútuo, de cada um (individual), do grupo (coletivo) e de cada criança em relação à professora. Caracterizou-se então uma intervenção diária de Segunda a Sexta feira seguindo o calendário escolar. Esta intervenção baseou-se em atividades envolvendo um planejamento temático semanal; este plano foi flexível de acordo com a necessidade do grupo e da escola, inclusive modificando estratégias e atividades previamente elaboradas. Atender a individualidade dentro de uma coletividade, usando a arte educação como meio de desenvolvimento psicomotor, cognitivo e psicoafetivo, foi o objetivo maior da intervenção.

1840 As atividades envolveram a música, cantigas e brincadeiras de roda, relaxamento e expressão corporal, vídeos direcionados aos temas trabalhados, visitas, passeios, leituras na tenda, destacando que diariamente tivemos a oração diária, e em três dias da semana as seguintes atividades foram realizadas de modo especial: a hora da novidade (a criança relatava o final de semana vivenciado com a família), a hora da leitura (mensagens que as crianças trazem de casa, histórias de livros pedagógicos,...) e a hora da música (com músicas infantis, tocando instrumentos fabricados pelas próprias crianças e cantos educativos, momentos criativos para que as crianças usem a imaginação criativa). Ao final do semestre foi realizada a observação escrita de cada criança e apresentada sob a forma de relatório semestral, indicando o que foi observado no desenvolvimento de cada aluno durante o semestre. Este relatório final foi entregue e discutido com os pais, mães, familiares e direção do CEIDO envolvendo os aspectos de realidade inicial, os meios, os passos dados, e os passos a serem dados, servindo como dicas de aprendizagem para que a família possa perceber a evolução de seu filho(a) e passe a dar continuidade às atividades educativas inclusive no período de férias. Os dados descritos neste relatório final foram levantados de observações diárias feitas nas agendas individuais de cada aluno, que servia também como meio de comunicação da professora com a família. Sempre que possível o contato foi verbal com o familiar que comparecia a escola. Resultados e Discussão Os relatos de experiências foram fundamentados em diferentes aspectos observados nos comportamentos dos alunos frente às atividades propostas no decorrer do semestre e também no contato com familiares e no relacionamento dos alunos dentro do grupo. Percebemos que muitas crianças conseguiram muita independência quanto a vestuário, higiene pessoal, alimentação, contato com os outros, conhecendo mais limites porém lutando pelo seu espaço.

1841 A grande maioria das 21 crianças desenvolveram maior percepção global tendo mais iniciativas frente a problemas e desafios diários. Favorecendo a tomada de decisões, aprendizado psicomotor, auto-estima, extroversão e maior comunicação. Os limites e regras foram sendo estabelecidos em comum acordo permitindo maior organização de tempo e espaço. E as crianças em sua maioria conseguiram maior atenção e concentração indicando desta forma um maior desenvolvimento de conceitos funcionais psicomotores. O processamento da informação para a aprendizagem psicomotora envolve, de acordo com Schmidt e Wrisberg (2001), três estágios: a identificação do estímulo, a seleção da resposta e a programação da resposta. Assim as crianças conseguiram desenvolver-se organizando e reorganizando seus conceitos funcionais. Quanto ao comportamento do grupo percebemos uma maior responsabilidade e cobranças comuns para manter a organização das atividades e condutas adequadas, inclusive cobrando da professora estas mesmas atitudes positivas. Desde modo o relacionamento amadureceu o que é típico da idade, levando a revelação de ações de liderança. Schmidt e Wrisberg (2001) apontam que no aprendizado motor a criança otimiza o tempo de reação e consequentemente torna-se mais eficiente a toma de decisões frente às problemáticas oferecidas, buscando soluções para cada novo desafio. Soma-se a este processo a visão holística do GATE ( Global Alliance for Transforming Education ) apresentada por Behrens (2000, p.63) de que o ensino deve enriquecer e aprofundar a relação consigo mesmo, com a família e com os membros da comunidade global, com o planeta e com o cosmo. As transformações observadas no comportamento relacional e psicomotor de cada aluno foram positivas na maioria das vezes, porém as dificuldades também apareceram, como por exemplo: isolamento de alguns alunos, alguns, ainda não respeitam os limites da convivência comum, dificuldade de aprendizado observado em um aluno e outros com dificuldade de verbalização. Claro que sabemos que o processo de aprendizagem é individual e merece uma atenção especial a cada nova etapa. Então as dificuldades se tornam desafios a serem vencidos e, deste modo, a

1842 Educação contribui para o desenvolvimento de cada aluno e abertura de novos horizontes. Considerações Finais O objetivo deste relato de experiência de uma ação educativa baseada nas atividades da arte-educação visando um maior desenvolvimento infantil das 21 crianças observadas pode-se dizer que foram atingidos. Sabemos, porém dos limites de cada aluno e também de conhecimento da professora que sempre procurou meios de superação e de aprimoramento de seu conhecimento em prol de seus alunos. A Tenda dos 21+ 1 cresceu e envolveu a escola, a família e o grupo, unindo-os em busca de oportunidades, possibilidades e conquistas quanto ao aprender a ser. Como São Luis Orione, fundador da congregação que dirige a institução, ensinou a criança é o sol ou a tempestade do amanhã. Referências ALMADA, D. Arte: esta brincadeira é coisa séria. Revista Criança do Professor de Educação Infantil, Brasília: Ministério da Educação, n.32, 1999. BEHRENS, M. A. O Paradigma emergente e a prática pedagógica. Curitiba: Champaghat, 2000. DE MEUR, A. ; STAES, L. Psicomotricidade: educação e reeducação. São Paulo: Manole, 1984. DUARTE JÚNIOR, J.F. Por que arte-educação? 12.ed. Campinas: Papirus, 2001. ECKERT, H.M. Desenvolvimento motor. 3.ed. São Paulo: Manole, 1993. LUNDY-EKMAN, L. Neurociência: fundamento para a reabilitação. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2000. MACEDO, L. de. Criação e autoria de um ponto de vista piagetiano. Revista Criança do Professor de Educação Infantil. N.32, Ministério da Educação, 1999.

1843 MONTESSORI. Disponível em: www.artenaescola.org.br/ pesquise_artigos_texto.php?id_m=3. Acesso em: 29 ago. 2005. RICHMOND, P.G. Piaget: teoria e prática. 3.ed. São Paulo: Ibrasa, 1981. SCHMIDT, R. A. ; WRISBERG, C. A. Aprendizagem e performance motora. 2.ed. Porto Alegre: Artmed, 2001.