O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE UM CURSO DE ESPANHOL EAD PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES



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Transcrição:

O PROCESSO DE ELABORAÇÃO DE UM CURSO DE ESPANHOL EAD PARA PESSOAS COM DEFICIÊNCIA VISUAL: DESAFIOS E POSSIBILIDADES OLIVEIRA, Janio Davila de; 1 FONTANA, Marcus. 2 RESUMO: O presente artigo se propõe a levantar reflexões sobre a Educação da língua espanhola para pessoas com deficiência através do apontamento de limites e dificuldades vivenciados no grupo Além da Visão, vinculado à Universidade Federal de Santa Maria - UFSM. Primeiro há uma breve introdução seguida da primeira parte do texto, que trata das relações entre Educação a Distancia e Tecnologias da Informação e comunicação a serviço da inclusão de pessoas com deficiência visual. Na segunda parte há um resumo das atividades do grupo Além da Visão nos dois anos de existência. Por fim, nas considerações finais, apontam-se aqueles que se vislumbram como possíveis resultados do projeto, com base nas metas propostas. Palavras-chave: EaD. Pessoas com deficiência visual. Inclusão. Além da visão. INTRODUÇÃO Na construção de um curso EaD para pessoas com deficiência, o primeiro desafio que emerge é o da reflexão sobre a temática da inclusão. Nesse sentindo, é preciso ter claro o que se entende por inclusão na educação e no que ela implica. Sendo assim, estes 1 Acadêmico do curso de Licenciatura em Letras Licenciatura - Espanhol e Literaturas de Língua Espanhola da UFSM. Pesquisador voluntário integrante do grupo Além da Visão. Email: Janio.davila@yahoo.com 2 Doutorando em Educação pelo Programa de Pós-Graduação em Educação da Universidade Federal de Santa Maria. Mestre em Linguística Aplicada pelo Programa de Pós-Graduação em Letras da Universidade Católica de Pelotas (2009), É Professor Assistente da Universidade Federal de Santa Maria, atua como pesquisador e formador pelo projeto Pró-Licenciatura - REGESD e é Coordenador do Curso de Espanhol UAB/UFSM. Tem experiência na área de Letras, com ênfase em Língua Espanhola, Linguística Aplicada, Tecnologias na Educação, Educação a Distância e Tecnologias Inclusivas para Pessoas com Deficiência Visual. Email marcusfontana2001@gmail.com

aspectos serão abordados na primeira parte deste artigo, que versa sobre deficiência visual, educação a distância e inclusão. Na segunda parte do trabalho, o enfoque serão as atividades do grupo Além da Visão. Será dado destaque para as experiências adquiridas durante os encontros do grupo e o processo de elaboração do material pedagógico. Mais do que buscar receitas prontas, ao se dispor a trabalhar com pessoas que tenham deficiência visual, é preciso assumir o compromisso de construir caminhos e metodologias capazes de atribuir significado a sua aprendizagem. É com base nesse pressuposto que se pauta o curso sobre o qual se reflete nesse artigo. 1 DEFICIENTES VISUAIS, EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA E INCLUSÃO. Conforme Roos (2009), diante da multiplicidade encontrada no contexto da educação, abre-se um universo de possibilidades de experimentação. Deste modo, colou-se a ideia de diferença à de diversidade e a de inclusão à de deficiência. Embora muitos documentos como a Declaração Mundial Sobre Educação para Todos (1990), a Declaração de Salamanca (1994) e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (1996), tragam a necessidade de inclusão de todos nos espaços educacionais, não há um conjunto de conhecimentos objetivos sobre as deficiências e sobre a inclusão que possa ser imediatamente assumido nos processos de ensino-aprendizagem (ROOS, 2009). Ainda assim podemos definir como ações de inclusão no contexto educacional, aquelas que sejam implementadas levando em conta a vasta diversidade de características e necessidades dos alunos, de forma que todos possam ser beneficiados. São necessárias ações que assumam que todas as diferenças humanas são normais, e que se pautem no princípio de que o modelo educacional é que deve adaptar-se ao aluno, e não o aluno adaptar-se a ele. Independente das diferenças e dificuldades do estudante, o fundamento básico da educação inclusiva é de que todos devem aprender juntos (DECLARAÇÃO DE SALAMANCA, 1994). Aliada à discussão da inclusão, é importante contextualizar a emergência da Educação a Distancia que também vem com o intuito de contribuir para a universalização da educação. A Educação a Distância é a modalidade educacional na qual a mediação didático-pedagógica nos processos de ensino e aprendizagem ocorre com a utilização de meios e tecnologias de informação e comunicação, com 2

estudantes e professores desenvolvendo atividades educativas em lugares ou tempos diversos (BRASIL, 2005). Essa modalidade de ensino tem se mostrado uma ótima alternativa na inclusão de novos sujeitos no sistema educacional. Muitos obstáculos podem ser superados com a ajuda desta forma de aprendizagem, como aquelas relativas ao acesso ao ensino presencial, enfrentadas, principalmente, por sujeitos que necessitam trabalhar para constituir sua renda familiar e por pessoas com deficiência. A educação a distância possui algumas vantagens em relação a outro tipo de ensino, pois a pessoa pode escolher tanto a hora de estudar quanto quando iniciar seus estudos. Como se sabe, cada aluno tem um ritmo de estudo próprio e a educação a distância permite que o aluno imponha seu ritmo individual e essa é uma grande vantagem da EAD ((FERREIRA; MENDONÇA, 2007, p.3). Seria errôneo afirmar que a idéia de educação a distancia seja algo novo. Alternativas de aprendizagem não presencial já foram pensadas em outros tempos,como os cursos por correspondência ou também as tele-aulas. Porém, com o desenvolvimento das TICs( Tecnologias da Informação e Comunicação), aumentam significativamente as possibilidades de aprender e ensinar a distancia, fazendo com que se amplie quantitativamente e qualitativamente os cursos nesta modalidade. Estas novas tecnologias são ferramentas que, se utilizadas de forma adequada, permitem a criação de metodologias alternativas e eficientes. Entenda-se por novas tecnologias, os processos e produtos relacionados com os conhecimentos provenientes da eletrônica, da microeletrônica e das telecomunicações (KENSKY, 2007, p. 25). O computador, os ambientes virtuais de aprendizagem, as redes sociais, além de outros programas desenvolvidos para a utilização na área da educação, substituem a necessidade de professor e aluno estarem no mesmo ambiente físico. O grande avanço da tecnologia nas últimas duas décadas tem permitido o surgimento de computadores, tablets e celulares, com um número cada vez maior de funções, e um número cada vez maior de softwares. Por meio das tecnologias digitais, é possível representar e processar qualquer tipo de informação. Nos ambientes virtuais reúnem-se a computação (a informática e suas aplicações), as comunicações (transmissão e recepção de dados, imagens, sons, etc.) e os mais diversos tipos, suportes em que estão disponíveis os conteúdos (livros,fotos músicas e textos).[...] também é possível a comunicação em tempo real, ou seja, a comunicação simultânea entre pessoas que estejam distantes, em outras cidades, outros países ou mesmo viajando no espaço (KENSKY, 2007, p. 33). 3

Assim, considerando que a organização da educação e o pensamento pedagógico vêm a cada dia ganhando novas formas, tendo em vista a necessidade de reverter situações de exclusão, a escola se viu na necessidade de procurar uma resposta à grande heterogeneidade sócio-cultural. Nesse sentido, a aplicação das TICs, enriquece os processos de ensino e aprendizagem, contribuindo para a redução da distância entre as pessoas e possibilitando novas formas de integração (ULBRICHT et al., 2011). As TICs são, portanto, um conjunto de ferramentas a ser utilizada para a garantia do acesso à educação, que se constitui como um direito social. Na medida em que se privam as pessoas com deficiência visual dos processos educativos, está se cometendo uma violação dos seus direitos. Não criar condições de acessibilidade é condenar os deficientes visuais a nunca ter acesso a tais cursos. É um ciclo vicioso: não gero acessibilidade porque não tenho alunos com deficiência, não tenho alunos com deficiência porque não gero acessibilidade (FONTANA, 2009, p. 29). 2 ALÉM DA VISÃO O projeto de pesquisa, Além da visão, surgiu em 2010 na Universidade Federal de Santa Maria, sob a coordenação do Professor Marcus Fontana. Entre seus principais objetivos está a elaboração de um curso de Educação a Distancia (EaD),de língua espanhola para pessoas com deficiência visual falantes de língua portuguesa. O projeto busca realizar pesquisas envolvendo o ensino de pessoas com deficiência visual e o papel que as novas Tecnologias de Informação e Comunicação (TICs) podem exercer neste processo de aprendizagem. No grupo há integrantes que estudam espanhol na UFSM em diferentes modalidades de ensino, em diferentes etapas do processo de formação e residentes em diferentes cidades. Esta diversidade enriquece o grupo e traz a possibilidade de trocas entre seus integrantes. Nestes momentos de dialogo é possível que cada um traga as dificuldades encontradas para que juntos encontrem formas de solucioná-las. As reuniões acontecem em Santa Maria, em média a cada 15 dias, sendo marcadas conforme a necessidade de cumprimento do cronograma. Os encontros contam com a participação dos integrantes que residem na cidade, havendo comunicação entre todo o grupo através da WEB. Nestas reuniões são socializadas as atividades que cada um vem desempenhando, colocadas em pauta as dificuldades encontradas até então e planejados novos objetivos para as semanas posteriores. 4

A elaboração do curso consiste na construção de exercícios envolvendo, conversação, escrita, leitura e audição. O grupo se subdivide de modo que cada integrante participa das atividades com as quais tem mais afinidade: estruturação das unidades, gravação de áudios, edição dos áudios e manutenção da página na internet. Destaca-se que o leque de atividades irá se ampliar a partir do momento em que o curso estiver implantado e disponível para acesso do público. A partir deste momento serão necessários atores envolvidos com questões como tutoria, atividade em que cada tutor será responsável por acompanhar cinco alunos, orientando suas tarefas durante o curso. Quanto à estruturação das unidades, cada subgrupo escolhe um tema para a unidade que irá nortear todas as atividades ali propostas. Conforme os textos e áudios usados na unidade, são escolhidos os exercícios gramaticais ali trabalhados. A escolha destes temas não é aleatória, mas determinada principalmente pelo potencial que possuem para estimular a reflexão nos alunos. Há unidades com temas como: sexualidade, família, mundo do trabalho e maus tratos aos animais. Todas as unidades do curso são elaboradas com o cuidado de equilibrar o exercício das quatro habilidades do aluno, quais sejam: audição, conversação, leitura e escrita. Assim para desenvolver a fala e a fluência, há exercícios dando espaço para o aluno expor suas opiniões e questões referentes aos áudios e textos, além de exercícios em que o aluno gravará sua fala e a enviará para o tutor avaliar. Os cursos a distância têm o potencial para abrigar qualquer tipo de metodologia pedagógica, desde a mais simples, como a instrucionista (centrada no professor como transmissor do conteúdo que deve ser compreendido e reproduzido pelos alunos), até as abordagens mais colaborativas e construtivistas, (valorizam as discussões em grupo e a construção colaborativa do conhecimento), onde o professor/tutor atua como mediador do processo. [...] Entretanto, o sucesso do curso não depende tanto dos recursos quanto da interação e da presença constante do professor/tutor (LEITE, 2006). A audição é trabalhada na maioria dos exercícios. O subgrupo responsável pela gravação dos exercícios geralmente é composto por uma voz masculina e outra feminina, com o intuito de dar mais dinâmica ao curso. Além dos áudios gravados pelo próprio grupo, são trabalhados áudios retirados da internet. Em relação aos áudios retirados da Web também há sempre a necessidade de trabalhar somente com arquivos que estejam em domínio público. A escrita é estimulada com exercícios em que é pedido ao aluno para que exponha sua ideia sobre algum assunto, sempre relacionado com o tema principal da unidade. Também é trabalhado o desenvolvimento da leitura. Destaca-se, neste ponto, a grande ajuda das TICs, que permitem sites com a acessibilidade que as pessoas com deficiência 5

visual necessitam. O próprio curso terá essa opção na sua página, além de ouvir os áudios, os alunos terão a opção de ler o conteúdo. A acessibilidade à web é parte integrante do Projeto Brasileiro de Inclusão Digital para as pessoas portadoras de necessidades especiais. O Art. 47 do Decreto 5.296, exige a acessibilidade nos portais e sítios eletrônicos da administração pública na internet, para o uso das pessoas portadoras de deficiência visual, garantindo-lhes o pleno acesso às informações disponíveis (ULBRICHT et al., 2011). Nestes dois anos de existência, o projeto Além da Visão, já alcançou parte dos seus objetivos. Embora ainda haja muitos desafios a serem transpostos, alguns resultados palpáveis já podem ser apontados como: o trabalho de estruturação das unidades que já se encontra em estágio final e a gravação e edição dos áudios que também já se encontram em processo avançado. Entre os alunos participantes do projeto, também já se observam ganhos em sua formação como professores, visto que o trabalho voltado para pessoas com deficiência visual, na mesma medida em que traz dificuldades, também provoca a criatividade nas questões de trabalho com o ensino da língua. Afinal, é justo na busca por equacionar estas dificuldades que se vislumbra o novo e se concretizam os progressos. Por fim, aponta-se que o curso estará disponível na WEB a partir do segundo semestre de 2012. Nesse sentido, se inicia uma nova etapa do projeto, pois com o curso em andamento, já será possível ter um retorno dos usuários quanto à efetividade e a qualidade, sendo possível corrigir erros e aperfeiçoar as ações propostas. CONSIDERAÇÕES FINAIS Para finalizar, elencamos dois eixos principais nos quais se espera que o projeto tenha resultados efetivos. Vislumbram-se resultados relativos ao aprendizado da língua espanhola pelos deficientes visuais e aqueles relacionados ao aprendizado dos integrantes do grupo. Quanto ao processo de ensino-aprendizagem que se tem como meta do curso, ainda que a maior parte dos indicadores concretos apareçam após a implantação do curso no segundo semestre de 2012, a atenção que se teve ao elaborar de uma forma que contemplasse as necessidades das pessoas com deficiência visual, faz com que se acredite que o projeto irá alcançar êxito. Em relação aos integrantes do grupo, pode-se desde já observar grande acréscimo de conhecimento em suas formações. A possibilidade de esses alunos já na graduação 6

participarem do projeto, na busca de modificar as situações de exclusão vivenciadas pelas pessoas com deficiência visual agrega significado aos conteúdos que estão sendo aprendidos no currículo e traz a possibilidade de estabelecer relações entre estes conteúdos e a realidade concreta. REFERÊNCIAS BRASIL. Decreto 5622 de 19 de dezembro de 2005. Brasília, 2005. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5622.htm > Acesso em: 28 mai. 2012 DECLARAÇÃO de Salamanca. Sobre os princípios, políticas e práticas na área das necessidades educativas especiais. Espanha: Salamanca, 1994. FERREIRA, Zuleica Nunes; MENDONÇA, Gilda Aquino de Araújo. O perfil do aluno de educação a distância no ambiente TELEDUC. 2007. Disponível em: <http://www.visionvox.com.br/biblioteca/o/o-perfil-do-aluno-de-ead.pdf>. Acesso em: 31 mai. 2012. FONTANA, Marcus Vinicius Liessen. A língua que não se vê: o processo de ensinoaprendizagem de espanhol mediado por computador para deficientes visuais. 2009. Dissertação. (Mestrado em Letras). Universidade Católica de Pelotas, 2009. KENSKY, Vani Moreira. Educação e tecnologias: o novo ritmo da informação. Campinas, Papirus, 2007. LEITE, Maria Teresa Meirelles. O ambiente virtual de aprendizagem Moodle na prática docente: conteúdos pedagógicos. UNIFESP, 2006. Disponível em: http://www.virtual.unifesp.br/cursos/oficinamoodle/textomoodlevvirtual.pdf. Acesso em: 30 mai. 2012. ROOS, Ana Paula. Sobre a (in) governabilidade da diferença. In: LOPES, Maura Corcini; HATTGE, Morgana Domênica (Orgs.). Inclusão Escolar: Conjunto de práticas que governam. Belo Horizonte: Autêntica, 2009. ULBRICHT, Vânia. et al. Os deficientes visuais e a educação à distancia. In: Revista Educa Online. V. 5. Set/dez 2011. Disponível em: <:http://www.latec.ufrj.br/revistas/index.php?journal=educaonline&page=article&op=view&pat h%5b%5d=187> Acesso em: 25 mai. 2012. 7