fls. 91 Registro: 2014.0000560120 ACÓRDÃO Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 4008523-94.2013.8.26.0577, da Comarca de São José dos Campos, em que é apelante ULYSSES PINTO NOGUEIRA, é apelado QUALICORP ADMINISTRADORA DE BENEFÍCIOS S.A.. ACORDAM, em 10ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de, proferir a seguinte decisão: "Por maioria de votos, deram provimento ao recurso, vencido o 3 Juiz que o negava e declarará.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JOÃO CARLOS SALETTI (Presidente sem voto), CESAR CIAMPOLINI E CARLOS ALBERTO GARBI., 9 de setembro de 2014. ELCIO TRUJILLO RELATOR Assinatura Eletrônica
fls. 92 10ª Câmara Seção de Direito Privado Apelação com Revisão n 4008523-94.2013.8.26.0577 Comarca: São José dos Campos Ação: Plano de Saúde - Restituição e Danos Morais Apte(s).: Ulysses Pinto Nogueira Apdo(a)(s).: Qualicorp Administradora de Benefícios S/A Voto nº 22.165 PLANO DE SAÚDE Reajuste por mudança de faixa etária aplicado aos 60 (sessenta) anos de idade Pedido de restituição dos valores indevidamente pagos a maior deduzido em face da Qualicorp Processo extinto sem resolução do mérito por ilegitimidade de parte De rigor a reforma da sentença Responsabilidade solidária evidente e não contestada Cláusulas contratuais estipuladas em conjunto pela ré e pela Sul América Ingerência da ré sobre os aumentos comprovada Legitimidade passiva configurada Extinção afastada Análise de mérito possível, a teor do artigo 515, 3º, do CPC Existência de expressa vedação legal para a aplicação do reajuste por mudança de faixa etária em desfavor de idoso Reajuste anual aplicado sem observância ao dever de informação e transparência Necessária a imposição dos percentuais autorizados pela ANS para os planos individuais Obrigação da ré de restituir o que foi pago a maior reconhecida Inviável, no entanto, a devolução em dobro, ante a ausência de má-fé Danos morais configurados Ação procedente RECURSO PROVIDO. Trata-se de recurso de apelação interposto contra a sentença de fls. 60/61, de relatório adotado, que julgou a ação extinta sem resolução do mérito, com fundamento no artigo 267, inciso VI, do CPC. Inconformado, apela o autor buscando o reconhecimento da legitimidade passiva da Qualicorp, bem como o afastamento da condenação ao pagamento de verba honorária (fls. 63/67). Recebido (fls. 70) e impugnado (fls. 72/78). É o relatório. APELAÇÃO Nº 4008523-94.2013.8.26.0577 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 2/5
fls. 93 O recurso comporta provimento. Consta dos autos que a mensalidade do plano de saúde do autor sofreu reajuste por mudança de faixa etária ao completar sessenta anos, bem como reajuste anual em índice que considera abusivo, motivo pelo qual foi ajuizada ação contra a Qualicorp, buscando-se a restituição dos valores indevidamente pagos a maior e uma indenização por danos morais. O douto magistrado a quo extinguiu o feito sem resolução do mérito, por entender que a ré não é responsável pelos aumentos. Daí o apelo. Em que pese o respeito pelo entendimento exposto na r. decisão, a administradora do benefício disponibilizado pela Sul América possui responsabilidade solidária pelos danos causados em decorrência de cobranças indevidas, não sendo possível concluir por sua ingerência sobre os reajustes. Na verdade, a própria ré esclareceu que o contrato de adesão foi celebrado entre ela e a Sul América, a confirmar sua participação direta na inclusão das hipóteses de variação do prêmio mensal, seja porque ajudou a redigir a respectiva cláusula contratual, seja porque a aceitou. Além disso, o documento de fls. 16 deixa claro que a ré possui amplos poderes negociais, com capacidade para discutir os aumentos e seus percentuais junto à operadora do plano de saúde. Frise-se que nem mesmo a ré contesta a sua legitimidade para responder à pretensão do autor, motivo pelo qual não é razoável afastar sua responsabilidade pelo aumento aplicado. De se afastar, portanto, a extinção do processo sem resolução do mérito, sendo a ré parte legítima da ação. Tendo em vista que foi exercido o contraditório, e que os elementos dos autos são suficientes para o conhecimento direto do pedido, configurando causa madura, cabível o imediato julgamento de mérito, nos termos do artigo 515, 3º, do Código de Processo Civil. Neste sentido, de rigor reconhecer a ilegalidade da incidência de reajuste por mudança de faixa etária em detrimento de beneficiário com 60 (sessenta) anos de idade, em virtude de expressa vedação do artigo 15, 3º do Estatuto do Idoso e do artigo 15, parágrafo único da Lei nº 9.656/98. APELAÇÃO Nº 4008523-94.2013.8.26.0577 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 3/5
fls. 94 Ressalte-se não haver embasamento lógico na afirmação da ré de que os contratos coletivos não se submetem aos dispositivos legais supracitados. Não há qualquer previsão legal restringindo essa proibição aos planos individuais ou familiares. Ademais, trata-se de uma proteção à pessoa que completa sessenta anos, independentemente do tipo de assistência médica que possui. De rigor, portanto, reconhecer a abusividade do aumento aplicado a esse título e determinar o seu afastamento. Quanto ao reajuste anual no índice de 14,13%, não comprovou a ré a existência de cláusula contratual que permita prévia ciência acerca do seu modo de apuração. O documento de fls. 54 permite concluir que o aumento anual leva em consideração a sinistralidade e a variação dos custos médico-hospitalares, mas não há detalhes sobre as respectivas bases de cálculo. Nem mesmo nas oportunidades que teve de se manifestar nos autos a ré esclareceu como foi calculado o percentual aplicado. A ré não cumpriu, portanto, seu ônus de demonstrar a observância ao Código de Defesa Consumidor e à Lei nº 9.656/98, que asseguram o direito de informação e exigem a indicação, com clareza, dos critérios de reajuste e revisão das contraprestações pecuniárias. Inaceitável a sujeição do consumidor a critérios incertos de variação de preço, acerca dos quais não se dá conhecimento, de modo que a negligência da ré impõe a observância dos índices estabelecidos pela ANS para os planos individuais, a garantir a equidade e a lisura do contrato. Cabível, assim, a condenação da ré à restituição dos valores indevidamente cobrados a maior, a ser calculado excluindose o reajuste por mudança de faixa etária e apurando-se a diferença entre o reajuste anual aplicado e o autorizado pela ANS para o ano de 2013. Entretanto, desnecessária a imposição da devolução em dobro, por não haver indícios de má-fé na cobrança, pautada exclusivamente em interpretação contratual. Por fim, inegável a configuração de danos morais, pois o desmedido aumento no valor da mensalidade do autor lhe impôs a rescisão contratual como única forma de evitar situação de insolvência, e dificultou seu acesso à assistência médica da qual desfrutava, em delicado momento de enfermidade. O abalo sofrido foi causado diretamente pela APELAÇÃO Nº 4008523-94.2013.8.26.0577 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 4/5
fls. 95 ré, que de forma negligente aplicou reajustes abusivos, motivo pelo qual fica obrigada a reparar os prejuízos sofridos, sendo que, considerando-se a gravidade do dano, bem como a capacidade financeira da ré, o valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais) cumpre adequadamente as finalidades compensatória e punitiva da indenização. Desta forma, a sentença deve ser reformada, para que a ação seja julgada procedente, condenando-se a ré à restituição dos valores indevidamente pagos a maior pelo autor e ao pagamento de indenização por danos morais no valor de R$ 25.000,00 (vinte e cinco mil reais), atualizado a partir do arbitramento e acrescido de juros desde a incidência dos aumentos abusivos. recurso. Resta invertido o ônus da sucumbência. Ante o exposto, DOU PROVIMENTO ao ELCIO TRUJILLO Relator APELAÇÃO Nº 4008523-94.2013.8.26.0577 SÃO JOSÉ DOS CAMPOS VOTO Nº 5/5