PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO

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1 TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACORDÃODECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N I mil uni mil um mi mu mu mu mi mi ' * Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação n , da Comarca de São Simão, em que é apelante MINISTÉRIO PUBLICO sendo apelado JOSÉ ALCIDES ROSATTI. ACORDAM, em 12 a Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "DERAM PROVIMENTO AO RECURSO. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores WANDERLEY JOSÉ FEDERIGHI (Presidente) e OSVALDO DE OLIVEIRA. São Paulo, 09 de junho de EDSON FERREIRA RELATOR

2 IMPROBIDADE ADMINISTRATIVA. Hipótese configurada. Servidor remanejado para outra função depois de recusar atestar recebimento de mercadorias sem conferir, porque entregues em outro setor. Retaliação ilícita. Fracionamento de compras. Falta de licitação. Frações que não excedem o limite de valor para dispensa de licitação, porém a somatória, em curto espaço de tempo, exigiria licitação. Artifício para contornar a obrigatoriedade de licitação. Demanda procedente. Sanções do artigo 12, II, da Lei 8429/93. Recurso provido. A sentença julgou improcedente demanda veiculada por meio de ação civil pública, postulando sanções por atos de improbidade administrativa. Apela o autor pela inversão do resultado. Recurso respondido. pelo provimento do recurso. A douta Procuradoria Geral de Justiça se manifestou É o relatório. Imputa-se ao réu, como prefeito, ter determinado ao servidor José Pedro Valota, então responsável pelo recebimento e conferência das mercadorias adquiridas pela Prefeitura de Luiz Antônio, que assinasse as correspondentes notas fiscais sem conferi-las, porque boa parte das mercadorias seria entregue em outros setores. Por sua recusa, referido servidor foi afastado de suas funções e seu computador de trabalho foi retirado do local de uso, assumindo o servidor atividades de somenos importância. 1

3 Disse na contestação que o remanejamento do servidor se deu por razões administrativas e que não existe número de dispensas que poderá ocorrer no mês ou ano, devendo o fracionamento ser analisado de forma independente no âmbito de cada unidade orçamentária. O servidor José Pedro afirmou em depoimento que, depois de comunicar que só assinaria as notas fiscais referentes às mercadorias efetivamente recebidas por ele - não daquelas entregues diretamente nos departamentos - foi retirado o seu computador, passando a exercer as funções de controle de estoque, sem nenhuma explicação (fls. 209). A conduta do servidor apenas evitaria a aquisição e o pagamento de mercadorias pelo Município, sem a efetiva entrega. A respeito da falta de licitação, afirma o apelante que, em apenas três meses, o Município adquiriu R$ ,07 em gêneros alimentícios, R$ ,43 em materiais de construção, R$ ,79 em emulsão asfáltica, R$ ,13 em combustíveis e R$ ,61 em remédios, tudo sem licitação. Porém, tais compras foram fracionadas e, individualmente, nenhuma supera o limite legal de oito mil reais para dispensa de licitação. A dispensa de licitação para tal hipótese tem previsão no artigo 24, II, da Lei n 8666/93: Art. 24. É dispensável a licitação: (...) 2

4 efs // - para outros serviços e compras de valor até 10% (dez por cento) do limite previsto na alínea 'a', do inciso II do artigo anterior [oitenta mil reais] e, para alienações, nos casos previstos nesta Lei, desde que não se refiram a parcelas de um mesmo serviço, compra ou alienação de maior vulto que possa ser realizada de uma só vez; A falta de licitação permite que as compras sejam direcionadas para determinados fornecedores e, como se trata de valores expressivos, que agentes públicos recebam algum tipo de vantagem, inclusive pecuniária, para esse direcionamento. Sendo as compras do Município centralizadas, aproveitam-se as vantagens da economia de escala para conseguir melhores preços. O alegado fracionamento das compras, por unidade orçamentária, mais não é que simples artifício para fugir à obrigatoriedade de licitação. A retaliação contra funcionário por se negar a atestar recebimento de mercadorias pelo Município, sem poder conferi-las porque seriam entregues em outros setores, reforça a suspeita contra a lisura do comportamento do apelado como prefeito do Município de Luiz Antônio. Ambas as formas de conduta são ilícitas e enquadráveis nas sanções da Lei 8429/93, a primeira como ato atentatório contra os princípios da Administração Pública, do artigo 11, que não admite ato imotivado e tampouco movido por motivo de sentimento pessoal, de retaliação e a outra como atos que causam prejuízo ao erário, do artigo 10, VIII, de dispensar licitação indevidamente (o prejuízo neste caso é presumido, já que pela disputa em licitação objetivam-se melhor e menor preço).

5 As sanções serão orientadas pelas condutas de maior gravidade, do artifício para dispensa de licitação, não se justificando a imposição em duplicidade. As sanções serão cumuladas, mas aplicadas pelo mínimo legal, por não se justificar outra solução. Assim, julga-se procedente a demanda e impõe-se ao réu a perda da função pública; suspensão dos direitos políticos por cinco anos e proibição de contratar com o Poder Público ou receber benefícios ou incentivos fiscais ou creditícios, direta ou indiretamente, ainda que por intermédio de pessoa jurídica da qual seja sócio majoritário, pelo prazo de cinco anos. Deixo de impor multa civil porque as sanções estão enquadradas no artigo 12, II, da Lei 8429/93, que prevê multa civil de até duas vezes o valor do dano, sem nenhum outro referencial de valor, em hipótese que o prejuízo é presumido, mas não passível de ser quantificado. Pelo exposto, DÁ-SE provimento ao recurso. EDSON FERREIRA DA SILVA Relator 4