ECONOMIA E MERCADOS FINANCEIROS EM 2010



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ECONOMIA E MERCADOS FINANCEIROS EM 1 ENQUADRAMENTO INTERNACIONAL Depois de uma das maiores recessões da história recente, 1 foi um ano de recuperação económica. Segundo a estimativa da Comissão Europeia, o crescimento do PIB mundial situou-se em,8 por cento, face a uma contracção de,6 por cento no ano anterior. Para esta evolução positiva, contribuiu o crescimento de 7,1 por cento das economias emergentes, após uma desaceleração significativa no ano precedente, e também a expansão em,7 por cento das economias avançadas, depois de um ano de contracção (a variação do PIB fixou-se em -3, por cento em 9). Nos EUA, a expansão foi de,6 por cento, enquanto na área do euro e no Japão foi de 1,7 e 3,5 por cento, respectivamente, que, não obstante, mantiveram hiatos do produto negativos, de -3,,-,1 e -,3 por cento. As previsões para 11 apontam para a manutenção de um bom nível de actividade, embora a um ritmo mais moderado do que em 1: a Comissão Europeia antecipa um crescimento de 1,5 por cento na área do euro,,1 por cento nos EUA e 1,3 por cento no Japão. Gráfico 1 - Crescimento real do produto FONTE: Comissão Europeia e OCDE Nos EUA, de acordo com a óptica da despesa, apenas o consumo público apresentou uma desaceleração face ao crescimento do ano anterior (ainda assim, verificou um aumento de 1, por cento, que compara com 1,9 por cento em 9). A procura interna reflectiu assim o impacto, não só do consumo público, como do consumo privado e do investimento, apresentando um contributo de 1,8 pontos percentuais para o crescimento norte-americano. A tendência de redução dos stocks dos últimos 3 anos foi 1/9

invertida, tendo estes contribuído com 1,5 pontos percentuais para o aumento do PIB. Por sua vez, as exportações líquidas tiveram um contributo negativo de,7 pontos percentuais, com o aumento das importações (1,1 por cento) a não ser compensado pela evolução das exportações (11,8 por cento). Na área do euro, a composição do PIB apresentou muitas semelhanças com a dos EUA. A componente do consumo público foi também a única a registar um abrandamento no crescimento face a 9, mantendo-se este, ainda assim, positivo (em 1 por cento, que compara com, por cento em 9). Quanto ao consumo privado, o aumento foi de,6 por cento. O investimento, por seu lado, continuou a apresentar uma variação negativa (de,8 por cento), mas revelou uma queda menos acentuada que no ano anterior (em 9, a diminuição tinha sido de 11, por cento). Deste modo, a procura interna contribuiu para o aumento do PIB em, pontos percentuais. Verificou-se ainda um aumento dos stocks que, depois de anos com um impacto negativo no crescimento do PIB, revelaram um contributo de,5 pontos percentuais. Ao contrário dos EUA, na área do euro, a procura externa líquida registou um contributo positivo, de,8 pontos percentuais. A maioria das economias da área do euro revelou um crescimento positivo, recuperando de um ano de contracção. A actividade económica contraiu-se apenas em três estados membros: Espanha, Grécia e Irlanda. Gráfico - Crescimento real do produto na área do euro 8 6 8 9 1 E % - - -6-8 -1 GRE ESP IRL CHI ITA ESN POR FRA HOL UE-16 BEL AUT FIN MAL LUX ALE ESQ FONTE: Comissão Europeia A primeira metade do ano caracterizou-se pelo forte crescimento económico, acima das previsões das principais instituições internacionais. Este comportamento foi motivado essencialmente pela evolução positiva das exportações, cuja variação homóloga se situou em 11,8 por cento nos EUA e 1,7 por cento 13/9

na área do euro. Este ritmo veio a abrandar posteriormente. Nas economias avançadas, os baixos níveis de confiança dos consumidores, as elevadas taxas de desemprego e o fraco crescimento do rendimento das famílias condicionaram o comportamento do consumo privado, o que se reflectiu desfavoravelmente na actividade económica. No lado da oferta, nos EUA, a confiança dos industriais evoluiu erraticamente ao longo do ano, fixandose, ainda assim, em média, acima de 9. Por seu lado, na área do euro, o sentimento deu mostras de uma recuperação progressiva, principalmente no último trimestre do ano, quando atingiu valores positivos. A produção industrial evoluiu favoravelmente em ambas as áreas económicas. No lado da procura, a confiança dos consumidores nos EUA registou uma evolução positiva. Já na área do euro, o sentimento revelou-se inconstante, e ainda que tenha registado uma evolução mais favorável do que no ano anterior, manteve-se em nível baixo, reflectindo, em parte, a deterioração do mercado de trabalho. Tanto nos EUA, como na área do euro, a taxa de desemprego continuou a subir em 1, situando-se em 9,6 e 1,1 por cento da população activa, respectivamente. No Japão, a taxa de desemprego manteve-se em 5,1 por cento da população activa. Gráfico 3 - Taxa de desemprego 1 1 % da população activa 8 6 1995 1997 1999 1 3 5 7 9 Área do euro EUA Japão FONTE: Eurostat Em Dezembro de 1, o preço do petróleo situava-se 3 por cento acima do valor do final do ano anterior, fixando-se no nível mais alto desde Setembro de 8. O aumento do preço dos bens energéticos e da alimentação contribuiu para um aumento da taxa de inflação, especialmente na área do euro (ainda que esta se tivesse mantido em níveis moderados). 1/9

Nos EUA, a variação homóloga da inflação aumentou no início de 1, devido principalmente a efeitos base (os valores registados no mesmo período no ano anterior tinham sido reduzidos). Em Junho, a inflação abrandou de forma acentuada (de para 1,1 por cento), sofrendo um ligeiro incremento de,3 pontos percentuais na segunda metade do ano. Por seu turno, na área do euro, observou-se o aumento gradual da inflação, que passou de 1 por cento em Janeiro para, por cento em Dezembro. A variação média anual dos preços, em 1, cifrou-se em 1,7 por cento nos EUA e 1,6 por cento na área do euro (uma subida acentuada face aos valores de -,3 por cento e,3 por cento em 9). Gráfico - Evolução do nível geral de preços FONTE: Reuters e Eurostat A componente principal da inflação (que exclui os preços dos bens energéticos e da alimentação) registou uma tendência de moderação nos EUA, diminuindo, em termos médios anuais, de 1,7 para 1 por cento, o mesmo sucedendo na área do euro, com um decréscimo de 1, para 1 por cento. As finanças públicas das principais economias mundiais foram profundamente afectadas pela crise financeira. Com efeito, as medidas de apoio ao sistema bancário e de estímulo à actividade económica levadas a cabo em 9 traduziram-se num aumento muito significativo dos défices orçamentais, dando origem a desequilíbrios elevados. Segundo as estimativas da Comissão Europeia (CE), em 1 o défice terá atingido 6,3 por cento do PIB na área do euro, 11,5 por cento nos EUA e 6,5 por cento no Japão, em todos os casos um valor muito próximo do verificado em 9 (6,3, 11, e 6,3 por cento, respectivamente). Esta deterioração orçamental determinou um aumento da dívida pública. Na área do euro, a dívida terá atingido 8, por cento do PIB em 1, depois de 79, por cento no ano anterior, ao passo que nos EUA a dívida subiu de 8,7 para 9, por cento e no Japão de 13,9 para 17,7 por cento. 15/9

Gráfico 5 - Défice orçamental e dívida pública em 1 (em percentagem do PIB) 1 Défice orçamental 9 6 3 ESQ ESN FIN ESP FRA POR CHI UE-16 HOL AUT MAL ALE BEL ITA GRE LUX 3 6 9 1 15 Dívida pública FONTE: Comissão Europeia Nota: por razões de exposição, a Irlanda (com um défice orçamental de 3,3 por cento do PIB e uma dívida pública de 97, por cento) foi excluída do gráfico. A política monetária manteve-se acomodatícia do ciclo económico, com os principais bancos centrais a conservarem as suas taxas directoras em mínimos históricos: a Reserva Federal manteve o target para a taxa dos fed funds num intervalo entre e,5 por cento, o Banco Central Europeu (BCE) deixou a taxa repo em 1 por cento, e a taxa de base do Banco de Inglaterra permaneceu inalterada em,5 por cento. O Banco do Japão manteve a taxa directora em,1 por cento durante grande parte do ano, e ainda reduziu o seu target para um intervalo entre e,1 por cento em Outubro. Adicionalmente, os bancos centrais estenderam as medidas extraordinárias de liquidez, com o intuito de estabilizar o mercado monetário interbancário, e, no caso europeu, com o objectivo de suportar os mercados de dívida pública de alguns países da área do euro. A Reserva Federal anunciou um novo programa de quantitative easing na sua reunião de 3 de Novembro, esclarecendo que iria adquirir activos de longo prazo no valor de USD 6 mil milhões até ao final da primeira metade de 11 e que iria manter uma política de reinvestimento dos pagamentos de cupão recebidos, totalizando assim uma compra de obrigações do Tesouro e outros activos de longo prazo no valor de USD 85-9 mil milhões entre Novembro de 1 e Junho de 11. O BCE também renovou consecutivamente as medidas de estímulo ao crédito, adiando a sua retirada pelo menos até Abril de 11. 16/9

Gráfico 6 - Taxas directoras dos bancos centrais 6 5 3 1 Jan-7 Mai-7 Set-7 Jan-8 Mai-8 Set-8 Jan-9 Mai-9 Set-9 Jan-1 Mai-1 Set-1 Jan-11 % BCE FED Banco de Inglaterra FONTE: Reuters Em 1, o comportamento do mercado obrigacionista ficou marcado pela crise da dívida soberana em alguns países da área do euro, sobretudo Grécia, Irlanda, e Portugal, mas também, em menor escala, Espanha e Itália. A evolução negativa das finanças públicas ocorrida na sequência da crise económica e financeira de 8-9 fez com que os investidores questionassem a sustentabilidade da dívida pública de alguns soberanos europeus, o que se traduziu num alargamento do diferencial das taxas de juro face à curva alemã nos países em que se conjugou um elevado desequilíbrio orçamental com um fraco crescimento económico. O impacto do aumento da aversão ao risco soberano por parte dos investidores fez-se sentir primeiro na Grécia, com o spread face às taxas de juro da Alemanha na maturidade dos 1 anos a subir mais de 7 pontos base entre o final de 9 e o pico registado a 7 de Maio de 1 (95 pontos base). Nesse mesmo período o spread das OT subiu 3 pontos base e o das obrigações irlandesas cerca de 15 pontos base. Este movimento foi interrompido com o acordo de apoio financeiro à Grécia (a de Maio) por parte dos restantes membros da UEM (que, em conjunto com o FMI, garantiram um financiamento global de EUR 11 mil milhões durante 3 anos), e com a intervenção do BCE, que deu nessa altura início a um programa de aquisição de títulos de dívida pública em mercado secundário. Este programa tinha como objectivo explícito assegurar profundidade e liquidez nos segmentos de mercado que não funcionassem adequadamente. Neste contexto de crise da dívida soberana, o Conselho da União Europeia e os Estados-membros acordaram, ainda no início de Maio, um conjunto de medidas com vista a preservar a estabilidade financeira, destacando-se, em particular, a aprovação de um mecanismo de estabilização financeira 17/9

europeu (EFSF European Financial Stability Fund), bem como a realização de testes de resistência à solvabilidade da banca da área do euro, mesmo em cenários considerados muito adversos. No entanto, os spreads haveriam de retomar uma trajectória de subida gradual, vindo inclusivamente a ultrapassar os níveis alcançados em Maio, em particular no caso da Irlanda. Os novos máximos do ano foram atingidos a 11 de Novembro, data em que o diferencial da Grécia face à Alemanha nos 1 anos se situava em 99 pontos base, o da Irlanda em 68 pontos base e o de Portugal em 93 pontos base. Gráfico 7 - Spreads de soberanos da área do euro face ao Bund alemão (títulos de dívida pública a 1 anos) 1 8 6 Jan-8 Jan-9 Jan-1 Jan-11 p.b. Grécia Irlanda Portugal Espanha Itália FONTE: Reuters Na sequência deste novo agravamento da situação nos mercados, a 8 de Novembro a Irlanda solicitou o apoio dos restantes membros da área do euro, chegando a acordo para um financiamento global de EUR 85 mil milhões durante 3 anos e acabando por ser o primeiro país a recorrer ao mecanismo de suporte criado pela UE em Maio. A evolução negativa dos mercados obrigacionistas de alguns países periféricos da área do euro não se reproduziu da mesma forma nos países com menor risco de crédito, onde inclusivamente se verificou uma valorização significativa dos títulos de dívida pública na primeira metade do ano. Com efeito, nas maturidades mais longas as yields das obrigações norte-americanas e alemãs a voltaram a aproximar-se dos mínimos atingidos no final de 8: entre o final de 9 e Agosto de 1, a taxa de rendibilidade do Bund a 1 reduziu-se de 3,38 para próximo de,1 por cento, ao passo que nos EUA a taxa de juro do Treasury a 1 anos diminuiu de 3,8 para um mínimo de, por cento no início de Outubro. Na parte final do ano, os mercados inverteram esta tendência, reflectindo os sinais de maior dinamismo da actividade económica, sobretudo na Alemanha, onde a taxa de desemprego caiu para mínimos de 3 18/9

anos e os índices de confiança atingiram máximos históricos. Assim, registou-se neste período uma subida sustentada das taxas de juro nas maturidades mais longas, pelo que, no final de 1, as yields a 1 anos se situavam relativamente próximo dos valores registados no final do ano anterior: cerca de 3 por cento na Alemanha e de 3,3 por cento nos EUA, menos e 55 pontos base do que no final de 9, respectivamente. O diferencial entre as taxas de juro a 1 anos nas duas regiões manteve-se relativamente estável ao longo do ano, num intervalo entre 1 e 8 pontos base. Gráfico 8 - Taxas de juro de longo prazo (títulos de dívida pública a 1 anos) 5 3 3 1 1-1 Jan-8 Jan-9 Jan-1 Jan-11 p.b. % Diferencial (US Treasury-Bund) Bund US Treasury FONTE: Reuters A parte mais curta da curva esteve ancorada ao nível das taxas directoras dos bancos centrais. Na Alemanha, o Bubill a 3 meses variou num intervalo estreito entre,5 e,5 por cento, ao passo que, nos EUA, a taxa de juro do Tbill a 3 meses se manteve praticamente inalterada em torno de,15 por cento. Assim, verificou-se ao longo do ano uma ligeira redução da inclinação da curva de rendimentos. Na Alemanha, o spread entre o Bund a 1 anos e o Bubill a 3 meses passou de 33 para 7 pontos base, ao passo que, nos EUA, o declive medido pelo diferencial entre a yield do Treasury a 1 anos e do Tbill a 3 meses se reduziu de 378 para 318 pontos base. 19/9

Gráfico 9 - Estrutura temporal das taxas de juro Área do euro EUA 3 15 3 15 1 1 1 5 1 5 % p.b. % p.b. -1-5 -1-5 - -1 5 1 maturidade (anos) - -1 5 1 maturidade (anos) Diferencial 31 Dez 9 Diferencial 31 Dez 9 31 Dez 1 31 Dez 1 FONTE: Reuters Não obstante a perda registada no último terço do ano, o mercado obrigacionista acabou por apresentar um comportamento globalmente positivo em 1, tendo o índice de preços de obrigações de dívida pública (FTSE GovTop) registado uma variação de,8 por cento na Alemanha e de 3, por cento nos EUA, entre o início e o final do ano. O mercado accionista, por seu turno, continuou a registar ganhos assinaláveis em especial na segunda metade do ano, como reflexo da recuperação gradual da actividade económica ainda que menores do que os observados no ano anterior. Entre o final de 9 e 1, o índice alemão Xetra Dax valorizou-se 16,1 por cento (3,8 por cento em 9) e nos EUA, os índices S&P 5 e Nasdaq subiram 1,8 e 19, por cento, respectivamente (contra 3,5 e 53,5 por cento no ano anterior). /9

Gráfico 1 - Comportamento relativo dos mercados accionista e obrigacionista 5 19 16 13 1 7 Jan-8 Jan-9 Jan-1 Jan-11 Índice de preço: obrigações / acções (31 Dez 7 = 1) Alemanha (FTSE GovTop Price vs Xetra Dax) EUA (FTSE GovTop Price vs S&P 5) FONTE: Reuters No mercado cambial, o euro apresentou uma tendência de depreciação sustentada na primeira metade do ano em particular face ao dólar norte-americano, fruto, essencialmente, da incerteza associada à crise de dívida soberana que afectou alguns países da área do euro. Neste período, o euro registou uma depreciação de cerca de por cento face ao dólar, com o EUR/USD a cair de um máximo de 1,51 no início de Dezembro de 9, para um mínimo de 1,19 em Junho de 1. Na segunda metade do ano, o euro recuperou grande parte destas perdas, impulsionado pelo ritmo de crescimento robusto da actividade económica na Alemanha, tendo o EUR/USD terminado o ano com uma cotação de 1,3, reflectindo uma perda de 7, por cento face ao final de 9. A evolução do EUR/GBP foi semelhante, com o euro a registar uma depreciação global de, por cento em 1. Já em relação à moeda japonesa a queda foi mais acentuada (18,6 por cento no total do ano), o que levou o Banco do Japão a intervir no mercado de câmbios no sentido de evitar uma apreciação ainda mais elevada do iene. 1/9

Gráfico 11 - Evolução das taxas de câmbio do euro 1 Índice: 31 Dez 7 = 1 1 1 8 6 Jan-8 Mai-8 Set-8 Jan-9 Mai-9 Set-9 Jan-1 Mai-1 Set-1 Jan-11 EUR / USD EUR / JPY EUR / GBP FONTE: Reuters Desta forma, a taxa de câmbio efectiva do euro registou uma depreciação considerável em 1 (7 por cento em termos médios anuais), que compensa em parte a perda de competitividade observada nos anos anteriores, em especial em 7 e 8. /9

ECONOMIA PORTUGUESA Após a forte contracção da actividade em 9 (de,5 por cento), no contexto da crise económica e financeira a nível global, verificou-se uma recuperação em 1, estimando-se que, no conjunto do ano, o produto tenha registado um incremento de 1, por cento 1. Em termos de perfil intra-anual, assistiu-se a um forte crescimento no primeiro trimestre, com a taxa de variação em cadeia anualizada a fixar-se em,3 por cento, tendo-se observado posteriormente incrementos mais moderados no remanescente do ano. Para a evolução positiva do PIB em Portugal contribuíram o consumo privado e público e as exportações. O investimento continuou a cair, ainda que a um ritmo inferior ao verificado em 9. De notar que o bom comportamento da actividade nos primeiros meses do ano reflectiu um forte dinamismo do consumo privado, variável que beneficiou da manutenção das taxas de juro a um nível relativamente reduzido e também de efeitos de antecipação do consumo, relacionado com o aumento do IVA, que teve efeitos a partir 1 de Julho de 1. Na segunda metade do ano, esta componente registou um forte abrandamento em resultado dos efeitos das medidas anunciadas no Orçamento de Estado de 11, com consequências negativas sobre as expectativas dos agentes económicos, a que se juntou a deterioração das condições no mercado de trabalho. Por seu turno, as exportações revelaram um forte dinamismo no conjunto do ano, o mesmo sucedendo com as importações, revertendo-se, em ambos os casos, grande parte a redução registada em 9. O comportamento positivo das exportações traduziu o aumento substancial da procura externa e dos ganhos da quota de mercado, enquanto que o das importações foi uma consequência do crescimento das despesas de consumo com uma forte componente importada. Segundo a estimativa da CE, a área do euro deverá ter registado uma variação do produto de 1,7 por cento em 1, um valor que se situa,5 pontos percentuais acima da estimativa para a economia portuguesa. Gráfico 1 - Crescimento real do produto e contributos para o PIB % 5 3 1-1 - -3 - -5 Taxa de crescimento anual 6 8 1E Área do euro Portugal % 8 6 - - Contributos para a variação do PIB em Portugal 6 8 1E Exportações líquidas Procura interna PIB FONTE: Comissão Europeia, Instituto Nacional de Estatística e Ministério das Finanças 1 Contas Nacionais Trimestrais - Estimativa Rápida do Instituto Nacional de Estatística. Comissão Europeia, Previsões de Outono, Outubro de 1. 3/9

Relativamente ao mercado de trabalho, que tem vindo a dar sinais de deterioração desde o segundo trimestre de 8, quando a taxa de desemprego iniciou um movimento ascendente, verificou-se o seu agravamento ao longo de 1, face ao final do ano anterior (1,1 por cento), com a taxa de desemprego a situar-se em 1,9 por cento da população activa no terceiro trimestre de 1. A taxa de inflação em 1, medida pela variação média anual do índice harmonizado de preços no consumidor (IHPC), depois de ter registado uma queda de,9 por cento em 9, subiu para 1, por cento. Este valor é inferior em, pontos percentuais ao verificado na área do euro, mantendo-se, assim, o diferencial negativo observado desde Abril de 8. O aumento de preços reflectiu vários factores, tais como o dinamismo da procura interna, o aumento da tributação indirecta em Julho de 1 e a subida de preços das matérias-primas e de bens energéticos nos mercados internacionais, que fizeram inverter a queda de preços verificada no ano transacto. Gráfico 13 - Taxa de inflação 3 1-1 - Jan-6 Abr-6 Jul-6 Out-6 Jan-7 Abr-7 Jul-7 Out-7 Jan-8 Abr-8 Jul-8 Out-8 Jan-9 Abr-9 Jul-9 Out-9 Taxa de variação média anual do IHPC (%).. Jan-1 Abr-1 Jul-1 Out-1 Diferencial Área do euro Portugal FONTE: Eurostat Em 1, assistiu-se a um decréscimo das necessidades de financiamento externo da economia portuguesa, medidas pelo saldo conjunto da balança corrente e de capital em percentagem do PIB, que evoluíram de 9, para 8,8 3 por cento em 1. Esta redução deverá ter sido o reflexo da diminuição do investimento, bem como de uma ligeira queda da taxa de poupança interna. Em Dezembro de 9, o Conselho Europeu decidiu que Portugal deveria corrigir a situação de défice excessivo até 13. Em Março de 1, o Governo apresentou o Programa de Estabilidade e Crescimento (PEC), no qual definiu como objectivo atingir um défice inferior a 3, por cento do PIB em 13, fixando a meta em,8 por cento. Contudo, dado o contexto de elevada pressão nos mercados de dívida soberana, em particular na área do euro, em consequência de receios crescentes por parte dos investidores quanto à sustentabilidade das finanças públicas, em Maio o Governo anunciou várias 3 De acordo com a projecção do Banco de Portugal apresentada no Boletim Económico, Inverno 1. /9

medidas com vista a acelerar o processo de consolidação orçamental, revendo os objectivos orçamentais definidos no PEC, antecipando a correcção da situação de défice excessivo um ano antes do inicialmente previsto. Em 1, o défice das AP situou-se em 9,1 por cento do PIB tendo sido alargado o perímetro das AP a algumas empresas públicas e Parcerias Público-Privadas (PPP). De notar que as rubricas de receita e despesa estão influenciadas por valores extraordinários que, no caso da receita, está associada à transferência do fundo de pensões da Portugal Telecom para o Estado (que representou 1,5 pontos percentuais do PIB) e, na despesa, está relacionado com a aquisição de dois submarinos. O défice orçamental primário, em conjunto com o efeito de bola de neve conduziu ao aumento da dívida pública em percentagem do PIB. Em conformidade, tendo 1, esse rácio aumentado 1 pontos percentuais, para 93 por cento do PIB. Gráfico 1 - Saldo orçamental e dívida pública em Portugal Em % do PIB... 1,5 9, 7,5 6,,5 3, 1,5, 5 6 7 8 9 1 E 95 88 81 7 67 6 53 6 Em % do PIB... Dívida pública (dir) Défice orçamental (esq) Défice orçamental ajustado do ciclo (esq) FONTE: Comissão Europeia e Ministério das Finanças As preocupações dos investidores com a sustentabilidade das finanças públicas, em especial em alguns países da área do euro, motivaram uma nova vaga de turbulência nos mercados financeiros no decurso de 1. Com efeito, assistiu-se a um aumento significativo da percepção do risco soberano, que se traduziu numa diferenciação mais pronunciada entre os países membros, em particular entre países conhecidos como periféricos, nos quais se inclui Portugal, e países considerados core, como é o caso da Alemanha. Em conformidade, o spread entre a taxa de juro OT e o Bund na maturidade dos 1 anos (interpolado) alargou-se em quase 3 pontos base em 1, com esta tendência a acentuar-se, essencialmente, a partir do final de Abril. O diferencial OT-swap apresentou um comportamento semelhante, tendo evoluído de 51 pontos base no final de 9 para 336 pontos base no final de 1. 5/9

Nos primeiros meses de 1, as yields de longo prazo dos mercados obrigacionistas de dívida pública registaram uma tendência de queda em várias economias; contudo, posteriormente, assistiu-se ao movimento inverso. No caso da área do euro, o comportamento ascendente verificado, em grande parte da segunda metade do ano mais do que compensou o movimento dos primeiros meses, pelo que no conjunto do ano assistiu-se a uma subida das yields de longo prazo, contrariamente ao observado noutras economias, como é o caso dos EUA, Reino Unido ou Japão. Em 1, o mercado obrigacionista português 5 evidenciou uma desvalorização significativa dos preços, em cerca de 11,7 por cento, que superou a variação verificada na área do euro, que se situou em torno de -, por cento e que contrastou com o movimento observado nos EUA, onde ocorreu uma valorização de 3, por cento. Relativamente aos mercados accionistas, em Portugal o índice PSI apresentou uma evolução desfavorável, caindo 1,3 por cento em 1. Já o índice global europeu Euronext registou um ganho ligeiro, de cerca de 1, por cento, enquanto que nos EUA, o S&P 5 apresentou um ganho de 1,8 por cento. Em termos intra-anuais, em Janeiro assistiu-se a uma queda dos índices, a que seguiu um movimento de valorização interrompido em Abril. Ao longo do segundo semestre a tendência foi de recuperação, que no caso português não foi suficiente para contrabalançar as perdas registadas inicialmente. Gráfico 15 - Mercados financeiros 11 115 Índices obrigacionistas 1 Índices accionistas 11 15 15 1 95 95 9 1 1 1 8 8 6 6 Jan-7 Abr-7 Jul-7 Jan-8 Jul-7 Out-7 Jul-8 Jan-8 Jan-9 Abr-8 Jul-9 Jan-1 Jul-8 Out-8 Jul-1 Jan-9 Jan-11 Índice: 9 9 Dez Dez 6 = = 1 9 85 Jan-7 Abr-7 Jul-7 Jan-8 Jul-7 Out-7 Jul-8 Jan-8 Jan-9 Abr-8 Jul-9 Jan-1 Jul-8 Out-8 Jul-1 Jan-9 Jan-11 Índice: 9 9 Dez 6 = 1 1 Reino Área Unido euro Alemanha EUA Portugal Euronext S&P 5 PSI FONTE: Thomson Reuters Segundo a evolução dos índices de preços obrigacionista FTSE GovTop1. 5 De acordo com a evolução verificada pelo índice de preços obrigacionista FTSE GovTop. 6/9