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Transcrição:

SUAS Orientações MPRJ 1

Elaboração SIDNEY ROSA DA SILVA JUNIOR Coordenador de Cidadania - Assistência Social do 6 Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Tutela Coletiva CARINA FERNANDA GONÇALVES FLAKS Coordenadora do Grupo de Apoio Técnico Especializado GATE/Instituições e Direitos Sociais Projeto Gráfico EQUIPE WEB MPRJ

PROCURADORIA-GERAL DE JUSTIÇA DO ESTADO RIO DE JANEIRO Em 09 de março de 2012 Procurador-Geral de Justiça CLÁUDIO SOARES LOPES Subprocuradora-Geral de Administração MÔNICA DA SILVEIRA FERNANDES Subprocurador-Geral de Justiça de Planejamento Institucional CARLOS ROBERTO DE CASTRO JATAHY Subprocurador-Geral de Justiça de Atribuição Originária Institucional e Judicial ANTÔNIO JOSÉ CAMPOS MOREIRA Subprocurador-Geral de Justiça de Direitos Humanos e Terceiro Setor LEONARDO DE SOUZA CHAVES Centro de Estudos Jurídicos Coordenadora MARIA CRISTINA PALHARES DOS ANJOS TELLECHEA 6 Centro de Apoio Operacional Coordenação Geral VINÍCIUS LEAL CAVALHEIRO Coordenação de Cidadania Assistência Social SIDNEY ROSA DA SILVA JUNIOR Grupo de Apoio Técnico Especializado Coordenação Geral SÁVIO RENATO BITTENCOURT SOARES SILVA Coordenação do GATE Instituições e Direitos Sociais CARINA FERNANDA GONÇALVES FLAKS

Los nadies: los hijos de los nadies, los dueños de nada. Los nadies: los ningunos, los ninguneados, corriendo la liebre, muriendo la vida, jodidos, rejodidos: Que no son, aunque sean. Que no hablan idiomas, sino dialectos. Que no profesan religiones, sino supersticiones. Que no hacen arte, sino artesanía. Que no practican cultura, sino folklore. Que no son seres humanos, sino recursos humanos. Que no tienen cara, sino brazos. Que no tienen nombre, sino número. Que no figuran en la historia universal, sino en la crónica roja de la prensa local. Los nadies, que cuestan menos que la bala que los mata. (Eduardo Galeano)

SUMÁRIO 1. APRESENTAÇÃO-------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 5 2. INTRODUÇÃO----------------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 6 3. O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL----------------------------------------------------------------------------- 8 3.1 CARACTERÍSTICAS GERAIS---------------------------------------------------------------------------------------------------- 8 3.1.1 A descentralização político-administrativa--------------------------------------------------------------------------- 9 3.1.2 A Participação Popular-------------------------------------------------------------------------------------------------- 10 3.1.3 Serviços, Programas, Projetos e Benefícios-------------------------------------------------------------------------- 11 3.1.4 Instâncias de Pactuação------------------------------------------------------------------------------------------------ 13 3.2 PRINCÍPIOS E GARANTIAS DA ASSISTÊNCIA SOCIAL--------------------------------------------------------------------- 13 3.3 OS NÍVEIS DE PROTEÇÃO SOCIAL-------------------------------------------------------------------------------------------- 14 3.3.1 Proteção Social Básica-------------------------------------------------------------------------------------------------- 15 3.3.2 Proteção Social Especial------------------------------------------------------------------------------------------------ 21 3.4. ENTIDADES E ORGANIZAÇÕES DE ASSISTÊNCIA SOCIAL---------------------------------------------------------------- 28 3.5 RECURSOS HUMANOS---------------------------------------------------------------------------------------------------------- 31 3.6 A RESPONSABILIDADE DOS ENTES FEDERATIVOS NO ÂMBITO DO SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL SUAS------------------------------------------------------------------------ 36 3.7 INSTRUMENTOS DE GESTÃO-------------------------------------------------------------------------------------------------- 42 3.8 FINANCIAMENTO--------------------------------------------------------------------------------------------------------------- 44 4. O PAPEL DO MINISTÉRIO PÚBLICO------------------------------------------------------------------------------------------ 50 4.1 COMPETÊNCIA JURISDICIONAL E ATRIBUIÇÃO NA APURAÇÃODE EVENTUAL DESVIO OU MALVERSAÇÃO DE VERBAS DECORRENTES DE COFINANCIAMENTO FEDERAL--------------------------- 53 5. UM OLHAR PROSPECTIVO------------------------------------------------------------------------------------------------------ 60 6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS---------------------------------------------------------------------------------------------- 61

1. APRESENTAÇÃO A assistência social, no Brasil, foi, com a Constituição de 1988, alçada a direito do cidadão e dever do estado, tornando-se, assim, política pública destinada a promover o exercício pleno da cidadania. A partir daí, a legislação ordinária, seguida dos regulamentos expedidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, trataram de redesenhar sua organização no plano federativo, através da instituição do Sistema Único de Assistência Social SUAS. Na prática, a assistência social, apesar do arcabouço jurídico que a ampara, ainda é deficitária em muitos aspectos, seja pelo número insuficiente, seja pela inadequação dos equipamentos e serviços sociais. Inobstante os avanços verificados desde o início da implantação do SUAS, um longo caminho ainda há que se percorrer até que se atinja a efetividade desse direito. O funcionamento adequado do sistema de assistência social produz implicações fundamentais na efetividade da atuação judicial e extrajudicial do Ministério Público, além de ser imprescindível ao sucesso de outras políticas públicas, como saúde e educação, por exemplo. A atribuição do Ministério Público na defesa dos direitos socioassistenciais decorre não só da natureza coletiva e social do direito em tela, mas também de disposição expressa do artigo 31 da Lei Orgânica de Assistência Social LOAS 1. Nesse contexto, no âmbito institucional, foi desenvolvido o projeto O Ministério Público e a Fiscalização do Sistema Único de Assistência Social, objetivando estruturar uma atuação coordenada e estratégica para a fiscalização, fomento e implementação adequada da política de assistência social, com base nas normas vigentes, pressuposto básico para que se assegure aos cidadãos em situação de vulnerabilidade o exercício de seus direitos fundamentais. Diante da amplitude do tema, foi necessário eleger alguns focos de atuação prioritária, fundamentais para o sucesso da política de assistência social. Assim, o projeto pauta-se na verificação da existência e qualidade dos serviços socioassistenciais, bem como da regularidade da atuação de entidades de assistência social que recebem verbas públicas. Além de propor uma forma de atuação estratégica para enfrentamento do problema, foi prevista a disponibilização de material de apoio a fim de facilitar a compreensão do tema e a execução das diversas etapas do projeto. 1 Art. 31. Cabe ao Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos direitos estabelecidos nesta lei. SUAS Orientações MPRJ 5

Esta cartilha, portanto, é mais um instrumento a compor o referido material de apoio e tem por escopo apresentar de forma simples e sintética os principais conceitos e características do SUAS relacionados à execução do projeto, servindo, assim, como apoio teórico ao seu desenvolvimento prático. Não se tem com esta publicação, por óbvio, a pretensão de esgotar o tema ou abordar todas as vertentes da assistência social, mas apenas de oferecer a membros e servidores do Ministério Público maiores subsídios para uma introdução ou aprimoramento dos estudos nessa área. Além disso, diante do viés universal do sistema, esperamos também que este trabalho possa servir aos demais operadores do sistema de assistência social como mais um mecanismo de suporte à implementação dessa política. 2. INTRODUÇÃO Os antecedentes históricos da assistência social no Brasil remontam ao período colonial, quando a assistência aos pobres era ligada à filantropia e a ações isoladas ou fragmentadas de grupos religiosos ou particulares, normalmente voltadas a crianças, adolescentes, idosos, gestantes e pessoas com deficiência. Mais tarde, alguns governantes também começaram a atuar no campo do que se acreditava ou se definia como assistência social. Predominavam as práticas assistencialistas, demagógicas e descontinuadas que não primavam pelo desenvolvimento social do cidadão. A assistência social caracterizava-se pelo público que atendia: os pobres e não como política pública setorial com características próprias. Nesse contexto, a assistência englobava qualquer atuação voltada ao público carente de recursos financeiros não contemplada pelas demais políticas públicas. A Constituição de 1988 promoveu bruscas e positivas mudanças no contexto normativo da assistência social, tornando-a direito do cidadão e política pública de proteção articulada a outras políticas sociais destinadas à promoção da cidadania. A legislação editada com fundamento na nova ordem constitucional, especialmente a Lei Orgânica de Assistência Social LOAS, Lei 8.742/93, fundamento de validade dos diversos regulamentos expedidos pelo Conselho Nacional de Assistência Social CNAS, reorganizou a assistência social no Brasil através da estruturação legal do Sistema Único de Assistência Social SUAS. SUAS Orientações MPRJ 6

Recentemente, em julho de 2011, foi publicada a Lei 12.435/2011, que alterou a LOAS para instituir, em nível de legislação ordinária, o SUAS, já previsto nas Resoluções do CNAS. A partir de então, o SUAS ganha status de lei e, com isso, mais força, sinalizando o legislador pela aprovação do sistema antes regulamentado em nível infralegal. Ratifica-se, destarte, o caráter obrigatório do SUAS, deixando evidente o sistema como a única alternativa correta para o funcionamento e oferta da assistência social em todo país. Atualmente, portanto, além da Constituição da República (em especial, seus artigos 203 e 204) e da LOAS (Lei 8.742/93, modificada pelas Leis 12.101/09 e 12.435/11), destacamse os seguintes diplomas normativos na área de assistência social: Leis Decretos Lei 12.101/09 (dispõe sobre certificação de entidades beneficentes de assistência social) Decreto 6.308/07 (dispõe sobre as entidades e organizações de assistência social) Decreto 7.053/09 (dispõe sobre a Política Nacional para a População em Situação de Rua) Decreto 7.636/11 (Cria o índice de Gestão Descentralizada do SUAS) 145/04 (Aprova a Política Nacional de Assistência Social) 130/05 (Aprova a Norma Operacional Básica do SUAS de 2005 - NOB/SUAS) Resoluções do CNAS 237/06 (Estabelece diretrizes para a estruturação, reformulação e funcionamento dos Conselhos de Assistência Social) 269/06 (Aprova Norma Operacional Básica de Recursos Humanos do Suas - NOB/SUAS-RH) 109/09 (Aprova a Tipificação Nacional de Serviços Socioassistenciais) A principal norma infralegal do SUAS, já destacada acima, é a Norma Operacional Básica do SUAS - NOB/SUAS aprovada em 2005 pela Resolução 130 do Conselho Nacional de Assistência Social. Nela, estão definidos os principais pontos do sistema, como a forma de cofinanciamento, as responsabilidades dos entes, os objetivos, diretrizes, instrumentos de gestão, etc. SUAS Orientações MPRJ 7

Além desse diploma, a Resolução 109/09 e a NOB-RH/SUAS também são imprescindíveis ao funcionamento do sistema. A primeira estabelece como devem ser prestados os serviços socioassistenciais, servindo de norte para todos os atores e fiscais da rede; a segunda traz os princípios e diretrizes para a gestão do trabalho no SUAS, inclusive os quantitativos mínimos de profissionais de equipes de referência para alguns equipamentos. 3. O SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL 3.1 Características Gerais A assistência social é direito do cidadão e dever do Estado realizada por meio de um conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade visando a garantir o atendimento às necessidades básicas do cidadão 2. Organiza-se, segundo dispõe a LOAS, com base nas seguintes diretrizes: descentralização político-administrativa; comando único em cada esfera de governo; participação da população na formulação de políticas e controle de ações e primazia da responsabilidade do Estado na condução da política de assistência social em cada esfera de governo 3. Nesse contexto, o SUAS caracteriza-se como um sistema público não contributivo, descentralizado e participativo, que tem por função a gestão das ações na área de assistência 4. A compreensão desse sistema, suas características e finalidades, é fundamental não apenas para direcionar o gestor na execução da política pública ou a entidade privada em sua atuação na área, mas também para a fiscalização do sistema, quando será necessário distinguir quais atividades podem ser caracterizadas como de assistência social e, por consequência, estariam aptas a serem financiadas com verbas previstas no orçamento da assistência social. 2 Art. 1º da Lei 8.742/93. 3 Art. 5º, incisos I a III, da Lei 8.742/93. 4 Art. 6º, caput, da Lei 8.742/93. SUAS Orientações MPRJ 8

3.1.1 A descentralização político-administrativa Em primeiro lugar, cabe esclarecer o que é gestão: gestão é o processo por meio do qual uma ou mais ações são planejadas, organizadas, dirigidas, coordenadas, executadas, monitoradas e avaliadas visando o uso racional e a economia de recursos disponíveis (eficiência), a realização dos objetivos planejados (eficácia) e a produção de impactos esperados sobre a realidade de seu público-alvo (efetividade) 5. O modelo de gestão trazido pelo sistema pressupõe: o cofinanciamento das ações pelas três esferas de governo (União, Estados e Município), um mecanismo de gestão compartilhada com definição clara das competências técnico-jurídicas de cada um dos entes, bem como a participação e mobilização da sociedade civil na sua implantação e implementação. Nesse modelo, integram o SUAS, além dos entes federativos, os conselhos, as organizações e as entidades de assistência social. O cofinanciamento se concretiza a partir de transferências automáticas fundo-afundo, da União Federal e dos Estados, que asseguram a regularidade nos repasses. Dentre outras exigências, como condição para receber recursos (federais e estaduais), os Estados e Municípios devem ter, instituídos e em funcionamento, Conselhos de Assistência Social, Fundos de Assistência Social e Planos de Assistência Social em cada esfera de governo. Além disso, para receber recursos do Fundo Nacional de Assistência Social (FNAS), Estados e Municípios ainda devem comprovar a alocação de recursos próprios em seus respectivos Fundos de Assistência Social. 6 No Estado do Rio de Janeiro, os requisitos para a transferência de recursos do FEAS para os Fundos Municipais estão previstos no Decreto Estadual 42.725/10, como melhor explicitado no item 3.8 abaixo. O Fundo de Assistência Social deve constituir unidade orçamentária própria e contemplar todos os recursos destinados à Política de Assistência Social. As responsabilidades de cada ente federativo estão definidas nos artigos 12 a 15 da Lei 8.742/93, com a nova redação dada pela Lei 12435/11, bem como na NOB/SUAS. Nessa esteira, as responsabilidades dos municípios podem variar de acordo com seu porte e com a demanda pelos serviços, o que será objeto de um capítulo adiante. 5 Capacitação para Controle Social nos Municípios: Assistência Social e Programa Bolsa Família. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Brasília. 2010. p. 89. 6 Art. 30 da Lei 8.742/93. SUAS Orientações MPRJ 9

3.1.2 A Participação Popular A participação da sociedade civil, por sua vez, está prevista na LOAS, na integração do sistema com as entidades e organizações de assistência social, na formulação de políticas públicas e no controle social das ações de cada esfera de governo. A formulação de políticas e o controle social são exercidos pela sociedade civil regularmente através de sua representação em Conselhos de Assistência Social, de composição paritária de segmentos governamentais e não governamentais, verificando-se, ainda: i) nas Conferências de Assistência Social realizadas a cada biênio organizadas e sustentadas pela respectiva esfera de governo; ii) na publicidade de dados e informações referentes às demandas e necessidades, da localização e padrão de cobertura dos serviços de Assistência Social; iii) nos mecanismos de audiência pública da sociedade, dos usuários, de trabalhadores sociais; iv) nos conselhos paritários de monitoramento de direitos socioassistenciais; e nos conselhos de gestão dos serviços. 7 Os Conselhos de Assistência Social, dentre outras atribuições, devem apreciar e aprovar a proposta orçamentária a ser enviada ao Poder Legislativo, os relatórios de atividade e execução financeira dos recursos do fundo e o Plano de Assistência Social do ente federativo, avaliar e fiscalizar serviços, projetos, programas e benefícios prestados pela rede estatal e entidades de assistência social 8. As Conferências de Assistência Social, por sua vez, são espaços amplos e democráticos de discussão e articulação coletivas, aos quais incumbe avaliar a Política de Assistência Social e propor diretrizes para aperfeiçoamento do SUAS, definindo metas e prioridades. São eventos abertos à participação da população, de instituições públicas e de organismos privados. Destacam-se, também, as audiências publicas e outros mecanismos de audiência da sociedade, de usuários e de trabalhadores sociais não definidos na LOAS, mas acertadamente mencionados na NOB/SUAS, subsidiados, através de dados e informações concernentes às demandas e necessidades sociais. A sociedade civil pode, ainda, participar da execução da política propriamente dita. A LOAS prevê, já em seu artigo 1º, que a assistência social será realizada pelo conjunto integrado de ações de iniciativa pública e da sociedade. Organizações e entidades privadas de assistência social podem, dessa forma, compor a rede socioassistencial prestando serviços, projetos e programas. 7 NOB/SUAS, p. 17 (item 1.1, alínea a). 8 NOB/SUAS, p. 51 (item 4.3) e Resolução CNAS 237/06, art. 3 o. SUAS Orientações MPRJ 10

3.1.3 Serviços, Programas, Projetos e Benefícios Como visto, a integração é característica fundamental do sistema e compreende não apenas a relação entre a rede pública e privada de serviços, mas também entre programas, projetos e benefícios oferecidos, sendo mencionada na LOAS como um dos objetivos estruturantes do SUAS. A rede socioassistencial, portanto, é composta do conjunto integrado de ações de iniciativa pública e privada que ofertam e operam serviços, benefícios, programas e projetos. Os conceitos de serviços, programas e projetos de assistência social podem ser extraídos da LOAS, conforme se destaca abaixo: Art. 23. Entendem-se por serviços socioassistenciais as atividades continuadas que visem à melhoria de vida da população e cujas ações, voltadas para as necessidades básicas, observem os objetivos, princípios e diretrizes estabelecidos na LOAS. Art. 24. Os programas de assistência social compreendem ações integradas e complementares com objetivos, tempo e área de abrangência definidos para qualificar, incentivar e melhorar os benefícios e os serviços assistenciais. Art. 25. Os projetos de enfrentamento da pobreza compreendem a instituição de investimento econômico-social nos grupos populares, buscando subsidiar, financeira e tecnicamente, iniciativas que lhes garantam meios, capacidade produtiva e de gestão de melhoria das condições gerais de subsistência, elevação do padrão da qualidade de vida, a preservação do meio-ambiente e sua organização social. Os benefícios de assistência social, quais sejam, o benefício de prestação continuada e os benefícios eventuais, também encontram regramento nos artigos 20 e 22 da LOAS. O benefício de prestação continuada é a garantia de um salário-mínimo mensal à pessoa com deficiência e ao idoso com 65 (sessenta e cinco) anos ou mais que comprovem não possuir meios de prover a própria manutenção nem de tê-la provida por sua família. Já os benefícios eventuais são as provisões suplementares e provisórias que integram organicamente as garantias do SUAS e são prestadas aos cidadãos e às famílias em virtude de nascimento, morte, situações de vulnerabilidade temporária e de calamidade pública. SUAS Orientações MPRJ 11

A compreensão desses conceitos - repita-se - é importante para distinguir as ações que se incluem na rede de assistência social e, por conseguinte, podem, em princípio, ser suportadas pelo orçamento da assistência social. Outra característica que deve ser destacada diz respeito às funções da assistência social nesse novo prisma: a proteção socioassistencial a que faz jus qualquer pessoa que necessitar - ocupa-se das fragilidades, vitimizações, vulnerabilidades e contingências que os cidadãos e suas famílias enfrentam durante a vida, devendo, em suas ações, produzir aquisições materiais, sociais, socioeducativas e desenvolver capacidades, talentos, protagonismo e autonomia. Dessa forma, o SUAS rompe com ideias tutelares e de subalternatividade, realizando a garantia de proteção social ativa, isto é, volta-se à conquista de condições de autonomia, resiliência e sustentabilidade, protagonismo, oportunidades, capacitações, serviços, condições de convívio e socialização, de acordo com a capacidade, dignidade e projetos pessoal e social dos usuários. A assistência social hoje, pois, não pode se confundir com o assistencialismo do passado, já que apresenta características e objetivos próprios, como se depreende do quadro abaixo: Assistencialismo Assistência Social Filantropia Fragmentação Segmentação Práticas eventuais/eleitoreiras Foco nas necessidades individuais; Política Pública Sistema Continuidade Base normativa concreta Direito do cidadão Desenvolvimento de capacidades, talentos, protagonismo e autonomia Foco nas necessidades coletivas Atenção: Práticas que não se enquadrem nas ações e objetivos acima não podem ser consideradas de assistência social e, portanto, não podem ser financiadas pelo orçamento da assistência social, nem servem para caracterizar a entidade como de assistência social. SUAS Orientações MPRJ 12

3.1.4 Instâncias de Pactuação Por fim, dentro da diretriz de descentralização característica do SUAS cabe destacar, ao lado das instâncias de articulação (fóruns, conselhos, associações comunitárias,etc.) e deliberação (Conselhos e Conferência de Assistência social), as instâncias de pactuação estabelecidas na NOB/SUAS. Estas consistem em um espaço de debates e negociações entre gestores para operacionalização da política de assistência social. Não há votação ou deliberação, só sendo possível a pactuação quando houver consenso entre todos os entes envolvidos. Nelas, pactuamse procedimentos de gestão e operacionalização do SUAS. Na NOB/SUAS são previstas duas instâncias de pactuação: a) CIB- Comissão Intergestores Bipartite, no âmbito estadual com participação de representantes estaduais indicados pelo gestor estadual da Assistência social e gestores municipais; d) CIT - Comissão Intergestores Tripartite, no âmbito nacional, envolvendo as três esferas de governo, com representantes da União, Estados, Distrito Federal e municípios. 3.2 Princípios e Garantias da Assistência Social A proteção social de Assistência Social, por direcionar-se ao desenvolvimento humano e social, através da garantia dos direitos inerentes ao exercício pleno da cidadania, foi estruturada sobre princípios que devem orientar toda a elaboração e execução dessa política. Para a compreensão do sistema, é fundamental conhecer alguns desses princípios e respectivas garantias. Nesse contexto, merecem destaque os seguintes princípios: da matricialidade sociofamiliar (a família é o núcleo social básico, devendo ser apoiada e fortalecida para a efetividade de todas as ações e serviços de assistência social). da territorialização (expressa o reconhecimento do território como fator determinante - fator social e econômico - para compreensão e enfrentamento das situações de vulnerabilidade e risco social. Esse princípio determina, ainda, que os serviços socioassistenciais devem ser ofertados em locais próximos aos usuários). SUAS Orientações MPRJ 13

da proteção pró-ativa (o sistema deve constituir-se por um conjunto de ações capazes de reduzir a ocorrência de riscos e danos sociais). da integração à seguridade social da integração às demais políticas sociais e econômicas Da mesma forma, destacam-se as garantias abaixo: a segurança de acolhida (provida por meio da oferta pública de espaços e serviços para a realização da proteção social básica e especializada); a segurança social de renda; a segurança do convívio ou vivência familiar, comunitária e social; a segurança do desenvolvimento da autonomia individual, familiar e social; a segurança de sobrevivência a riscos circunstanciais. Assim, atuações que desconsiderem os princípios e garantias acima estarão em confronto com as normas que pautam a assistência social e, consequentemente, podem ser objeto de ajuste, através de instrumentos extrajudiciais, ou mesmo de intervenção do Poder Judiciário para fazer cumprir o regramento contido na legislação própria no bojo de ação civil pública proposta com esse fim. Nesse ponto, é importante frisar que toda a normativa da assistência social não pode ser confundida com mera recomendação de atuação para o gestor ou para os demais integrantes do SUAS. Trata-se, como não podia deixar de ser, de legislação que obriga o ente público. O direito à assistência social é direito subjetivo público assegurado pela Constituição da República, concretizado pela LOAS e consolidado pelas Resoluções do CNAS. 3.3 Os Níveis de Proteção Social Para a consecução de suas finalidades, a assistência social no SUAS é organizada por níveis de proteção social, a saber: i) proteção social básica; e ii) proteção social especial (esta, dividida em média e alta complexidade) SUAS Orientações MPRJ 14

3.3.1 Proteção Social Básica A proteção social básica é formada pelo conjunto de serviços, programas, projetos e benefícios da assistência social que visam a prevenir situações de vulnerabilidade e risco social por meio do desenvolvimento de potencialidades e aquisições e do fortalecimento de vínculos familiares e comunitários 9. Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo acesso aos serviços públicos, entre outros) e/ou fragilização de vínculos afetivos. Esse nível de proteção é operado por meio de: i) Centros de Referência de Assistência Social (CRAS), territorializados de acordo com o porte do município; ii) rede de serviços socioeducativos direcionados para grupos geracionais, integeracionais grupos de interesse, entre outros; iii) benefícios eventuais; iv) benefícios de prestação continuada; e v) serviços e projetos de capacitação e inserção produtiva. A principal unidade onde são prestados os serviços continuados de proteção básica é o Centro de Referência de Assistência Social (CRAS), caracterizando-o como a porta de entrada do SUAS. Este pode ser definido como sendo a unidade pública municipal, de base territorial, localizada em áreas com maiores índices de vulnerabilidade 10 e risco social, destinada à articulação dos serviços socioassistenciais no seu território de abrangência e à prestação de serviços, programas e projetos socioassistenciais de proteção social básica às famílias. O CRAS deve se localizar, como dito, em áreas de maior vulnerabilidade social. E, assim, constitui-se como a principal porta de acesso à rede socioassistencial, sendo também responsável pela organização e oferta de serviços de proteção social básica. Deve realizar o referenciamento a outros equipamentos e serviços de proteção básica e especial. A NOB/SUAS de 2005 estabelece parâmetros para a instalação de CRAS, segundo o porte do município e o número de famílias referenciadas 11 : 9 Art. 6º-A, inciso I, da Lei 8.742/93. 10 A vulnerabilidade decorre da perda ou fragilidade dos vínculos de afetividade, pertencimento e sociabilidade; da desvantagem pessoal resultante de deficiências; e da exclusão pela pobreza e/ou pela falta de acesso às demais políticas públicas. 11 NOB/SUAS-2005, p. 26 (item 2.1, II); p. 28 (item 2.1, III). SUAS Orientações MPRJ 15

Porte do Município Quantidade de CRAS Pequeno Porte I Pequeno Porte II Médio Porte Grande Porte Metrópoles mínimo de 1 CRAS para até 2.500 famílias referenciadas mínimo de 1 CRAS para até 3.500 famílias referenciadas mínimo de 2 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas mínimo de 4 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas mínimo de 8 CRAS, cada um para até 5.000 famílias referenciadas A NOB/SUAS define como família referenciada aquela que vive em áreas caracterizadas como de vulnerabilidade, delimitadas a partir de indicadores estabelecidos por órgão federal, pactuados e deliberados, além daquelas que, embora não vivam nessas áreas, necessitem de proteção social 12. Devem ser incluídas nesse conceito famílias que recebam benefícios sociais e auxílios financeiros e as que possuam membros em situação de risco. Na prática, o MDS considera como número de famílias referenciadas o número de famílias inscritas no Cadastro Único para Programas Sociais do Governo Federal 13. O CadÚnico, conforme dispõe o art. 2o do Decreto 6.135/07, que o regulamenta, pode ser definido como sendo o instrumento de identificação e caracterização socioeconômica das famílias brasileiras de baixa renda, a ser obrigatoriamente utilizado para seleção de beneficiários e integração de programas sociais do Governo Federal voltados ao atendimento desse público. Entretanto, considerando a grande dificuldade encontrada por alguns Municípios no cadastramento de famílias no Cadastro Único do Governo Federal, tem-se cotejado seus dados com o número de famílias pobres estimado pelo IBGE com este perfil, atentando-se para eventual disparidade. 14 12 NOB/SUAS, p. 23 (item 1.1,III, c). 13 O CadÚnico é um banco de dados informatizado que identifica as famílias em situação de pobreza, fornecendo dados para a priorização de ações governamentais na saúde, educação, trabalho, renda, habitação e segurança alimentar. O CadÚnico orienta a seleção de beneficiários do PBF. 14 A estimativa de famílias pobres com Perfil Cadastro Único (baixa renda) foi feita a partir da combinação da metodologia de Mapas de Pobreza do IBGE, elaborados a partir do Censo Demográfico 2000, da PNAD 2006 e de outros indicadores sócio-econômicos, levando em consideração a renda familiar per capita de até meio salário mínimo. SUAS Orientações MPRJ 16

Município Estimativa de Famílias Pobres IBGE - 2006 Total de Famílias inscritas no CADÚNICO (março/2012) Angra dos Reis 19.006 9.205 Aperibé 1.077 1.711 Araruama 13.249 12.694 Areal 1.301 998 Armação de Búzios 3.245 2.550 Arraial do Cabo 2.776 2.503 Barra do Piraí 10.457 5.591 Barra Mansa 15.569 12.584 Belford Roxo 60.700 48.980 Bom Jardim 3.225 2.590 Bom Jesus do Itabapoana 3.669 4.100 Cabo Frio 19.646 21.172 Cachoeiras de Macacu 7.294 8.038 Cambuci 1.728 2.744 Campos Dos Goytacazes 37.352 41.695 Cantagalo 2.216 2.223 Carapebus 1.236 1.305 Cardoso Moreira 1.650 2.153 Carmo 1.925 2.006 Casimiro de Abreu 3.032 2.825 Comendador Levy Gasparian 969 1.024 Conceição de Macabu 2.385 3.108 Cordeiro 2.090 2.461 Duas Barras 1.500 1.144 Duque de Caxias 90.194 75.266 Engenheiro Paulo de Frontin 1.515 1.113 Guapimirim 6.167 5.974 Iguaba Grande 2.318 3.156 Itaboraí 27.840 24.035 Itaguaí 11.810 9.251 Italva 1.817 2.186 Itaocara 2.438 5.127 Itaperuna 10.485 9.375 SUAS Orientações MPRJ 17

Município Estimativa de Famílias Pobres IBGE - 2006 Total de Famílias inscritas no CADÚNICO (março/2012) Itatiaia 3.652 3.324 Japeri 14.768 15.015 Laje do Muriaé 1.062 1.243 Macaé 18.104 17.368 Macuco 599 818 Magé 29.091 27.237 Mangaratiba 3.645 2.959 Maricá 13.192 10.510 Mendes 1.951 1.489 Mesquita 20.713 13.396 Miguel Pereira 2.866 2.738 Miracema 2.982 3.812 Natividade 1.707 2.291 Nilópolis 15.231 13.042 Niterói 24.292 25.440 Nova Friburgo 16.585 10.075 Nova Iguaçu 94.280 74.272 Paracambi 5.089 4.316 Paraíba do Sul 4.317 3.207 Parati 4.600 2.591 Paty do Alferes 3.438 2.974 Petrópolis 27.777 17.955 Pinheiral 2.522 2.934 Piraí 2.636 1.957 Porciúncula 2.224 2.436 Porto Real 1.571 1.936 Quatis 1.460 1.122 Queimados 18.182 19.636 Quissamã 2.038 2.809 Resende 10.905 5.942 Rio Bonito 6.186 6.882 Rio Claro 2.222 1.800 Rio Das Flores 911 1.391 Rio Das Ostras 8.835 8.050 SUAS Orientações MPRJ 18

Município Estimativa de Famílias Pobres IBGE - 2006 Total de Famílias inscritas no CADÚNICO (março/2012) Rio de Janeiro 40.8207 315.016 Santa Maria Madalena 1.461 1.233 Santo Antônio de Pádua 4.527 3.372 São Fidélis 4.538 5.703 São Francisco de Itabapoana 6.557 6.603 São Gonçalo 99.971 72.305 São João da Barra 3.502 5.506 São João de Meriti 51.532 32.803 São José de Ubá 934 1.214 São José do Vale do Rio Preto 2.576 2.079 São Pedro da Aldeia 9.970 10.667 São Sebastião do Alto 1.250 1.175 Sapucaia 1.998 2.734 Saquarema 8.638 7.707 Seropédica 9.979 7.851 Silva Jardim 3.415 3.235 Sumidouro 2.167 3.009 Tanguá 4.364 4.549 Teresópolis 17.555 12.625 Trajano de Morais 1.331 1.715 Três Rios 7.575 6.542 Valença 7.704 6.798 Varre-sai 1.148 1.402 Vassouras 3.736 3.415 Volta Redonda 18.871 16.428 TOTAL 1.425.020 1.179.540 Os serviços de proteção social básica são: a) Serviço de Proteção e Atendimento Integral à Família (PAIF); e idosos); b) Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (voltado a crianças, adolescentes c) Serviço de Proteção Social Básica no Domicílio para Pessoas com Deficiência e Idosas; Esses serviços são descritos (seus objetivos, destinatários, provisões, condições e formas SUAS Orientações MPRJ 19