CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS
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- Levi Rijo Laranjeira
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1 CENTRO DE APOIO OPERACIONAL DAS PROMOTORIAS DE JUSTIÇA DE DEFESA DOS DIREITOS HUMANOS Rua Dias Adorno, 367, 6 andar, Bairro Santo Agostinho, CAPITAL CEP: Telefax: caodh@mp.mg.gov.br PARECER TÉCNICO 1. Relatório Aportou neste Centro de Apoio o Ofício n 0572/2011/PJP, oriundo da Promotoria de Justiça da Comarca de Paraopeba/MG. Por meio do referido documento, foram encaminhadas cópias de relatórios referentes aos atendimentos prestados pela Prefeitura Municipal de Cordisburgo/MG à moradora de rua conhecida por Maria Madalena Gonçalves Costa. Antes deste evento, contudo, a aludida Promotoria de Justiça encaminhou ofício a este Centro de Apoio, solicitando informações acerca da rede de proteção que pudesse acolher a referida senhora. Diante da mencionada demanda, o CAO-DH acionou a Subsecretaria de Assistência Social do Estado de Minas Gerais, que encaminhou, em resposta ao questionamento apresentado, o Ofício nº SEDESE/SUBAS/SAS/DPE/Nº445/2011. Consoante informado, o município de Cordisburgo/MG está habilitado à Gestão Básica do Sistema Único de Assistência Social - SUAS, o que significa que o mesmo tem a gestão das ações relativas à proteção social básica do cidadão local. Afirmou-se, ainda, que os Centros de Referência da Assistência Social CRAS começarão a
2 receber recursos financeiros para oferta de serviço de acolhimento institucional, bem como foram apontados os municípios mineiros que já ofertam o referido serviço. 2. Parecer Diante das informações prestadas e levando-se em consideração a legislação pertinente, torna-se necessário explicitar o modo de funcionamento da rede que gerencia e operacionaliza as políticas de assistência social. O Sistema Único de Assistência Social SUAS - Resumo O Sistema Único de Assistência Social (SUAS) é um sistema público que organiza, de forma descentralizada, os serviços socioassistenciais no Brasil. O aludido sistema se baseia em um modelo de gestão participativa, que articula os esforços e recursos dos três níveis de governo para a execução e o financiamento da Política Nacional de Assistência Social (PNAS). Estão envolvidos neste processo as estruturas e os marcos regulatórios da União, do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios. Consoante se verifica na Norma Operacional Básica do Sistema Único da Assistência Social NOB/SUAS, aprovada pela Resolução nº 130 do Conselho Nacional de Assistência Social - CNAS, a proteção social de assistência social é hierarquizada em básica e especial e, ainda, tem níveis de complexidade do processo de proteção, por decorrência do impacto de riscos no indivíduo e em sua família. A rede socioassistencial, com base no território, constitui um dos caminhos para superar a fragmentação na prática dessa política, o que supõe constituir ou redirecionar essa rede, na perspectiva de sua diversidade, complexidade, cobertura, financiamento e do número potencial de usuários que dela possam necessitar.
3 Desta feita, percebe-se que o SUAS organiza as ações da assistência social em dois tipos de proteção social: a básica e a especial. A primeira destina-se à prevenção de riscos sociais e pessoais, por meio da oferta de programas, projetos, serviços e benefícios a indivíduos e famílias em situação de vulnerabilidade social. Os serviços de Proteção Social Básica são executados de forma direta nos Centros de Referência da Assistência Social CRAS e em outras unidades públicas de assistência social, bem como de forma indireta nas entidades e organizações de assistência social da área de abrangência dos CRAS. A segunda, isto é, a Proteção Social Especial, tem por referência a ocorrência de situações de risco ou de violações de direitos. Conforme definido pela Política Nacional de Assistência Social, aprovada pela Resolução nº 145 do CNAS, a Proteção Social Especial é a modalidade de atendimento assistencial destinada a famílias e indivíduos que se encontram em situação de risco pessoal e social, por ocorrência de abandono, maus tratos físicos e/ou psíquicos, abuso sexual, uso de substâncias psicoativas, cumprimento de medidas socioeducativas, situação de rua, situação de trabalho infantil, entre outras. Os serviços de Proteção Social Especial têm estreita relação com o Sistema de Garantia de Direitos (SGD), de modo que muitas vezes a execução dos mesmos mantém interface com o Poder Judiciário, o Ministério Público e outros órgãos e ações do Poder Executivo. Esses serviços são classificados em dois níveis de complexidade, conforme a situação de risco vivenciada pela família e/ou indivíduo e as ações a serem executadas. Portanto, podem ser de média complexidade ou de alta complexidade. A Proteção Social Especial de média complexidade é coordenada e articulada nos Centros de Referência Especializados de Assistência Social CREAS, unidades públicas estatais responsáveis pela oferta de orientação e apoio especializados e
4 continuados a indivíduos e/ou famílias com direitos violados, direcionando o foco das ações para a família na perspectiva de potencializar e fortalecer sua função protetiva. Nesta espécie, constata-se que os vínculos familiares e comunitários se encontram preservados, apesar da ocorrência de violações de direitos. Destaca-se que o CREAS deve funcionar em espaço público exclusivo e independente, realizando o acompanhamento das situações de violações de direitos, em nível interno e externo. O CREAS poderá ser implantado com abrangência local ou regional, de acordo com o porte, nível de gestão e demanda dos municípios, além do grau de incidência e complexidade das situações de risco e de violações de direitos. Além disso, ressalta-se que cabe à equipe do CREAS providenciar o encaminhamento para os serviços que extrapolam as competências da assistência social, sendo necessário, portanto, o funcionamento articulado com as demais políticas e com o SGD. Por outro lado, a Proteção Social Especial de alta complexidade se caracteriza pela observância do rompimento dos vínculos familiares e/ou comunitários, em função de abandono ou ameaça. Nesse caso, geralmente se faz necessária a retirada do núcleo familiar ou comunitário, de onde se infere que os serviços ofertados nesse nível de proteção devem garantir acolhimento integral (moradia, alimentação, higienização e trabalho protegido) ao indivíduo. O SUAS também gerencia a vinculação de entidades e organizações de assistência social ao sistema, mantendo atualizado o Cadastro Nacional de Entidades e Organizações de Assistência Social, ao mesmo tempo em que concede certificação a entidades beneficentes, quando é o caso. Nesse sentido, o artigo 10 da Lei nº 8.742/93 (LOAS) prevê que a União, o Distrito Federal, os Estados e os Municípios podem celebrar convênios com entidades
5 e organizações de assistência social, em conformidade com os planos aprovados pelos respectivos conselhos. Em decorrência desse dispositivo, o artigo 18 desse mesmo ato normativo dispõe que, no seu âmbito de atuação específico, compete ao Conselho Nacional de Assistência Social: III observado o disposto em regulamento, estabelecer procedimentos para concessão de registro e certificado de entidade beneficente de assistência social às instituições privadas prestadoras de serviços e assessoramento de assistência social que prestem serviços relacionados com seus objetivos institucionais; IV conceder registro e certificado de entidade beneficente de assistência social. Por sua vez, a Resolução nº 34 do CNAS estabelece regras e critérios à concessão do registro à entidade beneficente de assistência social de que trata o dispositivo analisado supra, em seu inciso IV. Cabe, portanto, às aludidas entidades, desde que viabilizada através dos instrumentos próprios, a participação no atendimento da Proteção Social Básica e da Proteção Social Especial em caráter complementar. Conforme visto, cabe ao Estado a responsabilidade de estruturar uma rede de prestação de serviços socioassistenciais públicos, dentro da qual se vislumbra a possibilidade da celebração de convênios com entidades e organizações de assistência social. A gestão das ações socioassistenciais segue o previsto na Norma Operacional Básica do SUAS (NOB/SUAS), que disciplina a descentralização político-administrativa do sistema, a relação entre as três esferas de governo e as formas de aplicação dos recursos públicos. Entre outras determinações, a NOB/SUAS reforça o papel dos fundos de assistência social como as principais instâncias para o financiamento da
6 PNAS. Destaca-se que a descentralização político-administrativa das ações governamentais na área da assistência social é reforçada com a implantação de instâncias de articulação, negociação, pactuação e deliberação. São instâncias de negociação e pactuação relativas à gestão das ações e à aplicação dos recursos a Comissão Intergestores Bipartite CIB e a Comissão Intergestores Tripartite CIT, que objetivam a negociação dos aspectos operacionais da gestão do sistema descentralizado e participativo da assistência social. As pactuações no âmbito dessas comissões devem ser publicadas, inseridas na rede articulada de informações para a gestão da assistência social e encaminhadas, pelo gestor, para apreciação e aprovação dos respectivos Conselhos de Assistência Social, que desempenham um importante trabalho de controle social. As transações financeiras e gerenciais do SUAS contam, ainda, com o suporte da Rede SUAS, sistema que auxilia na gestão, no monitoramento e na avaliação das atividades. A gestão da assistência social brasileira é acompanhada e avaliada tanto pelo poder público quanto pela sociedade civil, igualmente representados no Conselho Nacional de Assistência Social, assim como nos Conselhos do Distrito Federal, dos Estados e dos Municípios. Esse controle social consolida um modelo de gestão transparente em relação às estratégias e à execução da política. A transparência e a universalização dos acessos aos programas, serviços e benefícios socioassistenciais promovidas por esse modelo de gestão descentralizada e participativa vêm consolidar, definitivamente, a responsabilidade do Estado Brasileiro no enfrentamento da pobreza e da desigualdade, com a participação complementar da sociedade civil organizada, através de movimentos sociais e entidades de assistência social.
7 Nesse diapasão e levando-se em consideração a atribuição do Ministério Público definida constitucionalmente, percebe-se que a função do Parquet nesse processo é a de defender os interesses sociais e individuais indisponíveis que estão em jogo, através da fiscalização dos atos de gestão do SUAS, que se encontram definidos na legislação infraconstitucional. Corroborando o que foi dito supra, verifica-se que o artigo 31 da LOAS dispõe que cabe ao Ministério Público zelar pelo efetivo respeito aos direitos estabelecidos nesta lei. As ações da assistência social, integradas em rede com as ações da saúde, educação e outras, têm como objetivo possibilitar à população o acesso a tais direitos, ou seja, proporcionar melhores condições de vida aos seus usuários, em consonância com a política pública de assistência. Nesse sentido, instâncias de controle social, materializadas nas conferências e nos conselhos, são importantes ferramentas no processo de fiscalização da política de assistência social, tendo em vista que tanto as deliberações das conferências quanto as normativas propaladas pelos conselhos são um indicativo indispensável no que tange às demandas e prioridades estabelecidas no âmbito da política. É importante destacar, também, que as atribuições dos conselhos, que incluem a deliberação, a normatização, a avaliação e a fiscalização transformam os mesmos em aliados imprescindíveis para a atuação ministerial. Sendo assim, definido, em linhas gerais, o modo de funcionamento da rede que gerencia e operacionaliza as políticas de assistência social, impõe-se a análise da demanda que motivou esse trabalho à luz do que foi dito supra.
8 3. Conclusão Consoante informado pela Secretaria de Estado de Desenvolvimento Social (Ofício nº SEDESE/SUBAS/SAS/DPE/Nº445/2011), o município de Cordisburgo/MG está habilitado à Gestão Básica, cujos serviços, em princípio, não atenderiam satisfatoriamente à situação de alta complexidade na qual está inserida a senhora Maria Madalena, dada a sua situação de rua. Em contato com profissional de assistência social deste Ministério Público, informou-se que o CRAS é a porta de entrada dos usuários na rede de proteção, cabendo ao mesmo, nas hipóteses que exigem uma atenção mais personalizada ao usuário, efetuar o devido encaminhamento à rede de Proteção Social Especial. Nesse contexto, ante a ausência de CREAS na localidade, insta necessário identificar o centro de referência regional responsável pelo atendimento das demandas relativas à Proteção Social Especial oriundas do município de Cordisburgo/MG. Dessa maneira, poder-se-á exigir dos gestores municipais o encaminhamento da senhora Maria Madalena ao aludido centro de referência ou, caso tal medida não seja possível, que sejam apresentados os motivos para a referida recusa. Caso a razão apresentada para o não encaminhamento da usuária seja a inexistência de consórcio com outros municípios que ofertam o serviço da região, impõe-se a necessidade de se viabilizar uma pactuação nesse sentido. Há que se averiguar, ainda, a existência de consórcios firmados entre o referido município e entidades ou organizações de assistência social, com vistas a viabilizar o atendimento, naquela cidade, da Proteção Social Especial, em caráter complementar. A obrigatoriedade do acolhimento de qualquer pessoa pela rede de proteção do SUAS está estampada no artigo 203 da Constituição da República, ao determinar
9 que a assistência social será prestada a quem dela necessitar, independentemente de contribuição à seguridade social(...). Destarte, a falta de atendimento adequado a qualquer cidadão deve ser rechaçada de pronto e o membro do Ministério Público, enquanto dotado de atribuição para zelar pela observância e pelo efetivo respeito dos direitos assegurados constitucional e infraconstitucionalmente ao povo brasileiro, deve se valer dos meios necessários para impedir ou fazer cessar o presente quadro de violação do direito em questão. Belo Horizonte, 20 de junho de Felipe Boy Vieira Analista do MP * Parecer elaborado com base na cartilha O papel do Ministério Público na fiscalização do Sistema Único de Assistência Social SUAS, gentilmente cedida a este Centro de Apoio pelo Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro
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