Parecer sobre o item 6.6.2 Saneamento Básico (p.458 495) do Relatório de Caracterização Atual do Plano Salvador 500 elaborado pela FIPE para a Prefeitura Municipal de Salvador/Secretaria Municipal de Urbanismo/SUCOM O conteúdo apresentado no item 6.6.2 Saneamento Básico trata se, na maior parte, de compilação dos Volumes II, III e IV que compõem o Plano Municipal de Saneamento Básico, que necessita de conclusão, edição integrada dos componentes do saneamento básico e aprovação. O Volume II se refere aos Serviços de Abastecimento de Água e de Esgotamento Sanitário, já aprovado pela Lei Municipal n o 7.981/2011, que também institui o Fundo Municipal de Saneamento Básico FMSB e autoriza o Município a celebrar contrato programa com a Empresa Baiana de Águas e Saneamento S/A Embasa. Os Volumes III e IV se referem aos Serviços de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas e de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos, respectivamente, necessitam de aprovação e edição integrada com o Volume II para compor o Plano Municipal de Saneamento Básico. Além de atender a Lei Nacional de Saneamento Básico, Lei n o 11.445/2007, que estabelece as diretrizes nacionais para o saneamento básico e para a política federal de saneamento básico, o município de Salvador deverá também atender, nos dispositivos que couber, a Lei Estadual n o 11.172/2008, que institui princípios e diretrizes da Política Estadual de Saneamento Básico, o Sistema Estadual de Saneamento Básico, tendo como órgão superior o Conselho Estadual das Cidades, e o Sistema Estadual de Informações em Saneamento Básico articulado com o Sistema Nacional de Informações em Saneamento Básico (Sinisa), bem como a Lei que dispõe sobre o Plano Diretor de Desenvolvimento Urbano do Município de Salvador PDDU 2007, Lei Municipal n o 7.400/2008, Capítulo II Do Saneamento, Art. 95 a 106. O Art. 97, Inciso V estabelece a elaboração e implementação do Plano Municipal de Saneamento Básico como instrumento fundamental para a Política Municipal de Saneamento Básico, ainda não instituída como estabelecido no Art. 95 da referida Lei. Quanto ao Programa Bahia Azul, citado na página 464 do Relatório, os resultados dos estudos realizados em Salvador sobre o Programa indicaram que o mesmo, embora tenha possibilitado a ampliação significativa da cobertura da população com rede coletora de esgotamento sanitário, não foi capaz de modificar a situação do abastecimento de água, limpeza urbana e drenagem de águas pluviais das áreas estudadas. A distribuição dos serviços se manteve desigual em função da renda da população e os níveis de cobertura e padrão de qualidade se mantiveram aquém do padrão desejado. Portanto, a efetividade do Programa, principalmente nas áreas periféricas, ficou comprometida no seu objetivo de alterar as condições de saneamento básico. Assim, os resultados sugerem que os serviços públicos de saneamento básico em Salvador, após as intervenções do Programa Bahia Azul, se mantiveram distantes de preencher os requisitos de um serviço público justo do ponto de vista social, uma vez que uma boa parcela dos moradores da cidade continuava a não dispor de serviço público de esgotamento sanitário adequado; moradores da periferia urbana continuaram submetidos a um serviço público de abastecimento de água intermitente; a qualidade da água se manteve 1
não conforme aos padrões de potabilidade; e, ainda, persistiram carências profundas nos campos da drenagem de águas pluviais e da limpeza urbana. No aspecto das condições sanitárias, a efetividade do Programa Bahia Azul foi comprometida uma vez que seus resultados não atenderam aos princípios minimamente aceitos para que um serviço público de saneamento básico seja considerado adequado, dentre eles: a universalidade e a igualdade. No que se refere à eficácia do Programa, esta foi também comprometida uma vez que metas não foram atingidas, principalmente, aquela relacionada à cobertura da população com esgotamento sanitário, uma das principais do Programa. Em alguns itens relacionados à melhoria operacional e capacitação de pessoal é que foi possível verificar alguma eficácia do Programa. Quanto ao citado Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil, de abril de 2015, e a posição de Salvador no mesmo, devem ser olhados com cautela, pois esse instituto é uma OSCIP criada por empresas fabricantes de tubulações para abastecimento de água e esgotamento sanitário e não uma instituição científica. Embora a participação popular e o controle social sejam muito importantes no exercício das funções de gestão dos serviços públicos de saneamento básico (planejamento, regulação, prestação e fiscalização), o parágrafo da página 465 encontra se descontextualizado. O texto nada comenta sobre a criação, instalação e funcionamento da Câmara Técnica de Saneamento Básico do Conselho Municipal de Salvador (Lei n o 7.400/2008, Art. 96, Inciso II e Art. 97, Inciso IV). Nosso parecer é que essa parte inicial do item 6.6.2 necessita ser reelaborada. 6.6.2.1 Produção e Abastecimento de Água (que deveria ser apenas Abastecimento de Água) Inicia o sub item citando a definição de abastecimento de água potável estabelecida pela Lei n o 11.445/2007, Art. 3º., Inciso I, alínea a. Apresenta um breve resumo do diagnóstico do Sistema Integrado de Abastecimento de Água que abastece Salvador, incluindo mananciais (com suas vazões), extensão de adutoras, Estações de Tratamento de Água ETA, centros e capacidade de reservação e extensão de rede de distribuição de água, indicando com fonte de informações o Volume II do Plano Municipal de Saneamento Básico. Cita o índice de perdas de água em Salvador em 2009 e 2013 sem nenhum comentário e distinção entre as perdas reais (vazamentos diversos) e as perdas aparentes (volumes consumidos não autorizados e não faturados). Apresenta também três figuras (Gráficos 6.6a, Mapa 6.6b e Gráfico 6.6b), não referidas no texto, e não tece nenhum comentário sobre elas. Aborda de forma resumida a demanda versus disponibilidade hídrica no período 2008 2030, mostrando uma concepção de gestão da oferta (necessidade de novas obras para garantir mais água, ampliar a oferta) e não de gestão integrada e gestão da demanda, com uso racional e eficiente da água, redução de perdas, reúso, aproveitamento de água de chuva, minimização da geração de efluentes, proteção de mananciais e suas nascentes, adaptação 2
às mudanças climáticas etc. Indica como situação bastante confortável a utilização da capacidade do sistema Pedra do Cavalo (o que implicaria na construção de duas novas adutoras de 7m 3 /s em detrimento, quando necessário, do aproveitamento do Rio Pojuca Qitapecerica=19,7m 3 /s e do aquífero da Bacia Sedimentar do Recôncavo Qt=20m 3 /s). As projeções de população e de demanda apresentadas precisam ser atualizadas. Nada é abordado no Relatório sobre a utilização de água subterrânea disponível no município de Salvador para fins de consumo humano. 6.6.2.2 Coleta e Tratamento de Esgotos Sanitários (que deveria ser Esgotamento Sanitário) Esse sub item também inicia citando a definição de abastecimento de água potável estabelecida pela Lei n o 11.445/2007, Art. 3º., Inciso I, alínea b. Cita de novo o Ranking do Saneamento do Instituto Trata Brasil, sobre o qual já tecemos comentários e lista as ações da Embasa para ampliar o número de ligações domiciliares de esgotos sanitários em Salvador. Apresenta três figuras (Gráfico 6.6c e Mapas 6.6c e 6.6d), não referidas no texto, e também não tece nenhum comentário sobre elas. Aborda sucintamente sobre a necessidade de parceria entre Poder Público local e a empresa delegatária dos serviços públicos de abastecimento de água e esgotamento sanitário para atuação em assentamentos precários e apresenta o exemplo entre o Município de São Paulo e a Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo Sabesp quando da celebração do contrato de programa (Lei n o 14.934/2009). Faz um breve resumo, sem análise crítica, do Sistema de Esgotamento Sanitário de Salvador composto de 34 bacias coletoras, agrupadas em 6 subsistemas, 217 estações elevatórias, informa a extensão de rede coletora e apresenta algumas características dos Sistemas de Disposição Oceânica do Rio Vermelho e do Jaguaribe/Boca do Rio (a Tabela 6.6d não está referida no texto, não informa o diâmetro da tubulação do emissário da Boca do Rio e informa o ano do início de operação dos sistemas, equivocadamente denominado de implantação; também a Figura 6.6f e o Gráfico 6.6d não estão referidos no texto), reproduzindo a defesa dessa solução para cidades litorâneas realizada no Volume II do Plano Municipal de Saneamento Básico. Informa a existência de 72 Estações de Tratamento de Esgotos de sistemas de conjuntos habitacionais e 4.229 fossas individuais (que devem ser sépticas). No final faz um questionamento às estações de captação em tempo seco, segundo o Relatório em número de 13. 6.6.2.3 Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas 3
Esse sub item inicia citando a definição de drenagem e manejo de águas pluviais urbanas estabelecida pela Lei n o 11.445/2007, Art. 3º., Inciso I, alínea d. Repete as definições de bacia hidrográfica e bacia de drenagem natural utilizadas na pesquisa Qualidade das Águas e da Vida Urbana de Salvador. Apresenta a Tabela 6.6e e a Figura 6.6g, não referidas no texto, e também não tece comentários sobre elas. Faz um resumo pobre sem caracterizar de forma adequada o sistema de drenagem urbana de Salvador, abusa em utilizar nove citações literais de trechos do Volume III sobre o Serviço de Drenagem e Manejo de Águas Pluviais Urbanas, que necessita ainda de aprovação para compor o Plano Municipal de Saneamento Básico, além de se basear no conteúdo do referido Volume para escrever diversos outros parágrafos. Não faz nenhuma análise rigorosa dos crescentes e constantes alagamentos que ocorrem na Cidade, todo ano, nos períodos de chuvas. 6.6.2.4 Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos Esse sub item inicia também citando a definição de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos estabelecida pela Lei n o 11.445/2007, Art. 3º., Inciso I, alínea c. Apresenta a Figura 6.6h, os Gráficos 6.6e e 6.6f, a Tabela 6.6f e o Mapa 6.6e, que não são referidos no texto, e também não tece comentários sobre eles. Informa sobre as dificuldades dos objetivos estabelecidos na Política Nacional de Resíduos Sólidos (Lei n o 12.305/2010, Art. 7º., Inciso II) serem alcançadas na prática, porém não apresenta nenhuma justificação para tal informação. Não apresenta nenhuma abordagem sobre a Política Estadual de Resíduos Sólidos (Lei n o 12.932/2014). Apresenta parágrafos soltos e descontextualizados ao longo do texto, sem tecer comentário sobre o significado da inserção dos mesmos, como, por exemplo, o da página 490: O sistema opera em regime misto, composto por: Secretaria Municipal de Obras Públicas (Semop), Secretaria Cidade Sustentável (Secis), Limpurb, concessionárias Bahia Transporte e Tratamento de Resíduos S.A. (Battre) e Consórcio Salvador Saneamento Ambiental, Agência Reguladora e Fiscalizadora de Serviços Públicos de Salvador (Arsal) e Fundo Municipal de Limpeza Urbana (FMLU). O resumo realizado a partir do Volume IV sobre o Serviço de Limpeza Urbana e Manejo de Resíduos Sólidos (ainda não aprovado) do Plano Municipal de Saneamento Básico é muito pobre sem caracterizar de forma adequada o sistema de manejo de resíduos sólidos de Salvador, abusando também na utilização de citações literais, além de se basear no conteúdo do referido Volume para escrever diversos outros parágrafos. Nosso parecer é que esse sub item necessita ser reelaborado 4
Algumas Considerações Finais O conteúdo do item 6.6.2 do Relatório de Caracterização Atual é uma breve e mal feita compilação dos Volumes II, III e IV do Plano Municipal de Saneamento Básico, com quase nenhuma análise crítica, muito aquém do que se espera de um documento elaborado como parte do Plano Salvador 500. As figuras e tabelas apresentadas não estão referidas ao longo do texto nem são comentadas. Fica a impressão que o referido item foi elaborado por estagiários, o que é muito preocupante, pela importância do saneamento básico para o Município e sua população, bem como pela importância do referido Relatório como parte inicial do Plano Salvador 500. Dessa forma, consideramos insatisfatório o conteúdo apresentado e somos de parecer que o item 6.6.2 do Relatório deve ser completamente reelaborado. Luiz Roberto Santos Moraes, PhD Professor Titular em Saneamento e Participante Especial da Universidade Federal da Bahia 5