FUNDAMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE ENSINO DO NADAR PARA CRIANÇAS *

Documentos relacionados
FUNDAMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE ENSINO DO NADAR PARA CRIANÇAS

CLUBE NAVAL DE PONTA DELGADA

A natação como um dos conteúdos aplicados na Educação Física Escolar no Ensino Fundamental I e II nas escolas particulares do Distrito Federal

Departamento: Educação Física Unidade: Faculdade de Educação Física. Código: Vigência: 2011 Carga Horária: 90 Período: 1

Natação. 2.º Ano, 1.º Semestre 6 ECTS. Área Científica. Objetivos de Aprendizagem. Conteúdos Programáticos. Educação Física e Desporto (EFD)

Adapação ao meio aquático: Conceitos para a iniciação a atividades aquáticas

Estratégia é a arte de aplicar os meios disponíveis ou explorar condições favoráveis com vista a objetivos específicos (Ferreira, 2000)

PLANEJAMENTO PEDAGÓGICO. Seleção e organização de conteúdos. Educação Física Meios de ensino. Aptidão Física. Cultura

- 2 - PROGRAMA DE ENSINO 2018/2019

APRENDER O REAL RITA PINTO

Plano Anual de AFD Atividade Física - 1º e 2º anos Atividade Desportiva 3º e 4º anos Objetivos comuns a todas as atividades físicas e desportivas:

Informações de Impressão

UMA INTERVENÇÃO PEDAGÓGICA

EDUCAÇÃO FÍSICA NA ESCOLA

NÍVEIS DE ENSINO. - retirar eventuais receios do contacto com a. O aluno: água;

Natação para Bebés. Nas aulas de B6 (dos 6 aos 11 meses) o seu bebé é desafiado a

METODOLOGIA DO ENSINO DO FUTEBOL DE SALÃO. Osvaldo Tadeu da Silva Junior

ASPECTOS TÉCNICOS DO NADO CRAWL

AVALIAÇÃO DE METODOLOGIAS UTILIZADAS PARA O ENSINO DA NATAÇÃO NO PROJETO DE EXTENSÃO ESCOLA DA BOLA

Plano Anual de AFD Atividade Física - 1º e 2º anos Atividade Desportiva 3º e 4º anos Objetivos comuns a todas as atividades físicas e desportivas:

EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS GERAIS. Linguagem Oral e Escrita. Matemática OBJETIVOS E CONTEÚDOS

Ficha de Avaliação e Evolução Educação Física

APRENDIZAGENS ESSENCIAIS

Educação Física Pitágoras

APRENDIZAGENS ESSENCIAIS

CRONOGRAMA ANUAL DA ATIVIDADE FÍSICA E DESPORTIVA

ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR 1º CICLO ATIVIDADE FÍSICA E DESPORTIVA

PROCESSO SELETIVO PROGRAMA MONITORIA LAZER E ESPORTE- 2018/2019

DISCIPLINA: ESTAFETAS CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

GOVERNO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO CORPO DE BOMBEIROS MILITAR

EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS GERAIS. Linguagem Oral e Escrita. Matemática OBJETIVOS E CONTEÚDOS

Articulação Vertical de Expressão Motora/ Educação Física

DISCIPLINA: EDUCAÇÃO FÍSICA 2 ºCICLO PATINAGEM:

RITA PINTO

ACTIVIDADE FÍSICA E DESPORTIVA ORIENTAÇÕES PROGRAMÁTICAS ANO DE ESCOLARIDADE 4º ANO 1º ANO 3º ANO 2º ANO

PLANIFICAÇÃO ANUAL EDUCAÇÃO FÍSICA 1º ANO

Prova Avaliativa Natação

Habilidades motoras fundamentais Locomotoras e não-locomotoras

Adaptação ao Meio Aquático?

Promover o equilíbrio em posição horizontal e Procurar um aumento da duração da apneia

Agrupamento de Escolas Eugénio de Castro

Escola Especial Renascer APAE - Lucas do Rio Verde - MT. Futsal Escolar

Fase do movimento Fundamental e Especializado A base para a utilização motora

CRITÉRIOS ESPECÍFICOS DE AVALIAÇÃO

PLANEJAMENTO Série: 6º ano Professor: Marta Caldas 1ª UNIDADE 28/01/2019 a 10/05/2019 DISCIPLINA: Educação Física

Desenvolvimento Motor de 5 a 10 anos ACADÊMICOS: FERNANDO FÁBIO F. DE OLIVEIRA CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ALEXIA REGINA KURSCHNER

TEORIA E PRÁTICA DA NATAÇÃO

MOVE NATAÇÃO. Treino 1 intermediário. Objetivo: Condicionamento cardiorrespiratório e controle da respiração. 400 metros sendo:

1º PERÍODO 39 AULAS PREVISTAS Competências Essenciais Conteúdos Estratégias Recursos Materiais Avaliação

Velocidade e aceleração durante um ciclo de braçadas no nado peito.

UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE CENTRO DE CIÊNCIAS BIOLÓGICAS E DA SAÚDE PLANO DE ENSINO

PLANO CURRICULAR DISCIPLINAR. EDUCACÃO E EXPRESSÃO FÍSICA-MOTORA 1.º Ano. Perícia e Manipulação

Agrupamento de Escolas Martim de Freitas CONTEÚDOS DA DISCIPLINA Dança- 7º ano Ano Lectivo 2010/2011

Piscina Olímpica. Piscina curta 10/04/2015. Prof. Esp. Dagnou Pessoa de Moura (Dog)

AS HABILIDADES MOTORAS AQUÁTICAS BÁSICAS *

Hidrodinâmica Arrasto Resistivo

PROCEDIMENTO DE TRABALHO. (DV-DL Divisão de Desenvolvimento Local_Piscinas Municipais) CADERNO APOIO TÉCNICO E PEDAGÓGICO_AMA_INFANTÁRIOS

PARÂMETROS CURRICULARES NACIONAIS. Educação infantil Creche e pré escolas

A Pedagogia da Aventura

NATAÇÃO: Uma relação entre os alunos do curso de Educação Física do IFSULDEMINAS-Câmpus Muzambinho e a modalidade. RESUMO

CENTRO DE CONVIVÊNCIA ESCOLA BAIRRO

Atividade Física e Desportiva

Universidade dos Açores Campus de angra do Heroísmo Ano Letivo: 2013/2014 Disciplina: Aplicações da Matemática Docente: Ricardo Teixeira 3º Ano de

ANEXO V AO EDITAL CBMERJ Nº 001/2015 TESTE DE CAPACIDADE FÍSICA E TESTE DE HABILIDADE ESPECÍFICA

Complexo Desportivo Paulo Pinto Rua de Ribes S. João da Madeira Telef E.mail:

PRIORIDADES NO TREINO DE JOVENS SALTADORES. Leiria, 12 de Novembro de 2011

Palavras-Chave: Educação Física, Educação Infantil, Desenvolvimento Motor. INTRODUÇÃO

PLANEJAMENTO ANUAL 2018

EB 2,3 MARTIM DE FREITAS EDUCAÇÃO FÍSICA 2011/2012 2º CICLO NÍVEIS INTRODUTÓRIO, ELEMENTAR E AVANÇADO. JOGOS PRÉ DESPORTIVOS (excepto Raquetes) 5º Ano

Formação de Árbitros Natação

Planificação Anual Atividade Física e Desportiva. "O rigor e a alegria de Brincar combinam?".

PROVA DE TRAVESSIA EQUIPADO COM MATERIAL BÁSICO DE MERGULHO REVEZAMENTO 4X200

CEAP:CENTRO DE ENSINO SUPERIOR DO AMAPÁ. Metodologia de Ensino da Educação Física

MISSÃO VISÃO VALORES LOCALIZAÇÃO E CONTATOS

2016/17 Agrupamento de Escolas Eugénio de Castro PLANO ANUAL - AEC DE ATIVIDADE FÍSICA E DESPORTIVA

Realizada em cada período, no 2º e 3º ciclo, é expressa numa escala qualitativa: Insuficiente, Suficiente, Bom e Muito Bom

Universidade Estadual de Londrina

O DESENVOLVIMENTO DAS HABILIDADES AQUÁTICAS EM CRIANÇAS - IMPLICAÇÕES DA PROFUNDIDADE DA ÁGUA

PARA QUE SERVE A CRECHE E A PRÉ- ESCOLA = FINALIDADE NA SOCIEDADE: QUAL SEU PAPEL / FUNÇÃO DIANTE DA CRIANÇAS E DE SUAS FAMÍLIAS

O que já sabemos sobre a BNCC?

DIRETRIZES CURRICULARES INFANTIL III, IV e V EDUCAÇÃO FÍSICA

EFDeportes.com, Revista Digital. Buenos Aires - Año 16 - Nº Mayo de

PLANIFICAÇÃO ANUAL Documentos Orientadores: Aprendizagens Essenciais e Programa de Educação Física

Jequié / BA Outubro de 2002 JUSTIFICATIVA

REGULAMENTO E GUIÃO DE ORGANIZAÇÃO DO FESTIVAL DE NATAÇÃO DA ANM / CLUBE

Como usar o Manual das Práticas CAPÍTULO. cap4.indd 1 27/05/13 18:02

I Encontro de Professores de Educação Física das Escolas Públicas de BH e Grande BH MG

PLANEJAMENTO ANUAL 2018

BNCC e a Educação Infantil

DISCIPLINA: ALTURA CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

ATIVIDADES DE ENRIQUECIMENTO CURRICULAR ANO LETIVO 2018/2019 AFD A MEXER. Orientações Pedagógicas. 1.º Ciclo do Ensino Básico IM-DE-057.

Escritórios Equipados

EDUCAÇÃO FÍSICA 2º CICLO. 5º Ano

Perfil do Aluno INTRODUÇÃO

1º PERÍODO 39 AULAS PREVISTAS Competências Essenciais Conteúdos Estratégias Recursos Materiais Avaliação

EDUCAÇÃO INFANTIL OBJETIVOS GERAIS. Linguagem Oral e Escrita. Matemática OBJETIVOS E CONTEÚDOS

UNIDADE DIDÁCTICA DE ATLETISMO

AGRUPAMENTO de ESCOLAS de SANTIAGO do CACÉM Ano Letivo 2017/2018 PLANIFICAÇÃO ANUAL

Transcrição:

FUNDAMENTOS PARA A ELABORAÇÃO DE PROGRAMAS DE ENSINO DO NADAR PARA CRIANÇAS * RESUMO Andrea Michele Freudenheim Laboratório de Comportamento Motor Regina Ismênia Rezende de Brito Gama Valquíria Aparecida Carracedo Universidade de São Paulo O objetivo do presente estudo foi formular alguns princípios teóricos para a elaboração de programas de ensino do nadar para crianças. Partiu-se da premissa de que, mais do que o ensino dos estilos, o ensino do nadar pode ser concebido como educação física no meio líquido. Nesse sentido, foram elaboradas cinco questões que, ao serem respondidas mediante referencial teórico-científico, fornecem fundamentação para a tomada de decisão. Como conclusão, apresentam-se princípios para a elaboração de programas de ensino do nadar para crianças e a sugestão de um programa. Palavras-chave: Natação, Programa de Ensino, Criança. 1 INTRODUÇÃO Cursos extracurriculares de Educação Física têm proliferado em nosso meio, principalmente em razão do aumento da consciência por parte da população quanto à importância da atividade física para o alcance e manutenção da saúde. Em relação a cursos de natação, essa proliferação se acentua, especialmente pelo reconhecimento do afogamento como uma das principais causas de morte de crianças (BACARAT et al., 2000). Também em termos da avaliação social, o aprender a nadar tornouse importante, pois cada tarefa que a criança aprende é percebida pelos pais como um passo a mais em direção à sua plena maturidade (MANOEL, 1995). No entanto, esse aumento de procura não foi acompanhado pela preocupação em elaborar propostas de ensino, fundamentadas em conhecimentos teóricos. O objetivo do presente estudo é estabelecer alguns princípios teóricos para a elaboração de programas de ensino do nadar para crianças. Ele deve ser compreendido como uma tentativa, entre várias outras possíveis e necessárias, de estabelecer uma relação entre teoria e prática para o processo ensino-aprendizagem do nadar. Dessa forma, foram elaboradas cinco questões norteadoras, que, ao serem respondidas mediante referencial teórico-científico, fornecem fundamentação para a tomada de decisão em relação ao estabelecimento de objetivos, conteúdos, estratégias e da avaliação. * Disponível on line via: http://www.mackenzie.com.br/editoramackenzie/revistas/edfisica/edfis2n2/art5_edfis2n2.pdf

2 QUESTÕES NORTEADORAS Para estabelecer um programa que enfatize o ensino da habilidade nadar, faz-se necessário conhecê-la. As três primeiras questões foram elaboradas no sentido de nos servir como guia nesse percurso. Já as questões quatro e cinco têm como finalidade orientar a escolha do foco do programa. 1) Qual o conceito do nadar? O nadar é entendido como qualquer ação motora que o indivíduo realiza intencionalmente para propulsionar-se através da água (LANGENDORFER, 1986, p. 63). Esse conceito amplia o escopo do ensino tradicional da natação, uma vez que não considera os estilos crawl, costas, peito e borboleta como único referencial, abrindo a possibilidade de estabelecer um ponto de chegada mais abrangente (estilos, nado sincronizado, mergulho, pólo aquático, saltos ornamentais etc.) (FREUDENHEIM et al., 1996). Em conseqüência, o ensino do nadar pode ser concebido como uma educação física no meio líquido. 2) Quais as características de desenvolvimento do nadar? Nas últimas décadas, alguns autores têm apresentado estudos sobre o desenvolvimento do nadar (por exemplo, ERBAUGH, 1980; LANGENDORFER, 1995). Um dos aspectos mais importantes que esses estudos evidenciam é que há uma seqüência normal de desenvolvimento motor no meio líquido que pode ser observada em bebês e crianças desde que haja oportunidade para elas interagirem nesse meio (MANOEL, 1995, p. 18). Portanto, o ensino do nadar deve ser visto como um processo em que padrões típicos do desenvolvimento normal devem ser respeitados. 3) Qual a estrutura da habilidade nadar? Em termos de sua estrutura, concebe-se o nadar como uma habilidade organizada hierarquicamente, com componentes dispostos horizontal e verticalmente no sentido de uma interação e não de uma soma (FREUDENHEIM et al., 1996). Esse referencial complementa os anteriores, pois permite especificar objetivos e conteúdos adequados a cada fase de aprendizagem. Um programa deve ser desenvolvido tendo pelo menos três fases como referência. Espera-se que, ao final da fase I, a criança domine os movimentos fundamentais relacionados ao nadar. Já na fase II, a ênfase está no deslocamento mediante combinações variadas de movimentos. Os movimentos culturalmente determinados são abordados somente na fase III. Nessa fase, as habilidades específicas a serem ensinadas não se limitam aos estilos e podem abranger habilidades de outras modalidades. Portanto, diferentemente do tradicionalmente proposto, a partir deste referencial teórico,

a) deve haver uma fase intermediária com objetivos específicos entre a adaptação e os movimentos culturalmente determinados e b) os objetivos na última fase extrapolam o ensino dos estilos. 4) O ensino do nadar deve ser centrado no conteúdo ou na criança? A quarta questão norteadora leva a estabelecer que o processo ensino-aprendizagem é centrado na criança (GRAHAM, 1992). Isso pressupõe uma mudança no ensino tradicional. Quando o centro da aprendizagem é a criança, concebe-se que elas aprendem de forma diferente umas das outras. Por isso são estabelecidos objetivos, conteúdos, estratégias e avaliação, respeitando o nível e o ritmo de desenvolvimento das crianças. Para tanto fazse imprescindível considerar suas características (PIAGET, 1982; GALLAHUE, 1998; GESELL, 1987; TANI et al., 1988; PAPALIA e OLDS, 2000). Por outro lado, essa posição torna necessário considerar as demandas da tarefa nadar. 5) Quais são as demandas da tarefa nadar? Essa última questão norteadora leva ao princípio da totalidade (CORBIN, 1973), ou seja, à visão de que o ser humano é um todo indivisível. Conseqüentemente, para aprender a nadar, adquirir competências motoras não é o suficiente. No processo de aprendizagem, o aluno necessita de um bom relacionamento social com seus pares para superar as dificuldades encontradas. Ao mesmo tempo precisa adquirir confiança para almejar novos objetivos e percepção para vir a efetuar os movimentos desejados. Essa concepção do ser humano como totalidade implica que um programa de ensino do nadar deve ser elaborado considerando os aspectos relevantes dos três domínios do comportamento (Figura 1). Figura 1 Demandas motoras, afetivo-sociais e cognitivas necessárias ao desenvolvimento do nadar e suas interações.

Apresentamos a seguir uma sugestão de programa de ensino do nadar para crianças, tendo as questões norteadoras e suas implicações consideradas. 3 PROGRAMA DE ENSINO DO NADAR PARA CRIANÇAS 3.1 Objetivos e Conteúdos Específicos Como as turmas são divididas por nível de habilidade, em uma mesma fase os grupos podem ser caracterizados como iniciais, intermediários ou avançados. Portanto, nas diferentes fases, os objetivos e os conteúdos devem ser ajustados às necessidades do grupo de crianças. Os objetivos e os conteúdos relativos aos três domínios do comportamento são apresentados separadamente. Porém devem ser desenvolvidos de forma interdependente. Nesse sentido, ressaltamos que, em todas as aulas, devem ser considerados aspectos dos três domínios do comportamento. 3.1.1 Fase de Movimentos Fundamentais Nesse início do processo de aprendizagem, visa-se à conquista da autonomia no meio líquido, relacionada, principalmente, ao controle respiratório e ao equilíbrio no meio líquido. Para isso, aspectos como confiança no professor, autoconfiança e relacionamento com o grupo devem ser enfatizados. 1) Aspectos Motores a) Adquirir adaptação dos órgãos sensoriais e da respiração, de forma diversificada. b) Controlar as posturas estática e dinâmica nas posições vertical e horizontal, de diferentes formas, com e sem auxílio. c) Realizar deslocamentos e deslizes, com e sem auxílio: variando os movimentos de cabeça, tronco, braços, mãos, pernas e pés, separadamente e em combinação, em diferentes velocidades, direções e posições do corpo, na superfície e submerso. d) Desenvolver entradas e saltos: com apoios variados e sem apoio, a partir de diferentes posições iniciais, com movimentos variados de pernas e braços e giros no eixo longitudinal, na fase aérea, em diferentes locais (borda, baliza, trampolim) e profundidades. 2) Aspectos Afetivo-Sociais Em relação às atividades propostas nessa fase, desenvolver: confiança no professor, bom relacionamento com o grupo e professor, confiança para enfrentar os desafios, motivação e envolvimento nas atividades individuais e grupais, iniciativa para resolver problemas, segurança em diferentes profundidades e autonomia.

3) Aspectos Cognitivos Em relação às atividades dessa fase, desenvolver: conhecimento das regras básicas de segurança, percepção corporal dos movimentos, percepção de objetos e sons, quando submerso, e noções de hidrodinâmica. 3.1.2 Fase de Combinação de Movimentos Fundamentais Nessa fase objetiva-se o aperfeiçoamento dos movimentos fundamentais, enfocados na fase anterior e o desenvolvimento de combinações em nível de complexidade progressivamente maior (TANI et al., 1988). Têm-se como objetivo primordial desde combinações intratarefas, por exemplo, combinar movimentos de equilíbrio estático e dinâmico com controle respiratório em diferentes posições de braços e pernas, para chegar à flutuação, até combinações intertarefas, como realizar salto combinado com deslocamento submerso, passando, em decúbito dorsal, dentro de um arco. O controle dessa e de várias outras formas de combinações, sem que haja quebra de continuidade do movimento, é a essência dessa fase. Para que esse objetivo seja alcançado, deve-se enfatizar a percepção corporal, sua verbalização, a relação com o grupo e a iniciativa para resolver problemas. 1) Aspectos Motores a) Flutuar com diferenciação de controle em relação à submersão, em diferentes posições, modificando o decúbito nos dois eixos do corpo. b) Controlar a respiração: nos deslocamentos, com ritmo respiratório, no mergulho em profundidade e em maiores distâncias, submerso. c) Deslocar-se: a partir de movimentos de braços e mãos, e de pernas e pés (de diferentes formas, amplitudes e velocidades, em combinação com a respiração), em diferentes posições, submerso e na superfície, em diferentes profundidades, combinações e sincronizações de braços, pernas e respiração. d) Deslizar: partindo das posições horizontal e vertical, em diferentes posições do corpo, velocidades e direções, na superfície e submerso. e) Realizar a imersão: com controle de apnéia e expiração, em diferentes posições, em parada de mãos e cambalhotas, com gradativo aumento de profundidade de imersão, combinando com salto de cabeça. f) Executar saltos verticais (de formas e locais variados) e de cabeça (da borda, combinados com corrida, deslizes e propulsão), em diferentes profundidades.

2) Aspectos Afetivo-Sociais Desenvolver, em relação às atividades propostas nesta fase: bom relacionamento com o grupo e professor, confiança para enfrentar os desafios, motivação e envolvimento nas atividades individuais e grupais, iniciativa para resolver problemas, segurança, em diferentes profundidades, e autonomia. 3) Aspectos Cognitivos Em relação às atividades dessa fase, desenvolver: conhecimento das regras de segurança, percepção corporal dos movimentos, com verbalização e conhecimentos de hidrodinâmica e fisiológicos. 3.1.3 Fase de Movimentos Culturalmente Determinados O objetivo nessa fase é o desenvolvimento de combinações mais complexas e específicas. Aqui, como nas demais fases, a prática deve ser um tipo particular de repetição sem repetição, em outras palavras, a prática consiste em repetir o processo de solução dos problemas motores, e não os meios para solucioná-los, e, se esta posição for ignorada, se tornará meramente mecânica (TANI, 1995). 1) Aspectos Motores a) Propulsionar-se de acordo com cada estilo, e realizar as respectivas saídas e viradas, atendendo aos critérios técnicos. b) Saltar em crescentes distâncias, de formas variadas, de diferentes locais. c) Mergulhar em crescentes profundidades, combinando com saltos de cabeça, de diferentes locais. d) Realizar em relação ao nado sincronizado: posturas simples, deslocamentos sincronizados, formação de figuras em grupo. e) Efetuar, no âmbito do pólo aquático: deslocamentos com bola em diferentes situações, passes, recepções e lançamentos a gol, diferentes combinações de deslocamentos e manipulação da bola, em situação de jogo. 2) Aspectos Afetivo-Sociais Desenvolver, em relação às atividades desta fase, confiança para enfrentar os desafios, iniciativa para resolver problemas, motivação e envolvimento nas atividades, autonomia, bom relacionamento com o grupo e professor, capacidade de jogar de acordo com as regras. 3) Aspectos Cognitivos Em relação às atividades desta fase, desenvolver percepção, com verbalização, dos movimentos: dos quatro estilos, de saídas e viradas de cada estilo, do mergulho, relativos ao jogo de pólo aquático, do nado sincronizado,

de saltos, conhecimento das regras de segurança, conhecimentos de hidrodinâmica e de aspectos fisiológicos, compreensão das regras do jogo de pólo, capacidade para considerar o ponto de vista do outro. 3.2 Princípios que Norteiam a Seleção das Estratégias Estratégias são os meios utilizados na busca dos objetivos. Podemos dizer que são as decisões tomadas com relação à organização do ambiente, ao emprego dos estilos de ensino e à organização das tarefas. Se os objetivos são para que ensinar, as estratégias significam como neste processo. A decisão sobre a dinâmica das tarefas está pautada nas características de cada grupo, considerando a faixa etária, a fase de aprendizagem e o objetivo que se pretende atingir, além da segurança. Segundo MEURIEU (1998), um programa deve ser predeterminado quanto às suas operações, enquanto as estratégias devem ter suas finalidades estabelecidas a priori, mas não todas as formas que podem ser desenvolvidas. Em outras palavras, as decisões com relação ao como ensinar devem ser tomadas e revistas aula a aula. Isso não quer dizer que não possam ser definidos princípios que norteiem sua seleção, em relação a cada categoria de decisão. 3.2.1 Organização do Ambiente A organização do ambiente de aula é um importante fator do processo de aprendizagem. No PENC o ambiente é modificado sempre com a intenção de contribuir para o enriquecimento de experiências motoras, afetivosociais e cognitivas. Para tanto os professores estruturam o ambiente sem ou com a participação dos alunos, visando a: a) incentivar o trabalho em equipe, b) lançar problemas para os alunos, c) estimular a criança a experimentar movimentos, d) aumentar a motivação do grupo e e) garantir um meio desafiador e positivo, valorizando as conquistas dos alunos. A variedade de materiais e suas possibilidades de utilização contribuem para a ampliação das estratégias, pois permitem atingir um mesmo objetivo com o uso de diferentes meios. Portanto, os materiais devem estar a serviço do professor, e não o inverso. Podem ser utilizadas roupas, nadadeiras, snorkel, máscara de mergulho, escadas, pranchas, plataformas e uma diversidade de arcos, bolas, cordas, cones etc. Mas muitas vezes convém fazer um uso não tão convencional do material. Por exemplo, uma prancha pode transformar-se em travesseiro, em asas ou em obstáculos. Principalmente nas fases iniciais, sugere-se a construção de brinquedos junto com os alunos.

Além de ser uma estratégia motivadora, pode promover interação entre os alunos e desses com o professor. A utilização de vídeos também pode ser uma excelente estratégia. Caso se pretenda, na fase dos movimentos fundamentais, fornecer uma referenciada diversidade de movimentos na água, podem-se apresentar filmes de animais nadando. Nas fases seguintes, como parâmetro para a aprendizagem, podem-se mostrar imagens de outras crianças ou do próprio grupo nadando. 3.2.2 Emprego dos Estilos de Ensino Na fase dos movimentos fundamentais, na qual há necessidade de maior liberdade para exploração e descoberta, são utilizados, principalmente, os estilos de ensino indiretos, mais especificamente a resolução de problemas (POZO, 1998) e a descoberta guiada (MOSSTON, 1978). Entretanto, esses estilos são utilizados, sempre que possível, nas três fases, pois propiciam aos alunos, além da prática, a percepção dos movimentos e a reflexão sobre suas ações (tomada de decisão, escolha). Por outro lado, sempre que necessário, mesmo nos níveis iniciais, e à medida que os alunos combinam as habilidades, estilos diretos (MOSSTON, 1978) também são empregados, levando-se sempre em consideração que a aprendizagem é um processo de solução de problemas motores e, portanto, os meios para solucioná-los são freqüentemente diversificados. Em síntese, nas três fases de aprendizagem, são valorizados procedimentos que implicam decisões, tomadas de consciência, escolhas, atitudes cada vez mais autônomas e seguras. Nesse sentido é que, embora possam ser utilizados desde os estilos mais indiretos até os diretivos, sempre que possível deve-se ficar com aqueles que pedem maior envolvimento das crianças, tanto em termos motores, como cognitivos e afetivo-sociais. 3.2.3 Organização das Tarefas O PENC enfatiza a utilização de uma variedade de tarefas, sua diversificação e progressão (TANI et al., 1988). Entre as atividades jogos, autotestagem e atividades rítmicas (GALLAHUE, 1987) as situações de jogo (historiados, imaginários e com regras) são muito valorizadas, pois podem-se selecionar aqueles que ajudam a olhar e intervir em algum aspecto da aprendizagem. As habilidades do nadar são sincronizadas e atividades que envolvem ritmo podem ser um importante meio para sua aprendizagem. Propor que os alunos nadem variando aspectos temporais como ritmo lento/rápido pode auxiliar, por exemplo, na percepção da sincronização dos movimentos dos membros superiores.

Atividades rítmicas também podem servir de suporte para motivar e envolver as crianças nas atividades individuais e de grupo. Pode-se, por exemplo, trabalhar a cooperação a partir de um objetivo comum ao grupo: todos se movimentam seguindo determinado ritmo. Por sua vez, as atividades de autotestagem são as mais adequadas para desafios individuais. Permitem, na fase inicial, maior liberdade de escolha para solucionar os problemas. Mas, nas fases mais avançadas, quando se objetiva o aperfeiçoamento técnico de determinado aspecto do movimento, é que as atividades de autotestagem ganham destaque, voltando a atenção do aluno para as particularidades do movimento. Em suma, jogos, atividades rítmicas e autotestagem possuem particularidades que podem ser exploradas de forma intercalada em um programa de ensino do nadar. 3.3 Objetivos e Procedimentos de Avaliação O PENC visa a atender as necessidades de cada aluno dentro do grupo. Nesse sentido, a avaliação tem como objetivo acompanhar o processo de aprendizagem individual. Conhecendo o perfil do aluno, é possível tornar o planejamento mais eficiente, com progressão adequada do ensino. Portanto, no PENC a avaliação é efetuada a partir de uma perspectiva pedagógica (SANCHEZ, 1997) e tida como um aspecto imprescindível ao ato docente. Para realizar a avaliação são utilizados dois instrumentos, a ficha de avaliação individual (abrangendo objetivos motores, afetivo-sociais e cognitivos) e o diário (observações registradas após a aula). A ficha de avaliação individual é utilizada: a) quando a criança ingressa no programa, para diagnosticar seu nível de aprendizagem e, conseqüentemente, conhecê-la e indicar um grupo de trabalho adequado; b) no início de cada período de ensino e aprendizagem, para reorganizar os grupos por nível de habilidade, estabelecer um ponto de partida para o trabalho e, ao mesmo tempo, para poder adequar os objetivos, os conteúdos e as estratégias às crianças de cada grupo; c) durante o período, visando a determinar o grau em que os objetivos propostos estão sendo atingidos; e d) ao final do período, para conhecer o rendimento da criança em relação ao programa desenvolvido e dar essa informação aos pais e alunos. O diário é utilizado para que o professor registre, após cada aula, os comportamentos individuais e do grupo que pareçam significativos para o processo de ensino e aprendizagem.

Assim, no PENC, o aluno é avaliado de forma contínua. A passagem de fase é concebida como uma conseqüência do processo de aprendizagem do aluno. Ressaltamos que, ao proporcionar um perfil do aluno, para tornar o planejamento mais eficiente, com progressão adequada do ensino, a avaliação aproxima com maior eficiência os objetivos do programa às necessidades do aluno, melhorando a qualidade da aprendizagem do nadar (LANGENDORFER, 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS A utilização dos parâmetros apresentados não se restringe ao âmbito de programas de ensino de natação para crianças. Inclusive, já têm sido utilizados, com algumas adaptações, para o ensino do nadar a indivíduos adultos e idosos. Mas esses parâmetros, bem como os programas de ensino baseado neles, não podem ser considerados como uma proposta definitiva. Novas pesquisas são realizadas, novos conhecimentos são produzidos, devendo-se então considerar a possibilidade de incorporá-los. Além disso, após a elaboração de um programa, os próximos passos são sua implantação e avaliação. A implantação demanda ajustes à realidade específica e uma avaliação também sempre leva à necessidade de reformulações. Desse modo, o PENC deve ser visto não como um programa a ser seguido literalmente o que o tornaria uma camisa-de-força, mas sim como um referencial para o desenvolvimento de uma proposta de ensino do nadar fundamentada em conhecimentos teóricos. O PENC foi implantado, e tem sido testado desde 1993, no curso Aprendendo a Nadar, oferecido pela Escola de Educação Física e Esporte da Universidade de São Paulo. Nesse curso, há alguns anos temos observado, a partir da ficha de avaliação individual e dos diários, que os alunos têm progredido em direção aos objetivos estabelecidos em cada uma das três fases de aprendizado. Entretanto, para verificar se a proposta está sendo efetiva, há a necessidade de ir além da avaliação individual das crianças, ou seja, é preciso avaliar o programa em si. Esse será o próximo passo. REFERÊNCIAS BACARAT, E. C; PARASCHIN, K; NOGUEIRA, R. J. N; REIS, M. C.; FRAGA, A. M.; SPEROTTO, G. Acidentes com crianças e sua evolução na região de Campinas, São Paulo. Jornal de Pediatria, v. 76, n. 5, p. 368-374, 2000. CORBIN,C. B. A textbook of motor development. Dubuque: C. Brown, 1973. ERBAUGH, S. J. The development of swimming skills of preschool children. In: NADEAU, N.; HALLIWELL,W.; NEWELL, K.; ROBERTS, G. (Eds.). Psychology of motor behavior and sport 1979. Champaign: Human Kinetics, 1980. FREUDENHEIM, A. M.; GAMA, R. I. R. B.; MOISÉS, M. La habilidad nadar: (re)visión. Ciências de la actividad física, v. 4, n. 8, p. 139-155, 1996.

GALLAHUE, D. Developmental phisical education for today s elementary school children. Nova York: MacMillan, 1987. GESELL, A.; ILG, F. L.; AMES, L. D.; BULLIS, G. E. A criança de 5 a 10 anos. São Paulo: Martins Fontes, 1987. GRAHAM, G. Teaching children physical education: becoming a master teacher. Champaign: Human Kinetics, 1992. LANGENDORFER, S. J. Aquatics for the young children Facts and myths. JOPERD, v. 57, n. 6, p. 61-66, 1986. LANGENDORFER, S. J.; BRUYA R. Aquatic readiness: developing water competence in young children. Champaign: Human Kinetics, 1995. MANOEL, E. J. Aspectos desenvolvimentistas da habilidade nadar. In: FREUDENHEIM, A. M. (Org.) O nadar: uma habilidade motora revisitada. São Paulo: CEPEUSP, 1995. MEIRIEU, P. Aprender... sim, mas como? Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1998. MOSSTON, M. La enseñanza de la educación física: del comando al descubrimiento. Buenos Aires: Paidós, 1978. PAPALIA, D. E.; OLDS, S. W. Desenvolvimento humano. Porto Alegre: Artes Médicas, 2000. PIAGET, J. Seis estudos de psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 1982. POZO, J. I. (Org.). A solução de problemas Aprender a resolver, resolver para aprender. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 1998. SÁNCHEZ, D. B. Evaluar en educación física. Barcelona: Inde, 1997. TANI, G. Aprendizagem motora como processo de solução de problemas. In: FREUDENHEIM, A. M. (Org.) O nadar: uma habilidade motora revisitada. São Paulo: CEPEUSP, 1995. TANI, G.; MANOEL, E. J.; KOKUBUN, E.; PROENÇA, J. E. Educação física escolar: fundamentos para uma abordagem desenvolvimentista. São Paulo: EPU/EDUSP, 1988. CONTATO Universidade de São Paulo Escola de Educação Física e Esporte Av. Prof. Mello Moraes, 65, Butantã São Paulo SP Tramitação 05508-900 Recebido em agosto/2003 E-mail: amfreud@uol.com.br Aprovado em outubro/2003

ÍNDICE 1 INTRODUÇÃO... 1 2 QUESTÕES NORTEADORAS... 2 3 PROGRAMA DE ENSINO DO NADAR PARA CRIANÇAS... 4 3.1 Objetivos e Conteúdos Específicos... 4 3.1.1 Fase de Movimentos Fundamentais... 4 3.1.2 Fase de Combinação de Movimentos Fundamentais... 5 3.1.3 Fase de Movimentos Culturalmente Determinados... 6 3.2 Princípios que Norteiam a Seleção das Estratégias... 7 3.2.1 Organização do Ambiente... 7 3.2.2 Emprego dos Estilos de Ensino... 8 3.2.3 Organização das Tarefas... 8 3.3 Objetivos e Procedimentos de Avaliação... 9 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS... 10 REFERÊNCIAS... 10