V Congresso UFV de Administração e Contabilidade e II Mostra Científica ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE SEGURADORAS BRASILEIRA E ESTRANGEIRA



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Transcrição:

ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DE SEGURADORAS BRASILEIRA E ESTRANGEIRA Área: Contabilidade Sub-área: Contabilidade Financeira Antônio Artur de Souza Fernando Gonçalves Raphael Leticia Wolff Ruppin Ligiana Ferreira de Oliveira RESUMO O presente trabalho faz análise econômico-financeira de uma empresa brasileira e uma estrangeira trançando um comparativo entre elas. O objetivo principal do artigo é identificar as variáveis do mercado segurador brasileiro em contraste com a de um mercado mais desenvolvido, através da análise quantitativo-qualitativa dos mercados seguradores e seus indicadores. Os dados coletados e trabalhados são das seguradoras Porto Seguro S.A. e Allianz. A partir dos dados apresentados, foram calculados os índices econômico-financeiros, conforme o mercado brasileiro e estrangeiro. Detectou-se que a empresa brasileira adota maior restrição aos investimentos de risco elevado, tal como em renda variável, e, portanto, se apresenta mais estável com menor exposição ao risco. Palavras-chave: Seguradora; Índices econômico-financeiros; Análise de desempenho comparativo. ABSTRACT This paper presents a financial and economic analysis of two insurance companies, one Brazilian and one foreign. The main goal was to compare the influence of the variables in the Brazilian market in comparison to a more developed one. The financial data was collected and analyzed for the insurance companies Porto Seguro and Allianz. The financial ratios were calculated for the two companies and then compared. It was possible to conclude that the Brazilian company adopts more restrictive rules for investments. It invests less in stocks. Thus, it is more stable and is exposed to less risk. Keywords: Insurance Market; Financial Ratios; Performance Analysis. 1 INTRODUÇÃO Seguro é um plano social que combina riscos de muitos indivíduos dentro de um grupo (FIGUEIREDO, 1997). No mecanismo do seguro, as pessoas e as organizações ajudam-se mutuamente através de pagamentos de prêmios, obtendo tranquilidade e segurança econômica contra as perdas potenciais. O propósito fundamental do seguro é reduzir a incerteza e a preocupação das pessoas e organizações provenientes da impossibilidade de prevenir futuros gastos decorrentes de riscos a que estão expostas. 1

O escopo da atividade de seguros no Brasil está ampliando extraordinariamente, como no mundo inteiro (SOUZA, 2002). A atividade seguradora vem ganhando amplitude no mercado graças à relativa estabilidade econômica vivida nos últimos tempos pela sociedade brasileira, o que induz as pessoas e empresas tanto a ampliar seu patrimônio de investimentos quanto a se preocupar com a segurança dos mesmos. De acordo com a Federação Nacional das Empresas de Seguros Privados e de Capitalização (FENASEG, 2008), em 2006 o setor de seguros brasileiro arrecadou R$59 bilhões em prêmios diretos, o que representa um aumento de 16,3% ante o ano anterior, e a participação do setor no PIB brasileiro saltou 45% neste mesmo período, de 2005 a 2006. Ainda segundo a FENASEG (2008), o setor de seguros apresentou uma taxa de crescimento anual composta de aproximadamente 15% no período de 10 anos findo em 2006. Tais dados demonstram a relevância do mercado segurador na economia brasileira, e, diante dessa franca ascensão, a análise financeira das seguradoras se torna importante para se verificar o desempenho do setor além de constatar as tendências do mesmo. O objetivo geral do artigo é analisar o desempenho econômico-financeiro de uma seguradora brasileira em comparação com o de uma seguradora estrangeira. Essa comparação é feita através da identificação dos indicadores econômico-financeiros das mesmas. Comparam-se os indicadores da seguradora brasileira com o da estrangeira e identificam-se as diferenças e tendências na análise quali-quantitativa. O presente artigo está dividido em cinco seções, incluindo esta Introdução. Na Seção 2, apresenta-se uma revisão da literatura sobre Seguros. Na Seção 3, descreve-se a metodologia de pesquisa, destacando-se os métodos de coleta e de análise dos dados. Na Seção 4, expõem-se a análise e a discussão dos resultados, baseados nos dados da pesquisa e na literatura sobre o tema. Por fim, na Seção 5, tecem-se as conclusões acerca deste trabalho. 2 MERCADO SEGURADOR BRASILEIRO Em março de 1940, quando as operações de seguros passaram a ser regulamentadas, as seguradoras estrangeiras presentes no Brasil foram obrigadas a se organizar como empresas brasileiras e a constituir reservas no Brasil. Nos anos 1970, o Brasil passou a adotar uma política de reciprocidade de negócios e a promover o intercâmbio internacional do seguro brasileiro. Como resultado, o país teve o superávit na conta de Seguros do Balanço de Pagamentos e a aceitação de negócios do exterior em volume correspondente a 60% dos resseguros cedidos (SOUZA, 2002). Com a abertura de mercado e o consequente desembarque maciço de empresas multinacionais no mercado brasileiro, o volume de investimentos aumentou consideradamente e as 2

empresas nacionais foram obrigadas a rever suas culturas e estratégias, desenvolver novas formas de comercialização, investir em tecnologia, qualificar e disputar mão de obra e inovar, oferecendo novos e melhores produtos. A participação de capital estrangeiro no segmento de seguros brasileiro vem aumentando de maneira significativa, abocanhando cerca de um quarto do mercado nacional e a previsão é de que no curto prazo as seguradoras estrangeiras respondam por mais da metade do capital do mercado segurador brasileiro (SOUZA, 2002). Apesar das inovações introduzidas pela abertura do mercado, os seguros ainda estão concentrados basicamente nos ramos tradicionais, ou seja, automóveis, saúde e vida, que representam cerca de 75% do total. 3. METODOLOGIA As empresas de seguros são estruturas que apresentam características próprias. Podem revestir-se de extrema complexidade ou ser bastante simples, dependendo dos ramos ou das modalidades de seguros e do mix de produtos com os quais operem. No entanto, ambas as estruturas desenvolvem suas finalidades por meio de uma gama variada de operações, todas objeto de registro pela contabilidade (SILVA, 1999). Assim, com base nas operações passadas e nas operações atuais, a evolução ou a regressão da seguradora, seus problemas e acertos são estudados com a utilização técnica adequada para que sejam destacados os aspectos econômicos e financeiros que norteiam a tomada de decisão dos agentes econômicos interessados. Dois fatores importantes devem ser observados numa análise econômico-financeira: (i) a temporalidade das operações, isto é, deve ser elaborada baseada em diversas demonstrações financeiras em sequência cronológica de, pelo menos, três exercícios, a fim de constatarem-se as tendências, bem como o desempenho da empresa; e (ii) deve ser comparativa, ou seja, confrontando-se os índices da seguradora analisada com os índices-padrões do mercado. 3.1. MÉTODOS DE ANÁLISE Silva (1999) apresenta os métodos de análise: 1. Análise por Diferenças Absolutas: é o método que dá evidência à diferença absoluta entre os valores de cada componente patrimonial; 2. Análise de Evolução Horizontal Crescimento: o crescimento é apurado um índice que representa a tendência temporal dos itens analisados em relação ao período que será tomado como 3

base. Sempre que possível, deve ser escolhido como base um período no qual a seguradora tenha apresentado um desempenho satisfatório, pois os índices apurados terão maior representatividade; 3. Análise por Quocientes ou Índices: é o método de análise que compara Valores de naturezas heterogêneas, relacionando itens e grupos do Balanço Patrimonial e da Demonstração de Resultados do Exercício (DRE), para obter quantas vezes um item contém o outro. Propicia ao analista extrair tendências, comparando os índices obtidos com os Índices-padrões apurados para referência. 3.2. ANÁLISE FINANCEIRA A análise financeira está voltada para as relações entre disponibilidades e exigibilidades. Envolve os Ativos Realizáveis e os Exigíveis da empresa no curto e no longo prazo, ou seja, analisa o que a seguradora dispõe em face de suas obrigações, bem como o que tem a receber e o que tem a pagar. Trata do aspecto da liquidez (Tabela 2) e da solvência da sociedade (SILVA, 1999). Tabela 1 - Índices de Liquidez Liquidez geral ou mediata Liquidez Corrente Indica a situação financeira da sociedade em longo prazo. Mede a capacidade de a empresa cumprir com seus compromissos perante terceiros, exigíveis em qualquer prazo. É o quociente utilizado para medir a capacidade da seguradora em saldar seus compromissos em curto prazo. Seca Liquidez Considera somente os itens de fácil conversibilidade em dinheiro de que a empresa dispõe para pegar cada real de dívidas vencíveis em curto prazo. Fonte: Elaborado pelo autor. A Solvência Geral mede a capacidade total da seguradora em cumprir obrigações assumidas perante terceiros, tanto a curto quanto em longo prazo. Difere da Liquidez Geral, pois esta desconsidera o Ativo Permanente em seu cálculo. Este índice aponta quanto a empresa possui de Ativo para pagar cada real dos capitais tomados de terceiros, ou seja, Passivo Exigível (SILVA, 1999). 3.3. ANÁLISE ECONÔMICA A análise econômica tem como finalidade avaliar o desempenho econômico da seguradora, considerando o capital investido e o volume monetário das receitas oriundas dos prêmios ganhos no período. Para essa análise, toma-se como base a Demonstração do Resultado do Exercício. Ela 4

aborda o problema da finalidade da empresa, de seus investimentos e da capacidade para reduzir sua lucratividade e rentabilidade (SILVA, 1999). A Margem Bruta representa a relação percentual entre o Resultado Bruto e os Prêmios Ganhos. A Margem Operacional mensura a relação entre o Resultado das Operações de Seguros e os Prêmios Ganhos, ou melhor, a receita líquida de prêmios produzida no período. É também conhecida como Margem de Lucro ou Lucratividade Operacional. Já a Margem Líquida mensura a relação entre o Lucro Líquido do Exercício, depois de deduzida a Contribuição Social e o Imposto de Renda, e os Prêmios Ganhos, ou seja, a receita líquida de prêmios. Segundo Silva (1999), é frequente ocorrer entre as seguradoras o fato de o Resultado das Operações de Seguros apresentarse negativo e ser compensado pelos Resultados Financeiro e Patrimonial, o que explica o fato de a Margem Operacional ser negativa e ao mesmo tempo a Margem Líquida positiva. A Taxa de Retorno do Capital Próprio é o índice que mede a relação entre o Lucro Líquido após o Imposto de Renda com os Capitais Próprios (Patrimônio Líquido - PL). Este índice apresenta a rentabilidade do investimento dos acionistas na seguradora. A Sinistralidade é o índice que relaciona o Sinistro Retido e o Prêmio Ganho com a finalidade é medir, comparativamente, o nível da despesa líquida de sinistros com a receita líquida de prêmio. O Custo de Comercialização mensura a proporção entre as Despesas de Comercialização e as Receitas Líquidas de Prêmios. O Custo Administrativo é o resultado da relação das Despesas Administrativas com a Receita Líquida de Prêmios é o Índice que espelha o nível do Custo Administrativo da seguradora (SILVA, 1999). O Prêmio Margem afere se a seguradora terá problemas futuros de solvência, considerando que o Patrimônio Líquido, embora ajustado, é também, a base para o cálculo da Margem de Solvência da Seguradora. É recomendável que este quociente não seja superior a cinco vezes o valor do Patrimônio Líquido. Isso porque a Margem de Solvência estabelece que o Patrimônio Líquido Ajustado deverá ser suficiente para cobrir, no mínimo, 20% da média dos prêmios retidos pela seguradora no decurso dos três últimos exercícios. O Resultado Patrimonial mede o quanto do lucro da seguradora é composto por resultados em coligadas, controladas e aluguéis de imóveis, este último insignificante perante os primeiros. Quando o resultado for negativo, a avaliação será de quanto do Lucro da Seguradora foi perdido, em função desses investimentos (SILVA, 1999). O Índice Combinado é o indicador que reflete o resultado das operações básicas de seguro, estabelecendo a relação entre receitas e despesas da seguradora de natureza exclusivamente 5

operacional. O Índice Combinado Ampliado trata-se da ampliação do Índice Combinado, mediante a agregação do Resultado Financeiro aos Prêmios Ganhos da Seguradora (SILVA, 1999). 4. ANÁLISE ECONÔMICO-FINANCEIRA DAS SEGURADORAS A análise econômico-financeira das seguradoras foi realizada através da análise horizontal dos dados contábeis, além dos índices calculados. O período de análise é de quatro anos, de 2007 a 2010, sendo possível, assim, avaliar o impacto da crise financeira mundial de 2008 no desempenho das seguradoras. 4.1. Porto Seguro S.A. Análise Horizontal do Balanço Patrimonial a) O Ativo Circulante da empresa apresentou crescimento durante todo o período, chegando a aumentar 113% ao final do período. b) Os valores realizáveis em longo prazo também aumentaram, sendo incrementado em 98% ao final do período. c) O Ativo Permanente teve um forte aumento ao final do período, de 274,3%, enquanto o ativo total aumentou 124,4%. d) O Passivo Circulante aumentou 112,4% no período, sendo este crescimento bem próximo do Ativo Circulante. e) O exigível em longo prazo aumentou 326,3% no período, o que representa uma proporção três vezes maior do que o realizável no longo prazo. f) O Patrimônio Líquido aumentou 91,9% ao final do período. Tabela 2 - Análise Horizontal do Balanço Patrimonial 6

Fonte: Elaborado pelo autor. Análise Horizontal da Demonstração do Resultado do Exercício a) Os Prêmios Retidos cresceram 90,2% no período. b) Os Prêmios Ganhos saltaram 94% no período, o que é muito justificado pelo aumento dos prêmios emitidos em 96%. c) Os sinistros aumentaram 110,1% no período, uma proporção maior do que a dos prêmios ganhos. d) Enquanto a empresa emitiu 96% a mais de prêmios, as despesas de comercialização subiram com menor inclinação, precisamente 83,8%. e) O Resultado Bruto aumentou 69,3% no período, resultado de maior eficiência nas operações de seguro, sendo que em 2008 o crescimento foi quase zero devido a crise mundial. f) Resultado das Operações de Seguro caiu 11,2% no período, devido inclusive ao grande aumento de despesas operacionais. g) O Resultado antes da Contribuição Social e Imposto de Renda aumentaram 48,1% no período, enquanto o Lucro Líquido aumentou 48,4%. 7

Tabela 3 - Análise Horizontal da Demonstração do Resultado do Exercício Fonte: Elaborado pelo autor. Análise dos Índices Econômicos e Financeiros a) Liquidez Geral: a seguradora conta em média com R$1,35 para cada R$1,00 do passivo para o período. b) Liquidez Corrente: a seguradora tem capacidade para arcar com as obrigações de curto prazo, sendo que em média conta com R$1,40 no período para cada R$1,00 do passivo circulante. c) Liquidez Seca: a empresa conta com uma capacidade imediata para pagar o passivo circulante de aproximadamente 1,3 vez no período. d) Solvência Geral: a capacidade total da empresa de arcar com o exigível total é de 1,5, o que indica bom nível de Capital Próprio e implica em menor grau de financiamento do ativo total pelo passivo circulante e exigível a longo prazo. e) Margem Bruta: com índice médio de 0,2, a empresa tem boa capacidade de suportar os custos operacionais. f) Margem Operacional: a margem operacional ficou bem próxima de zero no período. As despesas administrativas e outras despesas consumiram a margem do resultado bruto. g) Margem Líquida: graças aos resultados financeiro e patrimonial, a margem líquida foi positiva de 0,10. 8

h) Taxa de Retorno do Capital Próprio: a taxa girou em torno de 0,20, o que representa uma rentabilidade média de 20% do investimento dos acionistas. i) Sinistralidade: o índice de sinstralidade foi em torno de 0,55, o que é bom pois libera mais dinheiro para cobrir outras despesas da seguradora. j) Custo de Comercialização: cerca de 22% da receita líquida foram consumidos pelas despesas de comercialização. k) Custo Administrativo: as despesas administrativas consomem cerca de 20% da receita líquida. l) Prêmio Margem: em torno de 2,3 no período, este índice é bastante satisfatório pois o Patrimônio Líquido é o suficiente para cobrir no mínimo 40% do volume de prêmio retido. m) Resultado Patrimonial: o Resultado Patrimonial contribuiu com cerca de 1% do Lucro Líquido. n) Índice Combinado: na casa da unidade, é sugerido que o índice diminua para evitar o desequilíbrio econômico. o) Índice Combinado Ampliado: com o índice em torno de 0,9, o resultado financeiro ajudou a seguradora a ter maior equilíbrio econômico. Tabela 4 Análise dos Índices Econômicos e Financeiros Fonte: Elaborado pelo autor. 9

4.2. Allianz Group Análise Horizontal do Balanço Patrimonial a) O Ativo Circulante da empresa caiu em torno de 65% de 2008 em diante. b) Os valores realizáveis em longo prazo subiram 11876% em 2008, mas fechou o período com queda de 91,5%. c) O Ativo Permanente apresentou crescimento no período de 15,9%. Em 2008, houve uma queda de 9,6% justificada pela queda no valor da conta de investimentos. d) O Ativo Total diminuiu em 41,1%. e) O Passivo Circulante reduziu a menos da metade no período, enquanto o Ativo Circulante caiu com uma inclinação maior. f) O exigível em longo prazo diminuiu 43% no período. Em 2008, tal conta teve aumento de 2513% em relação a 2007. g) O Patrimônio Líquido caiu bem em 2008 e 2009, se recuperando em 2010 e fechando o período com queda de 6,8%. Tabela 5 - Análise Horizontal do Balanço Patrimonial Fonte: Elaborado pelo autor. 10

Análise Horizontal da Demonstração do Resultado do Exercício a) Os Prêmios Retidos aumentaram 6,7% no período. b) Os Prêmios Ganhos aumentaram em menor proporção que os Retidos visto o aumento das Provisões de Prêmios Não Ganhos. O período terminou com aumento de 1,6%. c) Os sinistros retidos diminuíram 0,7% no período numa intervalo com tendência de queda. d) Enquanto a empresa emitiu 4,2% a mais de prêmios, as despesas de comercialização tiveram viés de alta com maior inclinação e aumentaram em 26,2% ao final do período. e) O Resultado Bruto caiu 90% em 2008, mas terminou o período com aumento de 20%. f) Resultado das Operações de Seguro chegara a cair 54,6% em 2008, mas no período terminou com uma queda de somente 1,7%. g) O Resultado antes do Imposto de Renda aumentou 31,1% no período, enquanto o Lucro Líquido aumentou 27,4%. Os resultados financeiro e patrimonial tiveram considerável contribuição nestes aumentos. Tabela 6 - Análise Horizontal da Demonstração do Resultado do Exercício Fonte: Elaborado pelo autor. Análise dos Índices Econômicos e Financeiros a) Liquidez Geral: a seguradora conta com nível crítico por não ter mais que R$0,75 para cada USD1,00 do passivo durante o período. 11

b) Liquidez Corrente: a seguradora não tem capacidade para arcar com as obrigações de curto prazo, sendo que não conta com mais de USD0,75 no período para cada USD1,00 do passivo circulante. c) Liquidez Seca: a empresa não conta com capacidade imediata para pagar o passivo circulante em nenhum ano do período. d) Solvência Geral: a capacidade total da empresa de arcar com o exigível total é de cerca 1,05, o que indica baixo nível de Capital Próprio e implica em maior grau de financiamento do ativo total pelo passivo circulante e exigível a longo prazo. e) Margem Bruta: com índices sempre negativos no período, a empresa não tem capacidade de suportar os custos operacionais, o que gera resultados brutos negativos. f) Margem Operacional: a margem operacional ficou sempre abaixo de zero, ou seja, a receita líquida de prêmios produzida no período foi deficitária. g) Margem Líquida: devido aos resultados financeiro e patrimonial, a margem líquida se manteve positiva durante o período em torno de 0,08. h) Taxa de Retorno do Capital Próprio: a taxa se manteve em torno de 0,10 durante o período, o que representa uma rentabilidade média de 10% do investimento dos acionistas. i) Sinistralidade: o índice de sinstralidade foi em torno de 0,9, o que impossibilita grande parte dos prêmios ganhos cobrir outras despesas da seguradora. j) Custo de Comercialização: uma média de 20% da receita líquida foi consumida pelas despesas de comercialização durante o período. k) Custo Administrativo: as despesas administrativa consomem cerca de 18% da receita líquida. l) Prêmio Margem: variando entre 1,24 e 1,79 no período, o quociente é considerado bom, pois o Patrimônio Líquido é suficiente para cobrir com folga o volume médio de prêmio retido nos últimos três anos. m) Resultado Patrimonial: o Resultado Patrimonial ficou em torno de zero no período, sendo a sua contribuição modesta para o Lucro Líquido. n) Índice Combinado: sempre acima casa da unidade, é sugerido que o índice diminua para abaixo de 1 e assim evitar o desequilíbrio econômico. o) Índice Combinado Ampliado: durante todo o período o índice foi abaixo da unidade, graças ao resultado financeiro que ajudou a seguradora a ter maior equilíbrio econômico. Tabela 7 Análise dos Índices Econômicos e Financeiros 12

Fonte: Elaborado pelo autor. 4.3. RESULTADOS Nesta seção, são apresentados os resultados encontrados na análise individual das seguradoras e colocados lado a lado para efeitos de uma análise comparativa. A avaliação dos resultados está dividida entre análise financeira e análise econômica, sendo que em cada análise é comparada a seguradora brasileira e a alemã analisadas. 4.3.1 ANÁLISE FINANCEIRA COMPARATIVA GRÁFICO 4.3.1 Análise Financeira Consolidada. 13

Fonte: Elaborado pelo autor Através da comparação dos índices financeiros, é possível constatar que a empresa brasileira possui maior liquidez e tem maior capacidade de honrar com os compromissos. É possível verificar também que a empresa estrangeira possui altíssimo grau de imobilização do capital próprio justificado pela maior liberdade de investimentos em rendas variáveis em comparação com as brasileiras. A liquidez operacional da empresa brasileira é consideravelmente maior que a estrangeira, isso porque o prêmio médio do seguro no Brasil é maior para o mercado do que na Europa. 4.3.2 ANÁLISE ECONÔMICA COMPARATIVA GRÁFICO 4.3.2 Análise Econômica Consolidada. 14

Fonte: Elaborado pelo autor A seguradora brasileira apresenta margens bruta, operacional e líquida bem mais sólidas do que a estrangeira. A taxa de sinistralidade da seguradora brasileira ficou entre 0,53 e 0,57, intervalo esse bem abaixo do intervalo médio da estrangeira. Em relação aos Resultados Combinados, percebe-se que a seguradora brasileira tem maior equilíbrio econômico e a importância do resultado financeiro para a saúde econômica das seguradoras. 5. CONCLUSÃO A análise econômico-financeira feita por meio do levantamento dos dados contábeis das seguradoras brasileira e estrangeira e através dos cálculos dos índices e quocientes econômicofinanceiros permitiu desenvolver uma avaliação quali-quantitativa das seguradoras e ter-se então uma visão do desempenho econômico-financeiro das mesmas. Através da análise econômicofinanceira individual e comparativa entre as seguradoras, foi possível extrair conclusões que podem vir a orientar gestores e legisladores do ramo de seguros. 15

Obteve-se que a seguradora brasileira, regida por uma legislação mais cautelosa e conservante, possui condições de liquidez bem superiores do que as estrangeira. Sendo que o grau de investimento da seguradora estrangeira, em especial em renda variável, é bastante superior ao da brasileira. Tal fato justifica que as empresas estrangeiras trabalhem com valores de prêmio mais barato que as brasileiras, e investem massivamente o capital captado como forma de obter vantajosas receitas no mercado de investimentos. Essa medida mostrou-se bastante vulnerável à época de crises como a de 2008, quando diversas seguradoras da Europa viram seus ativos desaparecerem. O nível de sinistralidade da seguradora brasileira é bem mais baixo que o da estrangeira, o que favorece o cumprimento de diversas outras despesas. E por fim, a seguradora brasileira trabalha com um foco maior no operacional do que na especulação do capital, já a estrangeira foca em especular o dinheiro captado no mercado de investimentos. 6. REFERÊNCIAS ALLIANZ GROUP. Demonstrações contábeis. Disponível em <www.allianz.com/en/investor_relations/reports_and_financial_data/annual_report/archive/page1.h tml>. Acesso em: 18 jan. 2012. FIGUEIREDO, Sandra. Contabilidade de seguros. São Paulo: Atlas, 1997. PORTO SEGURO S.A.. Demonstrações contábeis. Disponível em <http://ri.portoseguro.com.br/portoseguro/web/conteudo_pt.asp?idioma=0&conta=28&tipo=28529 > Acesso em: 15 jan. 2012. SILVA, Affonso. Contabilidade e análise econômico-financeira de seguradoras. São Paulo: Atlas, 1999. SOUZA, Silney de. Seguros: Contabilidade, atuária e auditoria. São Paulo: Saraiva, 2002. 16