Hérnia de disco: epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento Disc herniation: epidemiology, pathophysiology, diagnosis and treatment

Documentos relacionados
HÉRNIA DE DISCO: EPIDEMIOLOGIA, FISIOPATOLOGIA, DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DISC HERNIATION: EPIDEMIOLOGY, PATHOPHYSIOLOGY, DIAGNOSIS AND TREATMENT

Anatomia da Medula Vertebral

Coluna lombar. Características gerais: 5 vértebras 1 curvatura lordose fisiológica

AVALIAÇÃO DA COLUNA VERTEBRAL

Súmario. Introdução. O que é hérnia de disco? O que causa a hérnia de disco? Sintomas. Diagnóstico. Tratamento. Como conviver com o diagnóstico

Exame Físico Ortopédico

Diagnóstico por imagem nas alterações relacionadas ao envelhecimento e alterações degenerativas da coluna vertebral

Dores na coluna Lombalgia

COLUNA LOMBAR 24/03/15 ANATOMIA VERTEBRAL

Síndrome Dolorosa Pós-laminectomia. MD Joana Rovani Médica Fisiatra

No caso de uma lesão, a mielografia serve para identificar a extensão, o tamanho e o nível da patologia. Outro aspecto importante nesse exame é a

Estudo por imagem do trauma.

COMPARAÇÃO ENTRE ALONGAMENTO E LIBERAÇÃO MIOFASCIAL EM PACIENTES COM HÉRNIA DE DISCO

AVALIAÇÃO POR IMAGEM DA COLUNA LOMBAR: INDICAÇÕES E IMPLICAÇÕES CLINICAS

NEUROCIRURGIA o que é neurocirurgia?

DOR LOMBAR NO TRABALHO. REUMATOLOGISTA: WILLIAMS WILLRICH ITAJAÍ - SC

área acadêmica. Anatomia radiológica da coluna. estudo por imagem da coluna vertebral

TRAUMATISMO RAQUIMEDULAR

TRABALHO DO PROFESSOR ANDRÉ VIANA RESUMO DO ARTIGO A SYSTEEMATIC REVIEW ON THE EFFECTIVENESS OF NUCLEOPLASTY PROCEDURE FOR DISCOGENIC PAIN

HISTÓRICO Síndrome Facetária

Guia do doente para a Substituição de disco cervical artificial

Teste de Lhermitte. Teste de Spurling (Teste de compressão foraminal)

Escrito por Vipgospel Sex, 06 de Dezembro de :00 - Última atualização Sex, 06 de Dezembro de :05

Informações para o paciente referente à prótese de disco intervertebral Prodisc-L para a coluna lombar.

Fisioterapeuta Priscila Souza

ALTERAÇÕES DO SISTEMA MÚSCULO- ESQUELÉTICO E SUAS IMPLICAÇÕES APOSTILA 04

PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE GOIÁS ESCOLA DE FORMAÇÃO DE PROFESSORES E HUMANIDADE CURSO DE EDUCAÇÃO FÍSICA. Artrose

Qualidade de vida. Qualidade de movimento. Guia do doente para a. Substituição de Disco Lombar Artificial

E-book COLUNA SAUDÁVEL. Dr Thiago Rodrigues

DISCOPATIA TORACOLOMBAR

Lesão neurológica pós-bloqueio periférico: qual a conduta?

Bursite do Quadril (Trocantérica)

Médico Cirurgia de Coluna

Tronco. Funções. You created this PDF from an application that is not licensed to print to novapdf printer ( Coluna vertebral

área acadêmica. estudo por imagem da coluna vertebral

O uso excessivo de tecnologias pode causar doenças

Prática Sacroiliaca. Roteiro para aula prática de

Data: 20/08/2014. Resposta Técnica 01/2014. Medicamento Material Procedimento X Cobertura

FRAQUEZA MUSCULAR. Diagnóstico

PROTOCOLO DE DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DAS LER/DORT

OSTEOPATIA é uma técnica americana criada por Andrew Taylor Still que tem por objetivo trabalhar os micromovimentos articulares, devolvendo a

ESTABILIZAÇÃO SEGMENTAR COMO TRATAMENTO PARA HÉRNIA DE DISCO LOMBAR: REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

Utilização de órteses na reabilitação de pacientes portadores de osteoporose vertebral

ACUPUNTURA E CERVICALGIA

DEFICIÊNCIA DO QI DO SHEN (RIM)

Radiografia, Tomografia Computadorizada e Ressonância Magnética

12º Imagem da Semana: Ressonância Magnética de Coluna

3. RESULTADOS DA REVISÃO DE LITERATURA

Prof. Ms. José Góes Página 1

PROTOCOLO FISIOTERAPÊUTICO DE PÓS- OPERATÓRIO INICIAL DE CIRURGIA LOMBAR. Local: Unidades de Internação

Deformidades Angulares dos Membros Inferiores I - Joelhos - Prof André Montillo

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA HÉRNIA DISCAL CERVICAL

Lombalgia Posição do problema Fernando Gonçalves Amaral

DOR CRÔNICA E ENVELHECIMENTO

Tratamento Não Invasivo para dor lombar aguda, subaguda e crônica na. prática clínica

Diagnostico e tratamento por exames de imagem Roteiro para hoje

área acadêmica

Prevenção de dores lombares no ambiente de trabalho Qua, 30 de Março de :00 - Última atualização Qua, 30 de Março de :06

Imagem 1: destacada em vermelho a redução do espaço articular.

DOENÇA ARTICULAR DEGENERATIVA ARTROSE Diagnóstico- Prevenção - Tratamento

SIMPÓSIO DE CIRURGIA GERAL


MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS DA HÉRNIA DISCAL LOMBAR

Universidade Estadual do Centro-Oeste Reconhecida pelo Decreto Estadual nº 3.444, de 8 de agosto de 1997

Prepare-se para a consulta com seu médico

Estudo aprofundado da coluna lombar

ALTERAÇÕES DAS CURVAS DA COLUNA VERTEBRAL

LOMBOCIATALGIA, UM DESAFIO NA PRÁTICA CLÍNICA

Maria da Conceição M. Ribeiro

Propedêutica Ortopédica e Traumatológica. Prof André Montillo

Raças Top de Ohio que o Parta Pugshund!!!!

Técnica cirúrgica de discectomia percutânea automatizada. NUCLEOTOMIA. Alexandre de Medeiros Ferreira Especialista de produtos Setormed -

#Fisioterapeuta, #Osteopata com Cedula, #Estudante Finalista. Inscrição Antecipada ( ) Inscrição Normal ( ) 439.

Autoria: Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia Associação Brasileira de Cirurgia Pediátrica

ELABORADORES. Maíza Sandra Ribeiro Macedo Coordenação Geral. Robson Batista Coordenação Administrativa. Lícia Muritiba Coordenação de Enfermagem

Diagnóstico por imagem da coluna lombar

Patologias da coluna vertebral

QUADRIL / PELVE. Prof. Gabriel Paulo Skroch

AVALIAÇÃO DO OMBRO. 1. Anatomia Aplicada:

XII ENCONTRO DE EXTENSÃO, DOCÊNCIA E INICIAÇÃO CIENTÍFICA (EEDIC)

O que é a SÍNDROME do DESFILADEIRO TORÁCICO

- termo utilizado para designar uma Dilatação Permanente de um. - Considerado aneurisma dilatação de mais de 50% num segmento vascular

Lombalgia Não Traumática: guia prático para o diagnóstico diferencial

LOMBALGIA AGUDA RESSONÂNCIA MAGNÉTICA? TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA? RAIOS-X? OUTROS? NENHUM?

QUE PODEM MELHORAR A DOR NA COLUNA LOMBAR COM ÉRIKA BATISTA

O que é Hérnia de Disco. Vértebras e Discos Intervertebrais

UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO UNI - RIO

DIAGNÓSTICO DAS LOMBALGIAS. Luiza Helena Ribeiro Disciplina de Reumatologia UNIFESP- EPM

QUIROPRAXIA NO TRATAMENTO DA COLUNA VERTEBRAL. TERAPIA MANIPULATIVA AMERICANA

A importância da musculação para a prevenção e tratamento da hérnia de disco.

Metatarsalgias. Prof. Dr. Helencar Ignácio Dr. Márcio G Figueiredo

Avaliação Fisioterapêutica do Ombro

Lesões Meniscais. Anatomia. Tipos de Lesões

Rupturas do menisco. A articulação do joelho é formada pelos ossos: o osso da coxa (fêmur), o osso da perna (tíbia) e a patela.

COLUNA VERTEBRAL EQUILÍBRIO PARA A VIDA

FUNDAMENTOS E CLÍNICA EM ORTOPEDIA E TRAUMATOLOGIA I. Profº Ms. Marcos Antonio P. Brito 6ºTermo UniSalesiano Araçatuba

Bem estar e produtividade no trabalho

Prevenção da Artrose e Osteoporose. Prof. Avelino Buongermino CREFITO-3/6853-F

Espondilose Lombar. Antônio Santos de Araújo Júnior. Neurocirurgião Hospital Sírio-Libanês. (Estenose de Canal Lombar)

Transcrição:

Hérnia de disco: epidemiologia, fisiopatologia, diagnóstico e tratamento Disc herniation: epidemiology, pathophysiology, diagnosis and treatment Alex Oliboni Sussela¹; Alice Bianchi Bittencourt¹; Karina Grafulin Raymondi¹; Silvana Beltram Tergolina¹; Marcus Sofia Ziegler². ¹Acadêmico da Associação de Turma Médica 2017 da Escola de Medicina da PUCRS. ²Médico Especialista em Cirurgia da Coluna Vertebral do Hospital São Lucas da PUCRS. RESUMO Objetivos: Explorar a hérnia de disco desde a sua epidemiologia, fisiopatologia, fatores de risco, diagnóstico e tratamento, com ênfase na abordagem cirúrgica e subsequente recuperação. Métodos: Análise de revisões sistemáticas publicadas nos últimos 5 anos sobre hérnia de disco, utilizando bases de dados nacionais e internacionais. Resultados: Tendo em vista o caráter geralmente benigno desta doença, a opção pelo tratamento conservador é a primeira escolha, apresentando em torno de 60-90% de resolução espontânea. O benefício do tratamento cirúrgico para pacientes portadores de hérnia de disco é a melhora sintomática e a recapacitação funcional. Há diversas técnicas cirúrgicas para correção da herniação e a escolha do tratamento adequado varia de acordo com a gravidade da doença e grau de acometimento nas atividades diárias. Conclusões: A hérnia de disco é uma patologia extremamente comum. Os pacientes portadores de hérnia discal apresentam sinais e sintomas clínicos característicos, conforme a região de acometimento. Os fatores de risco são inúmeros, abrangendo desde causas ambientais até fatores genéticos. A opção de tratamento varia de acordo com a gravidade da doença e grau de interferência nas atividades diárias. Atualmente, a abordagem primária tem sido o tratamento conservador, visando alívio da dor, melhora da capacidade funcional e retardo na progressão da doença. Em vigência de falha terapêutica ou sinais de gravidade, preconiza-se o tratamento cirúrgico no manejo da hérnia de disco. Palavras-chave: Deslocamento do Disco Intervertebral; Fatores de risco; Tratamento conservador; Procedimentos Cirúrgicos Operatórios; Patologia. ABSTRACT Aims: Explore the intervertebral disc displacement including its epidemiology, physiopathology, risk factors, diagnosis and treatment, focusing on the surgical treatment and subsequent recovery. Methods: Analysis of Systematic Reviews about herniated disc published in the last five years, both in national and international data bases. Results: Considering the benign nature of this disease, the option for conservative therapy is the first choice, leading to around 60-90% spontaneous resolution. The benefit of surgical treatment for patients with herniated disc is symptomatic improvement and functional retraining. There are several surgical techniques for correction of herniation and the choice of appropriate treatment varies according to the severity of the disease and degree of impairment in daily activities. Conclusions: Intervertebral disc displacement is an extremely common pathology. Patients with a herniated disc present characteristic clinical signs and symptoms, depending on the region of involvement. Risk factors are numerous, ranging from environmental causes to genetic factors. The treatment option varies according to the

severity of the disease and degree of interference in daily activities. Currently, the primary approach has been conservative therapy, aimed at pain relief, improvement of functional capacity and delay in disease progression. In the presence of therapeutic failure or signs of severity, surgical treatment is recommended in the management of disc herniation. Key-words: Intervertebral Disc Displacement; Risk Factores; Conservative Therapy; Surgical Procedures, Operative; Pathology. INTRODUÇÃO Hérnia de disco é condição frequente, que acomete entre 13 e 40% das pessoas ao longo da vida, com pico de incidência entre 50-60 anos de idade. Topograficamente, predomina na coluna lombar, segundo Nascimento et al (2015), 80% a nível de L4/5 e L5/S1, seguida pelos segmentos cervical e torácico. Apesar de poder ser assintomática, configura importante causa de dor nas costas queixa de 13,5% dos brasileiros e principal motivo de recebimento de auxílio doença, além de 3ª causa de aposentadoria por invalidez no país. A prevalência desta condição está aumentando e pode ser explicada tanto pela maior sensibilidade dos exames de imagem quanto por mudanças comportamentais e envelhecimento da população. O disco intervertebral situa-se entre dois corpos vertebrais, sendo uma parte essencial da coluna vertebral. Anatomicamente é composto pelo anel fibroso de tecido fibrocartilaginoso, uma estrutura flexível que permite a mobilidade da coluna vertebral em suas várias direções, e pelo núcleo pulposo, uma estrutura gelatinosa circundada pelo anel fibroso, que tem como principal função amortecer e absorver os impactos mecânicos gerados sobre a coluna vertebral. A formação da hérnia inicia-se com o surgimento de fissuras no anel fibroso, por onde o conteúdo gelatinoso nuclear pulposo infiltra, acometendo as raízes nervosas espinhais de diferentes formas e graus. Nesse processo, pode haver desde o abaulamento do disco, até o rompimento da parede discal com extravasamento do conteúdo nuclear para o canal medular, o que chamamos respectivamente de protrusão e extrusão com sequestro. Estes eventos podem ocorrer em quatro zonas do disco - central, póstero lateral, foraminal ou extraforaminal - e, dessa forma, provocar apresentações clínicas distintas. Os danos às raízes nervosas podem ocorrer de duas formas principais, seja através da compressão mecânica direta, seja através da irritação nervosa pela ação de mediadores inflamatórios liberados durante este processo. Essa patologia tem caráter multifatorial e dentre os fatores que aceleram e contribuem para o seu processo de formação podemos destacar: a herança genética, o envelhecimento natural dos discos vertebrais e o sedentarismo. Outros fatores que agregam um risco adicional ao seu desenvolvimento são tabagismo, excesso de peso, má postura ao transportar cargas e a prática de movimentos incorretos. Dessa forma, os objetivos deste trabalho são explorar a hérnia de disco desde a sua epidemiologia, fisiopatologia, fatores de risco, diagnóstico e tratamento, com ênfase na abordagem cirúrgica e subsequente recuperação. MÉTODOS O presente artigo foi escrito através de uma revisão da literatura de ortopedia e reumatologia, realizada entre maio e junho de 2017, utilizando como ferramentas de busca as bases de dados das páginas virtuais do PubMed, da biblioteca Cochrane, do Scielo, e da biblioteca Irmão José Otão da PUCRS. A busca nos bancos de dados foi realizada utilizando as terminologias cadastradas nos Descritores em Ciências da Saúde criados pela Biblioteca Virtual em Saúde desenvolvido a partir do Medical Subject

Headings da U.S. National Library of Medicine. As palavras-chave utilizadas na busca foram: low back pain, cervicalgia, sciatica, conservative therapy, discectomy, disc herniation, disc protrusion, herniated disc, intervertebral disc displacement, radiculopathy, surgical treatment. Foram incluídos estudos do tipo revisão sistemática, em língua inglesa e em portuguesa, publicados nos últimos cinco anos. Os critérios de exclusão foram data de publicação anterior a 2012 e relatos de caso. RESULTADOS Diagnóstico Sinais e Sintomas Algumas herniações dos discos vertebrais cursam assintomáticas, porém a grande maioria comporta inúmeros sintomas característicos dos locais específicos de compressão ou irritação nervosa. Geralmente os pacientes surgem com queixas de dor intensa com irradiação para o membro cuja raiz nervosa é afetada, com fraqueza muscular seguida de parestesia e/ou paresia do membro acometido. Outros sintomas são rigidez de nuca e parestesias em pés e mãos. Na região cervical, a dor inicia no pescoço e geralmente irradia para os membros superiores, enquanto na região lombo-sacra, a dor tem início em região lombar, podendo se irradiar para nádega, coxa e joelhos. A dor pode ser aguda com piora ao esforço físico, geralmente em jovens, ou permanente de fraca intensidade, mais comumente em idosos. Anamnese e Exame Físico O primeiro passo é esmiuçar a queixa do paciente em relação a dor, localização, irradiação, fatores de alívio de piora, dentre outras características que serão úteis para um exame físico mais objetivo. A avaliação começa pelo eixo coluna cervical, coluna torácica e coluna lombar. Daremos maior ênfase à coluna cervical e lombar. Em um primeiro momento, para avaliação de cervicalgia, começaremos com inspeção estática, buscando assimetrias que sugerem diagnósticos diferenciais. Seguindo pela inspeção dinâmica, avaliamos a amplitude dos movimentos mediante flexão, extensão, rotação e inclinação da cabeça. Após, seguimos com a palpação de partes moles da região anterior e posterior, na qual, com o paciente sentado, palpamos o músculo trapézio em busca de pontos dolorosos ou tumorações. A palpação dos ossos também deve ser feita anterior e posteriormente, buscando os processos espinhosos das vértebras cervicais. Por fim, o exame neurológico é de extrema importância e deve ser feito como rotina neste tipo de patologia. São atribuídos reflexos, sensibilidades e atividade motora a determinados músculos de acordo com estímulos e consequente associação a níveis da coluna cervical. O teste mais importante deste segmento é a Manobra de Spurling, realizada com a flexão lateral da cabeça do paciente, onde o examinador força uma pressão sobre o topo da cabeça, sendo considerado positivo quando provoca aumento dos sintomas radiculares. Alternando nosso foco para casos de lombalgia, começaremos novamente com inspeção da coluna com o paciente em pé. A palpação se segue nos processos espinhosos em busca de pontos dolorosos ou depressões. Toda musculatura paravertebral deve ser palpada, visando identificar contraturas musculares ou nódulos dolorosos. Atenção deve ser dada ao Nervo Ciático Nervo Isquiático, ramo do plexo

lombo-sacral L4-S3, que deve ter todo seu trajeto palpado, devido à alta prevalência da ciatalgia. Após, devem ser avaliadas mobilidade e amplitude dos movimentos. Por fim, o exame neurológico dos membros inferiores, semelhante ao dos superiores, além da escala de avaliação da força muscular, que varia de graus 0 a 5. O Teste de Elevação do Membro Inferior, realizado por meio de elevação passiva do membro inferior com o joelho em extensão, avalia a tensão do nervo ciático, que geralmente ocorre entre os 35º e 70º da flexão do quadril. Esse teste pode ser negativo em pacientes que apresentam hipermobilidade das articulações. Outra manobra que deve ser realizada é a de Patrick ou Fabere, executada com o paciente em posição supina, com o quadril e o joelho flexionados, e o pé apoiado sobre o joelho contralateral. O examinador fixa a pelve com uma das mãos e, ao mesmo tempo, com a outra mão, exerce pressão sobre o membro. Consideramos positivo causa ou intensifica a dor. De uma maneira geral, esses são os testes básicos para detectar a presença de hérnia de disco cervical ou lombar. Exames Complementares Os protocolos atuais aconselham que o diagnóstico por imagem deve ser somente indicado para aqueles pacientes que apresentam sinais e sintomas de déficit neurológico severo, alguma doença de base, ou ainda para os que receberam tratamento conservador e permaneceram sintomáticos. A radiografia da coluna visualiza as vértebras e seus processos espinhosos e permite avaliar a presença de protrusões, lesões e alterações ósseas. A tomografia computadorizada (TC) nos permite realizar um estudo da coluna em mais de uma dimensão, além de tornar o canal medular mais visível, entretanto expõe o paciente a altos níveis de radiação. A Ressonância Magnética (RM), além de ser o melhor método para avaliar o disco intervertebral, é o exame mais específico dentre os utilizados, pois, além das informações dos exames anteriores, proporciona detalhes sobre a integridade dos nervos, vasos, ligamentos, medula espinhal e, ainda, permite um estudo cirúrgico para correção de compressões nervosas, níveis de desgastes e presença tumores. Tratamento A finalidade do tratamento da hérnia de disco é o alívio da dor, a recuperação neurológica e o aumento da capacidade funcional. A primeira escolha para os quadros sintomáticos de hérnia discal são as opções não cirúrgicas, tendo em vista a história natural geralmente benigna desta patologia, já que em 60-90% dos casos ocorre a resolução espontânea dos sintomas nas primeiras 6-12 semanas. O tratamento conservador se dá em etapas, iniciando-se com medicamentos anti-inflamatórios não esteroides (AINE s). Os relaxantes musculares podem ser úteis no manejo dos espasmos e da dor. Um curso limitado de corticosteroides por via oral também produz alívio dos sintomas. Os opioides são utilizados com maior parcimônia e por tempo reduzido, devido ao alto índice de efeitos adversos com seu uso. A fisioterapia pode ser tentada nos pacientes que consigam realizar exercícios físicos. Programa de exercício físico associado ao tratamento clínico resulta em melhora da dor ciática aguda e da incapacidade funcional. O bloqueio da raiz afetada com injeções de anestésico local e corticosteroide é uma alternativa eficaz no alívio da dor. Cuidados Pré-operatórios

Os mais recentes guidelines da Sociedade Americana de Dor recomendam que os médicos devam discutir os riscos e benefícios da abordagem cirúrgica com os pacientes que se apresentem com dor persistente e incapacitante em decorrência de hérnia de disco. Tratamento Cirúrgico O objetivo principal do tratamento cirúrgico da hérnia de disco é o alívio rápido dos sintomas resultantes da inflamação ou da compressão das raízes nervosas afetadas, a partir da remoção de parte ou da totalidade do disco herniado. São indicações absolutas do tratamento cirúrgico: síndrome da cauda equina ou paresia importante. Como indicações relativas temos: ciatalgia não responsiva ao tratamento conservador por pelo menos seis semanas, déficit motor superior a grau 3, ou dor radicular associada à estenose óssea foraminal. Várias técnicas estão disponíveis para o tratamento da hérnia de disco lombar: discectomia aberta tradicional, microdiscectomia, técnicas minimamente invasivas. Atualmente, a microdiscectomia é o procedimento de escolha para a correção da hérnia de disco lombar devido tanto aos seus resultados favoráveis em curto prazo - tempo de cirurgia, sangramento, alívio da dor, complicações pós-operatórias -, quanto no longo prazo. Ela envolve uma pequena incisão dorsal, seguida por uma hemilaminectomia para melhor visualização do disco, e a remoção do fragmento de disco que está comprimindo o nervo afetado. Técnicas minimamente invasivas incluem a nucleotomia manual percutânea, a discectomia a laser, a discectomia endoscópica, a discectomia microendoscópica, entre outras. Essas técnicas envolvem incisões menores com visualização indireta da lesão, e tem como vantagem o menor tempo de recuperação cirúrgica. Até que surjam evidências consistentes que definam qual o melhor tratamento para pacientes com hérnia de disco lombar candidatos à cirurgia, mantém-se a preferência pelas técnicas de discectomia aberta ou microdiscectomia. O benefício do procedimento cirúrgico no tratamento da radiculopatia cervical em decorrência da hérnia de disco não está claramente estabelecido. A cirurgia é indicada somente para os pacientes que preencham todos os critérios a seguir: sinais e sintomas de radiculopatia cervical; evidência de compressão de raiz nervosa cervical em exame de imagem que explique os sinais e sintomas clínicos; persistência da dor radicular apesar de tratamento conservador por 6-12 semanas, ou déficit motor progressivo com prejuízo funcional. Existem duas abordagens cirúrgicas principais na hérnia de disco cervical: Discectomia Cervical Anterior com Fusão (DCAF) - procedimento descompressivo mais utilizado na coluna cervical, requer manipulação mínima da medula espinhal e das raízes cervicais, e permite a remoção tanto da herniação discal lateral quanto da linha média. Foraminotomia Cervical Posterior (FCP) - pode ser utilizada quando uma única herniação discal lateral está presente. A Artroplastia Cervical Discal (ACD) é uma técnica cirúrgica nova que está em desenvolvimento, e tem sido utilizada em situações nas quais o uso da DCAF seria apropriado. Evidências recentes sugerem que em termos de resultados clínicos, a ACD mostrou-se igual ou superior à DCAF. Cuidados no Pós-operatório

Não existe evidência na literatura de que os pacientes submetidos a cirurgia de hérnia de disco devam ter suas atividades restritas nos dias subsequentes ao procedimento. Embora usualmente seja prescrita a fisioterapia no pós-operatório, a sua efetividade é incerta. Seguimento O tempo médio de seguimento pós-cirúrgico é de 2 anos. CONCLUSÃO A revisão realizada sobre hérnia de disco teve intuito de elucidar o diagnóstico precoce e suas possibilidades de tratamento, com foco nas patologias cervicais e lombares. As hérnias de disco, além de muito prevalentes, podem causar desconforto e limitação física, de modo que pacientes com quadro clínico intenso sofram também socialmente, visto que acabam perdendo empregos ou sendo forçados a aposentadoria precoce por incapacidade funcional. É possível diagnosticar casos de herniações discais apenas com anamnese completa e exame físico e neurológico específicos e o prognóstico depende do grau de herniação, da modalidade de tratamento, da rapidez da sua instalação e do cuidado pós-operatório. Assim, devemos associar o diagnóstico ao grau de impacto dessa lesão na vida dos pacientes para não retardar o tratamento cirúrgico curativo. Fluxograma

Fluxograma para Manejo de Cervicalgia e Lombalgia. Criado pelos autores. REFERÊNCIAS Almeida TRSH, Henrique MD, Moura MEL, Kirzner PL, Tavares KA, Pinto DS. Hérnia de disco lombar: riscos e prevenção. Rev. Ciênc. Saúde Nova Esperança. 2014;12(2):1-7. Associac a o Brasileira de Medicina Fi sica e Reabilitac a o Sociedade Brasileira de Neurofisiologia Cli nica. Hérnia de disco lombar: tratamento. Acta Fisiatr. 2013;20(2):75-82. Iyer S; Kim HJ. Cervical radiculopathy. Curr Rev Musculoskelet Med. 2016 Sep;9(3):272-80. Nascimento PRC; Costa LOP. Prevalência da dor lombar no Brasil: uma revisão sistemática. Cad. Saúde Pública. 2015 Jun;31( 6 ): 1141-56. Skinner HB; McMahon PJ. Current: Ortopedia (Lange): diagnóstico e tratamento. traducao. 5 a ed. Porto Alegre: AMGH, 2015.