1 DIAGNÓSTICO E GASTROTOMIA EM CADELA JOVEM ASSINTOMÁTICA COM CORPO ESTRANHO GÁSTRICO: RELATO DE CASO. DIAGNOSIS AND GASTROTOMY IN FEMALE DOG YOUNG WITH FOREIGN BODY GASTRIC: CASE REPORT. Thays Garreto Rodrigues dos SANTOS 1 ; Daniel Serafim de Andrade RODRIGUES 1 ; Kennya Cristina Damasceno de JESUS 2, Paulo Victor Garrêto Rodrigues dos SANTOS 3, Kellen Matuzzy Silva de MELO 2 e Marcelo Campos RODRIGUES 4 1 Estudante de graduação de Medicina Veterinária, Universidade Federal do Piauí, thaysgarreto@hotmail.com 2 Residente em Clínica e Cirurgia de Cães e Gatos, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Piauí 4 Residente em Anestesiologia Veterinária, Hospital Veterinário da Universidade Federal do Piauí 5 Médico Veterinário Cirurgião, Orientador do programa de Residência em Medicina Veterinária HVU UFPI Resumo: Dentre os animais de pequeno porte, os cães, principalmente os jovens, apresentam hábito alimentar menos exigente quando comparado aos gatos. Desta forma, a ingestão de corpo estranho tem sido um dos achados na rotina clínica. A presença desses corpos estranhos no organismo do animal, podem promover o desenvolvimento de sinais clínicos. Porém nem sempre isto ocorre; uma vez que depende da sua localização, e pricipalmente, se promovem obstrução do lumén. Relata-se neste resumo o diagnóstico e correção cirúrgica do caso de uma cadela, sem raça definida (SRD) de três meses de idade com presença de corpo estranho gástrico de grande dimenção, ocupando maior parte do espaço estomacal, onde o animal não apresentava sintomas aparentes. Palavras-chave: Corpo estranho, gastrotomia, caroço de manga. Keywords: Foreign body, gastrotomy, seed of mango. Revisão de literatura: É considerado um corpo estranho, todo material que possa ser ingerido pelo animal e que o organismo não é capaz de digerir, como pedras e plásticos ou ainda, substâncias que são digeridas lentamente. (FOSSUM, 2014). Os objetos que podem passar pelo esôfago podem se tornar corpos estranhos gástricos ou intestinais. E quando ocorre obstrução com intervenção no Anais do 38º CBA, 2017 - p.1090
2 esvaziamento gástrico, ou ainda oclusão que promova distensão ou irritação na mucosa estomacal, o paciente pode manifestar êmese (NELSON E COUTO, 2010). Os corpos estranhos só causam sinais clínicos quando obstruem a eliminação do conteúdo intestinal ou quando promove irritação da mucosa, caso contrário, ele poderá permanecer no estômago do animal sem qualquer manifestação clínica (PARRA et al., 2012). A realização do diagnóstico pode ser feita utilizando exames de imagem, como a endoscopia, ultrassonografia e radiografia. E a radiologia abdominal simples é tida como o exame de primeira linha na investigação da suspeita de um corpo estranho (MONTEIRO, 2013). Uma vez localizado o corpo estranho, é necessário decidir se o corpo estranho será eliminado naturalmente pelo organismo, ou se deve ser removido endoscopicamente ou cirurgicamente. É importante frisar que o esforço para remover o corpo estranho ou a sua impactação sempre causará lesão em mucosa (SILVA e MACHADO, 2015). Relata-se neste resumo o diagnóstico e correção cirúrgica do caso de uma cadela, sem raça definida (SRD) de três meses de idade com presença de corpo estranho gástrico de grande dimenção, ocupando maior parte do espaço estomacal, onde o animal não apresentava sintomas aparentes. Descrição do Caso: Foi atendido no Hospital Veterinário da UFPI, uma cadela, SRD, com 6,3 kg de massa corporal e três meses de idade. O animal alimentava-se de ração e comida caseira, com vacinação e vermifugação em dia. O proprietário relatou que há dois dias a cadela ingeriu um caroço de manga, porém não apresentava alterações gastrointestinais, estava defecando e alimentando-se normalmente. Ao exame físico o animal estava em estado geral de alerta, com temperatura de 38,7 ºC, mucosas normocoradas, hidratação dentro da faixa de normalidade e não apresentava sinais de dor à palpação. Foi solicitado radiografia torácica e abdominal simples, radiografia contrastada e ultrassonográfia abdominal e pélvica, além de exame hematológico e bioquimico. Na radiografia torácica os órgãos apresentavam-se dentro dos padrões de normalidade. Na radiografia abdominal foram visualizados os órgãos em topografia habitual, presença de fezes e gases como conteúdo em alças intestinais, além da Anais do 38º CBA, 2017 - p.1091
3 presença de estrutura de baixa opacidade circundada por gás em topografia de estômago. Foi realizado a radiografia contrastada. Na gastrografia, o contraste percorreu todo o estômago e parte do intestino delgado, com delimitação de uma estrutura com dimensões 5,48 x 3,16 cm em topografia de estômago. No exame ultrassonográfico todos os órgãos apresentavam textura, ecogenicidade e tamanho normal. No hemograma e bioquímico não houve alterações digna de nota. Após o diagnostico preciso da localização do corpo estranho, foi indicada a gastrotomia para retirada do mesmo. Foi administrado no animal a medicação préanestésica com acepromazina 0,2% e com tramadol, posteriormente feito indução anestésica com midazolam e propofol. Após a intubação endotraqueal a anestesia foi mantida com isofluorano pela via inalatória utilizando o sistema de circuito semifechado com vaporizador universal. Para complementar a analgesia durante o período transoperatório foi administrado infusão FLK (Fentanil, Lidocaína e Ketamina) na taxa de 10ml/kg/h. O animal foi posicionado em decúbito dorsal, e realizado uma incisão na linha média, ventral abdominal, desde o processo xifoide até a cicatriz umbilical (região pré-umbilical). O estômago foi imobilizado e em seguida foi feita incisão numa área hipovascular entre as curvaturas maior e menor, por onde o corpo estranho foi removido. Após a remoção do corpo estranho utilizou-se um padrão de sutura seromuscular de duas camadas invertidas, com o objetivo de fechar o local de incisão. Para os dois planos (camadas) realizou-se o padrão Cushing com o emprego de poliglactina 910 2-0. No pós-operatório foi administrado Meloxicam 0,2% por via subcutânea. Discussão: Segundo Fossum (2014), a maioria dos animais com corpos estranhos (CE) gástricos apresenta vômito, anorexia e/ou depressão. Alguns animais podem continuar ativos e alimentando-se, mesmo com episódios de êmese alternado. Pode acontecer ainda de o corpo estranho está no fundo gástrico sem obstruir o piloro, nesses casos, o vômito será um sintoma ausente. A dor abdominal pode ser um achado ocasional. Em casos de CE a literatura aponta a regurgitação como o principal sinal clínico (PATIL et al., 2010). Contudo, o animal em questão não desenvolveu sintomatologia característica para ingestão de CE. Anais do 38º CBA, 2017 - p.1092
4 O diagnóstico do paciente é elaborado de acordo com o histórico, exame físico e exames de imagem (MACAMBIRA et al., 2016). No exame físico deste caso não foram encontrados sinais digno de nota. Através dos exames radiográficos foi possível identificar o CE, porém o mesmo não estava obstruindo o lúmen. O corpo estranho encontrado no estômago do animal se tratava de uma semente/caroço de manga. Segundo Andrade (2015), o caroço da manga é constituído de uma camada mais dura e externa chamada de epicarpo e uma camada interna e macia denominada de amêndoa. A estrutura externa, contém elevados teores de celulose, hemicelulose e lignina. O paciente ingeriu o caroço após a retirada da parte comestível, restando ainda resquícios dessa impregnados no epicarpo. Na radiografia simples da região abdominal, posição lateral direita esquerda/ ventrodorsal, foi identificada uma estrutura de baixa opacidade circundada por gás em topografia de estômago, sugestivo de CE. Ao ser feita a radiografia contrastada, o contraste delimitou uma estrutura radioluscente com dimensões 5,48 x 3,16 cm em topografia de estômago. Sabe-se que a apresentação dos achados radiográficos varia de acordo com a densidade e espessura do material (THRALL, 2014). As variações da radiopacidade do CE, de pouco radiopaco à radioluscente podem ser justificadas pela composição do caroço da manga, descrita anteriormente. Onde há grande presença de fibras, compostos orgânicos e água; e teores baixos de minerais, que são os compostos que fornecem uma maior radiopacidade aos objetos, somados a espessura do mesmo. Além da radiografia da região abdominal, foi realizada a radiografia simples da região torácica, a fim de identificar alterações no esôfago. Apesar da dimensão do corpo estranho, o mesmo não provocou alterações (dilatação, ou ainda laceração) no esôfago. Não corroborando com os achados da literatura, pois Souza et al. (2007) afirma que a dilatação exacerbada do esôfago, pela passagem de um corpo estranho, por exemplo, pode resultar em megaesôfago, isso porque ocorre um rompimento do reflexo nervoso, controlador da deglutição, ou devido a intervenção no funcionamento do músculo esofágico. Conclusão A ingestão de corpos estranhos pelo animal com permanência no trato gástrico pode não haver manifestações clínicas aparente, com diagnóstico dificultoso. O cuidado e Anais do 38º CBA, 2017 - p.1093
5 atenção do tutor deste relato foram essenciais para o diagnóstico do caso, com remoção do corpo estranho, evitando complicações futuras. Referências: ANDRADE, L. A. D. APROVEITAMENTO DO Caroço de Manga: Um Estudo de Viabilidade da Pirólise Usando Energia Solar. 2015. 110 f. Dissertação (mestrado) Universidade Federal de Uberlândia, Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química. Uberlândia, 2015. FOSSUM, T. W. Cirurgia de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 464, 479 481. MACAMBIRA, K. D. D. S.; XAVIER JÚNIOR, F. A. F.; SILVEIRA, J. A. D. M.; Morais, G. B. D.; PASSOS, Y. D. B.; BOUTY, L. F. M.; EVANGELISTA, J. S. A. M. Revista Brasileira de Higiene e Sanidade Animal. v.10, n.2 p. 302 309, abr /jun. 2016. MONTEIRO, C. A. P. D. B. Caracterização ecográfica de corpos estranhos e impactações alimentares no trato gastrointestinal em animais de companhia. 2013. 129 f. Dissertação (mestrado) Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias, Faculdade de Medicina Veterinária. Lisboa, 2013. NELSON, R. W.; COUTO, C. G. Medicina interna de pequenos animais. 4. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2010. p. 432. PATIL, D.B. et al. Gastric Foreign Bodies in Dogs A Report of Five Cases. Intas Polivet, v. 11, p. 297-298, 2010. SILVA, L. C. D.; MACHADO, V. M. D. V. O uso da endoscopia digestiva alta em pequenos animais. Veterinária e Zootecnia. Botucatu, v.22, n.1, p. 15-25, mar. 2015. SOUZA, M.; ZILIO, B. S.; COSTA, J. L. O. Megaesôfago em cães revisão de literatura. In: Revista científica eletrônica de medicina veterinária. v. IV, n. 08, jan. 2007. THRALL, D. E. Introdução à Interpretação Radiográfica. In: THRALL, D. E. Diagnóstico de Radiologia Veterinária. 6. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2014. p. 74-75. Anais do 38º CBA, 2017 - p.1094